Coronavírus x Economia Chinesa: Quanto a demanda será impactada?
"A China está parada. Parada", afirma o economista e professor do Insper, Roberto Dumas Damas, descrevendo a atual situação do país diante do grave - e de reais impactos ainda muito incertos - surto de coronavírus. São mais de 75 mil pessoas infectadas e mais de 2 mil mortes confirmadas pelo vírus.
Na madruga desta sexta-feira (21), o cenário parece ter entrado em uma nova fase, com mais casos sendo confirmados em outros países - como a Coreia do Sul que já reporta 82 confirmações - e o protocolo de ações para conter o vírus já foi alterado por Pequim pelo menos duas vezes.
O gráfico abaixo mostra o comportamento do consumo diário de carvão na China. Na linha azul, 2020 fica bem abaixo do consumido no mesmo período do ano passado e da média entre 2010 e 2019. A diferença é enorme. "E 60% da energia elétrica da China é produzida a base de carvão. Se não estão consumindo, não estão gerando energia e isso quer dizer, portanto, que ainda há muitas indústrias sem operar e sem produzir", explica Damas.
Do mesmo modo, o tráfego de passageiros na China - com centenas de milhões de pessoas ainda "presas" em suas casas - também caiu drasticamente. As informações do gráfico a seguir mostram que o número caiu de algo entre 80 e 100 milhões de pessoas em 2019, na volta do feriado do Ano Novo Lunar, para cerca de 18 milhões em 2020.
Como explica o economista, os principais serviços e cadeias de suprimento estão sendo duramente afetados, porém, ainda não é possível saber quais serão os efeitos reais sobre a economia chinesa depois deste surto. "Já passou da hora de termos uma mesa redonda entre economistas e infectologistas. Nem mesmo o poder de infecção do vírus é realmente conhecido", afirma Dumas.
Dessa forma, o alerta do especialista é claro. "O mundo está pior do que no ano passado. Qual a boa notícia que ainda faz as bolsas subirem? Está havendo apenas uma análise crua, sem aprofundamento, e o problema é muito sério. O dólar está muito forte - todos estão fugindo para cá -, as outras moedas caindo, as commodities se depreciando, o ouro segue alto. Por que as bolsas ainda estão subindo? Não faz sentido", diz.
Foto: Kevin Frayer/Getty Images
LOGÍSTICA COMPROMETIDA
Se o tráfego de passageiros está muito menor, entre as embarcações nos principais portos chineses não é diferente. Um levantamento feito pela rede internacional CNN mostrou que as companhias de navegação estão limitando seus serviços como forma de tentar evitar uma propagação do vírus e agredir ainda mais as cadeias de suprimentos.
"As artérias do comércio global está entupindo", diz a matéria da CNN Business, já que a China abriga sete dos 10 portos mais movimentados do mundo, como mostram dados da Conferência de Comércio e Desenvolvimento das Nações Unidas. A publicação pode ser lida, na íntegra e em inglês, no link abaixo:
>> Embarques globais têm sido atingidos pelo coronavírus. Agora os produtos estão ficando presos
Especialistas em logística marítima ouvidos pela CNN Business afirmam que "quanto mais durar a crise da saúde, mais difícil será movimentar mercadorias pelo mundo". Com uma reação em cadeira, a demanda pela transporte de mercadorias em contêineres ficará limitada e, na sequência, os prejuízos financeiros terão de ser calculados.
O que se observa agora é uma redução muito intensa no fluxo de entrada e saída de navios dos portos da China, na medida em que a carga e descarga das embarcações também acontece de forma bem mais lenta. Há navios presos em alguns terminais, outros em uma espécide "quarentena flutuante, e outros enfrentando um aumento de custos com tanto tempo ocioso.
"De acordo com as autoridades portuárias, algumas companhias de navegação adotaram medidas adicionais, incluindo o cancelamento de licença em terra para tripulação, mas as operações portuárias não foram interrompidas", diz ainda a reportagem da CNN.
A interrupção dos transportes não se limita só à categoria marítimas, mas a aérea e ferroviária também caíram de forma considerável, bem como o fluxo de mercadorias por caminhões.
E COMIDA? TEM PARA TODO MUNDO?
A demanda chinesa por alimentos continua acontecendo, principalmente no Brasil. Tanto matéria-prima para a produção, principalmente, de alimentação animal, como soja, quanto produtos prontos, como as proteínas animais, continuam sendo demandas e os números mostram que o fluxo logístico comprometido seja o principal limitador desta demanda.
"Se o mercado mundial já tinha dúvidas do que a China ia comprar, agora muito mais. Porque existe uma desaceleração do consumo, do ritmo econômico, a China injetando muito dinheiro na sua economia para dar liquidez aos seus mercados, à sua moeda, para fazer girar a máquina, e vem atuando muito positivamente. Mas, o mercado continua, na parte agrícola, querendo ver se a China vem para o mercado", explica a consultora de mercado Andrea Cordeiro.
O mundo se questiona, enquanto o Brasil segue vendendo para os chineses. Os impactos logísticos são, com certeza, sentidos, porém, o mercado nacional segue demandado pela nação asiática, embora muitas incertezas ainda pairem sobre os negócios.
SOJA DO BRASIL MANTÉM PREFERÊNCIA CHINESA
Na soja, a preferência chinesa pelo produto brasileiro é clara. A competitividade é maior - com melhores qualidade e preço - e o Brasil vem colhendo a maior safra de sua história.
"A soja brasileira deverá ser a mais competitiva, tanto em termos de qualidade como também preço. Atualmente, trabalha com desconto de US$ 5,00 por tonelada em relação à soja americana CNF portos chineses", explicam os especialistas da Agrinvest Commodities.
Da mesma forma, a consultoria completa dizendo que a necessidade do país de soja importada é crescente diante da "retenção de matrizes e do aumento do peso médio deabate dos suínos que deverá puxar o consumo dos ingredientes".
Um levantamento feito pela Agrinvest mostra que a produção de ração para leitões já aumentou 2,2%, registrando a primeira alta em cinco meses. Um incremento também foi registrado para alimentação animal destinada a matrizes e animais em terminação. A população de matrizes cresceu 10%, no último mês, em relação a setembro, que foi o pior momento da Peste Suína Africana no país.
Abaixo, dois gráficos mostram como poderão se comportar as importações de soja pela China este ano. As projeções são também da Agrinvest Commodities:
Dessa forma, a consultoria reforça, portanto, que o programa brasileiro de exportações de soja continuará crescendo e registrando um aumento percentual na relação exportação % produção. "Exportações devem voltar a absorver 64% da produção estimada. Tal crescimento deverá ocorrer em detrimento do processamento doméstico", explica a Agrinvest.
O Brasil já embarcou mais de 3 milhões de toneladas de soja no acumulado de 2020 e deste montante, 70% tem destino China. E em janeiro, apesar de um volume menor em relação aos meses anteriores, o Brasil exportou bem e a nação asiática também respondeu pela maior parte das compras, como mostra o gráfico abaixo.
SUÍNOS E FRANGO
De acordo com Osler Desouzart, consultor da OD Consulting, o impacto que o Brasil deve sofrer nas exportações de frango e suínos para a China será em relação a logística. Para o especialista, a longo prazo, não há motivo de preocupação para o exportador.
Ele explica que as vendas para o país asiático estão acontecendo, entretanto, devido aos problemas sanitários que estão ocorrendo, dificultando a circulação de mercadorias, os portos estão lotados e sem condições de receber o volume normal de contêineres.
"No momento, devido ao coronavirus, as pessoas no país estão em casa, as coisas estão andando mais devagar. Então a questão logística de receber mercadoria no porto, mandar mercadoria do porto para centrais de abastecimento, está mais devagar. A China não parou subitamente de comer e nem vai deixar de se alimentar", disse.
Segundo Desouzart, esse impacto na logística será sentido, principalmente, nos meses de fevereiro e março, e a situação só deve começar a se normalizar a partir da segunda quinzena de abril, quando as temperaturas no país começam a aumentar e os casos de coronavírus devem diminuir.
"Há compras acontecendo, e mais do que isso, sempre quando você tem um efeito manada negativo, como o que está acontecendo, quando há a solução do que desencadeou, gera um efeito positivo. Se houver diminuição de compra, e as pessoas continuam comendo, diminui os estoques, e quando voltar, vai ter uma corrida às compras".
Em relação às negociações entre China e Estados Unidos, agora que o acordo comercial passou a valer e o país asiático retirou o embargo para importar frango, Desouzart explica que a avicultura brasileira tem mais flexibilidade de atendimento de demanda do que a americana.
"Como toda concorrência, o bom negócio é ser mais ágil, mais flexível, eficiente, rápido e com melhores custos, e isso, com certeza, o Brasil é", disse.
DADOS
Segundo números da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia, Indústria, Comércio Exterior e Serviços, dados preliminares até a segunda semana de fevereiro de 2020 mostram que as exportações de carne de frango "in natura" mostram melhora nos negócios.
Em comparação com janeiro de 2020, a média de valor de exportação em fevereiro é 21,1% maior, média de quantidade 25,5% maior, média de preço 3,5% menor.
Se os dados forem confrontados com os números de fevereiro de 2019, a média de valor de frango exportado é 16,2% maior superior, média de quantidade 19% maior, média de preço 2,3% menor.
Sobre a carne suína "in natura", a comparação entre a primeira quinzena de fevereiro e o mês d ejaneiro deste ano, a média de valor é 9,7% maior, média de quantidade 14,1% maior, média de preço 3,9% menor.
Colocando os dados ao lado de fevereiro de 2019, a média de valor da carne suína exportada é 67,6% maior, média de quantidade 34% superior e média de preço 25% maior.
EXPORTAÇÕES PARA A CHINA
Os dados da Secex apontam que em janeiro deste ano, as negociações de carne suína e de frango foram boas entre Brasil e China.
No caso da exportação de carne de frango congelada, fresca ou refrigerada, incluindo miúdos a China representou 27% da aquisição do produto brasileiro, ficando em 1º lugar. O valor arrecadado foi de US$ 129,99 milhões, quantia 108% maior do que em janeiro de 2019, quando a arrecadação com a exportação de frango para o país asiático foi de US$ 62,48 milhões.
Em relação a carne de suíno congelada, fresca ou refrigerada, a China representou 54% da compra do produto brasileiro, também liderando o ranking neste setor. A arrecadação no mês de janeiro deste ano foi de US$ 82,94 milhões, valor 368,1% maior do que em janeiro de 2019, quando a quantia paga pelo produto foi de US$ 17,72 milhões.
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Carlos Augusto Brasília - DF
Casos de coronavírus na Coréia do Sul já chegaram a 1.261 (26/02). Na Itália, 322.
Hoje, dia 26-02-2020 ... devem ser enterrados entre 200.000 a 250.000 pessoas, que morrem diariamente. .... ciclo da vida.