Mercado de açúcar: "Sempre alerta", diz Arnaldo Luiz Correa, da Archer Consulting
Depois do debacle da semana passada, o mercado futuro de açúcar em NY encerrou a sexta-feira com o vencimento julho/2021 cotado a 16.98 centavos de dólar por libra-peso, recuperando quase metade dos 118 pontos que havia perdido na semana anterior. Mesmo com a reabilitação dos preços, a valorização do real frente ao dólar praticamente extinguiu, em reais por tonelada, qualquer melhora nos preços nesta semana. O dólar fechou a R$ 4,9300 apreciando 3%. O vencimento julho/21 no açúcar apreciou 12 dólares por tonelada, praticamente o mesmo valor em média dos contratos da 22/23 (maio-22 até março-23).
A diretriz que temos prescrito, qual seja, a de fixar preços do açúcar para exportação em reais por tonelada e concomitantemente comprar calls (opções de compra) out-of-the-money (opções fora-do-dinheiro) 200 pontos acima do mercado, tem funcionado. O mercado também parece sentir maior peso no curto prazo (em função de pouca atividade no mercado físico) e maior solidez para o longo prazo. Acreditamos, por exemplo, que os preços futuros do açúcar para 23/24, em especial se o mundo pós-pandemia se recuperar vigorosamente, podem subir 200 pontos (a média do fechamento na sexta-feira foi de 14.75 centavos de dólar por libra-peso).
Tudo aponta para mais um ou dois anos bem remuneradores para as usinas. Preços internacionais que, convertidos em reais por tonelada, estão bem acima do custo de produção para o Brasil, mas que podem também acelerar a recuperação de outros concorrentes, como o Tailândia.
Commodities agrícolas são cíclicas e é preciso aproveitar os bons momentos. Se mantivermos a política de formação do preço interno dos combustíveis em linha com a paridade internacional não deve haver sobressaltos. O etanol deverá ter preços também sustentados e remuneradores, haja vista que se o consumo interno de combustíveis tivesse mantido o crescimento que apresentava antes da pandemia, ou seja, expandindo a um ritmo anual de 4% ao ano, a demanda por combustíveis (ciclo Otto) estaria hoje 7 bilhões de litros acima do que a realidade do covid-19 nos impôs. Conseguem imaginar o impacto disso nos preços do açúcar se a demanda hoje fosse de 7 bilhões de litros adicionais?
O cenário róseo das safras adiante contrasta com o cenário de curto prazo. A entrega física de açúcar contra o contrato futuro de julho, que expira a semana que vem, deverá ser exígua. A pressão sofrida pelos detentores de contratos comprados abriu o spread julho/outubro além dos 9% de carrego ao ano. Ou seja, quem estava comprado se livrou rapidamente dos contratos pressionando o spread. E o fez certamente por conta de uma demanda enfraquecida. Os fundos não-indexados liquidaram mais de 35,000 lotes, de acordo com o COT (Commitment Of Trades), relatório dos comitentes, publicado pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities.
Na nossa visão, a combinação desses elementos: fraqueza na demanda e fundos ainda possuindo posição comprada num mercado cujo carrego é de 9% ao ano, podem ser o gatilho para uma liquidação mais agressiva por parte dos especuladores. Entenda que quando os fundos rolam uma posição comprada de julho para outubro, eles estão vendendo julho e comprando outubro mais caro (9% ao ano). Fundos normalmente ficam vendidos em mercados em carrego, portanto, é bom ficar esperto.
Os números da UNICA mostrando menor cana moída, mas com uma ATR muito acima da esperada acabaram anulando a expectativa de uma safra tão menor quanto se dizia. Vai ser menor, não há dúvida, mais abaixo do nível que estava refletido nos preços.
Reforçando o que temos falado já há bastante tempo: acreditamos que os preços em reais por tonelada no curto prazo continuarão caindo e os preços em US$ tem espaço para subir na 22/23 em diante, com maior ênfase na 23/34. Há de ser prestar muita atenção a tudo que nos cerca (fatores exógenos) que pode comprometer o céu de brigadeiro que agora admiramos.
Em nosso último comentário acerca da pujança que esperamos ver no setor nesta década. Tudo indica que teremos novos entrantes no mercado. Aliás, tem sido assim já há muito tempo. Maior peso para empresas asiáticas cuja participação no mercado internacional de açúcar deve crescer em ritmo acelerado. Não falamos, por falta de espaço, do crescimento na África. O continente não apenas tem elevadas taxas de crescimento populacional, mas a renda per capita cresce a razão de 2.2% ao ano, dobrando a cada 30 anos.
Alguns estudos acreditam que dada a menor taxa de natalidade em grande parte do planeta, a população da Terra deverá se estagnar por volta de 2045/2050 em torno de 9.5 bilhões de habitantes, mais ou menos 2 bilhões de habitantes acima de hoje. Esse adicional virá principalmente de Ásia e África. É para esses dois continentes que as atenções devem ser dirigidas. A energia limpa consumida na África representa 46% do total consumido no continente, praticamente hidroelétricas. O potencial de consumo de energia per capita é explosivo: o consumo hoje é menos de 20% do que consome a Índia, por exemplo. Quanto maior a renda, maior o consumo de energia.
Muita coisa ruim precisaria acontecer para que essa expectativa de um década pujante pudesse se esvair. Só uma tempestade perfeita que envolveria vários fatores exógenos, climáticos, políticos, cambiais, institucionais e sabe-se lá mais o que. Sempre alerta.
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Estão abertas as inscrições para os nossos dois já consagrados Cursos: o Essencial de Futuros em Commodities Agrícolas (de 16 a 20 de agosto) e o Avançado de Opções em Commodities Agrícolas (de 20 a 24 de setembro). Não percam. Depois só em 2022.
Um bom final de semana a todos
Arnaldo Luiz Corrêa
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