Fed avança com cautela para debate sobre redução de estímulos meses antes de agir
Pela segunda vez em menos de uma década, o Federal Reserve está preparando-se para lançar um debate delicado sobre como e quando encerrar um grande programa de compra de ativos que ajudou a proteger uma economia abalada pela crise, mas o deixou com uma montanha de títulos que pode permanecer em seu balanço pelos próximos anos.
A discussão inicial das autoridades sobre como e quando reduzir suas compras mensais de 120 bilhões de dólares em títulos deverá acontecer na reunião de política monetária desta semana e acontecerá sob um cenário dramaticamente diferente do que da última vez, quando eles estavam mais temerosos de possuir uma fatia tão substancial do mercado de títulos.
"Acho que a discussão vai começar" na reunião do Fed que ocorre de terça a quarta-feiras", afirmou o economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais, Robin Brooks. "Acho que vai começar com muito, muito cuidado", acrescentou, e o chair do Fed, Jerome Powell, não terá pressa em concluí-lo.
O risco de outro "taper tantrum" - a turbulência do mercado que eclodiu há oito anos, quando autoridades do Fed sugeriram, pela primeira vez, a ideia de reduzir a compra de títulos após a Grande Crise Financeira - parece remoto desta vez. Autoridades do Fed apresentaram muitas pistas acerca do caminho para redução desta vez, e autoridades importantes sinalizaram que a discussão está em andamento, e os mercados até agora têm seguido com calma.
Em dezembro de 2020, o Fed informou que continuaria a adquirir 80 bilhões de dólares em Treasuries e 40 bilhões de dólares em títulos lastreados em hipotecas mensalmente, até que a economia apresente um "progresso adicional substancial" em direção às metas do banco central, de pleno emprego e 2% de inflação. A compra de títulos pressiona para baixo os custos de empréstimos de longo prazo para estimular o investimento e contratações.
Apesar de ter havido muito progresso para desacelerar a pandemia, com uma imunização disseminada, os empregadores norte-americanos criaram menos da metade dos dois milhões de empregos que Powell sugeriu que esperava após a última reunião da autoridade monetária, em abril.
O medo da infecção, uma reorganização do mercado de trabalho impulsionada pela pandemia e benefícios adicionais ao desemprego estão entre os fatores que impedem os trabalhadores de trabalhar, mesmo quando as empresas tentam aumentar seu quadro de funcionários antes do aguardado "boom" de verão. Mais de 9 milhões de norte-americanos estão desempregados.
Enquanto isso, a inflação veio mais alta do que projetado, mas os ganhos foram impulsionados por fatores que devem ser transitórios, como um gargalo na produção global de semicondutores.
"Temos muitas coisas estranhas ocorrendo agora", disse Alejandra Grindal, economista-chefe internacional da Ned Davis Research. "Levará alguns meses até que esses problemas sejam resolvidos e possamos determinar se eles são mais do que transitórios."
Em uma pesquisa da Reuters na semana passada, a maioria dos economistas afirmou esperar que o banco central demore pelo menos até agosto para sinalizar um cronograma de redução gradual dos estímulos, sem reduções reais até o início do próximo ano.
ECONOMIA DIFERENTE, ESTRUTURA DIFERENTE
Em comparação à última vez em que o Fed estava pensando em reduzir a compra de títulos, a economia norte-americana está, indiscutivelmente, em melhor forma. A taxa de desemprego está mais baixa, a produção nacional geral está mais próxima de sua tendência pré-crise e ajudas mais fortes, incluindo 2,8 trilhões de dólares em pacotes de gastos governamentais nos últimos seis meses, estão configurando o que se espera ser o crescimento econômico mais rápido este ano em décadas.
Mas, apesar de tudo isso, o Fed parece menos ansioso para tirar o pé do acelerador da política monetária do que da última vez.
Parte disso é porque a maioria dos banqueiros centrais, antes cautelosos com os custos do afrouxamento quantitativo e ansiosos para interrompê-lo o mais rápido possível, acostumaram-se com a ideia de que a compra de títulos faz parte do conjunto de ferramentas do Fed. Um grande balanço patrimonial, visto como um problema a ser corrigido quando as carteiras totalizavam cerca de 4 trilhões de dólares, não é mais um motivo particular de alarme, embora agora o balanço seja duas vezes maior.
Também é porque, desde o ano passado, o Fed opera sob uma nova estrutura. O objetivo agora é fazer com que a inflação fique um pouco acima de 2% para compensar longos períodos de alta de preços abaixo de 2% e corrigir qualquer déficit do pleno emprego abrangente e "inclusivo", sem nenhuma preocupação de equilibrar a ultrapassagem da meta.
"É um Fed diferente, é uma estrutura diferente", disse Gregory Daco, da Oxford Economics.
Quinze meses depois de o Fed reduzir pela primeira vez a taxa de juros de curto prazo para zero e começar a comprar títulos para sustentar a economia e os mercados financeiros, as autoridades do Fed não devem alterar a política monetária esta semana. É provável que Powell use sua entrevista coletiva após a reunião para enfatizar, como tem feito há meses, que a economia ainda está muito longe de uma recuperação total.
0 comentário
Dólar fecha em leve baixa após BC vender US$3 bilhões ao mercado
Leilões de títulos não buscam controlar dólar ou juro e mercado está funcionando, diz coordenador do Tesouro
Moraes mantém prisão de Braga Netto e Mario Fernandes
Brasil tem fluxo cambial negativo de US$18,427 bi em dezembro até dia 20, diz BC
Dívida pública federal sobe 1,85% em novembro, para R$7,204 tri, diz Tesouro
Gabinete Presidencial de Taiwan faz primeira simulação de mesa sobre emergência com China