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Com exterior avesso à risco, dólar tem recuperação ante real a despeito de Copom mais duro
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar subiu acentuadamente contra o real nesta quinta-feira, recuperando parte do terreno perdido nos últimos dois pregões, devido à fuga generalizada de investidores para ativos mais seguros em meio a temores globais relacionados à Covid-19.
A alta desta sessão veio a despeito da decisão de quarta-feira do Comitê de Política Monetária do Banco Central de subir a taxa Selic em 1,50 ponto percentual pela segunda vez consecutiva, a 9,25%, e indicar mais aperto à frente, o que vários especialistas apontaram como benéfico para o real.
O dólar à vista fechou em alta de 0,70%, a 5,5749 reais na venda. Nas duas sessões anteriores, a moeda havia acumulado queda de 2,74%. Na B3, às 17:12 (horário de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,76%, a 5,6020 reais.
Parte dessa valorização refletiu movimento de compras de grandes agentes importadores que aproveitaram o preço mais baixo da moeda norte-americana nas mínimas do dia para "ir às compras", escreveu Ricardo Gomes da Silva, superintendente da Correparti Corretora.
Enquanto isso, no exterior, o índice do dólar --que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas fortes-- subia 0,315%, a 96,244, refletindo o desconforto de investidores com incertezas relacionadas ao impacto econômico da variante Ômicron do coronavírus, conforme vários países anunciam medidas mais rígidas de combate à Covid-19.
Em mais um sinal da forte demanda pela segurança do dólar, rand sul-africano e peso chileno, pares emergentes do real, caíam mais de 1% na tarde desta quinta-feira. Peso mexicano e lira turca também recuavam, embora a taxas mais comportadas, de 0,1% e 0,7%, respectivamente.
"A variante Ômicron parece ser menos letal, apesar de possivelmente mais infecciosa, mas a Covid é algo que vai estar no radar durante um bom tempo; traz um tom de cautela", disse à Reuters Rafael Panonko, analista-chefe da Toro Investimentos.
A divulgação de um importante relatório de inflação norte-americano na sexta-feira, que pode influenciar a decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), também foi citada por participantes do mercado como impulso à cautela observada nesta quinta-feira.
EFEITO COPOM
Apesar da valorização do dólar nesta sessão, investidores avaliaram a decisão de quarta-feira do Copom como possível fator de apoio para o real, com expectativa de que a maior rentabilidade do mercado de renda fixa doméstico atraia recursos estrangeiros para o Brasil.
A decisão de elevar a Selic em 1,5 ponto percentual veio em linha com a expectativa de consenso do mercado, e a sinalização de aumento da mesma magnitude na reunião de fevereiro do ano que vem contrariou algumas apostas de que o BC desaceleraria o processo de aperto monetário em meio a sinais recentes de desaceleração da atividade econômica.
Embora o efeito Copom possa fornecer suporte à divisa doméstica, especialistas começam a alertar para várias incertezas de médio prazo à medida que se aproxima o ano eleitoral de 2022.
"Ano que vem é ano de eleição; não devemos aprovar novas reformas, deve ter dificuldade na articulação política do governo e deve aumentar o prêmio de risco diante da incerteza no Brasil", disse Panonko, da Toro, prevendo que o dólar "namorará a casa dos 6 reais" em 2022.
Ele chamou a atenção para a deterioração recente da credibilidade fiscal do país, afirmando que a PEC dos Precatórios --que teve trechos promulgados na quarta-feira, abrindo espaço fiscal para financiamento do programa Auxílio Brasil-- "não é positiva", embora tenha dado alguma previsibilidade aos investidores.
O dólar acumula alta de 7,4% contra o real até agora em 2021.
Bolsonaro eleva tom e volta a mirar em STF e adversários
Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Em discurso durante cerimônia do Dia do Combate à Corrupção, o presidente Jair Bolsonaro elevou nesta quinta-feira o tom e retornou aos ataques ao Supremo Tribunal Federal e adversários além de voltar a fazer ameaças de reação.
Em uma fala de cerca de meia hora, Bolsonaro afirmou que parlamentares não poderiam ser presos, que seu então ministro da Justiça Sergio Moro --hoje pré-candidato a Presidência e que o presidente não citou nominalmente-- não se empenhou na investigação sobre a facada que levou na campanha de 2018 e reclamou que querem limitar o uso das redes sociais.
Na plateia do evento, chamado para comemorar o combate à corrupção, estava o deputado Daniel Silveira, que ficou sete meses preso por ataques e ameaças à democracia e ao STF. Sem citar o nome de Silveira, Bolsonaro disse que "doeu" seu coração ver o "colega" preso
"Temos aqui um parlamentar que ficou sete meses preso. Se coloque no lugar dele. Muitos dizem 'não toca no assunto, não se meta'. Não estou me metendo, estou defendendo a liberdade, a Constituição. Ninguém pode interpretar a Constituição como bem entender", disse, acrescentando que "não tem cabimento" prender um parlamentar.
"Doeu no meu coração ver um colega preso? Doeu. Mas o que fazer? Será que queriam que eu tomasse medidas extremadas? Como é que ficaria o Brasil perante o mundo? Possíveis barreiras comerciais, problemas internos. Nós vamos continuar dentro das quatro linhas da Constituição", completou.
No dia anterior, em entrevista a um programa de um canal de comunicação do Paraná, Bolsonaro já havia voltado aos ataques ao STF e às ameaças veladas. Chamou de abuso a prisão de bolsonaristas como o caminhoneiro Zé Trovão e o ex-presidente do PTB Roberto Jefferson e ameaçou, de novo, sair das "quatro linhas da Constituição".
"Tudo tem um limite. Eu jogo dentro das quatro linhas e quem for jogar fora das quatro linhas não vai ter o beneplácito da lei. Se quiser jogar fora das quatro linhas, eu jogo também. Não pretendo fazer isso, não é ameaça para ninguém, mas que cada uma dessas pessoas façam um juízo da sua consciência, do que está fazendo", disse ao programa.
No discurso desta quinta, Bolsonaro ainda atacou, sem citar nomes, os seus principais rivais na disputa pela Presidência na eleição do ano que vem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Moro.
Acusou o ex-ministro de não ter tido boa vontade para investigar a facada que tomou em 2018, durante a campanha --a Polícia Federal, em duas investigações, concluiu que Adélio Bispo agiu sozinho--, de não ter "mostrado serviço" e só ter "feito intrigas".
"Infelizmente algumas pessoas têm que ser mudadas porque fraquejam ou são cooptadas pelo sistema", disse.
Em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, mas sendo derrotado em todos os cenários e com Moro avançando em cima de parte de seus eleitores, Bolsonaro revelou o temor de ficar, nas eleições, sem o seu principal meio de campanha, as mídias sociais.
"Mandamos uma Medida Provisória para tratar das mídias sociais, copiando artigos da Constituição. Foi devolvido. Nosso alcance diminui cada vez mais. Que país é esse? Onde estamos indo?", afirmou, reclamando ainda que não pode falar de hidroxicloroquina, medicamento defendido por ele mas que já foi provado ineficaz contra Covid-19, ou tem posts retirados.
Citou, ainda, a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) de abrir inquérito sobre uma live em que relacionou, sem evidências e de forma errônea, as vacinas contra Covid-19 a casos de Aids.
"Será que vão querer bloquear minhas mídias sociais, a mídia social que mais interage no mundo? Vão querer quebrar uma perna minha? Isso é democracia? Não é. Isso é jogar fora das quatro linhas. Nós queremos respeito, mais que isso, exigimos", disse.
Bolsonaro baseou praticamente toda sua campanha em 2018 no uso de redes sociais. No entanto, de lá para cá a Justiça e as próprias plataformas têm aumentado o controle sobre a difusão de notícias falsas, o que tem obrigado o presidente a restringir algumas falas ou migrar para plataformas com menor alcance e menos controle.
Banco BV eleva estimativa de Selic terminal a 11,75% após Copom
SÃO PAULO (Reuters) - O banco BV elevou a 11,75% a projeção para a taxa Selic ao fim do atual ciclo de alta de juros, de 11% no cenário anterior, após o Banco Central surpreender ao adotar linguagem mais dura contra o aumento dos preços.
"Diante da sinalização do BC, 11,75% parece suficiente para manter a inflação abaixo do teto da meta em 2022 e trazer a inflação para a meta em 2023", disse Carlos Lopes, economista do banco BV.
O Banco Central elevou a taxa Selic em 1,50 ponto percentual na noite de quarta-feira, indicou nova alta da mesma magnitude para fevereiro e destacou em comunicado a importância de o ciclo de aperto avançar "significativamente" em território contracionista para consolidar o processo de desinflação e de ancoragem das expectativas em torno das metas.
"A gente não esperava esse endurecimento de discurso, mas foi importante neste momento, porque embora haja riscos à atividade econômica o quadro inflacionário não dá alívio e as expectativas precisam desse discurso para serem ancoradas", disse o economista do BV, que prevê inflação ao consumidor de 4,20% em 2022.
A meta de inflação para 2022 é de 3,50%, com banda de tolerância entre 2,00% e 5,00%.
O IBGE divulga na sexta-feira o IPCA --índice referência para o regime de metas de inflação-- de novembro. O IPCA-15, considerado uma prévia, teve em novembro a maior alta para o mês em quase duas décadas.
(Por José de Castro)
Conab vê safra maior de soja e eleva exportação após corte no biodiesel
Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) -A safra de soja do Brasil 2021/22 foi estimada nesta quinta-feira em recorde de 142,8 milhões de toneladas, apontou a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), elevando a projeção em cerca de 800 mil toneladas na comparação com o levantamento do mês anterior.
Com ligeiros ajustes na área plantada e na produtividade média, a colheita de soja do maior produtor e exportador global de soja agora deverá crescer 4% ante o ciclo 2020/21, segundo Conab --os primeiros lotes começam a ser colhidos ao final deste mês, em Mato Grosso.
A companhia estatal ainda elevou a estimativa de exportação de soja do Brasil em 2022 para 90,67 milhões de toneladas, ante 89,9 milhões na previsão anterior. A previsão de embarques para 2021 também subiu para 85,79 milhões de toneladas, mais de 1 milhão de toneladas acima da previsão de novembro.
A Conab ainda elevou projeções de exportação de óleo de soja neste e no próximo ano, citando impacto da mistura menor de biodiesel no diesel, definida pelo governo.
A exportação de óleo de soja, principal matéria-prima do biocombustível no Brasil, deve atingir 1,53 milhão de toneladas em 2022, ante 1,1 milhão na previsão anterior, enquanto a projeção para 2021 subiu de 1,4 milhão para 1,66 milhão de toneladas.
"Usualmente não é esperado um aumento significativo de exportação de óleo de soja nos últimos dois meses do ano civil, todavia, com a redução da mistura de biodiesel... as indústrias elevaram suas exportações contrapondo a expectativa de uso interno para biodiesel", afirmou.
A indústria de biodiesel vem tentando reverter a decisão governamental da semana passada que estabelece uma mistura menor de 10% do produto no diesel para todo o ano de 2022. O setor defende o "mix" de 14% para a maior parte do ano que vem, conforme resolução anterior do governo.
Em 2021, a mistura já havia sido reduzida por diversas vezes, ante os 13% que deveriam ter vigorado, com o governo citando os preços elevados do biodiesel e impactos aos consumidores.
Com maiores exportações, a Conab reduziu os estoques finais de soja em grão da safra 2021/22 de 9,29 milhões para 5,29 milhões de toneladas.
MILHO EM ALTA?
A safra total de milho do Brasil 2021/22 foi estimada em 117,2 milhões de toneladas, ante 116,7 milhões na previsão anterior, o que significa um aumento de 34,6% ante ciclo 2020/21, segundo o levantamento da Conab.
Apesar de um tempo seco no Rio Grande do Sul, principal produtor de milho primeira safra, a Conab elevou sua projeção de produção do cereal no verão, citando clima favorável em outras partes do país.
Contudo, a Conab mencionou que as previsões para os primeiros 15 dias de dezembro não são boas, o que deve acentuar as perdas já estimadas nas lavouras gaúchas.
A primeira safra de milho do país foi estimada em 29 milhões de toneladas, ante 28,6 milhões na projeção do mês anterior.
A Conab praticamente manteve os números da segunda e terceira safras.
A previsão de exportação de milho do Brasil 2021/22 também foi mantida em 36,68 milhões de toneladas, forte recuperação ante as 19,2 milhões do ciclo anterior, quando as lavouras foram atingidas por seca e geadas.
A Conab ainda projetou a safra de algodão do país 2021/22 em 2,6 milhões de toneladas, praticamente estável, com alta de 10,7% ante ciclo anterior.
(Por Roberto Samora)
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