Soja & Milho 2022/23: EUA deverão encontrar custos de produção mais altos de todos os tempos
A nova safra de grãos dos Estados Unidos ganhou mais atenção dos mercados e mais espaço nas discussões bem mais cedo do que o normal diante da disparada nos preços dos insumos e das preocupações com a cadeia de distribuição dos mesmos. Neste momento, como relata o consultor de mercado da Roach Ag Marketing, Aaron Edwards, há produtores norte-americanos que já compraram seus insumos, que estão comprando e aqueles que não estão e não prentendem, ao menos por hora, diante dos atuais valores.
"Essas são contas que os produtores estão fazendo, todos estão falando sobre isso. E muito mais cedo este ano, estamos em outubro! E isso também está acontecendo porque há decisões a serem tomadas sobre o trigo de inverno e sobre a soja que pode vir na sequência", diz. Edwards explica que o objetivo é plantar o trigo de inverno e esperar que ele saia do chão antes da primeira geada, dando espaço a uma soja 'safrinha'.
Todavia, explica também que dados mais sólidos sobre áreas de plantio das próximas temporadas de inverno e primavera deverão se dar em um ou dois meses. "As contas agora mostram que a soja deverá dar mais lucro do que o milho", afirma o consultor, inclusive utilizando como exemplo os cálculos da Universidade de Illinois que projetam um retorno financeiro de apenas US$ 24,00 por por acre cultivado com o cereal, enquanto para a oleaginosa a projeção é de US$ 150,00/ac.
Nos dois casos as cifras são bem mais baixas do que as da safra 2021/22, quando foram de US$ 280,00 e US$ 288,00, respectivamente.
Ainda observando a tabela da universidade americana, que é uma das mais importantes da agricultura do país, a produtividade esperada para o milho é de 220 bushels por acre, contra 222 da safra passada, com preços, em média, de US$ 4,50, também menores do que a média considerada para 2021 de US$ 5,25 por bushel. Sobre os custos diretos - fertilizantes, defensivos, sementes, secagem, armazenagem e custos com seguro - a conta chega a US$ 446,00 por acre, contra US$ 390,00 há um ano.
No caso da soja, a produtividade esperada é de 69 bushels, mesma média da safra anterior, porém, com preços que poderiam ficar nos US$ 12,35 - cotação, inclusive, desta terça-feira, 26 de outubro de 2021, para o contrato novembro/22 na Bolsa de Chicago - e custos diretos esperados para somarem US$ 220,00 por acre, contra US$ 190,00 da temporada anterior.
Estes cálculos - "que são muito valiosos", ainda segundo Aaron Edwards - são baseados para a região central de Illinois, estado que é o maior produtor norte-americano de soja e segundo maior de milho - área com elevados níveis de produtividade. As projeções estão detalhadas, contabilizando também os demais custos. E podem ser conferidas aqui.
"Os custos (não os da terra) para a soja e milho 2022 são projetados como os mais altos de todos os tempos. Ainda assim, a produção de ambas as culturas ainda deverão ser rentáveis no ano que vem por conta dos preços que tendem a ser mais altos do que a média do período de 2014 a 2020 - de US$ 3,73 para o milho e US$ 9,91 para a soja. Uma volta para esta média faria com que que os produtores dos EUA possam ter prejuízos, bem como pode acontecer também caso o rendimento da soja e do milho fiquem abaixo do esperado", traz o boletim da Universidade de Illinois, no estudo 2022 Illinois Crop Budgets.
Bem como tem se dado no Brasil e em diversas partes do mundo, a categoria com as altas mais severas é a dos fertilizantes. Trata-se de um incremento previsto de US$ 40,00 por acre de milho e US$ 18,00 para a soja. Esse aumento, porém, já pode estar maior e pode subir ainda mais diante da atual dinâmica do mercado global de insumos. Os fertilizantes têm se aproximado - alguns já tendo encostado ou superado - os patamares recordes de 2008.
Tanto Edwards, quanto os estudiosos da Universidade de Illinois afirmam, porém, que muito ainda pode acontecer tanto no mercado de grãos, quanto no de insumos e os resultados de tais projeções podem mudar e reservar algumas surpresas, "principalmente porque estes cálculos são estáticos e o mercado de insumos é dinâmico, e acontecem em ritmos diferentes". como explica o consultor. Além disso, será preciso ainda conhecer o tamanho da oferta de verão das safras de verão da América do Sul - em especial do Brasil - e algumas safras importantes de inverno de países do hemisfério norte.
"Se nada mudar, o produtor americano vai plantar mais soja. Mas, o mercado sempre muda. Agora ele é otimista para o mercado da soja, e eu acho que deveria, em algum momento, se ajustar para estimular o plantio de milho, e para isso os preços (do cereal) teriam que subir. Afinal, temos três situações: os insumos caírem de tal forma que o milho volte a dar um lucro melhor; os preços do milho subirem mais para dar um retorno mais alto ou o preço da soja cair a tal ponto que o milho se torne mais atrativo", explica o consultor da Roach Ag Marketing.
Ademais, se no próximo ano, o Brasil aumentar sua área de soja uma pressão também poderia ser sentida nas cotações futuras da oleaginosa, podendo mudar a direção das decisões tomdas pelos produtores nos EUA. Do mesmo modo, se acompanha ainda o que países como Rússia, Ucrâniae Cazaquistão podem entregar de milho nas temporadas a frente. Tudo isso acontece ao passo em que o mercado também acompanhará não só as decisões dos produtores americanos, como em que condições a nova safra dos EUA - sendo discutida já em outubro! - irá se desenvolver.
Não bastando todo este quadro, há ainda produtores considerando diminuir a utilização de fertilizantes em sua nova safra, ou até mesmo fazê-la sem este insumo. "E isso significa menos produtividade", conclui Edwards.
FERTTILIZANTES
Economistas agrícolas da Universidade de Purdue, em Indiana, ouvidos pelo portal norte-americano AgWeb alertam para altas entre os nitrogenados e fosfatados, que pesam diretamente sobre o rendimento da soja. E além dos insumos básicos, ainda falam sobre os custos de arrendamento, também altos nos EUA agora.
"Temos que lembrar que, para a soja, o arrendamento à vista é uma despesa extremamente importante para a soja. É até 40% do custo de produção. Os preços do fósforo e do potássio também aumentaram substancialmente. Então, no momento, realmente não há vantagem em relação ao milho ou à soja, pelo menos no leste do cinturão do milho", disse Michael Langemeier, agroeconomista da Purdue University.
Uma pesquisa feita pelo portal DTN The Progressive Farmer mostra que, somente nas duas primeiras semanas de agosto, a média de preços de três fertilizantes acumularam uma alta de mais de US$ 100,00 por tonelada e que quatro dos oito principais produtos avaliados pelo levantamento custam o dobro do que o valor do mesmo período do ano passado.
Quem lidera as altas é a ureia, com aumento de 26%, seguida pelo potássio, com 19%. Também em uma semana, a alta do MAP foi de 11% e do DAP de 14%.
"Com os preços dos fertilizantes próximos das máximas de todos os tempo, os produtores têm pensado muito antes de tomar suas decisões sobre os nutrientes que irão empregar na próxima safra", afirma o portal americano. E um produtor ouvido pela mídia local, que cultiva grãos em Illinois, afirmou ainda que "entre este aumento expressivo dos preços e os índices de produtividade, muitos deverão optar pela soja".
GLIFOSATO
Em partes dos Estados Unidos, como no nordeste de Iowa, os preços do glifosato subiram 294%, passando de US$ 17 para US$ 54 o galão. No noroeste de Indiana, a cotação apresentou uma disparada de 300%, chegando a US$ 80,00 por galão em algumas localidades, ainda segundo relatos ouvidos pelo site AgWeb.
PRIMEIROS A SENTIR
Como explica Carlos Cogo, diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio, o grupo de fertilizantes, defensivos e sementes respondem por 45% dos custos operacionais efetivos de um produtor de soja ou milho segunda safra. "E quem vai encontrar primeiro os custos mais altos dos últimos 10 anos é o produtor americano. O produtor brasileiro já comprou, praticamente, todos os insumos da safra de verão e para a 2022/23 quem chega primeiro são os americanos".
O especialista lembra ainda que já na safra passada os produtores rurais nos EUA começaram a fazer suas compras de insumos mais cedo - o que não acontecia nas temporadas passadas, quando eles compravam mais próximo do plantio - e este ano deverão fazer suas aquisições ainda mais cedo.
"Isso porque, obviamente, toda essa celeuma de falta de fretes marítimos, de contêineres, fábricas paralisadas, altos de preços, riscos de suprimentos, tudo vai começar pelos EUA e vai impactar nos custos de produção projetados pelos americanos para as lavouras de milho e soja", complementa Cogo. "Em alguns estados, a rentabilidade líquida do milho deve ser de apenas US$ 3,00 por acre, é quase como dizer que o produtor vai plantar por filantropia".
Relembre a última entrevista de Carlos Cogo ao Notícias Agrícolas:
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