Impacto das medidas sobre os biocombustíveis deve ser limitado sobre preços dos grãos, acreditam analistas
A decisão da Suprema Corte americana favorável às pequenas refinarias de petróleo nos EUA trouxe enorme incerteza à produção de biocombustíveis no país e promoveu, na última sexta-feira (25), uma pressão severa sobre os futuros da soja, do óleo e do milho na Bolsa de Chicago. O recuo dos preços, nesta segunda (28), já começa a ser revertido, mas a incerteza ainda ronda o setor de biodiesel e etanol de milho no país.
Nesta segunda-feira, os futuros do óleo de soja subiram mais de 4%, os de milho mais de 5% e os da oleaginosa em grão, mais de 3%. Como explicou o analista de mercado Luiz Fernando Gutierrez, da Safras & Mercado, não foram informadas grandes novidades neste início de semana e o mercado apenas buscou recuperação.
"O complexo soja como um todo ainda está bastante confuso", afirma Guiterrez.
A decisão dá às pequenas refinarias a possibilidade de que elas peçam a isenção da misturia obrigatória de biodiesel e etanol, o que ainda tem de passar pela EPA, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA, e até que isso aconteça, segue a incerteza.
"Aqui não estamos falando de desmonte do setor de biocombustíveis, também não estamos falando de corte demanda futuro ou atual, pois a Suprema Corte chancelou um fato já ocorrido. A dúvida que fica é como a EPA poderá agir de agora em diante. O setor de biocombustíveis nos EUA está alicerçado no etanol e milho e no biodiesel, esse é o maior programa de biocombustíveis do mundo", detalha o consultor de agronegócios Ênio Fernandes, da Terra Agronegócios.
Assim, ainda como explica o especialista, o setor norte-americano de biocombustíveis deverá debruçar seu poder de lobby sobre os congressistas agora e tentar evitar novas isenções. E não só o setor de biocombustíveis deverá se mobilizar, como também as associações de classe de produtores norte-americanos.
"E essas associações são muito conhecidas por seu poder de lobby, pela sua força política. Todos que têm receita sobre o mercado de milho e soja precisam acompanhar essa decisão, pois ela impacta os preços de várias matérias-primas, e isso afeta o resultado de todos. Vamos ver como evoluem essas decisões", explica Fernandes.
O consultor ainda lembra que a agenda do governo Joe Biden tem em uma de suas bases as políticas ambientais e o incentivo, consequentemente, às energias renováveis, como o biodiesel e o etanol de milho, que consome cerca de um terço da produção norte-americana do cereal. Diante disso, inclusive, o último boletim mensal de oferta e demanda do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) revisou para cima o uso de milho para a produção do combustível em relação aos três anteriores.
"Então, foi um certo exagero a reação do mercado", diz Fernandes. "A volatilidade, pelo menos até meados de julho, tende a continuar e se intensificar. Quando você se aprofunda na informação vê que ela não é tão grave. E a indústria dos biocombustíveis está fazendo seu lobby, e os produtores americanos são extremamente fortes em seu lobby e vão continuar fazendo", conclui.
Para Aaron Fernandes, consultor de mercado da Roach AgMarketing, há ainda algum impacto que poderia ser sentido pelos preços dos grãos no curto prazo, porém, seriam efeitos de vida útil limitada. "No longo prazo, penso que não terá efeito significativo pra afetar o quadro geral de demanda por grãos. Mercados tendem a se ajustar bem às mudanças como essa", diz.
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