Rally do Farelo: Futuros do derivado acumulam altas superiores a 7% na semana em Chicago e puxam grão

Publicado em 12/11/2021 18:24 e atualizado em 13/11/2021 13:17
Margens de esmagamentos positivas devem fortalecer a soja para safra nova; farelo é a bola da vez, diz risk manager da HedgePoint Global Markets

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Os futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago acumularam altas de mais de 3% nesta que foi uma semana agitada e marcada por surpresas. Não só os preços do grão, mas os do farelo também subiram expreesivamente e terminaram a semana com altas superiores a 7%. Somente nesta sexta-feira (12), os preços do derivado subiram até 5,11%, como foi o caso do contrato dezembro, que encerrou o pregão sendo cotado a US$ 362,10 por tonelada curta. O ganho semanal para a posição foi de 8,84%, enquanto o março subiu, no mesmo período, 7,32% para US$ 353,20/ton. 

No farelo, o mercado refletiu a demanda ainda firme pelo derivado e uma oferta bastante escassa nos Estados Unidos. "A produção sazonal de aves está começando a aumentar e as paralisações de processadores em todo o Meio-Oeste restringiram ainda mais os suprimentos já escassos. E aproximadamente 55% do farelo de soja é consumido pela avicultura no país", explicaram os analistas de mercado do portal internacional Farm Futures. 

Dessa forma, demandas interna e para exportação competem pelo pouco volume disponível de farelo. Nesta sexta, os bons números das vendas semanais para exportação norte-americanas divulgadas pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) - acima das expectativas do mercado - e confirmaram essa força. 

Os Estados Unidos venderam 278 mil toneladas de farelo de soja, enquanto o mercado esperava algo entre 100 mil e 250 mil toneladas. Ainda de acordo com os analistas americanos, os preços do derivado no mercado norte-americano disponível terão que subir mais para garantir que o produto não seja exportado e atenda ao consumo doméstico. 

Neste ambiente, as expectativas do mercado são de que a NOPA (Associação Nacional dos Processadores de Oleaginosas dos EUA) eleve o processamento de soja apresentado em seu reporte do dia 15 próximo, o que ajudou a dar suporte ao rally do farelo na CBOT nesta sessão. Para Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting, a demanda pelo subproduto tende a seguir firme, principalmente pela oferta escassa também de trigo. 

No último dia 5, o Risk Manager da HEDGEPoint Global Markets, Victor Martins, em entrevista ao Notícias Agrícolas, destacou esse movimento de fortalecimento do farelo  e o impacto positivo sobre as cotações da soja, e que se tratava de um movimento que vinha sendo construído gradualmente,  tendo como destaque riscos inerentes a produção de soja na Argentina, principal exportador de farelo do mundo, assim como particularidades especificas no proprio mercado interno americano.

"Após acumular, ao longo do ano, queda superior a 35%, o farelo de soja, principal subproduto do esmagamento do grão (78% de rendimento), teve como chave de virada uma combinação de fatores internos e externos, os quais contribuiram para a escalada e forte recuperação do mealshare, que é o rendimento econômico do farelo no esmagamento da soja", explicou Martins. 

MAIS PRODUTOS EM FALTA PARA AS RAÇÕES NA CHINA

Ainda como detalhou o manager da HedgePoint, desde outubro a a China vinha limitando suas exportações de aminoácidos e micronutrientes sintéticos, dentre eles a metionina e a lisina sintética, principal aminoácido aditivo usado na formulação das rações, e que funciona como um conversor de proteína na formulação das rações animais. 

"A China é o principal exportador desse aditivo para o mercado americano, e com a escassez da formulação, o preço da formulação disparou, levando fábricas de ração a serem obrigadas a aumentar a composição do farelo de soja (48% de proteína) como macronutriente, visando compensar essa ausência. A expectativa é de que a escassez de estoques deva durar mais de seis meses, o que construi um ambiente de maior demanda para o farelo no mercado interno", diz.

Diante de uma demanda maior pelo farelo, principalmente americano, os prêmios para o derivado dispararam no mercado doméstico dos EUA, subindo em Iowa, principal polo esmagador e consumidor de farelo no Meio-Oeste americano. Assim, no estado o basis do farelo tem sido cotado a US$ 28,00por tonelada curta acima dos futuros na CBOT, recorde histórico para a região. 

O quadro, portanto, reflete em um descolamento do mercado físico para os futuros, assim como ocorreu com o óleo de soja em maio deste ano. Ainda como explica Martins, "o flatprice do farelo no mercado interno passa de U$ 380,00 por tonelada curta, e FOB portos deve chegar, em breve, a US$ 450,00. Como o mercado americano possui entrega física, muitas fábricas de rações devem originar os futuros do derivado na bolsa e aguardar o aviso de entrega, ao invés de pagar prêmios recordes no mercado interno disponivel".

COMPLEXO SOJA E AMÉRICA DO SUL

Além dos problemas internos e fortalecimento no mercado interno - que é a base dos futuros negociados na Bolsa de Chicago - o mercado também passa a contabilizar os riscos na América do Sul. "E isso faz o mercado de farelo reduzir sua curva em "carrego", para um mercado "invertido", de acordo com o analista da HedgePoint.

E quando se trata de farelo de soja na América do Sul, a Argentina tende a ser o fiel da balança, uma vez que responde por 80% das exportações globais do derivado. 

"O risco aumenta nessa temporada, sobretudo, por ser a segunda temporada consecutiva de plantio em meio a ocorrência do La Niña. Historicamente, a ocorrência do fenômeno tende a reduzir em 30% a produtividade média da soja na Argentina. Alem do La Niãa, a área plantada de soja na Argentina será a menor dos últimos 16 anos, decorrente do desincentivo de plantio por parte dos produtores em detrimento ao trigo e milho, que possuem maiores retornos na atividade. E essa é uma combinação perigosa para o suprimento do farelo, visto que a capacidade ociosa das plantas esmagadoras na Argentina deve passar de 60% nessa temporada nova, sem contar os desafios logísticos na exportação".

E PARA O GRÃO?

Dado todo este cenário, as atenções todas se voltam à demanda pela soja em grão, a qual deverá permanecer por mais tempo concentrada nos EUA, elevando seu potencial de exportação, reduzindo os estoques. Já para o farelo de soja, dado que a vocação dos EUA não é de exportação do produto, não há o que fazer a não ser racionar a demanda global via preços elevados do subproduto. 

"Com o aumento dos preços, temos uma  inversão da curva de preços (vencimentos mais curtos na CBOT sobem mais rápido que os longos). No Brasil,  como destaquei na minha última entrevista ao Notícias Agrícolas, o impacto se dá via 'exportação de margens de esmagamento positivas'", afirma Martins. 

Ainda segundo o manager, a disparada do farelo, em um primeiro momento, até desloca demanda para os portos brasileiros, aumentando a margem de esmagamento e, consequentemente, ampliando também a necessidade de originação pelas processaodoras no interior, o que se traduz em melhores prêmios internos para o produtor.

Já para as indústrias, "uma atenção deve ser dada a inversão da curva do farelo e impacto nas margens de esmagamento, visto que as indústrias tendem a trabalhar com certo alongamento de suas compras, e que em um cenário de inversão na curva dos futuros, sofre depreciação na rolagem dos estoques", conclui.

TRIGO TESTA MAIS ALTOS PREÇOS EM MAIS DE 10 ANOS

A indústria de rações tem buscado mais componentes de proteína para compor seus produtos e o farelo está no topo da lista, com o trigo vindo na sequência. 

Na última temporada, os principais países produtores do cereal sofreram quebras de safra agressivas em função de adversidade climáticas e a oferta é bastante limitada. E para a próxima temporada já ventilam no mercado projeções de que importantes produtores como a região do Leste Europeu e até mesmo a Rússia - maior importadora mundial do grão - poderiam reduzir sua área de plantio. 

Além da possível redução de área, os traders ainda operam de olho nas notícias de que as exportações russas poderiam ser limitadas no segundo semestre de 2022, agravando ainda mais o quadro, exigindo ainda mais dos estoques, por exemplo, da União Europeia, ainda como explicam os especialistas do Farm Futures. Olhos voltados também para o volume de trigo restrito que pode ser produzido na Austrália, problemas de clima na Ucrânia 

Assim, não só os preços do cereal sobem na Bolsa de Chicago, como marcaram, nesta sexta, suas máximas em 14 anos na bolsa de Paris. Somente nesta última semana, os futuros do trigo negociados na CBOT subiram mais de 6%, levando o dezembro a US$ 8,17 - com ganho semanal de 6,66% - e o março a US$ 8,28 - com alta acumulada de 6,29%. Somente no pregão desta sexta-feira a alta foi de mais de 1% 

E não só de trigo forrageiro é que a oferta é limitada, mas no quadro geral da cultura."Em algumas situações, as posições do trigo são as mais altas em duas décadas. Em outras, são as mais altas dos últimos tempos. O trigo terá preços muito firmes em 2022", diz Brandalizze. "E assim a demanda pelo farelo também tende a ser mais forte". 

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Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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