Soja tem máximas em 7 meses com combinação de seca em partes do Corn Belt e demanda forte
Uma combinação de fatores puxou forte os preços da soja nesta quinta-feira (27) e o mercado encerrou o dia com altas de mais de 1,5% na Bolsa de Chicago. Boas notícias foram reportadas do lado da demanda, enquanto o clima nos EUA preocupa em determinados pontos do Corn Belt.
"Nada vem sozinho. Temos que lembrar que vínhamos há dias falando de produtividade comprometida nos EUA - também devido à tempestade Derecho. Ou seja, teremos uma oferta não tão grande quanto se esperava e agora, com a demanda da China agressiva dessa maneira, se abriu a porta para os altistas tomarem o controle do mercado", explica Steve Cachia, consultor de mercado da Cerealpar.
Assim, os futuros da soja - que registram suas máximas em pelo menos sete meses na CBOT - terminara a sessão acima dos US$ 9,40 por bushel, testando níveis acima dos US$ 9,50 ao longo do dia nas posições mais distantes, com altas de 10 a 16,50 pontos. Subiram também os preços do milho e do trigo nesta quinta, liderados por este último, que subiu mais de 2%.
DEMANDA
As vendas semanais de soja dos Estados Unidos reportadas nesta quinta-feira (27) pelo USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) mais uma vez surpreenderam para a safra 2020/21 e somaram 1,874,4 milhão de toneladas. O número ficou dentro das expectativas do mercado, que já eram altas e variavam entre 1,2 milhão e 2,2 milhões de toneladas. Destinos não revelados e a China ficaram com o maior volume.
"Até o dia 20 de agosto, os EUA já venderam impressionantes 35,8 milhões de toneladas entre soja e milho do ano comercial 2020/21. Este é, de longe, um recorde dos últimos tempos", afirma a especialista internacional em commodities, Karen Braun.
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Fora o relatório, o mercado recebeu ainda expectativas de que a China pode vir a comprar até 40 milhões de toneladas de soja neste ano, além da nova compra feita ontem de 400 mil toneladas.
A nação asiática se mostra muito mais presente no mercado norte-americano pela falta de produto no Brasil e pelos baixos preços que vinham sendo praticados nos EUA.
Da safra 2019/20, as vendas semanais norte-americanas de soja foram de 50,4 mil toneladas, contra expectativas de 0 a 200 mil toneladas. A Holanda foi a maior compradora. O país já comprometeu 47,548,5 milhões de toneladas, contra o estimado pelo USDA para o ano comercial em 44,91 milhões de toneladas.
CLIMA NO CORN BELT
O tempo seco em partes do Corn Belt continua a reduzir a produtividade da soja e do milho e também favorecem as altas em Chicago. Dados do Drought Monitor, o sistema que monitora a seca nos EUA, apenas 3,7% do território de Iowa não sofre com a estiagem nesta semana. Essa é a menor área nessas condições desde setembro de 2013. Há uma semana eram 12,2% e há duas, 20,2%.
61% do estado está agora registrando seca moderada e 29% se encontra sob severa seca ou condição ainda pior.
Ainda de acordo com o Drought Monitor, ao se observar o Meio-Oeste é possível observar, como explica Karen, que 60,7% do território não enfrenta problemas com a seca, como mostra a imagem a seguir, atualizada neste dia 27 de agosto. Este é o menor índice desde agosto de 2018. 13% está sob severa seca ou pior e muito disso vem de Iowa.
"Nós definitivamente precisamos de chuvas em muitas áreas. E isso não está nas previsões. Até estava, mas não está mais", afirma Brian Hoops, presidente da corretora Midwest Market Solutions à Reuters Internacional.
E como explicam os analistas da ARC Mercosul, quem mais precisa dessa umidade agora é a soja, já que seu estágio de desenvolvimento é mais suscetível às adversidades climáticas.
"As lavouras de milho já estão em fase final de desenvolvimento nos Estados Unidos, com cerca de 50% delas já em fase de grão dentado (R5), ficando portanto menos suscetíveis ao clima neste momento. Já no caso da soja, apenas 4% das lavouras estão em estágio de maturação, o que mantém a necessidade de novas e boas chuvas nas próximas semanas", afirmam os especialistas.
A consultoria explica ainda que ao furacão Laura, que chegou à Costa do Golfo americano nesta quinta, vem arrastando umidade para o Meio-Oeste americano. O mapa com a previsão de chuvas para os próximos 7 dias do NOAA, o departamento oficial de clima do governo americano, já indica a chegada de precipitações melhores para regiões que vem sendo afetadas pela seca.
"Durante esta semana, o tempo deve permanecer seco no coração do Cinturão Agrícola, principalmente nos estados de Iowa e Illinois, os dois principais estados produtores. Tal condição deve favorecer uma nova queda nas condições das lavouras do país, mantendo o mercado sustentado no curto prazo. Porém, a partir de sábado, a umidade vinda do sul deve chegar as principais regiões produtoras ame- ricanas, trazendo chuvas acumuladas de até 80 milímetros no oeste de Iowa, região que apresenta o maior déficit hídrico nesta safra", explica a ARC.
MERCADO BRASILEIRO
No Brasil, o mercado permanece muito forte, com indicativos de preços de R$ 135,00 a R$ 137,00 por saca nos portos e de R$ 136,00 a a R$ 140,00 sendo ofertado pelas indústrias processadoras nacionais, como relata o consultor de mercado Vlamir Brandalizze. "E o mercado segue, praticamente, vazio de vendedores. Esse é o quadro do momento", diz.
Como explica Brandalizze, há apenas cerca de 8% da safra velha ainda a ser comercializada, muito pouco para os meses que restam até a chegada da nova safra, intensificando a disputa pela oferta e fazendo até mesmo com que o governo brasileiro busque zerar a tarifa de importação de soja pelo Brasil de países de fora do Mercosul.
A medida foi sinaliza pelo Secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, César Halum, e chegaria também ao milho e ao arroz. Caso se confirme, há estimaivas de analistas e consultores de mercado de que o Brasil poderia importar até 1 milhão de toneladas de soja do EUA.
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"Mesmo assim o mercado no Braisl segue firme. Chicago está alto, o dólar está alto, não tem como baixar as cotações. É um mercado tranquilo, favorável, inclusive para a safra nova. A alta da soja em Chicago favorece também os fechamentos na casa de R$ 120,00 a R$ 122,00 por saca para safra nova e pode pagar até melhor para o produtor nos próximos dias. E também pode voltar a girar safra 2022 com indicativos acima dos R$ 115,00", completa o consultor.
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