Manutenção de taxas de juros baixos dependem de retomada de âncora fiscal

Publicado em 24/05/2020 09:24

LOGO estadao

O ministro da Economia, Paulo Guedes, e sua equipe estão perdendo a ancoragem fiscal e agora buscam retomar o controle do timão do barco com o lançamento de medidas pós-pandemia. O controle da chamada âncora fiscal - um conjunto de regras e ações que permitem apontar, no futuro, para a sustentabilidade das contas públicas - é considerado pelo mercado essencial para a permanência do próprio ministro no cargo e a manutenção dos juros básicos em patamar baixo.

A aliança de lideranças do Centrão com a ala militar do governo Bolsonaro, porém, aponta para revisão da orientação do modelo de ajuste fiscal adotado até agora pelo Ministério da Economia. Analistas indicam que, na hora que o mercado perder a confiança no ajuste e largar a "mão" que apoia Guedes, o presidente Bolsonaro poderá abrir espaço para o grupo desenvolvimentista do governo, como já fez com outros ministros.

Na pandemia, as dúvidas em relação ao futuro do Brasil já fizeram o País se descolar negativamente dos demais países emergentes, como mostram indicadores como risco país e câmbio. O Ministério da Economia não fala publicamente na perda da ancoragem fiscal.

A postura tem sido a de reforçar a importância do teto de gasto (regra que impede o crescimento das despesas acima da inflação), mas a pressão para aumentar as políticas expansionistas adotadas na pandemia ampliou as dúvidas e deixou sem respostas a trajetória futura da dívida pública nos próximos anos.

Técnicos experientes do Ministério da Economia, ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, já falam reservadamente em perda da âncora fiscal com a dívida em patamar acima de 90% do PIB - nunca antes alcançado - e sem perspectiva de estabilização, muito menos de queda nos próximos anos. O problema, afirmam os técnicos, é que não há nada na agenda, no momento, que indique que esse quadro vai mudar.

A nova previsão da equipe econômica, divulgada na sexta-feira, indica que a dívida bruta do governo geral chegará a 93,5% no cenário de queda do PIB de 4,7% com que trabalha o Ministério da Economia. O tombo pode ser maior e também a elevação do endividamento.

"O mercado ainda não jogou a toalha que acabou a âncora fiscal do País. Mas estou mais pessimista e atribuo uma chance maior de perdê-la", diz Fabio Akira, economista-chefe da BlueLine Asset.

O coordenador do observatório fiscal da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Manoel Pires, avalia que há um receio muito grande dos desdobramentos daqui para frente. "Como o governo abriu mão de ter uma meta fiscal das contas públicas para 2021, ninguém sabe o resultado que será perseguido."

Para o diretor executivo da Instituição Fiscal Independente, Felipe Salto, o governo precisará se preparar para acionar os gatilhos (medidas de ajuste, principalmente nos gastos com pessoal) de correção do teto, com grandes chances de ser rompido em 2021. "Temos um encontro marcado com as regras fiscais no ano que vem."

Segundo ele, o teto é um enigma ainda não resolvido, já que será impossível a máquina funcionar com despesas discricionárias (cujo pagamento não é obrigatório) em nível tão baixo. "Está faltando alguém botar ordem. Já que eles gostam de ordem, pelo menos nos digam quais são as metas fiscais."

Reverberou o alerta feito semana passada pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ele disse que o Brasil não tem muita margem nas contas públicas e que, se o mercado entender que a expansão de gasto será permanente, vai punir o País e "voltaremos ao equilíbrio antigo de juros altos".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Juros fecham sessão regular entre estabilidade e leve alta, mas caem após vídeo ministerial

A sexta-feira, 22, foi de volatilidade nos juros futuros, com as taxas operando em direções divergentes e o mercado na expectativa pela decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello, sobre o sigilo do vídeo da reunião ministerial do presidente Jair Bolsonaro, no dia 22 de abril. À tarde, uma certa cautela reduziu o ritmo dos negócios na medida em que se aproximava o horário final (17h) prometido pelo decano para divulgar sua decisão. No fim da sessão regular, as taxas até os vencimentos intermediários estavam em alta e as longas zeraram a queda e fecharam estáveis, na medida em que o dólar também zerou as perdas ante o real. No horário limite, o STF divulgou o vídeo mantendo sigilo nas partes as quais havia referência a determinados países. Na sessão estendida, as taxas passaram a cair.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou em 2,495%, de 2,482% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2022 subiu de 3,361% para 3,44%. O DI para janeiro de 2027 fechou com a taxa de 7,43%, estável.

O economista-chefe da Parallaxis, Rafael Leão, destaca que a volatilidade em meio à espera do desfecho do caso do vídeo abriu oportunidade de operações de arbitragens, com os longos fechando um pouco e o miolo da curva subindo moderadamente. "O mercado ainda não entende como o conteúdo vai ser interpretado. Pode ser que não tenha nada muito revelador ou algo mais forte", disse, observando que no câmbio a perspectiva também foi parecida.

Com a etapa estendida em andamento, as taxas passaram a cair. Segundo profissionais nas mesas, o vídeo não traz novidades em relação ao que já era conhecido. "O mercado não viu fatos novos em relação ao que já se sabia em relação às declarações envolvendo a Polícia Federal", disse o gerente da Mesa de Reais da CM Capital Markets, Jefferson Lima.

O ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, que estava na reunião, havia afirmado que a gravação confirma ações de 'interferência na Polícia Federal' por parte do presidente e que as declarações ditas no vídeo vão de encontro com fatos que ocorreram dias antes e após a sua demissão.

Antes de dar seu veredicto, Celso de Mello já tinha sido manchete pela manhã ao enviar três notícias-crime apresentadas pelo PT, PDT, PSB E PV no âmbito do inquérito que apura a suposta interferência de Bolsonaro na Polícia Federal. Entre elas, pediu o depoimento do presidente, e a busca e apreensão do celular dele e de seu filho, Carlos Bolsonaro, para perícia.

As declarações do diretor de Política Econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk, de manhã, mereceram atenção, mas sem impacto relevante nos negócios. Em live do UBS, ele disse que mensagem do Copom é que, a partir de um determinado limite mínimo da Selic, é necessário cautela em eventuais novos cortes; que o Banco Central não vê a política de quantitative easing (afrouxamento monetário) como instrumento de política monetária; e que é um desafio equilibrar o "trade-off" entre o patamar de juros e os efeitos do câmbio na economia.

É essencial manter agenda reformista, avalia Santander

Em recente relatório, o banco Santander também alertou que a manutenção da agenda reformista é essencial para o cenário de inflação baixa. No caso de um enfraquecimento dessa agenda, diz o relatório, a inflação poderia sofrer um processo de aceleração similar ao ocorrido em 2009-2016.

"Sem reformas fiscais e ajustes macroeconômicos, as dificuldades em se cumprir o teto constitucional de gastos podem levar a uma deterioração das perspectivas para dívida pública, contaminando assim as expectativas de inflação e outras variáveis macroeconômicas", alertou relatório, assinado pela economista Ana Paula Vescovi, ex-secretária do Tesouro.

Durante esse período, especialmente de 2014 em diante, a inflação acelerou da faixa de 4%-6% para um pico de quase 11% em 2015-2016, mesmo com uma forte queda do PIB em 2015 e 2016.

No relatório, Ana Paula diz que os desafios da política fiscal brasileira são abundantes, assim como os riscos no radar, diante da pressão crescente por mais gastos públicos no próximo ano, o que deverá ganhar força após a inevitável deterioração adicional das condições do mercado de trabalho no curto prazo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Economia estima déficit do setor público de R$ 708,7 bilhões em 2020 (9,9%)

Depois de revisar as estimativas para a atividade econômica em 2020, o Ministério da Economia atualizou as projeções e espera um déficit primário do setor público de R$ 708,7 bilhões em 2020. O valor corresponde a 9,9% do PIB.

Até agora, a pasta trabalhava com uma previsão de déficit de R$ 600 bilhões (8% do PIB). Na semana passada, a Economia passou a prever um tombo de 4,7% no PIB deste ano, o que impacta na previsão de outros indicadores econômicos.

A projeção para o déficit primário do governo central é de R$ 675,7 bilhões (9,4%). Para Estados e municípios, a previsão é de resultado negativo de R$ 30,6 bilhões (0,4%) e, para as estatais, a expectativa é de déficit de R$ 2,4 bilhões.

Dólar tem maior queda semanal desde setembro de 2018 com política e exterior

O dólar fechou a semana acumulando queda de 4,44%. Foi o maior recuo desde a semana de 30 de setembro de 2018, quando caiu 4,81%. O pregão da sexta-feira foi todo marcado pela expectativa da decisão do Supremo sobre a divulgação do vídeo da reunião de Jair Bolsonaro e seus ministros em 22 de abril, que deixou o mercado cauteloso e oscilando perto da estabilidade nesta tarde. Às 17 horas, o Supremo autorizou a divulgação, mas a reação imediata no câmbio foi modesta, com as mesas ainda avaliando o conteúdo do vídeo. Nos pregões anteriores, a menor tensão política e o exterior favorável ajudaram a retirar pressão do câmbio. Com isso, o real teve o melhor desempenho semanal ante moedas emergentes.

As mesas de operação já começaram a sexta-feira na expectativa pela decisão sobre o vídeo e o volume de negócios ficou abaixo da média pela manhã. Declarações do diretor do diretor de Política Econômica do Banco Central, Fábio Kanczuk, de que a instituição está "muito bem preparado" para corrigir distorções no mercado de câmbio, principalmente pelo nível das reservas internacionais, ajudaram a retirar pressão no câmbio, ecoando o que o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, havia dito na noite de quarta-feira. Nesta sexta, o dólar à vista fechou praticamente estável (-0,04%), a R$ 5,5797. O dólar para junho caia 0,34%, a R$ 5,5370 às 17h35.

Os estrategistas em Nova York do Citi avaliam que o vídeo da reunião ministerial citada pelo ex-ministro Sergio Moro potencialmente cria elementos para um processo de impeachment de Bolsonaro, por isso a expectativa. Sobre o clima mais ameno entre Bolsonaro, o Congresso e os governadores podem não durar muito, considerando a rápida disseminação do coronavírus no País

No exterior, o clima também foi de cautela, após a China apresentar a controversa Lei de Segurança Nacional para Hong Kong, na abertura do Congresso Nacional do Povo. Washington se posicionou contra e o dólar se fortaleceu.

"A China confrontou Trump com a decisão de Hong Kong e levou os investidores a buscarem segurança no dólar", afirma o analista de moedas do Western Union, banco especializado em transferências internacionais, Joe Manimbo. O índice DXY, que mede o moeda americana ante divisas fortes, operou o dia todo em alta e chegou perto do nível de 100 pontos. Nos emergentes, o dólar subiu ante a maioria, com uma das poucas exceções ficando com o México, onde caiu 0,47% na sexta-feira.

 

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Fonte:
Estadão Conteúdo

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário