Mercado de café: RETROSPECTIVA 2021! , por Marcelo Fraga Moreira
No nosso primeiro relatório do ano, em 07 de fevereiro de 2021, o titulo do comentário foi “AS PERGUNTAS DE 1 MILHÃO DE DÓLARES”!
Nesse último relatório creio já termos algumas respostas para as perguntas apresentadas aos nossos leitores:
- Quais os efeitos da seca nas lavouras?
Os efeitos foram desastrosos e afetaram a produtividade da safra 21/22 e 22/23!
As estimativas iniciais estavam entre 44-56,70 milhões de sacas e com o passar do tempo os números estão mais próximos dos 45/46 milhões de sacas. Nessa semana a Conab* publicou sua última estimativa para 47,70 milhões de sacas (USDA* e Rabobank continuam com números acima dos 56,30 milhões de sacas).
Mesmo assim muitos produtores continuam desacreditando nos números da Conab*. Como esse é agora o número oficial do Brasil, vamos seguir trabalhando com essa produção/estimativa e trabalhar cenários em cima desses dados.
Uma pergunta que não quer calar:
Como a CONAB* consegue estimar a safra 21/22 nas “casas decimais” e não consegue publicar o estoque de passagem da safra 20/21 para a safra 21/22?
Por que esse número está sendo guardado a 7 chaves? Já já o dia 30 de Março de 2022 vai chegar... Será que vão continuar escondendo esse dado do mercado e também não vão publicar o estoque de passagem da safra 21/22 para a safra 22/23? Realmente uma vergonha...
As exportações brasileiras da safra 20/21 foram recordes (atingindo +45,60 milhões de sacas – será que alguém poderia informar esses números para o USDA* poder atualizar o banco de dados deles? Na sexta-feira o USDA* publicou sua última projeção do ano e parece que esqueceram de atualizar os dados do Brasil! Indicam uma exportação brasileira na safra 20/21 em apenas +41,70 milhões de sacas!).
Até o final de dezembro-21, em função da quebra da safra 21/22, acreditamos que o Brasil vai deixar de exportar aproximadamente -7 milhões de sacas! A desculpa continua sendo “problemas logísticos/falta de containers”...
Segundo a Cecafé, até o dia 17 de dezembro o Brasil havia solicitado autorização para embarcar +2.092.819 sacas e já havia embarcado apenas +918.432 sacas. Praticamente já se passaram 2/3 do mês de dezembro-21! Acreditamos que dificilmente o Brasil vai conseguir exportar acima dos +2.300.000 sacas nesse mês.
Até junho-22 acreditamos que o Brasil vai exportar no máximo +26 milhões de sacas (no período Julho-21/Julho-22)!
- O “fantasma dos defaults”:
Muitos produtores tiveram quebras nas suas lavouras e precisaram renegociar os contratos com as cooperativas e tradings. Não só no Brasil mas também na Colômbia, Vietnam e na Etiópia.
As famosas travas realizadas para entregas futuras com preços entre +500/+700 R$/saca foram uma péssima escolha para os produtores e muitos tiveram que renegociar/ prorrogar as entregas para as próximas 2-3 safras (22/23, 23/24 e 24/25)!
Apesar das cooperativas “negarem” muitos acordos/rolagens foram realizados;
- Problemas/reduções nas safras na Colômbia, Vietnam, Honduras se confirmaram:
Tivemos produtores colombianos renegociando as entregas; problemas na Etiópia com a guerra civil; e atrasos nos embarques do Vietnam por problemas do avanço do covid-19.
O último relatório do USDA* aponta crescimento na produção em praticamente todos os países (mantiveram a produção brasileira nos +56,30 milhões de sacas e reduziram a produção da Indonésia em -120.000 sacas).
- Para os próximos meses 2-3 anos qual será o tamanho da próxima safra brasileira 21/22 e 22/23?
A safra 21/22 continua “sob judice” - entre 44-56,30 milhões de sacas.
A próxima safra 22/23 será a “pergunta dos 5 milhões de dólares”! Com a geada entre os dias 19-23 de julho afetando aproximadamente 170 mil ha, muitos produtores abandonaram o plantio de café e migraram para grãos;
Com o aumento nos custos e muitas áreas sofrendo abortamento da florada a próxima safra 22/23 promete! Novamente as projeções para a próxima safra já estão criando polêmicas com estimativas variando entre +39/+60 milhões de sacas!
- Qual será a produção mundial para os próximos anos?
Ainda difícil de prever, mas considerando o Brasil como o principal produtor e os problemas com aumento nos custos em todos os principais países produtores, acreditamos em um crescimento gradativo nos próximos 4 anos, passando de +160 milhões de sacas na safra 21/22 para +195/+200 milhões de sacas na safra 25/26)!
- E o estoque de passagem? Os números da OIC* estão corretos? E o consumo mundial? Com o início da vacinação em praticamente todos os países as economias vão voltar a crescer em qual ritmo?
Nosso modelo continua apontando um estoque de passagem crítico, abaixo dos +15% na safra 21/22; abaixo dos +10% na safra 22/23; e o índice ficando novamente acima dos +15% apenas a partir da safra 24/25 (a não ser que o consumo não cresça os +2% ao ano estimado pela OIC*).
No nosso modelo o estoque de passagem mundial deverá ficar abaixo dos +25 milhões de sacas durante as safras 21/22, 22/23 e 23/24. Acima dos +25 milhões de sacas na safra 24/25 e acima dos 40 milhões de sacas apenas na safra 25/26 (considerando um aumento no consumo mundial, nesse momento, ao redor dos +1,35% ao ano).
- O poder aquisitivo das famílias e o consumo vão voltar a crescer?
Acreditamos que o consumo nos países emergentes vai sofrer uma queda entre 5-8% em função do aumento nos preços e o consumo mundial deverá crescer entre +1/+1,50% nos próximos 3 anos.
- E, principalmente, quantos produtores atuais de café vão abandonar suas lavouras (literalmente passando o trator por cima dos pés de café) e substituir suas culturas por outras mais rentáveis, tais como soja, milho?
No Brasil essa mudança de cultura já é fato! Só vamos saber a quantidade da área substituída no ano que vem! Diversificação já começou a ser a nova ordem entre os produtores de café!
- E a inflação brasileira (os produtores brasileiros tiveram aumentos nos seus custos acima da inflação como diesel, insumos agrícolas, fertilizantes, frete, etc)?
Nesse ano tivemos aumento em todos os elos da cadeia, com fertilizantes/herbicidas subindo +300/+500% até +2.000%! Combustível +55%; a inflação medida pelo IGPM acima dos +35%! A taxa básica dos juros do Banco Central saindo de +2% para +9,25% (aumento em apenas 7,25% pontos percentuais, mas representa um aumento em +362,50%!!).
Para o ano de 2022 o Banco Central já sinalizou novo aumento em +1,50% pontos percentuais na próxima reunião do mês de fevereiro-22 e o mercado já sinaliza novos aumentos até julho-22 para +12% e até mesmo +14%!
Com todos os problemas acima o contrato Março-22 abriu o ano cotado @ 138,25 centavos de dólar por libra-peso. Chegou a negociar na máxima do ano @ 252,35 centavos de dólar por libra-peso (no dia 7 de dezembro) e terminou a semana cotado @ 234,75 centavos de dólar por libra-peso! Uma valorização em US$ até agora em +69,80%!!
O Real abriu o ano @ 5,1890 R$/US$, trabalhou na máxima @ 5,8740 R$/US$ e terminou a semana @ 5,6840 R$/US$! Uma desvalorização até agora em -9,54%.
Já em R$/saca, o preço do café pago ao produtor saiu de 650 R$/saca para 1.500 R$/saca! Uma valorização em R$/saca até agora em +114%!!
Seguimos positivos para os próximos meses com o mercado buscando os +280/+300 centavos de dólar por libra-peso. Podemos estar errados? Claro! O mercado continua soberano e qualquer nova crise mundial poderá gerar novas ondas de stress.
Hoje mesmo tivemos notícias recentes onde a Holanda está implementando novos lockdowns, a Inglaterra esta em alerta e vários estados dos Estados Unidos estão registrando novos aumentos em casos do covid-19! Como será que os mercados irão abrir na próxima segunda-feira??
Seguimos sugerindo o hedge para a safra 22/23 e 23/24 em diante através da compra do seguro contra a queda nos preços e garantindo uma remuneração mínima ao redor dos 1.500 R$/saca!
Para os produtores que já tem compromissos assumidos para as safra 22/23 em diante, em R$/sacas, protejam-se comprando as proteções contra novas altas (as opções de compra “Call”* ou as estruturas “Call-Spread”*). Lembrem-se: daqui pra frente os riscos com as geadas irão “fazer preço” no mercado de café!
Segundo a última publicação do CFTC*, a posição dos “fundos+especuladores” teve uma redução em -2.670 lotes e seguem comprados em +47.275 lotes!
Os estoques certificados de café arábica continuam sendo consumidos e estão agora em 1.555.000 sacas. Já os estoques de café robusta fecharam a semana abaixo dos +1.700.000 sacas pela primeira vez no ano!
Nessa semana a Green Coffee Association também publicou os estoques nos portos americanos e durante o mês de novembro foram consumidos -132.386 sacas reduzindo os estoques para +5.843.000 sacas!
No curto prazo o mercado poderá testar os suportes no Março-22 @ 231,00 / 228,00 / 223,00 e 220,00 centavos de dólar por libra-peso. Resistências @ 236,00 / 241,60 / 245,00 / 252,35 centavos de dólar por libra-peso.
Estaremos de volta na primeira semana de fevereiro-22 (salvo algo extraordinário ocorrer)!
Mais um ano terminando. Após 45 semanas chegamos no nosso último comentário semanal de 2021! No total foram 46 comentários distribuídos semanalmente para mais de 5.000 leitores cadastrados e agradecemos a cada um de vocês pelas críticas, sugestões, feedback recebidos!
Foi um ano de muito aprendizado. Meu agradecimento a cada um de vocês pelas trocas de informações, experiências, e confiança depositadas na nossa caminhada. Mais uma vez o meu muito obrigado ao Arnaldo pela oportunidade e confiança nesses já 18 meses podendo contribuir para a Archer Consulting!
Ótima semana a todos! Boas festas e um feliz Natal! Não se esqueçam do Aniversariante! Há 2.021 anos nasceu Jesus! “Eis que a virgem conceberá e dará a luz um filho, e ele será chamado de Emanuel (que quer dizer: Deus conosco)! (Matheus 1-23). “O anjo, porém, lhes disse: Não temais: eis que vos trago boa nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor.” (Lucas 2:10-11).
Marcelo Fraga Moreira*
0 comentário
Mercado cafeeiro fecha sessão desta 5ª feira (21) com fortes ganhos em NY e queda na bolsa de Londres
Região do Cerrado Mineiro avança no mercado global com leilão virtual
Com a presença de toda a cadeia produtiva, Semana Internacional do Café discute sobre os avanços e desafios da cafeicultura global
Em ano desafiador para a cafeicultura, preços firmes e consumo aquecido abrem oportunidades para o setor
Mercado cafeeiro trabalha com preços mistos no início da tarde desta 5ª feira (21)
Cooabriel fala sobre a expectativa da safra do café conilon para o Espírito Santo e Bahia