Safra de soja do Brasil deve crescer quase 6% diante de rentabilidade jamais vista
Por Roberto Samora e Nayara Figueiredo
SÃO PAULO (Reuters) - A safra de soja do Brasil 2020/21 foi estimada nesta sexta-feira em recorde de 131,7 milhões de toneladas, o que seria um crescimento de quase 6% ante o número da temporada anterior revisado para cima pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no mês passado, de acordo com pesquisa da Reuters.
A sondagem, realizada com 12 analistas e instituições, apontou ainda aumento de 1 milhão de toneladas na projeção média quando comparada ao levantamento anterior da Reuters, divulgado em 30 de julho.
A projeção média de área plantada, de 38,11 milhões de hectares, teve pouca alteração. Na pesquisa anterior, contudo, o número de participantes era menor, uma vez que o momento de plantio estava mais distante.
A área plantada histórica e o otimismo com a safra acontecem em uma temporada em que o setor registra recordes antes do plantio, como no caso do ritmo de vendas antecipadas e rentabilidade esperada.
"Isso se explica pelo forte volume de vendas antecipadas, o maior da história, e pela alta rentabilidade, a maior da história", disse o analista da IHS Markit Aedson Pereira, que tem as maiores projeções entre as consultorias pesquisadas.
Ele afirmou que a soja está com maior rentabilidade, considerando concorrentes como milho e algodão, além de estar entrando em áreas de cana, com a rotação de cultura, especialmente em São Paulo, Goiás e Minas Gerais.
"Além da rentabilidade em cima do arrendamento. Hoje, soja e milho pagam qualquer arrendamento... Juros baixos, maior oferta de crédito, entre outros fatores... Baita momento para soja no Brasil", afirmou ele.
Pereira citou que em Sorriso, grande produtor de soja de Mato Grosso, com um custo de 54 sacas por hectare, produtividade de 61 sacas por hectares e um preço futuro a 100 reais por saca, a margem obtida é de 46,7%. "Tudo vai depender do clima, pois pelo preço as coisas estão ótimas."
Na véspera, a consultoria Céleres afirmou à Reuters que aumentou a previsão de safra, para 131,4 milhões de toneladas, citando que "a elevada competitividade da soja limitará a expansão de área com milho no verão".[nS0N2FM00R]
VENDAS ANTECIPADAS
A soja é o principal produto de exportação do Brasil, líder global no mercado da oleaginosa.
Sobre o recorde de vendas antecipadas, a consultoria Safras & Mercado divulgou nesta sexta-feira uma atualização que coloca a produção vendida em 65 milhões de toneladas, ou quase 50% do total estimado.
O volume comercializado antecipadamente é superior à safra do terceiro maior produtor global, a Argentina, que deve colher 53,5 milhões de toneladas, segundo avaliação do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).[WASDE22]
"Vemos um movimento de vendas aceleradas desde março, quando começou a subida do dólar mais forte, atrelada à pandemia", disse o analista da Safras Luiz Fernando Roque em transmissão ao vivo realizada pela consultoria.
A partir de agora, com quase metade da safra 2020/21 comprometida e 98% da produção colhida em 2019/20 também já comercializada, a tendência é que as cotações da oleaginosa se mantenham sustentadas até a colheita, devido à restrição na oferta, disse Roque.
"Acho difícil o preço vir abaixo de 100 reais por saca, mesmo com o câmbio caminhando para um ajuste ao redor de 5 reais. Teremos uma remuneração menor no ano que vem, mas ainda muito interessante", afirmou o analista.
Com isso, produtores do Rio Grande do Sul, por exemplo, que sofreram com estiagem na temporada passada e venderam cerca de 35% da safra 2020/21 com antecedência, são alguns dos únicos que devem continuar com o movimento de vendas mais ativo, uma vez que os demais Estados podem desacelerar a comercialização, enquanto plantam e acompanham o desempenho das lavouras.
Roque ainda disse que, inicialmente, a perspectiva climática é positiva para o início dos trabalhos de semeadura no Brasil, com atenção aos sinais de La Niña que podem se consolidar.
(Por Roberto Samora e Nayara Figueiredo)
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