Mercado de açucar: "Mudança de cenário", por Arnaldo Luiz Correa
O contrato futuro de açúcar em NY com vencimento março/22 encerrou em baixa pela terceira semana consecutiva. Dessa vez, cotado a 18.79 centavos de dólar por libra-peso, a queda acumulada foi de 56 pontos (12.35 dólares por tonelada) em relação à semana anterior. Notou-se uma maior pressão de venda nos vencimentos até março/23 que na média se desvalorizaram 50 pontos. Com a melhora dos índices pluviométricos o mercado está percebendo que a próxima safra de cana no Centro-Sul poderá ser melhor (ou deveria dizer menos pior?) do que anteriormente imaginado. Com isso, justifica-se que a pressão de venda nos futuros seja reflexo dessa impressão.
A maior perda em termos nominais foi sentida quando convertemos o fechamento de NY em reais por tonelada. O mercado de açúcar fechou na sexta-feira equivalente a R$ 2,342 por tonelada, valor R$ 252 por tonelada menor do que a cotação do spot do dia 17 de novembro. Uma redução de quase 10% no preço que poderia ter sido obtido naquele momento. Os consumidores industriais estão muito felizes, pois têm sido capazes de fazer operações estruturadas que objetivam reduzir o custo de aquisição da matéria prima. Eles estavam hesitantes em acompanhar os recentes preços altos pois percebiam o fraco movimento de consumo. Acertaram na mosca.
É certo que volumes disponíveis para fixar açúcares de exportação contra o março/22 não existem mais, pois as usinas estão fixadas há muito tempo. No entanto, os valores correspondentes à safra 22/23, ou seja, os contratos futuros que vão de maio/22 até março/23 perderam R$ 100 por tonelada no mesmo período. É doloroso.
O fato importante é que os fundos reduziram pesadamente a posição comprada que tinham: de 206,000 para 140,000. Desta terça-feira para a anterior, período que é levado em conta pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, o mercado variou de 20.11 para 18.60 centavos de dólar por libra-peso.
Foram 66.000 lotes liquidados que provocaram uma queda de 151 pontos. Ou seja, para cada 440 lotes vendidos os fundos derrubaram o mercado 1 ponto. Não me parece tão ruim assim a queda. O mercado absorveu bem a liquidação parcial dos fundos. Se quisessem liquidar completamente a posição, isso significa que o mercado de açúcar poderia cair para 15.50 centavos de dólar por libra-peso? Bom ficar de olho.
Olhando os fundamentos, parece menos provável um retorno do mercado de açúcar aos níveis de 20 centavos de dólar por libra-peso após a nova variante do coronavirus jogar um balde de água gelada na recuperação da economia global. As commodities sofreram enorme baque e, dessa forma, cautelosas tradings vão procurar negociar da mão para a boca, sem aventurar-se na tomada de posições agressivas no mercado físico até que se tenha uma ideia da extensão dessa nova variante. A atividade mais lenta do físico afeta o giro dos negócios e diminui o ritmo das compras, deixando o mercado mais fraco.
Petróleo em queda no mercado internacional desfaz temporariamente o sentimento de recuperação do consumo de gasolina para o período de férias de verão (no próximo ano) no hemisfério norte, como dissemos aqui. Os 100 dólares por barril que mencionamos como possível objetivo fica mais no terreno do improvável. Com esse novo cenário a predisposição por parte das usinas de privilegiar a produção de etanol no início de safra também fica machucada. O jogo pode ter mudado. Vamos ter que mover as peças do tabuleiro com muito cuidado para não sermos ejetados prematuramente do jogo.
A Índia está em plena produção com mais de 400 usinas operando. A produção de açúcar até o final de novembro alcançou 4.72 milhões de toneladas, um crescimento de 10% em relação ao mesmo período do ano passado. O país deverá exportar 7 milhões de toneladas este ano (outubro 21/setembro 22). Até agora, 3.5 milhões de toneladas já estão contratadas e fixadas entre 20-21 centavos de dólar por libra-peso. No atual nível de preços a Índia paralisou suas vendas. Acreditam que as negociações para novas quantidades de açúcar destinados à exportação só ocorreram quando os preços voltarem ao patamar de 20 centavos de dólar por libra-peso. Sinto desanimar nossos leitores, mas dada às recentes mudanças no cenário, essa meta fica prejudicada.
Voltando ao petróleo: em um mês o Brent caiu mais de 15%. No acumulado do ano, no entanto, a commodity apresenta resultado positivo. Difícil ser otimista, pois tem espaço ainda para realizar. A Petrobras tem condições de baixar o preço da gasolina na refinaria em torno de R$ 0,35 por litro. É só uma questão de dias ao nosso ver. O etanol hidratado negocia na B3 com descontos de 250 pontos em relação à NY. Vai vendo....
Por último, a menos que você acredite nas baboseiras que são proferidas pelo nosso nubívago ministro da economia, o fato é que o Brasil vai muito mal. O PIB derrete a olhos vistos enquanto os economistas afirmam que estamos tecnicamente em recessão. O ano que vem até as pedras sabem que será muito ruim, com todos os obstáculos decorrentes de um País cujo presidente é um ergófobo em altíssimo grau e que quando perceber que seu segundo mandato vai lhe escapar das mãos pode tentar todo tipo de artimanha para ganhar os votos que tem perdido desde o início do governo.
E ainda corremos o risco de eleger um petista e sua caterva. Seu projeto ambicioso de destruir o País terá prosseguimento. O pandilheiro vestido de santo disse que com ele a Petrobrás não vai mais seguir os preços do mercado internacional. Parvoíces expelidas ao meio dos perdigotos para a plateia de jumentos encantados. Mas, quem vai pagar a conta somos nós contribuintes.
Dessa forma, o real vai apanhar muito e sua desvalorização vai afetar as cotações do açúcar em NY. Lembram que temos falado aqui que a compra de uma put (opção de venda) de 16 centavos de dólar por libra-peso para julho/22 era uma boa pedida. Quando sugerimos o seguro, o prêmio valia 0.10 centavos de dólar por libra-peso. Já valorizou 250% desde então.
O preço médio do fechamento diário do contrato futuro de açúcar em NY em novembro atingiu 19.75 centavos de dólar por libra-peso, o maior do ano, superando o preço médio de outubro, de 19.62 centavos de dólar por libra-peso. Nos últimos 21 anos todas as vezes em que a média do mês de novembro se tornara a mais alta do ano a contaminação para o dezembro era imediata, encerrando o ano na máxima. No entanto, nos últimos dez anos em apenas duas ocasiões (2015 e 2019) o preço médio de dezembro superou o de novembro. Vamos aguardar para ver se a tendência se confirma.
Exercitem a paciência e tenham todos um ótimo final de semana.
Arnaldo Luiz Corrêa
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