Algodão: Demanda global, maior desafio da cadeia durante a pandemia, deve cair 12% na safra 2019/20

Publicado em 05/05/2020 16:17 e atualizado em 05/05/2020 17:07

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O maior desafio para o setor do algodão em tempos de coronavírus tem sido driblar a drástica redução da demanda em todos os elos da cadeia. Desde o início da pandemia, que levou muitas indústrias têxteis a paralisarem suas atividades em todo mundo, os preços da commodity vêm acumulando perdas consideráveis e já marcam suas mínimas em mais de dez anos no mercado internacional. 

As perspectivas são de que a demanda global por algodão registre uma baixa de 12% na safra 2019/20, de acordo com dados do Conselho Internacional do Algodão (ICAC). 

Desde o começo de 2020, a baixa acumulada entre os futuros da fibra negociados na Bolsa de Nova York passa de 30% com o processamento e industrialização parados. Nesta terça-feira (4), enquanto todas as demais commodities agrícolas operam em campo positivo, os preços do algodão registram um novo dia de perdas e recuam mais de 1%. Os valores são de pouco mais de 55 cents de dólar por libra-peso nas posições mais negociadas. Nos meses mais distantes, as referências superam ligeiramente os 58 centavos de dólar. 

Os atuais preços, segundo o presidente do Grupo Horita, Walter Horita, um dos maiores produtores brasileiros de algodão, as margens ficam bastante ajustadas, durante um webinar promovido pela Datagro. 

"Com esses níveis de preços, a margem acaba apertando. Mas, a grosso modo, estou projetando a margem entre 20% e 21% em relação a custo de produção, enquanto a soja fica em 43%. Mas essa não é a única conta que você tem que fazer, e sim o que você tem de rentabilidade por hectare e, nesse caso, o algodão ainda supera a soja", explica Horita. 
 
Assim, o ICAC acredita ainda que haja uma redução de área plantada com algodão na próxima temporada de 4% para 33 milhões de hectares, o que poderia registrar uma baixa na produção de também 4%. Para a Bahia, segundo maior estado produtor da fibra no Brasil, essa redução poderia ficar entre 15% e 20% na safra 2020/21. 

A retomada do setor também traz uma série de incertezas, principalmente sobre as escolhas do consumidor, como explica Fernando Pimentel, diretor da ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecção). Com a renda comprometida e a economia severamente agredida, os consumidores poderiam optar por produtos mais baratos, como poliéster por exemplo. 

"A indústria parou. Estamos em uma economia de guerra. E agora precisamos qual será a demanda do novo consumidor. Esperamos que até o final do ano tenhamos, pelo menos, 70% do normal", acredita Pimentel. Com uma demanda 90% menor no consumo de vestuário, a Abit já fala, inclusive, em ações do setor que possam, na medida em que a o cenário for retomando sua normalidade, incentivar a demanda por produto nacional. 

Na última semana, a Câmara Setorial do Algodão e Derivados do Ministério da Agricultura realizou mais uma reunião para tratar dos principais desafios que se apresentarão aos produtores e demais elos da cadeia, principalmente, na próxima safra.

“Temos à frente desafios do tamanho de uma safra de quase três milhões de toneladas, mas os maiores serão para a próxima. Não há ainda uma estimativa clara sobre retração de área, mas é certo que vai acontecer, com a perspectiva de redução mundial da demanda por algodão, os baixos preços do petróleo, que favorecem as fibras sintéticas, e o comércio no mercado interno, praticamente, parado nesses últimos meses”, diz Milton Garbugio, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e também da Câmara em nota da associação.

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O cumprimento de contratos e novos negócios são outras preocupações do setor, que já esperavam por dificuldades em função dos desdobramentos da pandemia do coronavírus. Contratos estão sendo revistos, bem como prazos de pagamento, datas de entrega e condições de negócios. 

“Não há nenhuma manifestação diferente disso no mercado, os produtores têm renegociado esses prazos diretamente com os compradores, caso a caso, sem nenhum prejuízo até agora”, explica o presidente da AMPA (Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão), Paulo Sérgio Aguiar, por meio de uma nota reportada nesta terça-feira.

Esse cenário impacta diretamente no planejamento da safra 2020/21. 

“Neste período será necessário analisar o consumo mundial da pluma e verificar o impacto que pode haver ou não, após a pandemia. Para o abastecimento do mercado interno, temos que levar em consideração que 90 mil toneladas de pluma deveriam ter sido consumidas pelo mercado interno e não foram, devido aos efeitos da pandemia. Esse estoque deverá ser consumido no decorrer dos próximos meses, reduzindo, assim, a quantidade de pluma demandada pela indústria nacional no decorrer do ano”, diz Aguiar.

Leia a nota completa da AMPA:

>> Algodão segue em ritmo normal em MT

PELO MUNDO

Informações da agência internacional de notícias Bloomberg apontam que o coronavírus frustrou ainda as perspectivas da indústria de algodão da Índia de se tornar a maior do mundo em 2020. "Não apenas as fábricas de roupas estão fechadas nos produtores como Bangladesh, mas ruas vazias de Nova York a Paris dizimaram o consumo de roupas", informa a Bloomberg.

O diretor da DD Cotton Arun Sekhsaria, ouvido pela agência, afirma que as indústrias têxteis da China, Indonésia, Vietnã e Bangladesh estão trabalhando com apenas algo entre 30% a 40% de sua capacidade. Na Índia, apenas 30% das fábricas estão funcionando. 

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Por:
Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte:
Notícias Agrícolas

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