Soja: Acordo China x EUA entra em vigor neste sábado (15) e mercado ainda não reage
O esperado dia 15 de fevereiro, quando entra em vigor a fase um do acordo comercial entre China e Estados Unidos, chegou, porém, sem grandes expectativas que possam motivar uma mudança de direção dos mercados, especialmente o da soja, que é um dos mais interessado nestas relações comerciais.
No entanto, os mercados - internacional e nacional - esperam por movimentos reais da nação asiática para que possa, enfim, começar a avaliar a e precificar os impactos que poderão ser sentidos. As incertezas são tantas que, na Bolsa de Chicago, os futuros da oleaginosa trabalharam a semana toda caminhando de lado, sem apresentar oscilações muito intensas. E nesta segunda-feira, a Bolsa de Chicago não opera em função da comemoração do feriado do Dia do Presidente, o que também limitará o conhecimento sobre os efeitos da vigência do acordo logo no início da próxima semana.
Mais do que isso, o surto do coronavírus na China trouxe, inicialmente, mais pressão ao mercado da soja na Bolsa de Chicago para, na sequência, trazê-lo de volta à inércia diante da nuvem que se forma sobre a demanda chinesa em meio a tantos problemas, ainda sem controle. As especulações, inclusive, davam conta de que a epidemia poderia ser um fator que comprometesse o cumprimento do acordo.
Para o diretor da ARC Mercosul Tarso Veloso, as expectativas são de que a China faça sim novas compras de soja nos EUA, porém, alerta para um possível atraso nas operações em função dos problemas e das limitações causadas pelo corona.
"Com o problema econômico que eles estão tendo por conta do coronavírus - portos parados, todo mundo ainda trancado em casa ainda em vários lugares do país - eles não podem se dar o luxo de não comprar dos americanos. Eles precisam voltar ao trabalho e voltando ao trabalho eles precisam que os americanos continuem negociando com eles para que a economia não encolha ainda mais", diz.
Assim, a expectativa nos EUA, ainda segundo relata Veloso, que fala ao Notícias Agrícolas direto de Chicago, é de que os chineses voltem às compras no mercado norte-americano, e isso se confirmando, "dependendo da quantidade a CBOT já vai subir e a tendência é de que os prêmios no Brasil venham a cair". Todavia, o analista reforça que não é possível fazer comparações do que houve nos últimos meses com o que vai acontecer daqui para frente.
Veloso lembra ainda que as importações de carne de frango dos EUA pela China já foram liberadas, já afirmou que irá importar soja, então, os chineses terão, de fato, que entrar comprando nos EUA. E ainda em sua análise, o diretor da ARC acredita que isso deva acontecer mais nos próximos dias do que o país asiático protelar isso para os meses seguintes.
"E esse ímpeto da alta (na Bolsa de Chicago) é que vai diferenciar quanto de demanda o Brasil pode perder. Se os chineses entrarem anunciando uma quantidade imensa, a CBOT explode e ninguém mais vai comprar soja nos EUA, todo mundo vai comprar no Brasil", explica. "Então, esse ano vai ser de realocação da oferta. Brasil, EUA e Argentina vão colher 300 milhões de toneladas, a China vai importar 90 milhões ou algo pouco acima disso e veremos uma distribuição diferente", completa.
Mesmo com todas estas perspectivas, a soja do Brasil - e da Argentina - continua sendo a mais competitiva do mundo, o que poderia ainda promover uma venda dos EUA para a China no volume que precisam exportar e "o Brasil venderia para o resto do mundo", acredita Veloso. "De qualquer maneira, não há um risco de não vendermos muito mais".
O mercado ainda desconhece qual será o volume de soja que a China deverá comprar nos EUA "imediatamente", uma vez que o país já tem boas compras feitas no Brasil no começo do ano. "E vão comprar, provavelmente, no segundo semestre também, quando a safra americana entrar. Então veremos um volume exportado do Brasil para a China menor".
Ainda assim, as perspectivas de que o Brasil irá manter sua liderança nas exportações mundiais de soja permanecem. A diferença é que os volumes recordes registrados em 2018, um dos picos da guerra comercial, não deverão ser alcançados.
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, falou sobre os efeitos do acordo também de forma tranquila. "O acordo EUA-China pode ter reflexos para nós, mas não serão tão catastróficos assim", citando o fato de a safra 2019/20 já estar bem comercializada.
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Um levantamento da analista de commodities Karen Braun, da Reuters Internacional, mostra que o volume de compras da China nos EUA em 2020 é um dos mais baixos dos últimos anos. "Apenas 1 milhão de toneladas foram vendidas desde 1º de janeiro e este é o ritmo mais lento em relação a anos anteriores, incluindo o ano passado. Em 2019, até 6 de fevereiro, as vendas somavam 12,1 milhões de toneladas, avaliadas em US$ 4,4 bilhões", diz.
No Brasil, depois de embarques um pouco mais tímidos dada a menor disponibilidade de produto, "as exportações de soja do Brasil começaram a primeira semana de fevereiro dando sinais de que o mês vai ser forte", diz Vlamir Brandalizze, consultor da Brandalizze Consulting, apostando em ao menos 4 milhões de toneladas embarcadas neste mês.
Somente nos primeiros cinco dias úteis de fevereiro, de acordo com números da Secex (Secretaria de Comércio Exterior), os embarques somaram 992,8 mil toneladas. "Os embarques devem crescer de agora em diante porque tem muito produto negociado para ser embarcado nas próximas semanas", diz Brandalizze.
CÂMBIO
E se os preços no Brasil não encontrarem somente nos patamares mais elevados em Chicago ao passo em que os prêmios por aqui estiverem pressionados, o câmbio ainda pode ser mais uma perna na formação dos indicativos que trará, ao menos, estabilidade para as cotações da oleaginosa nacional.
"Assim como o câmbio vem salvando o produtor no Brasil nos últimos três, quatro anos, parece que esse ano vai salvar de novo, o produtor americano - que só recebe CBOT e prêmio - tem recebido preços piores", diz o analista.
Nesta semana, a moeda americana chegou a renovar sua máxima histórica ao bater em R$ 4,38. Diante do movimento, o Banco Central interviu com leilões de swap e nesta sexta-feira (14), o a divisa já voltava à casa dos R$ 4,30, porém, segundo especialistas, sem dispensar ainda a tendência de alta e a volatilidade.
No período de 13 de janeiro a 13 de fevereiro, o dólar já subiu 5%, passando de R$ 4,1443 para R$ 4,3516, como mostra o gráfico abaixo. Desde o começo do ano, a alta acumulada é de mais de 7%.
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