Fertilizantes: Garantia de oferta de produto russo para o BR não deve resultar em recuo dos preços
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Entrevista com Jeferson Souza - Analista de Fertilizantes da Agrinvest sobre o Mercado do Fertilizantes
A garantia de abastecimento de fertilizantes pela Rússia ao Brasil, informada pelo Ministério da Agricultura nesta quarta-feira (17), não garante que os preços irão ceder para os produtores brasileiros, como explicou o analista de fertilizantes da Agrinvest Commodities, Jeferson Souza em entrevista ao Notícias Agrícolas. Os fundamentos deste mercado são bastante sólidos, com uma demanda global fomentada e uma escassez de matéria-prima que ainda preocupa.
"Temos a garantia do fornecimento, mas não temos a garantia do preço. A Rússia está garantindo que ela vai entregar, e se olharmos de uma análise mais apurada esse sinal da Rússia pode, quem saber, barrar uma alta um pouco mais forte. Teremos oferta maior de matéria-prima e esse ímpeto mais forte de alta pode ser um pouco mais fraco, mas não existe nenhuma sinalização de queda para o preço. Inclusive, nesta semana, o mercado brasileiro teve um reajuste para o MAP de US$ 20 a US$ 25/t" explica Souza.
E ele complementa dizendo que as empresas reajustaram suas tabelas para os fosfatados, refletindo uma demanda brasileira ainda forte, fomentando novos negócios, inclusive para 2023. O movimento precifica possíveis riscos de desabastecimento, além de um consumo também forte e crescente.
CLORETO DE POTÁSSIO
Exemplo disso é o cloreto de potássio. Mesmo não estando na lista de restrições russas, o produto segue subindo agressivamente e desde o início do ano saltou de um intervalo de US$ 250,00 a US$ 260,00 por tonelada para algo entre US$ 790,00 e US$ 795,00. Os problemas que vêm sendo registrados na Bielorrússia, terceiro maior fornecedor de KCl para o Brasil, continuam mantendo o mercado com preços ainda muito elevados e que poderiam passar por uma nova rodada de altas com as sanções que podem ser impostas pelos EUA ao país.
"Isso acontece, mais precisamente, no dia 8 de dezembro. Este deve ser um dia importante para o cloreto de potássio (...) Essa foi, sem dúvidas, a matéria-prima que mais subiu", diz o analista.
Assim, já é possível registrar uma diminuição das importações de KCl do Brasil pela Bielorrússia em 2% de janeiro a outubro, enquanto as compras vindas da Alemanha aumentaram 30% no mesmo período, além de o Brasil ter trazido mais produto também do Canadá e da Rússia.
SAFRA 2022/23
O curso dos preços dos fertilizantes no próximo ano estará bastante atrelado às decisões que os produtores do hemisfério norte tomarão para a safra 2022/23, em especial os dos EUA.
"Se tivermos uma queda da demanda nos Estados Unidos ela será importante e um ponto positivo para vermos uma queda nos preços lá em 2022. O termômetro, sem dúvida, da demanda ficará nos EUA. Então, se eles diminuírem seus volumes ou migrarem a área para a soja em detrimento do milho podemos ver um reflexo disso para os preços no segundo trimestre ou até segundo semestre do ano que vem", explica Souza.
No curto prazo, porém, esse deve ser um movimento difícil de ser visto, já que até mesmo os produtores brasileiros têm comprado para a próxima temporada, temerosos com a possibilidade de uma falta de oferta ou de preços ainda mais altos. E tudo isso se dá mesmo diante de relações de troca bem acima das margens históricas.
No Brasil, a relação soja x KCl, no porto, está na casa das 35 sacas, contra 14 no mesmo período do ano passado. E para os demais grupos de fertilizantes o cenário é semelhante. E isso pode comprometer a nova safra brasileira na adubação ou até mesmo no ímpeto de ampliação de área na nova safra. "A safra 2022/23 é uma safra que reserva surpresas", acredita o analista.
Nos EUA, a relação de troca milho x ureia está em 3,9 toneladas do cereal para um tonelada do fertilizante. Relação extremamente elevada, buscando o recorde histórico que foi em 2008. E neste caso, o produtor americano poderia dar preferência para a soja diante dos atuais custos de produção.
UREIA
No último leilão de ureia a Índia participou com compras fortes, com uma das empresas compradoras participando pela primeira vez desde 2018, com os indianos pagando quase US$ 1 mil por tonelada, com os preços tendo subido US$ 150/t desde março deste ano. No Oriente Médio e no Egito, os preços também permanecem bastante elevados, e com referências mais altas do que as que são observadas no Brasil.
Na China, por outro lado, os preços têm recuado de forma expressiva, refletindo as medidas restritivas observadas no país."Os preços da ureia na China, do dia 12 de outubro até agora, caíram 30%. Ou seja, as medidas protecionistas de restringir as exportações estão surtindo efeito", afirma o analista.
Além destas medidas, a baixa nos preços do carvão, bem como dos fretes marítimos são também sinais importantes sobre a trajetória que os fertilizantes podem fazer. "Se o carvão e os fretes estivessem subindo na China seria ainda mais catastrófico".
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