Renato Dias: Doria enfrenta manifestações no interior de S.Paulo; Bauru quer o seu impeachment

Publicado em 05/02/2021 16:14 e atualizado em 06/02/2021 19:41
Tempo & Dinheiro - Com João Batista Olivi

Não adianta chorar, escreve Marcelo Tognozzi (no Poder360)

Autor analisa eleições no Congresso e vê esquerda parada no tempo (E Kassab como discreto vencedor)

Na abertura do ano do Legislativo, Bolsonaro deu recado à oposição: "Nos vemos em 2022".

Mário Vianna (com 2 ênes, como ele gostava de frisar) foi um dos mais polêmicos juízes de futebol e comentarista esportivo ferino. Forjado na temida Polícia Especial de Getúlio Vargas, cuja especialidade era prender e torturar comunistas, começou a vida como engraxate. Mas o destino acabou levando Mário para dentro da cabine da Rádio Globo, a qual dividia com velho comunista João Saldanha.

 

Cada um do seu jeito, Mário e João tinham traço comum: com eles era papo reto, preto no branco, pão, pão, queijo, queijo e ponto final. Mário Vianna encerrou sua carreira de juiz de futebol depois de denunciar corrupção na Fifa. Saldanha encerrou a sua de técnico, ao recusar “sugestões” do presidente-general Emílio Garrastazu Médici sobre a escalação da Seleção que disputaria o mundial de 1970.

Passei boa parte da infância e adolescência ouvindo as transmissões dos jogos do Flamengo e da Seleção num radinho de pilha com capa de couro que ganhei do meu pai. Gostava do Mário Vianna estridente, curto e grosso nos comentários. Se o jogador estava impedido, como decretou o Supremo no caso da reeleição de Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, ele gritava: “Banheira!” Se o time fazia o gol que virava o jogo, o locutor Celso Garcia, companheiro de Mário decretava: “Não adianta chorar! A nega tá lá dentro”. Nega, esclareço por pura prevenção, era a bola. E só a bola.

Quando Arthur Lira arrancou 302 votos para a presidência da Câmara e Rodrigo Maia chorou, lembrei-me do Mário e do Celso Garcia. A vitória representou muito mais, porque os deputados alinhados com a centro-direita formam um time mais numeroso. Reparem: se somados os 21 votos do deputado Fábio Ramalho, do MDB mineiro, os 13 dados ao líder do Novo, Marcel van Hattem, e mais os 4 de André Janones, do Avante, e General Peternelli, do PSL, teremos 339 votos.

Entretanto, a conta não para por aí. Dos 145 votos recebidos por Baleia Rossi, pelo menos uns 20 vieram de deputados com perfil conservador e sem a menor simpatia pelas pautas da esquerda. Ou seja: os conservadores têm hoje algo como 359 votos. Eles venceram mais uma vez e esta é a realidade nua e crua. O resto é perfumaria. Só quem não conhece política e como ela é feita acredita que Bolsonaro foi derrotado. O que vale é o placar. Como dizia o velho Mário, “Gol Leeeegal”.

Por que isso é importante? Porque a oposição continua com o mesmo tamanho da época do impeachment de Dilma. Façamos as contas: descontados os 20 votos conservadores dados a Baleia Rossi, sobrariam 125. Somados aos 16 de Luiza Erundina do Psol, temos um total de 141. Este é o tamanho real da oposição na Câmara hoje. Em 2016, quando os deputados autorizaram a abertura do processo de impeachment de Dilma, 137 deputados votaram com a “presidenta”. Nada mudou, como mostram o placar e a matemática.

Como política não é ciência exata, no Senado as contas são um pouco diferentes, porque o PT votou com o DEM ajudando a eleger o mineiro Rodrigo Pacheco. Ele recebeu 57 votos contra os 21 dados à senadora Simone Tebet, que não é nem nunca foi de esquerda. Eleita pelo Mato Grosso do Sul, Estado eminentemente agrícola, Simone tem perfil conservador. A oposição no Senado vai acabar girando em torno de 30 a 35 senadores, o que ainda garante aos aliados do governo maioria para aprovação de matérias importantes, mas isso não virá por gravidade. Será preciso negociar caso a caso.

A pedra no sapato será o senador Renan Calheiros, escolhido líder da Maioria. Poucos senadores têm a astúcia e a experiência de Renan, que resolveu sair da toca depois de 2 anos hibernando. Sabe tudo. É mestre na arte de atazanar a vida dos adversários. Vai voltar em grande estilo.

O que aconteceu de importante nestas duas eleições, além da vitória do Planalto, foi a exposição de uma oposição fragmentada, tanto a esquerda quanto o tucanato. O PT votou em Baleia Rossi, candidato de Rodrigo Maia, ambos da ala conservadora da política. Junto foram o PC do B e a Rede. Morreram todos abraçados, em vez de marcar posição apoiando Luiza Erundina, candidata do Psol, uma deputada com mais de meio século de militância e nenhuma mancha na reputação. O Psol, em protagonismo ascendente desde a eleição do ano passado, agora tem todos os argumentos, motivos e estímulos para ocupar um quinhão maior na oposição, empurrando o PT para o corner e colhendo mais votos na classe média urbana.

Rodrigo Maia e João Doria apostaram alto e perderam. O que poderia ser o começo da construção de uma candidatura de centro, com uma frente capaz de abrigar opostos, como a cabine da Rádio Globo dividida por Mário Vianna e João Saldanha, acabou indo por água abaixo. Foi levada pela enxurrada conservadora e o cenário para 2022 voltou a ficar aberto. Ainda não surgiu candidato capaz de confrontar Bolsonaro de igual para igual. Aqueles que sonhavam com Moro desistiram. O ex-juiz enfrentará um calvário duríssimo nos próximos meses, diante das chances concretas de o Supremo anular suas decisões do tempo em que comandava a Lava Jato desde a sua cadeira na 13ª Vara Federal de Curitiba. Moro não deve voltar dos Estados Unidos tão cedo.

Nos bastidores deste turbilhão, Gilberto Kassab, comandante do PSD, sai consolidado como um dos mais hábeis e eficientes políticos da sua geração. Seu senso de oportunidade fez com que colocasse o PSD na cara do gol na sucessão do Senado, ao mesmo tempo em que foi fundamental nas articulações na Câmara. Entrou e saiu com discrição total e discreto permanecerá.

Foi ele quem ajudou a viabilizar a candidatura de Rodrigo Pacheco à presidência do Senado, modelando um acordo pelo qual o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, disputará o governo de mineiro em 2022. Ao mesmo tempo em que resolveu a vida de Kalil, ajudou Pacheco a resgatar o protagonismo político de Minas Gerais. Quando o atual presidente do Senado nasceu, em novembro de 1976, quem presidia a Casa era Magalhães Pinto e Minas teve de esperar 44 anos para voltar ao comando Congresso.

O 2º tempo do jogo está rolando. Na sessão de reabertura do Congresso, Bolsonaro, no melhor estilo Mário Vianna, deu um recado aos deputados que protestavam contra ele: “Nos encontramos em 2022”. Quando era juiz, Mário apitou uma partida e a torcida do time perdedor o esperava na porta do estádio. Dois policiais entraram no vestiário dizendo que estavam ali para protegê-lo, porque o clima era tenso. Sua resposta foi curta e grossa: “Pois então saiam lá fora e protejam a multidão, porque Mário Vianna vai sair”. (por MARCELO TOGNOZZI / Poder360). 

Instabilidade ou estabilidade?, questiona Alon Feuerwerker

Centrão mostra força no Congresso; Siglas tendem a se juntar a Bolsonaro (Poder360)

Vitoriosas as candidaturas apoiadas pelo Planalto na eleição das mesas do Congresso Nacional, abriu-se o debate sobre a solidez da aliança entre Jair Bolsonaro e o assim chamado Centrão. O discurso corrente é o pacto tender à fragilidade, pela contradição entre o programa liberal e austero, capitaneado pelo ministro da Economia, e uma dita tendência gastadora e estatista da coalizão parlamentar vencedora em 1º de fevereiro.

Ou seja, o vetor dominante seria de instabilidade.

Antes de entrar nessa discussão, vale notar que a “frente ampla” antibolsonarista mostrou bem mais vigor nas páginas da cobertura política pré-eleitoral do que na urna eletrônica propriamente dita. Arthur Lira (PP-AL) teve cerca de quinze a vinte votos além do que lhe davam as medições mais calibradas, mas Baleia Rossi (MDB-SP) recolheu no mínimo uns cinquenta a menos. Que provavelmente vazaram na maior parte para candidatos sem chance.

Ao final, a esmagadora maioria dos votos de Rossi vieram dos partidos “de oposição mesmo”, da esquerda e da rotulada centro-esquerda. A direita e a assim chamada centro-direita ficaram com Lira. A ideia de uma coligação tática entre, vamos simplificar, a esquerda e setores antibolsonaristas da direita não passou nem da fase de grupos neste primeiro teste. E aí irrompeu, como habitual, a explicação mais fácil: as verbas e os cargos.

E disso nasceu a suposição de que a união entre o presidente da República e a maioria reunida em torno de Lira e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) [o Senado não tem tanta utilidade assim para a análise, pois ali até o PT apoiou o vencedor] é frágil, baseada apenas na troca de favores. O futuro dirá, mas essa visão corre o risco de estar mais influenciada pela insatisfação com o desfecho da refrega do que pelos fatos à disposição do analista.

Por falar neles, os fatos, um é que a Câmara tem hoje, como vem tendo tradicionalmente, pelo menos dois terços de deputados eleitos do ponto médio para a direita, sobrando um terço para o outro campo. Como alguns segmentos da direita apoiavam os governos petistas em troca de espaço na Esplanada e poder sobre recursos orçamentários, floresce a teoria de que seriam parlamentares, digamos, sem lado, sem cor ideológica.

Será? Um problema sério da candidatura Baleia Rossi foi deputados do MDB, DEM e PSDB precisarem administrar nas suas bases estar aliados ao PT e à esquerda. Isso ajudou a induzir à ruptura do Democratas e quase levou à ruptura do PSDB. Aliás, basta relembrar qual tinha sido o clima nos municípios em que emedebistas, tucanos e demistas tiveram de enfrentar adversários da esquerda no ainda recente novembro de 2020.

Notou-se também na 2ª-feira, abertos os resultados, que se a oposição de verdade tivesse lançado um candidato do seu bloco possivelmente teria ficado em segundo lugar. E se houvesse segundo turno teria perdido nele para Lira. Aliás, o apoio da esquerda a Rossi foi explicado também pela impossibilidade de o chamado centro votar na esquerda. No fim, ele votou mesmo foi de cara no candidato do governo. Um banho de realidade.

A força centrípeta exibida pelo bolsonarismo na eleição das mesas deveria produzir alguma cautela nas previsões de instabilidade na relação com o Congresso. Se a popularidade de Bolsonaro não descer pelo ralo, a tendência é o presidente ir ao segundo turno em 2022 (na hipótese de haver dois turnos). Isso dá a ele uma expectativa de poder que serve de ímã. E não haveria dificuldade maior de a massa parlamentar acoplar-se a Bolsonaro na eleição.

O que poderia desestabilizar essa fórmula? O surgimento, do outro lado, de uma força eleitoral capaz de expressar possibilidade real de poder. A correlação de forças está à espera desse adversário. É como a política funciona.

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Alon Feuerwerker, 63 anos, é jornalista e analista político e de comunicação na FSB Comunicação. Militou no movimento estudantil contra a ditadura militar nos anos 1970 e 1980. Já assessorou políticos do PT, PSDB, PC do B e PSB, entre outros. De 2006 a 2011 fez o Blog do Alon. Desde 2016, publica análises de conjuntura no blog alon.jor.br. Escreve para o Poder360 aos sábados.

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Fonte:
Notícias Agrícolas/Poder360

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