Aprosoja MT insiste em plantar em fevereiro, mas Fórum Agro MT é contra
A discussão sobre o plantio da soja em fevereiro no estado de Mato Grosso ganhou um novo capítulo nesta sexta-feira (31) com a determinação do Ministério Público do Estado de Mato Grosso de que a prática não está autorizada.
A Notificação Recomendatória expedida pelo MPMT determina à Aprosoja MT, que buscava a ampliação do período de semeadura para a produção de sementes, que os experimentos com prática sejam imediatamente suspensos. Em nota, a Associação dos Produtores de Soja e Milho do estado se posiciona com "estranheza" diante da proibição das pesquisas.
"Impedir a realização de pesquisa é o maior absurdo que pode existir, sobretudo a agronômica dentro do maior estado produtor de soja do país, é isto que o MP está recomendando", diz a nota da Aprosoja MT.
Abaixo, a íntegra da nota
O Notícias Agrícolas teve acesso a um ofício do movimento Fórum Agro MT, composto pela Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso), Acrismat (Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso), AMPA (Associação Mato-Grossense dos Produtores de Algodão), Aprosmat (Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso e Famato (Federação de Agricultura do Estado de Mato Grosso), datado de 27 de janeiro, explicitando suas preocupações em relação à prática do plantio da soja em fevereiro no estado que foi encaminhado ao presidente do INDEA (Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso), Tadeu Aurimar Mocelin .
Leia o ofício na sequência:
Cuiabá, 27 de janeiro de 2020
Ilmo. Sr.
Tadeu AurimarMocelin
Presidente do Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso INDEA-MT
NESTA
REF.: OF.PRES. CDSV Nº 27/2020 de 13/01/2020 – Cultivo tardio da soja
Senhor Presidente
O Fórum Agro, composto pelas entidades ACRIMAT, ACRISMAT, AMPA, APROSMAT E FAMATO,vem externar sua preocupação com a possibilidade da extensão da janela de semeadura de soja, conforme manifestado em documentação anexa ao ofício acima mencionado.
Entendemos que a realização de pesquisa científica na agropecuária,sempre em busca de melhores práticas agrícolas, visando não só produtividade mas especialmente sustentabilidade econômica e ambiental, requer desenvolvimento ou até mesmo acompanhamento por entidade que detenha notório saber e reconhecimento de toda a comunidade científica nacional e internacional.
Em nosso país, a principal instituição de pesquisa que possui todos os requisitos de excelência nessa áreaé a EMBRAPA.
Em duas notas técnicas, por ela emitidas em 10/06/2014 e 04/09/2019 – notas essas que lhe enviamos em anexo - seus técnicos alertam e manifestam preocupação quanto ao plantio tardio da soja.
É fato comprovado que a economia do estado de Mato Grosso está assentada na produção agropecuária e em especial na produção de soja, ostentando o Estado a posição de maior produtor do país desta comoditie.
Assim, registramos nossa preocupação e alertamos que qualquer decisão do INDEA-MT, quanto autorização para o plantio de soja extemporânea, ainda que para pesquisa, deve ser acompanhada de toda a cautela necessária e máximo rigor científico, em razão do alto risco a produção do Estado.
Cordialmente
NORMANDO CORRAL
Presidente do Fórum Agro MT
A decisão do Ministério Público de Mato Grosso pauta-se sobre o perigo causado não pela ferrugem, mas sim sobre a resistência - cada vez mais forte - da doença e da falta de produtos, ao menos até este momento, de fungicidas que sejam capazes de dribá-la. Veja a Notificação Recomendatória na íntegra:
O assunto, portanto, trata de um caso de saúde vegetal do produto soja, de segurança nacional e da sustentabilidade da segurança alimentar nacional, uma vez que a a soja de Mato Grosso é hoje um dos elos mais fortes da cadeia global da oleaginosa.
Em julho de 2019, a Embrapa Soja divulgou o estudo Eficiência de fungicidas para o controle da ferrugem-asiática da soja, Phakopsora pachyrhizi, na safra 2018/19: resultados sumarizados dos ensaios cooperativos assinado por 32 pesquisadores mostrando os riscos trazidos pela ferrugem à cultura da soja, como forma de tentar reforçar as pesquisas feitas sobre a resistência da doença e a eficiência dos fungicidas existentes em seu tratamento.
Abaixo, reveja o estudo, na íntegra, da Embrapa Soja:
Já em 30 de setembro de 2019, 12 instituições públicas e privadas se uniram em um consórcio internacional contra a ferrugem e divulgaram uma nota técnica sobre o genoma do fungo causador da ferrugem ter sido, enfim, decifrado.
Veja:
E em 21 de julho de 2019, o Ministério da Agricultura divulgou a seguinte nota:
Soja: Contra sementes em fevereiro, Ministério impõe o Zoneamento Agrícola
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) publicou no Diário Oficial da União de sexta-feira as portarias número 61 a 76 que estabelece o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) para a cultura da soja. O objetivo é reduzir os riscos relacionados a problemas climáticos e também o risco fitossanitário causado pela ferrugem asiática da soja.
O Zarc leva em conta recomendações de instituições de pesquisa sobre medidas de manejo que incluem o período de vazio sanitário e o calendário de plantio para reduzir os riscos relacionados aos aspectos fitossanitários.
Os agricultores precisam observar as recomendações do ZARC para ter acesso aos benefícios do Proagro e do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural.
A seguir, uma nota técnica assinada pelo secretário de Política Agrícola substituto, Silvio Farnese, e pelo secretário de Defesa Agropecuária substituto, Fernando Mendes, a respeito do ZARC da soja:
“Com a produção nacional de soja estimada em mais de 115 milhões de toneladas e área plantada superior a 35 milhões de hectares, o complexo soja é uma das principais atividades do agronegócio brasileiro. Quase todas as unidades da federação produzem soja, sendo que os estados de Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul concentram mais da metade da produção nacional.
Como qualquer outra atividade agropecuária, o cultivo de soja possui riscos que envolvem questões relacionadas ao ambiente institucional, ao mercado e à produção. Desde 1996, o governo federal disponibiliza a ferramenta do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) para apoiar políticas e programas de gestão de risco. O objetivo maior é mitigar as consequências dos riscos agropecuários.
O ZARC tem o objetivo de reduzir os riscos relacionados a problemas climáticos e permite ao produtor identificar a melhor época para plantar, levando em conta a região do país, a cultura e os diferentes tipos de cultivares e solos. A metodologia do ZARC da soja leva em conta elementos que influenciam diretamente no desenvolvimento da planta e, consequentemente, na produção da cultura, tais como temperatura, chuva, umidade relativa do ar, água disponível no solo e demanda hídrica.
Além dos aspectos fisiológicos e climáticos, também são considerados, no momento da realização dos estudos, os aspectos fitossanitários preconizados pelas agências de defesa estaduais e recomendados fortemente pela pesquisa.
Os agricultores são obrigados a seguir as indicações do ZARC para ter acesso aos benefícios do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) e do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR). O zoneamento também é considerado por muitas instituições financeiras quando da concessão de financiamentos do crédito rural, pois possibilita ao produtor acesso aos instrumentos de mitigação de riscos da produção, que servem de garantia nas operações de financiamento do crédito rural.
A manutenção das janelas de plantio no ZARC também ocorre em função do aumento considerável do risco fitossanitário. Especificamente na cultura da soja destacam-se os riscos de perdas associadas à ocorrência da ferrugem asiática da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi.
A doença é considerada uma das mais severas que incidem na cultura, e pode ocorrer em qualquer estádio fenológico. Nas diversas regiões geográficas onde a ferrugem asiática foi relatada em níveis epidêmicos, os danos variam de 10% a 90% da produção. Nesse sentido, para o estabelecimento da melhor época de plantio da cultura da soja, devem ser considerados também os riscos relacionados aos aspectos fitossanitários, em conjunto com os riscos identificados na modelagem agroclimática aplicada ao ZARC.
Considerando a alta capacidade mutagênica e a altíssima velocidade de reprodução (um ciclo a cada 7 dias) do agente causal da ferrugem asiática da soja, medidas de manejo que incluem o período de vazio sanitário e o calendário de plantio têm sido recomendadas pelas instituições de pesquisa, com o objetivo de reduzir a sobrevivência do fungo durante a entressafra e de reduzir o número de aplicações de fungicidas ao longo da safra, minimizando a pressão de seleção de resistência aos produtos disponíveis para utilização no seu controle.
A Instrução Normativa nº 2, de 29 de janeiro de 2007, que instituiu o Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática da Soja (PNCFS), concede aos órgãos estaduais de defesa agropecuária autonomia para definição do calendário de plantio para a soja, com um período de pelo menos 60 (sessenta) dias sem a cultura e plantas voluntárias no campo durante a entressafra (vazio sanitário).
Adicionalmente ao vazio sanitário, as recomendações de pesquisas posteriores à norma em referência indicam a necessidade do estabelecimento da “calendarização”, ou seja, de datas-limite para a semeadura da soja, com o objetivo de reduzir o número de aplicações de fungicidas e a pressão de seleção sobre as populações do fungo.
Considerando as pesquisas realizadas anualmente pela Embrapa, neste mês de julho foi divulgada Circular Técnica com os resultados da rede de ensaio da ferrugem denominada “Eficiência de fungicidas para o controle da ferrugem-asiática da soja, Phakopsora pachyrhizi, na safra 2018/19: resultados sumarizados dos ensaios cooperativos”. Esta circular pode ser acessada no seguinte site da internet: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/199522/1/CT-148-OL.pdf
Diante do exposto, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, considerando o conteúdo disposto nas pesquisas agroclimáticas e fitossanitárias, publicou as Portarias números 61 a 76, de ZARC para cultura da soja, ano safra 2019/2020, no Diário Oficial da União de 19 de julho de 2019.”
2 comentários
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Orlando Cesar Sinop - MT
Em acréscimo: para que se pesquise os efeitos das moléculas de fungicida, sugiro que a pesquisa alcance a soja "tiguera", que nasce em meio ao algodão que é plantado justamente no VAZIO SANITÁRIO DA SOJA, EM ÉPOCA DE SECA, sobre a qual são lançadas mais de 14 aplicações de fungicidas, exatamente os mesmos da soja.
Parabéns pela audiência (não sei se é assim que se fala para sites).... Já me ligaram "puxando a orelha" dizendo que a soja tiguera não é plantada. Retificando: ela nasce em meio ao algodão, é voluntária e surge em razão das sementes que caem quando da colheita..., além do que os meus dados estão errados (14 aplicações ): passam de 20, e no algodão se utiliza o dobro de fungicidas e inseticidas. Outra coisa: não há nada publicado pela Embrapa. Quando se faz determinado estudo, ele deve ser publicado em revista científica específica, e essa "coisa" que a Embrapa trouxe a público (e é coisa mesmo porque não publicada) não tem registro em lugar nenhum. A Embrapa foi convidada por várias vezes a participar das pesquisas. Nunca aceitou.
Caro Orlando, seus argumentos não tem base científica. A Embrapa é respeitada no mundo inteiro como referência em agricultura. Seus boletins e revistas estão dispostas na internet caso tenha alguma dúvida. Deixe esse assunto para pesquisadores sérios e ministério público... (Será que o Sr. Orlando é formado em alguma coisa para sua opinião no assunto valer alguma coisa?)
Orlando Cesar Sinop - MT
Tenho acompanhado de perto o assunto. Muito se fala, nada se mostra. Para qualquer técnico, por mais burro que seja, sabe que qualquer conclusão demanda premissas, ou seja, para se afirmar algo é necessário que se tenha comprovação, dados técnicos, pois quem julga por "ouvir dizer" é orelha, não juiz. As pesquisas são necessárias, seja para afirmar positiva ou negativamente sobre o aumento e diminuição da ferrugem asiática. Então, por que todos estão contra a realização de pesquisas para se saber - ou não - se fevereiro é o mês mais adequado para se plantar sementes de soja ( permissão concedida ao produtor pelo art. 10, da Lei de Cultivares - lei 9.456/97)?? Seria interesse de determinado setor - produtivo de sementes - para ceifar a concorrência ou interesse do setor de agroquímico, na mantença do limite de 31/12, época em que se despende quase o DOBRO de aplicações de fungicida? De todos os nomes de empresas de pesquisa citados - com destaque para a Embrapa com mais de 90 pesquisadores, quais desses nomes têm uma pesquisa para comprovar o que dizem em público? E digo a Embrapa porque se trata de órgão Estatal- mantido com os impostos que pagamos - que tem por finalidade a pesquisa, e, apesar da discussão se arrastar por anos, a Embrapa se mantém inerte, paralisada, limitando-se a dar "palpites" sem sustentação técnica palpável ou ao menos um "ensaio". Sugiro, então, já que o fato foi criado, que a Embrapa seja "carro-chefe" e partícipe das pesquisas que estão por ser feitas, permitindo, então, que seu nome não seja alterado para " Empresa Brasileira de Palpites Agropecuários" (pode ser "pitacos" também), já que em ciência, não há lugar para se afirmar algo sem o necessário pilar da pesquisa.
Sr. Orlando, seu comentário é excelente. E longe de mim dizer que todos no setor público são incompetentes e verdadeiros analfabetos funcionais, mas bastaria um único pesquisador vir a público comentar a metodologia utilizada para embasar as afirmações de que fungicidas perdem poder de ação ano após ano e que proibir cultivos vai fazer com que recuperem essa ação perdida. Não sei o que temem, o lobby, a patrulha ou por estar recebendo algum cala-a-boca, ninguém diz nada. Pelas coisas que aprendi estudando, ainda na faculdade, não é necessário fazer pesquisas em campo aberto para testar fungicidas, se o fungo adquiriu ou adquire resistencia, é resistente tanto em ambientes fechados, laboratórios, como em ambientes abertos. Reitero seus apelos aos pesquisadores da Embrapa, nós pagamos o salário de voces para que não precisem se preocupar com pressões de grupos economicos e politicos..., no Brasil ainda que a esquerda tente, ainda temos liberdade de opinião e aqui ninguém pode ser punido por expressar o que pensa e sabe.