Excesso de chuvas no Brasil reduz qualidade da soja e gera perdas para a safra
Por Nayara Figueiredo
SÃO PAULO (Reuters) - O amplo volume de chuvas em algumas das principais regiões produtoras de soja no Brasil tem reduzido a qualidade dos grãos e já acarreta perdas para a safra 2020/21, apesar de o país ainda caminhar para uma colheita recorde, segundo integrantes do setor e especialistas.
O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Bartolomeu Braz Pereira, disse à Reuters que será feita uma revisão para baixo na projeção mais recente da entidade, que está entre 129 milhões e 130 milhões de toneladas para a oleaginosa.
"O problema de chuva está geral... está grave e tem muito problema na qualidade dos grãos, grãos ardidos, o produtor está perdendo muito com isso", afirmou.
Segundo ele, os agricultores perdem por grãos que não puderam ser colhidos e pela redução de peso do produto que passou pela colheita, mas tem umidade excessiva.
O cenário tem ocorrido em regiões de "Mato Grosso, boa parte de Goiás, Piauí, Maranhão, Paraná, uma parte de Minas Gerais. (Em) Tocantins é demais", citou Pereira.
Ele ainda disse que a revisão na projeção da Aprosoja só não foi realizada ainda porque o país, maior produtor e exportador global da oleaginosa, está no "epicentro" do problema.
Desta forma, assim que as perdas forem mensuradas com mais clareza, o número da entidade --que já é inferior aos 133,8 milhões de toneladas projetados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)-- será revisto.
Mais cedo, nesta sexta-feira, a empresa de consultoria meteorológica Rural Clima reduziu suas estimativas para soja e milho segunda safra, indicando prejuízos causados pelas chuvas excessivas.
O clima na América do Sul está no radar do mercado e motivou, inclusive, altas na bolsa de Chicago nesta semana. Além das chuvas no Brasil, episódios de seca na Argentina ligaram um alerta sobre a oferta global.
Nesta sexta-feira, por exemplo, o contrato mais ativo da soja subiu 19,50 centavos de dólar, para 14,30 dólares por bushel.
COLHEITA
Após um plantio feito tardiamente e dificuldade de acesso às lavouras, em meio a muitas precipitações, o Brasil registra lentidão e atraso na colheita.
De acordo com a consultoria Pátria AgroNegócios, há 34,19% da safra brasileira de soja colhida até esta sexta-feira, contra 52,26% no mesmo período de 2020 e uma média histórica de 52,60%.
A consultoria calcula que entre 44 milhões e 44,5 milhões de toneladas da oleaginosa já foram retiradas dos campos.
"A Pátria tem sido alertada por seus clientes no centro-norte do país que as chuvas incessantes continuam impedindo o deslanchar da colheita, ao mesmo tempo que os talhões colhidos no Sul do Brasil trazem número decepcionantes acarretados por semanas consecutivas de estiagens."
O diretor da Pátria, Matheus Pereira, ressaltou que nos sete primeiros dias da soja pronta para ser colhida, o grão perde 1% de peso por dia no campo. Após os sete dias, as perdas aumentam para 2% por dia.
Em Mato Grosso, maior Estado produtor da cultura, a colheita avançou para 67,20% da área, alta de 15 pontos em uma semana, informou o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
Os trabalhos, no entanto, estão 24,27 pontos atrás do registrado na mesma época de 2019/20 e têm atraso de 13,07 pontos ante a média histórica para esta época do ano, segundo o instituto.
Sobre as chuvas, o gerente de inteligência de mercado do Imea, Cleiton Gauer, disse à Reuters que o órgão passou a ouvir relatos sobre problemas com maior intensidade nas últimas semanas, mas ainda não há uma avaliação sobre o impacto geral para o Estado.
De acordo com dados da Refinitiv, as chuvas seguem nos próximos dias, com acumulados de cerca de 60 milímetros até o dia 10 em Mato Grosso. Algumas áreas do Paraná vão registrar cerca de 50 milímetros acumulados no mesmo período.
(Reportagem adicional de Roberto Samora)
0 comentário
Pátria: Plantio da soja 2024/25 chega a 83,29% da área
Soja tem cenário de sustentação em Chicago agora, principalmente por força da demanda
USDA informa novas vendas de soja nesta 6ª feira, enquanto prêmios cedem no Brasil
Soja opera estável nesta 6ª em Chicago, mas com três primeiros vencimentos abaixo dos US$ 10/bu
Soja volta a perder os US$ 10 em Chicago com foco no potencial de safra da América do Sul
USDA informa nova venda de soja - para China e demaisa destinos - e farelo nesta 5ª feira