Reino Unido finalmente deixa União Europeia; Boris Johnson diz que saída pode ser um 'esplêndido sucesso'
LONDRES (Reuters) - O Reino Unido finalmente abandonou a União Européia nesta sexta-feira para um futuro incerto com o Brexit, dando as costas, depois de 47 anos, ao projeto pós-Segunda Guerra Mundial que buscava transformar as nações arruinadas da Europa em uma potência global.
Em sua maior mudança geopolítica desde a perda de seu império, o Reino Unido deixou o bloco à meia-noite (horário local), em um passo classificado pelo primeiro-ministro Boris Johnson como o início de uma nova era.
Milhares de apoiadores do Brexit se reuniram do lado de fora do Parlamento britânico, agitando bandeiras, cantando e se divertindo em uma mistura de nostalgia, patriotismo e uma postura desafiadora.
"Este é um dia fantástico", disse Tony Williams, 53 anos, do sudeste de Londres. "Somos livres... nós conseguimos... nós conseguimos."
O Brexit, outrora considerado o sonho improvável de uma equipe heterogênea de "eurocéticos" à margem da política britânica, também enfraquece a UE.
De uma só vez, a UE será privada de 15% de sua economia, seu maior gastador militar e a capital financeira internacional do mundo, Londres. O divórcio moldará o destino do Reino Unido --e determinará sua riqueza-- pelas próximas gerações.
Os líderes mais poderosos da UE, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Emmanuel Macron, classificaram o Brexit como um momento triste que é um ponto de virada para a Europa. A UE alertou que sair será pior do que ficar.
O presidente dos EUA, Donald Trump, apoia há muito o Brexit. Seu secretário de Estado, Mike Pompeo, disse que os britânicos queriam escapar da "tirania de Bruxelas".
Além do simbolismo de dar as costas aos 47 anos de filiação, pouco mudará até o final de 2020, quando Johnson prometeu fechar um amplo acordo de livre comércio com a UE, o maior bloco comercial do mundo.
Para os apoiadores, o Brexit é um sonhado "dia da independência" para um Reino Unido que foge do que eles consideram como um projeto condenado de domínio alemão que está prejudicando a população de 500 milhões de habitantes.
Os opositores acreditam que o Brexit é uma loucura que vai enfraquecer o Ocidente, destruir o que resta da influência global do Reino Unido, minar sua economia e acabar por deixar o conjunto de ilhas mais insular e menos cosmopolita no norte do Atlântico.
Quando finalmente o "Dia do Brexit" chegou, alguns comemoram e outros choram, mas muitos britânicos não fazem nada. Muitos estão simplesmente felizes com o fim de mais de três anos de disputas políticas tortuosas sobre o divórcio.
Não está claro o que o Brexit vai acarretar para o Reino Unido ou para a União Europeia.
Os brexiters esperam que a 'independência' anuncie reformas democráticas e econômicas que irão remodelar o Reino Unido, impulsionando-o à frente de seus rivais europeus, que eles dizem estar acorrentados ao euro.
Apoiadores pró-UE dizem que o Reino Unido se atrofiará e terá pouca opção a não ser se aproximar do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O jornal Times mostrou uma charge de Johnson pulando a frigideira da UE para o fogo dos cabelos alaranjados de Trump.
Apoiadores do Brexit – a saída do Reino Unido da União Europeia – reuniram-se nesta sexta-feira (31) na praça do Parlamento, na zona central de Londres, para comemorar a saída do bloco econômico. O Big Ben, relógio símbolo da capital britânica, soou 11 badaladas em meio a fogos e bandeiras inglesas. A saída ocorreu exatamente às 23h no horário de Bruxelas (20h em Brasília), e o hino nacional inglês, God Save the Queen (Deus Salve a Rainha, em tradução livre), foi executado logo após a comemoração.
Nigel Farage, membro do Parlamento europeu e líder do partido do Brexit, e um dos principais articuladores políticos do movimento, discursou durante os minutos que antecederam a saída. “Nós conseguimos. Transformamos a paisagem do nosso país. Alguns dizem que não devemos celebrar hoje. Mas este é o momento mais importante da história moderna [do Reino Unido]. Não vamos mais ouvir ordens de burocratas em Bruxelas”, afirmou, em tom exaltado. “Seremos livres, seremos orgulhosos e seremos independentes. Todos nós fizemos história hoje. Será um dia lembrado na nossa grande nação e na história moderna da humanidade”, concluiu.
O primeiro-ministro Boris Johnson afirmou, em um vídeo publicado mais cedo, em rede social, que seu trabalho é unir todas os grupos da sociedade, tanto os que apoiraram quanto os que rejeitaram o Brexit. Ele disse que a cooperação com a União Europeia será o foco dos trabalhos para os 11 meses de transição e que agora o Reino Unido “está mais energético” e com “autonomia recuperada”.Tonight we are leaving the European Union.
Boris Johnson diz que saída pode ser um 'esplêndido sucesso'
O primeiro-ministro britânico Boris Johnson afirmou em discurso que a saída do Reino Unido da Europa pode ser um "esplêndido sucesso". O vídeo foi publicado no Twitter oficial do premiê na noite desta sexta-feira, 31, uma hora antes da oficialização do Brexit.
No vídeo, Johnson afirma entender os diferentes sentimentos que os ingleses experimentam neste momento - destacando que há aqueles que encaram o Brexit como um 'momento de esperança' e outros que experienciam 'ansiedade e 'perda'.
"Eu entendo todos esses sentimentos e nosso trabalho, enquanto governo - o meu trabalho - é unir este país agora e nos levar à frente", disse. E acrescentou: "a coisa mais importante para dizer hoje à noite é que este não é um final, mas um começo. Este é o momento em que amanhece e a cortina sobe em um novo ato no nosso grande drama nacional".
Confira a íntegra do discurso:
"Hoje estamos saindo da União Europeia.
Para muitas pessoas, este é um momento surpreendente de esperança, um momento que eles pensavam que nunca chegaria. E há muitos, é claro, que sentem uma sensação de ansiedade e perda.
E depois há um terceiro grupo - talvez o maior - que começou a se preocupar com o fato de que toda a disputa política nunca chegaria ao fim.
Entendo todos esses sentimentos e nosso trabalho como o governo - meu trabalho - é reunir este país agora e nos levar adiante.
A coisa mais importante a dizer hoje à noite é que isso não é um fim, mas um começo. É o momento em que o amanhecer se abre e a cortina sobe em um novo ato em nosso grande drama nacional.
E sim, trata-se em parte de usar esses novos poderes - essa soberania recapturada -para realizar as mudanças pelas quais as pessoas votaram. Seja controlando a imigração, ou criando franquias, ou liberando nossa indústria pesqueira, ou fazendo acordos de livre comércio. Ou simplesmente fazendo nossas leis e regras para o benefício das pessoas deste país.
E é claro que acho que é a coisa certa, saudável e democrática a se fazer. Porque, por todos os seus pontos fortes e por todas as suas qualidades admiráveis, a UE evoluiu mais de 50 anos em uma direção que não se adéqua mais a este país.
E esse é um julgamento que você, o povo, confirmou agora nas pesquisas. Não uma, mas duas.
E, no entanto, este momento é muito maior que isso. Não se trata apenas de uma liberação legal, é potencialmente um momento de verdadeira renovação e mudança nacional.
Este é o início de uma nova era na qual não aceitamos mais que suas chances de vida - as de sua família - dependam de em que parte do país você cresce.
Este é o momento em que realmente começamos a nos unir e subir de nível: derrotando o crime, transformando nosso NHS, e com melhor educação, com excelente tecnologia e com o maior renascimento de nossa infraestrutura desde os vitorianos, espalharemos esperança e oportunidade para todas as partes do Reino Unido.
E se conseguirmos acertar, acredito que a cada mês que passa, cresceremos em confiança, não apenas em casa, mas no exterior. E em nossa diplomacia, nossa luta contra as mudanças climáticas, nossas campanhas por direitos humanos, educação feminina, redescobriremos os músculos que não usamos há décadas. O poder do pensamento e ação independentes
Não porque queremos prejudicar tudo o que nossos amigos da UE fizeram - é claro que não.
Queremos que este seja o começo de uma nova era de cooperação amigável entre a UE e uma enérgica Grã-Bretanha.
Uma Grã-Bretanha que é simultaneamente uma grande potência europeia e verdadeiramente global em nosso alcance e ambições.
E quando olho para os ativos incríveis deste país, nossos cientistas, nossos engenheiros, nossas universidades líderes mundiais, nossas forças armadas, quando olho para o potencial deste país que está prestes a ser lançado, sei que podemos transformar essa oportunidade em um sucesso esplêndido.
E quaisquer que sejam os obstáculos na estrada à frente, sei que teremos sucesso.
Obedecemos ao povo, recuperamos as ferramentas do autogoverno.
Agora é a hora de usar essas ferramentas para liberar todo o potencial deste país brilhante e melhorar a vida de todos em todos os cantos do nosso Reino Unido. "
Despedida final
O Brexit acontecerá às 20h desta sexta-feira, 1.317 dias após a decisão dos britânicos de deixar a União Europeia. No entanto, o texto final do acordo prevê um período transitório até 31 de dezembro de 2020, durante o qual os britânicos seguirão aplicando e sendo beneficiados pelas normas europeias.
A transição busca evitar uma ruptura abrupta, especialmente para as empresas, e dar tempo para negociar a futura relação entre Londres e a UE.
Segundo o acordo, o período pode ser prorrogado até o fim de 2022 no máximo. Mas o Primeiro-ministro britânico Boris Johnson rejeita a possibilidade e incluiu no projeto de lei apresentado aos deputados um dispositivo que proíbe qualquer extensão da transição.
Tonight we are leaving the European Union
Theresa May, ex-líder do governo e ex-primeira-ministra inglesa, disse, nas redes sociais, que “a promessa ao povo inglês foi cumprida”.
At 11pm tonight, Britain will leave the European Union. After more than three years, we can finally say that we have delivered on the result of the 2016 referendum and have kept faith with the British people.
"A promessa ao povo inglês foi cumprida", afirmou Theresa May, que falhou na negociação de um acordo para o Brexit
Reação internacional
O presidente da França, Emmanuel Macron, uma das vozes contrárias à saída, também deixou uma mensagem sobre o momento. “Este é um dia triste. Mas é um dia que deve nos fazer prosseguir, de forma diferente, a construir uma União Europeia poderosa e eficaz, que consiga convencê-los [aos membros da UE] mais e redescobrir o fio desta história que faz da Europa uma aventura única e insubstituível”.
C’est un jour triste. Mais c'est un jour qui doit nous conduire à procéder différemment, à bâtir une Union européenne puissante, efficace, qui parvienne à vous convaincre davantage et à retrouver le fil de cette histoire qui fait de l’Europe une aventure unique et irremplaçable.
"Este é um dia triste", Emmanuel Macron, presidente da França
Em discurso em Edinburgo, a primeira-ministra e líder do Partido Escocês Nacional, Nicola Sturgeon, disse que a Escócia estava sendo retirada da União Europeia “contra os desejos de uma maioria esmagadora”. Ela afirmou que “a Escócia voltará à União Europeia como um país independente”.
REUTERS/Peter Nicholls0 comentário
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