Retrospectiva etanol: produção aumenta, mas demanda firme sustenta preços em SP
A demanda deu o tom aos preços do etanol hidratado na safra 2019/20, segundo afirmam pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. Com volumes recordes a cada mês, o consumo foi se fortalecendo ao longo de toda temporada, influenciado pela vantagem do biocombustível frente à gasolina C nas bombas.
Na parcial da temporada (de abril/19 a novembro/19), as vendas de hidratado das usinas do Centro-Sul somaram 15,8 bilhões de litros, volume 13,7% superior ao do mesmo período de 2018 (de 13,9 bilhões de litros), segundo dados da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).
Com demanda aquecida, o mix de produção, ainda de acordo com a Unica, ficou em 65,4% até novembro, contra 64,3% na temporada anterior e o maior das últimas 17 safras. Assim, do início de abril até 30 de novembro, foram produzidos 31,7 bilhões de litros de etanol (de hidratado e anidro), 8,6% acima do volume do mesmo período da safra anterior. Ressalta-se, ainda, que a produção de etanol de milho dobrou de abril a novembro frente à igual período de 2018, somando 889,8 milhões de litros.
Apesar disso, os preços em 2019/20 estiveram acima dos observados na safra anterior. Tomando-se como base os Indicadores CEPEA/ESALQ mensais do etanol hidratado, a média foi de R$ 1,8126/litro na safra 2019/20 (até dezembro), contra R$ 1,7409/litro em igual período da temporada anterior, aumento real de 4,12% (valores deflacionados pelo IGP-M de dezembro/19). No mesmo comparativo, o etanol anidro teve média de R$ 1,9852/litro, acréscimo de 3,09%, em termos reais.
Nas bombas, segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), a relação média entre o etanol hidratado e a gasolina C foi de 64,7% de abril a dezembro, contra os 62,6% registrados no mesmo período da safra anterior em São Paulo. Em média, de abril a dezembro, a gasolina C custou R$ 4,1711/litro e o etanol, R$ 2,6983/litro nas bombas paulistas.
Em termos de comercialização, volumes mais expressivos foram adquiridos a partir de setembro para atender à demanda na ponta varejista. Entre outubro e novembro, os preços subiram com mais força, tendo em vista que distribuidoras se anteciparam e compraram volumes para dezembro.
Dados do Cepea mostram que, no acumulado da safra 2019/20, o volume de etanol hidratado vendido pelas usinas do estado de São Paulo foi 14,9% maior que o de igual período da temporada anterior. Na última semana de novembro (de 25 a 29 de novembro), inclusive, a quantidade foi a terceira maior de toda série histórica do Cepea, iniciada em 2002.
Do lado das usinas, no início da safra 2019/20, pesquisadores do Cepea destacam que os preços oscilavam, influenciados por fatores internos e externos. Já na segunda metade da temporada, a demanda aquecida deixou os preços de venda mais firmes. Ressalta-se que, pontualmente, foi observada necessidade financeira por parte de algumas unidades usinas e/ou de abrir espaço nos tanques, o que enfraqueceu os valores em alguns períodos. Essa valorização pode, inclusive, dar novo fôlego às usinas e gerar investimentos na próxima temporada.
NORDESTE – No início do ano, os preços dos etanóis ficaram firmes, sustentados pela menor oferta (por conta da finalização da moagem da safra 18/19), pelos estoques limitados das usinas e pelos preços mais altos no Centro-Sul. Nesse período, segundo pesquisadores do Cepea, os etanóis de Goiás e o importado abasteceram a região nordestina.
As chuvas intensas e constantes no período de plantio geraram boas expectativas quanto à temporada 2019/20. Pesquisadores do Cepea destacam que usinas da Paraíba iniciaram os trabalhos já em julho e agosto, enquanto a maior parte das unidades de Pernambuco e Alagoas começou a moagem em setembro e outubro, com algumas interrupções devido a chuvas.
No geral, dados do Cepea mostram que, do início da safra 2019/20 até as primeiras semanas de novembro, os preços do etanol hidratado caíram em Pernambuco, Alagoas e Paraíba, em decorrência da maior oferta. Já em dezembro, os preços tanto do hidratado quanto do anidro subiram no Nordeste, sustentados pela demanda aquecida, tendo em vista as festas de final de ano, e pelas altas cotações na região Centro-Sul. Além disso, as usinas adotaram um posicionamento mais firme nos preços.
As mudanças nas cotas de importação de etanol também influenciaram o mercado Nordestino, apontam pesquisadores do Cepea. Isso porque as novas cotas limitaram a entrada de produto estrangeiro e, consequentemente, fizeram com que a demanda por etanol da própria região aumentasse. Ressalta-se que as compras externas brasileiras sem taxas podem somar 200 milhões de litros entre setembro/19 e fevereiro/20, período de safra na região nordestina.
De acordo com levantamento do Cepea, na parcial da safra 2019/20 (agosto/19 a dezembro/19), em Pernambuco, o preço do hidratado está 0,18% inferior, em termos reais, ao da temporada anterior; para o anidro, a queda foi de 0,10%. Em Alagoas, as médias do etanol hidratado e do anidro subiram, 0,24% e 2,82%, respectivamente. Na Paraíba, preço do hidratado caiu 0,33%, ao passo que do anidro subiu 3,64%, na mesma comparação.
EXPORTAÇÃO E IMPORTAÇÃO – As exportações de etanol anidro e hidratado somaram 1,62 bilhão de litros entre abril e dezembro de 2019, alta de 14,9% em relação ao mesmo período da safra anterior (1,41 bilhão de litros), de acordo com a Secex. A receita gerada foi de US$ 826,8 milhões, 14,23% superior à do mesmo período da safra 2018/19 (US$ 723,8 milhões). Os principais destinos do etanol brasileiro foram os Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão.
As importações de etanol na safra 2019/20, por sua vez, somaram 1,06 bilhão de litros, queda de 5,39% frente à safra passada (1,12 bilhão de litros), sendo os Estados Unidos o principal fornecedor. Do volume importado, 67,59% foram recebidos nos portos do Norte e Nordeste e apenas 32,41%, nos do Centro-Sul, ainda segundo a Secex.
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