Mercado de açúcar: "Consumo deve crescer nos próximos 5 anos", por Arnaldo Luiz Correa
A fadiga do mercado futuro de açúcar mencionada há algumas semanas neste espaço, finalmente mostrou sua cara. Exauriram-se todos os elementos que sustentavam a alta do mercado, em especial nos vencimentos mais curtos. Todas as notícias de caráter fundamentalista estavam devidamente fatoradas no preço e o mercado ficou pesado demais e por isso realizou.
Os fundos liquidaram (com base nos dados de terça a terça) 51.000 lotes e provocaram uma retração de 6% no mercado no período coberto pelo COT (Commitment Of Trades), relatório dos comitentes, publicado pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities.
No final da semana, o vencimento março/22 encerrou cotado a 19.08 centavos de dólar por libra-peso acumulando uma queda de 72 pontos em relação à sexta-feira anterior, ou 16 dólares por tonelada. No acumulado do mês de outubro, o março/22 já derreteu 28 dólares por tonelada, o maio/22 encolheu 22 dólares por tonelada, o julho 13 dólares por tonelada e o outubro 8 dólares por tonelada. Como se vê, a pressão tem sido no curto prazo.
A queda pode ser atribuída em grande parte à anemia do mercado físico de açúcar e à desvalorização do real em relação ao dólar colocando pressão na curva de preços em centavos de dólar por libra-peso nos vencimentos que vão além da próxima safra. Vale mencionar que o presidente da república é o principal responsável pela desvalorização acentuada do real com suas medidas inacreditavelmente populistas que arrebentam com o teto de gastos, afugentam o capital estrangeiro, aumentam o risco Brasil, pioram a crise fiscal e colocam mais combustível na inextinguível fogueira da crise política nacional em que estamos mergulhados e que consome a esperança e energia dos brasileiros por dias melhores.
O cenário da economia brasileira para 2022 é extremamente sombrio e – ao que tudo indica – deverá piorar substancialmente com a aproximação das eleições presidenciais. Ninguém sabe que outras mais irresponsáveis medidas o delirante ocupante do Planalto irá tomar para tentar estancar a sangria de sua enfraquecida popularidade e tentar se reeleger. O fato é que estamos indo para o brejo e a insegurança dos empresários em novos investimentos aumenta a cada dia. O Brasil está afundando celeremente, mas o comandante do Titanic diz que “não tem nada a ver com isso”.
Analistas políticos de envergadura já apostam que o atual mandatário não chegará ao segundo turno nas eleições presidenciais do próximo ano devido ao aumento espetacular de sua rejeição entre o eleitorado. Quanto menor for a possibilidade percebida de que ele estará no segundo turno maior poderá ser o arsenal de barbaridades populistas que vão minar ainda mais a credibilidade do País no mundo financeiro. E ainda corremos o risco de ter o ex-presidiário de volta. O Brasil às vezes parece uma cleptocracia saudável e consolidada. Não há salvação.
Os números recém publicados do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) sobre o mercado de açúcar apontam uma produção mundial que em dez anos aumentou cerca de 0.58% ao ano, nível de crescimento bem compatível com o aumento da população mundial. Compare-se esse aumento com o do consumo que, segundo a mesma agência, no período de dez anos cresceu a uma taxa anual de 0.80%. Esses dois números analisados em conjunto levam a crer que a formação de estoque mundial foi exígua e a produção atual está muito em linha com o consumo, sem pressionar NY.
Claro que distorções são mais prováveis quando olhamos apenas um ano especifico que pode ter sido atípico, mas que foi usado para a análise em questão, ainda que mereça revisão. Se trabalharmos, por exemplo, com a previsão atual de produção e consumo mundiais e compararmos com a média dos cinco anos anteriores, chegamos a um crescimento médio na produção mundial de 1.01% anual e 0.46% no consumo anual que certamente provoca a formação de estoques de 800-900 mil toneladas por ano.
Ocorre que quando analisamos a evolução do consumo per capita de açúcar em alguns países selecionados ao longo da última década e inserimos a projeção de crescimento populacional usando os dados disponíveis pelo Banco Mundial, chegamos à conclusão que em cinco anos o mundo estará consumindo um adicional de 9 milhões de toneladas de açúcar.
Hoje, o açúcar exportado para o mundo livre, tem como protagonistas (com base nas últimas seis safras) o Brasil 43%, a Tailândia 14% e a Índia 8%. Os dois últimos não nos parecem estar em condições de aumentar sua participação no bolo. Dessa forma, assumimos que o Brasil deverá ser o único a poder prover grande parte daquele consumo adicional acima mencionado. Digamos 2/3. Será capaz disso?
Para o Brasil poder oferecer 6 milhões de toneladas adicionais de açúcar em 2026/2027 além de atender ao crescimento do consumo de etanol anidro e hidratado, muito terá que ser feito para que isso se materialize: uma substancial melhora na produtividade agrícola por meio de novas variedades de cana, aperfeiçoamento dos tratos culturais, expansão nas indústrias atuais modernizando equipamentos, substituição de moendas por outras de maior capacidade que permitam melhor desempenho operacional das usinas, entre outros incrementos.
Ainda assim, com todo esse plano de ação, o Brasil precisaria aumentar sua produção em 2026/2027 em 125 milhões de toneladas de cana, algo como um investimento de US$ 16-20 bilhões equivalentes a 25 novas usinas moendo 5 milhões de toneladas de cana cada uma. Muito difícil hein?
O lado positivo desse exercício de futurologia é que o setor tem todos os ingredientes que podem fazer dos próximos dois ou três anos um período de boa rentabilidade e crescimento sustentável.
Tenham todos um excelente final de semana.
Arnaldo Luiz Corrêa
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