Sanções à BPC elevam preço de potássio; avanço da soja no Brasil em 22/23 em risco
Por Polina Devitt e Rajendra Jadhav e Roberto Samora
MOSCOU (Reuters) - Os preços globais do potássio terão uma alta prolongada depois que os Estados Unidos impuseram sanções ao grande fornecedor Belarus Potash Company (BPC), aumentando a pressão sobre os agricultores e consumidores que já enfrentam custos crescentes e uma economia global com inflação dos alimentos.
Os preços do fertilizante, que desempenha um papel vital na produtividade de safras, já estavam em máximas de 13 anos antes de uma decisão dos EUA em 2 de dezembro e devem subir ainda mais, potencialmente reduzindo o ritmo do crescimento de área plantada de soja no Brasil em 2022/23, o maior produtor e exportador mundial da oleaginosa, disseram analistas.
Uma pausa no aumento da área plantada no Brasil, que utiliza bastante potássio no processo de conversão de pastagens em lavouras de soja, poderia interromper vários anos de crescimento do plantio e potencialmente sustentaria ainda mais os preços da soja.
As sanções à BPC tornariam o mundo mais dependente de outros fornecedores, como a canadense Nutrien Ltd, a maior produtora de potássio do mundo.
A empresa poderia trazer de volta ao mercado capacidade ociosa de sua fábrica, se necessário, disse um porta-voz da Nutrien à Reuters.
As ações da Nutrien subiram 6,6% desde que as sanções à BPC foram anunciadas e atingiram um recorde na semana passada.
A BPC não respondeu a um pedido de comentários da Reuters. Outro grande fornecedor, a russa Uralkali, não quis comentar.
A BPC é o braço de exportação da Belaruskali, o segundo maior produtor de potássio do mundo. Os EUA colocaram Belaruskali em lista negra e adicionaram a BPC à sua lista de sanções enquanto o Ocidente intensificava a ação punitiva contra o presidente da Belarus, Alexander Lukashenko.
As exportações de potássio são uma fonte importante de moeda estrangeira para Belarus.
Washington deu aos clientes da BPC --que incluem Índia, China e Brasil-- até 1º de abril para encerrar seus negócios com a empresa. As sanções dos EUA impedirão a BPC de acessar serviços financeiros baseados em dólares, dificultando o comércio nos mercados internacionais.
Após a imposição das sanções, a BPC disse que funcionaria dentro dos marcos legais existentes, mas não deu mais detalhes. Os preços de outros fertilizantes, como ureia e fosfato, também subiram este ano, uma vez que os preços recordes do gás natural e do carvão provocaram cortes na produção do setor.
A redução da aplicação de fertilizantes pode levar a rendimentos mais baixos da colheita em um momento em que os preços das commodities alimentares estão em picos de 10 anos e a inflação dos alimentos é um grande problema em todo o mundo.
IMPACTO NOS PREÇOS GLOBAIS
Os preços spot globais do potássio estão em máximas de 13 anos, em torno de 650 dólares por tonelada, após um aumento nas cotações de produtos agrícolas e uma recuperação da demanda neste ano.
O preço recorde do potássio foi estabelecido em 2008, quando acordos foram assinados em torno de 800 dólares por tonelada, disse a analista da VTB Capital, Elena Sakhnova.
No Brasil, os preços spot do potássio podem subir para 900-950 dólares por tonelada no primeiro trimestre de 2022, ante 800 por tonelada recentemente, disse Marcelo Mello, diretor da mesa de fertilizantes StoneX no Brasil, à Reuters. Os valores saltaram mais de 230% desde janeiro.
O potássio é necessário para o cultivo de muitas safras, incluindo soja, arroz, milho, frutas, vegetais, óleo de palma e trigo.
Além disso, melhora a resistência das lavouras a doenças, secas e promove maiores rendimentos das culturas. Não pode ser substituído por fertilizantes à base de fosfato ou nitrogênio.
Mello crê ainda em destruição da demanda no Brasil e nos Estados Unidos, com os preços escalando.
"Aumento de área de soja no Brasil no próximo ano (2022/23) vai ser difícil. Muito potássio é usado em novas áreas (onde antes havia pastagens). Todo mundo vai usar menos potássio, precisaremos ver destruição da demanda", afirmou ele, citando o mercado apertado, apesar de aumentos na produção esperados de outros produtores globais como a Nutrien.
O consumo e as importações de potássio da Índia podem cair se os preços do potássio subirem ainda mais devido às sanções à BPC, disse um funcionário do setor na Índia. A BPC normalmente firma contratos de fornecimento anuais com a Índia, com o acordo mais recente assinado em janeiro. "Estamos tentando resolver o problema ou pelo menos encontrar uma solução temporária", disse outro alto funcionário da indústria na Índia à Reuters. A China obtém 20% de suas importações de potássio de Belarus. Os preços no maior consumidor mundial também estão altos, apesar da recente liberação de parte da reserva de potássio da China.
"A oferta de potássio continua apertada, com as importações ainda limitadas e os estoques portuários caindo", disse Humphrey Knight, analista sênior de potássio da consultoria CRU, sobre a China.
A capacidade da BPC de fornecer aos clientes também pode ser prejudicada pela logística, com Belarus sem saída para o mar, dependendo fortemente do porto de Klaipeda, na Lituânia, para exportar potássio, acrescentou. A Rússia, que continua a ser aliada de Belarus, não tem capacidade portuária sobressalente suficiente para movimentar o volume de 12,5 milhões de toneladas por ano da BPC. A Lituânia continua a transportar potássio de Belarus por ferrovia para o porto do Báltico, por enquanto, sob contrato previamente assinado e pré-pagamento para dezembro e parte de janeiro.
No entanto, a pressão pública sobre as empresas estatais para cumprir as sanções dos EUA está aumentando na Lituânia, país que é um dos maiores críticos dos abusos aos direitos humanos em Belarus. Os Estados Unidos são um parceiro estratégico da Lituânia.
(Reportagem de Polina Devitt em Moscou, Rajendra Jadhav em Mumbai, Rod Nickel em Winnipeg, Emily Chow em Pequim Beijing, Roberto Samora em São Paulo e Andrius Sytas em Vilnus)
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