Resistente à seca, sorgo é opção para o Nordeste

Publicado em 16/09/2020 14:34

O sorgo está entre os cereais mais plantados no globo, destacando-se por sua maior tolerância ao estresse hídrico quando comparado a outras culturas. Geralmente, o cultivo deste grão é realizado em épocas mais tardias, em que o volume de chuvas esperado não é suficiente para a cultura do milho.

Por ser mais resistente à falta de chuva, o sorgo é uma das culturas recomendadas para a região Nordeste do Brasil. O pesquisador Cícero Beserra de Menezes, da Embrapa Milho e Sorgo, ressalta os benefícios dessa cultura e diz por que ela é uma das mais resistente ao déficit hídrico.

 “O sorgo está entre os cereais mais tolerantes à seca, junto com o milheto, podendo se adaptar plenamente no Nordeste. Este cereal é oriundo da África, de um clima bem semelhante, ou até mais drástico, do que o semiárido nordestino. O sorgo possui mecanismos de tolerância à seca, como o sistema radicular mais profundo e ramificado, o que o torna mais eficiente na extração de água do solo”, relata.

“A tolerância está relacionada à fisiologia da planta, em que ela diminui seu metabolismo, murcha e enrola a folha em condições de seca, e depois recupera o estado normal quando a umidade retorna ao solo. O sorgo também possui uma substância cerosa na junção entre a bainha e o limbo foliar, o que o leva a perder menos água durante a transpiração, resultando em maior economia, principalmente em condições de estresse hídrico. Tanto o sorgo granífero quanto o silageiro possuem estas caraterísticas”, explica Menezes.  

Experiência no campo

A experiência no campo comprova as qualidades de duas cultivares de sorgo e a resistência da cultura ao déficit hídrico. Na Fazenda Tijuca, localizada em Beberibe, município do Ceará, são cultivadas lavouras de sorgo silageiro BRS Ponta Negra e de sorgo granífero BRS 373. O sorgo BRS 373 é cultivado em consórcio com a lavoura de caju.  E o Ponta Negra é utilizado para silagem, que alimenta o gado de leite.

Na fazenda, os trabalhos são coordenados pelos agricultores Adalberto Pereira Lima e Arthur Nilson dos Santos. “As tecnologias BRS desenvolvidas na Embrapa Milho e Sorgo contribuem para o desenvolvimento regional”, diz Lima.

O engenheiro agrônomo Sinval Resende Lopes, do setor de Transferência de Tecnologias da Embrapa Milho e Sorgo, acompanhou as atividades realizadas na Fazenda Tijuca. “Em uma visita fizemos a análise de impacto econômico, social e ambiental das tecnologias BRS em ambiente produtivo. É a Embrapa trabalhando com inteligência competitiva, estabelecendo parcerias com o setor privado e o setor produtivo para garantir o abastecimento mesmo em tempos de pandemia”, disse.

Uma das atividades da Tijuca consiste no consórcio do cajueiro anão em cultivo orgânico com o sorgo BRS 373. A área cultivada é de 350 hectares. O controle biológico de pragas é realizado por meio da tecnologia do biopesticidas à base da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt).

Além da produção de castanha e do aproveitamento do caju (pedúnculo) para a produção de suco, a área de 350 ha, em integração, viabiliza a produção de grãos e de forragem para a suplementação do rebanho leiteiro. São produzidos sete mil litros de leite por dia.

Em outra lavoura da propriedade é feito o cultivo exclusivo do Sorgo BRS Ponta Negra, em uma área de 400 hectares. Nessa área, também é utilizado o Bt para controle de pragas.

Controle biológico de pragas

O Bacillus thuringiensis (Bt) e o biopesticida à base do vírus baculovírus são tecnologias utilizadas para o controle biológico de pragas, principalmente para conter a lagarta-do-cartucho (Spodoptera-frugiperda). Essa lagarta ataca grandes culturas, incluindo o algodão, o milho, a soja, o sorgo.

“Esses produtos biológicos à base de Bt e/ou baculovírus são eficientes e matam as lagartas menores. Um fator decisivo para o sucesso desses produtos é o posicionamento deles em relação ao aparecimento da praga”, explica o pesquisador Fernando Hercos Valicente, responsável pela tecnologia, da Embrapa Milho e Sorgo.

Manejo e cuidados com a lavoura

Para escolher uma cultivar mais adequada, o agricultor deve definir o objetivo da lavoura. “No caso de sorgo granífero, as cultivares plantadas no Sudeste podem também ser usadas no Nordeste, como o BRS 373 e o BRS 330. O ciclo vai reduzir um pouco, mas isso é até vantagem. Pequenos produtores devem prestar atenção ao ataque de pássaros, similar ao que ele já faz com a lavoura de arroz”, comenta o pesquisador Cícero Menezes .

“Já no caso de sorgo forrageiro, o produtor deve procurar cultivares que tenham menor suscetibilidade ao fotoperíodo, como as cultivares Ponta Negra e IPA 1011. No Nordeste, os híbridos desenvolvidos para o Sudeste irão apresentar planta mais baixa, resultando em menor produção de massa verde, mas em compensação eles podem produzir panículas maiores, resultando em mais grãos, o que melhora a qualidade da silagem. O híbrido BRS 658 plantado em Sobral-CE apresentou essas características, e também se mostrou mais uniforme, o que facilita acertar o ponto certo de colheita”, diz Menezes.

Segundo ele, a grande vantagem do sorgo em relação ao milho é sua maior tolerância à seca. “Mas, para se obter altas produtividades, são necessários os mesmos cuidados tomados para outras culturas, como correção de solo, adubação, manejo de doenças e pragas e controle de plantas daninhas. A adubação aumenta a produtividade do sorgo e torna a planta ainda mais tolerante à seca”, recomenda.

“Outro cuidado especial que o produtor de sorgo precisa ter é a profundidade de semeadura das sementes, por ela ser menor que a do milho e a da soja. A profundidade certa deve ser de três centímetros, indo até cinco centímetros, se for em solo arenoso”, explica Menezes.

Ele ressalta que desde a safra 2018/2019 vem ocorrendo no Brasil o pulgão-da-cana-de-açúcar (Melanaphis sacchari). “Pedimos aos produtores que monitorem semanalmente suas lavouras, pois, se manejado cedo, o pulgão é fácil de ser controlado, mas se ele se multiplicar muito pode destruir a lavoura totalmente”, orienta Menezes.

Produção e comercialização de sementes

A genética Embrapa chega aos agricultores por meio das sementes. “Elas são produzidas e comercializadas por produtores especializados, licenciados pela Embrapa e devidamente inscritos no Registro Nacional de Sementes e Mudas (RENASEM) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, para essa atividade”, informa o engenheiro agrônomo Reginaldo Resende Coelho, da Secretaria de Inovação e Negócios da Embrapa.

“Na safra inverno 2020, para a cultivar BRS Ponta Negra, foram inscritos 526 ha no Ministério da Agricultura para a produção de sementes, com estimativa de produção 1.300 toneladas. E para o BRS 373, a área de produção de sementes foi de 233 ha, com estimativa de produção de 550 toneladas”, diz Coelho.

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Embrapa

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