Dólar fecha em queda atento a Orçamento, mas incerteza permanece

Publicado em 05/04/2021 19:12 e atualizado em 05/04/2021 19:54

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Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar começou a semana em queda frente ao real, captando algum alívio no noticiário sobre o Orçamento e, por conseguinte, em novos questionamentos sobre a permanência do ministro da Economia, Paulo Guedes, no cargo.

A moeda, porém, fechou a alguma distância das mínimas intradiárias e perto das máximas, evidência do grau de desconforto com o tema que ainda aflige o mercado.

O dólar à vista fechou esta segunda-feira em queda de 0,60%, a 5,6798 reais na venda, após oscilar entre 5,6845 reais (-0,52%) e 5,6341 reais (-1,40%).

A moeda foi à mínima do dia ainda pela manhã, quando o mercado repercutiu mais visivelmente informações sobre acordo entre a equipe econômica do governo e líderes do Congresso sobre o Orçamento 2021, segundo disse à Reuters uma fonte próxima às negociações.

O Orçamento endossado pelos parlamentares duas semanas atrás causou alvoroço no mercado por, nas avaliações de analistas e de integrantes do próprio governo, trazer estimativas irreais de gastos e receitas e pelo robusto volume de emendas parlamentares, em mais uma evidência da dependência do governo em relação a alguns grupos de congressistas, sobretudo o centrão.

O mal-estar deixou o presidente Jair Bolsonaro entre a equipe econômica e o Congresso e trouxe de volta ao radar debate sobre a permanência de Paulo Guedes no cargo. O ministro havia classificado a peça orçamentária como "inexequível".

"Acho que, com isso (o suposto acordo), a questão da saída do Paulo Guedes perdeu bastante tração", disse Roberto Motta, responsável pela mesa de derivativos da Genial Investimentos, segundo o qual, com os rumores em torno da saída do ministro se espalhando, os estrangeiros compraram entre quarta e quinta-feiras 76 mil contratos futuros de dólar no mercado local.

"Mas se a turma do fura-teto ganhar importância, ganhar mais verbas, talvez eu não descarte a saída de Paulo Guedes. (...) A gente vai conviver com essas idas e vindas daqui até as eleições (de 2022)", completou.

Em participação em evento virtual da XP, Guedes mostrou seu costumaz otimismo com a economia ao voltar a falar de desestatizações, avaliar que as reformas administrativa e tributária serão aprovadas neste ano e lembrar os leilões de concessões nesta semana. Guedes ressalvou, porém, que vetar o texto do Orçamento --sua ideia preferida-- é politicamente "complicado".

Guedes "começou muito bem o evento, mas já adota a sua retórica de voltar no tempo e na história de séculos atrás para explicar o presente. Acho que, nesses momentos, ele se perde um pouco", avaliou Dan Kawa, CIO da TAG Investimentos, segundo o qual as expectativas são de baixa adesão de estrangeiros nos leilões de concessões desta semana.

Mais cedo, investidores analisaram falas do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao Estadão. Campos Neto reforçou que o BC está preocupado com as contas públicas, disse que o Orçamento pode aumentar o risco fiscal e atrapalhar a política monetária e reafirmou que a autarquia não faz política de juros olhando para a taxa de câmbio.

Alguns no mercado entenderam que, com uma preocupação adicional para o BC (o Orçamento), há risco de mais impacto sobre a inflação, o que levaria o BC a subir os juros além do que ele próprio tem indicado --movimento que seria em teoria benéfico ao real.

Ibovespa sobe quase 2% puxado por salto de mais de 6% de Vale

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SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa subiu quase 2% nesta segunda-feira e fechou acima dos 117 mil pontos pela primeira vez desde 19 de fevereiro, puxado pela disparada de Vale após anúncio de recompra de ações e endossado por máximas em Wall Street em meio a perspectivas otimistas para a economia norte-americana.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa encerrou em alta de 1,97%, a 117.518,44 pontos. O volume financeiro da sessão somou 25,9 bilhões de reais.

As bolsas em Nova York começaram a semana com novos recordes para o S&P 500 e para o Dow Jones, após dados do mercado de trabalho e do setor de serviços nos Estados Unidos alimentarem expectativas de que o país pode ter em 2021 o melhor crescimento econômico anual em quase quatro décadas.

O Departamento do Trabalho norte-americano divulgou na sexta-feira que foram criados 916 mil postos de trabalho em março, em termos líquidos e fora do setor agrícola, acelerando o ritmo de contratações em relação a fevereiro (468 mil) e superando as expectativas (647 mil vagas).

Nesta segunda-feira, o índice de atividade do setor de serviços divulgado pelo Instituto de Gestão do Fornecimento (ISM, na sigla em inglês) se recuperou para uma leitura de 63,7 no mês passado - máxima histórica da pesquisa e depois de uma marca de 55,3 em fevereiro.

Na visão do chefe de renda variável da Speed Invest, Caio Rodrigues, principalmente os números sobre a criação de vagas de trabalho dos EUA mostraram que aquela economia está bem mais aquecida do que economistas esperavam, o que está sendo visto com "ótimos olhos".

"O mercado está bem forte lá fora, e isso está puxando também o mercado brasileiro."

DESTAQUES

- VALE ON disparou 6,16%, para nova máxima de fechamento de 103,39 reais. O conselho da mineradora aprovou na quinta-feira um programa de recompra de até 270 milhões de ações, que representam até 5,3% do número total em circulação. E o Ministério Público Federal decidiu arquivar um requerimento do empresário israelense Benjamin Steinmetz, que acusava executivos da empresa de práticas ilícitas ligadas ao projeto minerário de Simandou, na Guiné.

- ITAÚ UNIBANCO PN e BRADESCO PN avançaram 1,29% e 0,92%, respectivamente, beneficiados pelo clima generalizado de maior apetite a risco. Já BANCO DO BRASIL cedeu 0,13%, após renúncia de membros do conselho de administração, incluindo o presidente do colegiado. O presidente Jair Bolsonaro nomeou na semana passada Fausto de Andrade Ribeiro como novo presidente do BB.

- PETROBRAS PN fechou com acréscimo de 0,63%, em sessão marcada por queda dos preços do petróleo no exterior, com o Brent caindo mais de 4%. A companhia anunciou nesta segunda-feira que os seus preços para venda de gás natural a distribuidoras terão salto de 39% a partir de 1° de maio, quando aplicará reajuste trimestral previsto em contrato.

- YDUQS ON e COGNA ON subiram 8,67% e 5,99%, respectivamente, encontrando suportes no clima mais favorável na bolsa, além de expectativas ligadas à vacinação no país. Os papéis acumulam queda de cerca de 12% no ano, contra declínio ao redor de 1% do Ibovespa. A expectativa de reabertura da economia tem beneficiado papéis, assim como CVC, que encerrou com alta de 5,4%.

- CEMIG PN caiu 2,04%, em meio a ajustes, após subir quase 9% em março, na esteira de resultado trimestral e anúncio de que espera concluir a venda de sua participação na transmissora de energia elétrica Taesa ainda neste ano. A elétrica estatal estimou avaliou na semana passada que o resultado de 2021 deve ser apoiado por acordo fechado com o governo ano passado sobre o chamado "risco hidrológico".

- QUALICORP ON cedeu 1,28%, terceiro pregão seguido de perda após divulgação do resultado trimestral conhecido na semana passada, que mostrou queda em receitas, desempenho operacional e margens.

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Fonte:
Reuters

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