China acusa EUA de iniciar nova Guerra Fria; Brasil pode ganhar mais espaço nas compras chinesas
Ao contrário do que se esperava após 15 de janeiro, quando China e EUA assinaram a fase um do acordo comercial após quase dois anos de uma dura disputa, as relações entre os dois países voltaram a se acirrar e a causar preocupação e estranheza, com um rápido desgaste sendo registrado.
A nação asiática acusou os Estados Unidos de estarem iniciando uma nova guerra fria. A declaração partiu do ministro das relações exteriores, Wang Yi, neste domingo (24), durante o Congresso Nacional do Povo, em Pequim. "A China não tem a intenção de mudar os EUA, nem subsituir os EUA. Também é uma ilusão para os EUA quererem mudar a China", disse o representante do governo chinês. As informações partem da agência internacional de notícias Bloomberg.
Wang Yi, ministro das Relações Exteriores da China, em discurso neste domingo
Foto: Nicolas Asfouri/AFP via Getty Images
Ainda assim, representantes de ambos os governos, em determinados momentos, voltaram a afirmar que a fase um do acordo comercial estaria intacta apesar de todos os problemas e declarações. Análises e números, porém, mostram outro cenário e perspectivas que já sinalizam preocupações.
>> Fase 1 do acordo EUA-China está intacta, diz diretor de Conselho da Casa Branca
>> China está comprometida com Fase 1 de acordo comercial apesar de pandemia, diz autoridade dos EUA
Um estudo feito pela Agrinvest Commodities mostra que o ritmo das compras chinesas no mercado norte-americano não caminha da forma esperada e necessária para que alcance o volume financeiro firmado entre os dois países.
"O acordo comercial pode naufragar. O ritmo de compras não chega a 50% do necessário. Até final de março, a China havia comprado dos EUA US$20 bilhões em mercadorias contra objetivo de US$43 bilhões", explicam os analistas da Agrinvest Commodities. Os gráficos abaixo ilsutra, o atual momento:
Fonte: Agrinvest Commodities
Os mercados norte-americanos não funcionam nesta segunda-feira (25) em comemoração do feriado do Memorial Day e, dessa forma, ainda não é possível entender como os mercados agrícolas irão reagir a este novo agravamento do cenário entre os dois países. É sabido, todavia, que o agronegócio norte-americano precisa de novas compras do país asiático para que tenha mais segurança, ajuste de seus estoques e, principalmente, uma retomada dos preços de seus produtos.
"Enquanto Trump liderar os EUA não há possibilidade de um acordo comercial total entre EUA e China. Em outras palavras, não vemos nenhuma hipótese em que Trump volte a ter relações comerciais com os chineses como tinha em 2017, antes mesmo de estourar toda a guerra comercial. Poderão haver pacotes de incentivos pontuais como em 2019, no início de 2020 - que ainda não foram efetivados", explica o diretor da ARC Mercosul, Matheus Pereira.
Ainda na análise da ARC, a "China poderá dar 'migalhas comerciais' aos EUA, oferencendo pacotes de compras com isenção tarifária. No entanto, esses pacotes são superficiais e podem ser mais benéficos para a própria China do que para os EUA, uma vez que não há reabertura do livre comércio, e a China controla o que deve ser importado sob isenção tarifária, falando especificamente de produtos agrícolas".
MAIS ESPAÇO PARA O BRASIL?
Sim. Pereira acredita que enquanto Donald Trump seguir presidente dos EUA, o Brasil deverá continuar sendo beneficiado pela continuidade da concentração da demanda, principalmente por soja, da nação asiática no mercado nacional, além de outros produtos, como carnes, por exemplo.
"E em um cenário hipotético, mesmo que um candidato democrata venha a ganhar as eleições deste ano nos EUA e vir a talhar um acordo comercial com a China em 2021, não deverá ser da noite para o dia. Isso levará tempo, os chineses irão querer se beneficiar dessa possível reconstrução das relações comerciais e, claro, os EUA, como potencial que são, independente do líder que tiverem, irão querer manter sua hegemonia, as forças política e econômica que já têm, não cedendo demais às vontades da China", conclui Pereira.
CHINA X EUA X CORONAVÍRUS
A pandemia do novo coronavírus tem sido o principal catalisador dessas novas declarações duras entre as duas nações ao se atacarem, depois que o presidente americano Donald Trump afirmou que o vírus apareceu na sequência da assinatura da primeira fase do acordo comercial entre os dois.
O secretário de Estado norte-americano, Michael Pompeo, inclusive, culpou a China por 'centenas de milhares de mortes' em função do coronavírus. Da mesma forma, Trump chegou a ameaçar os chineses com novas tarifas sobre seus produtos por conta do Covid-19.
Relembre:
>> Trump diz que China foi incompetente ou não quis parar disseminação do coronavírus
>> Trump: coronavírus veio da China e deviam tê-lo parado lá, o que não fizeram
>> Trump diz estar muito decepcionado com a China em entrevista à Fox Business Network
>> Pompeo culpa China por centenas de milhares de mortes por coronavírus
>> Trump ameaça China com novas tarifas em retaliação por coronavírus
Todas as questões ligadas as relações entre China e Taiwan também estão na pauta e podem comprometer ainda mais o relacionamento entre chineses e americanos.
Protestos em Hong Kong neste 24 de maio - Foto: Justin Chin/Bloomberg
"Mike Pompeo parabenizou a “presidente” Tsai-Ing Wen, reconhecendo Taiwan como país independente", alerta a Agrinvest, além de ressaltarem ainda o fato de a China estar estudando a aprovação de leis de Hong Kong, " limitando o estado de direito de sua população. No início desse ano, o senado americano havia aprovado um mecanismo de verificação da liberdade de expressão da população local".
>> Hong Kong registra novos protestos após plano da China de impor nova lei de segurança nacional
0 comentário
Ibovespa fecha em alta, mas tem maior perda semanal deste setembro com preocupação fiscal
Dólar termina semana com valor recorde de R$6,0012 no fechamento
S&P 500 e Dow Jones fecham em recordes com impulso de ações de tecnologia
Vendas de diesel no Brasil batem recorde em outubro, diz ANP
Europeu STOXX 600 avança com ações de tecnologia
Galípolo diz que BC não defende nível de câmbio e só atua em caso de disfuncionalidade