CNC (comércio) revisa projeção de crescimento do PIB de 2019 para 1,2%

Publicado em 03/12/2019 21:02
Taxa é a maior para um terceiro trimestre desde 2012

A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) revisou a projeção de crescimento para este ano do Produto Interno Bruto (PIB, que é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país) de 1% para 1,2%.

De acordo com as Contas Nacionais, divulgadas hoje (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB cresceu 0,6% no terceiro trimestre deste ano em relação ao trimestre anterior, mostrando evolução de 1,2% em comparação ao mesmo período do ano passado. Segundo a CNC a taxa observada é a maior para um terceiro trimestre desde 2012 (1,5%) e a mais elevada para qualquer período de três meses desde o primeiro trimestre de 2018 (0,7%).

“A gente revisou a projeção por conta de um resultado ligeiramente acima do esperado. O PIB não está bombando. Longe disso”, disse à Agência Brasil o economista da CNC, Fabio Bentes. Ele destacou que o crescimento do PIB per capita, isto é, por indivíduo, está muito baixo. “Crescer 1,2%, como a gente está esperando, significa distribuir pela população a taxa de crescimento muito próxima de zero”. Segundo Bentes, o resultado do terceiro trimestre surpreendeu os economistas da CNC.

Outro motivo que contribuiu para a revisão do PIB de 2019 é a grande possibilidade de que, no último trimestre, a economia cresça mais, “basicamente porque o consumo das famílias está se dando em um ritmo acima do crescimento da própria economia, ou seja, do consumo do governo, do setor externo”. A confiança para isso é dada pelos dados positivos relativos ao quarto trimestre do ano que já começam a sair, afirmou Bentes.

Fatores de impulso

Os economistas da CNC percebem nesse cenário que se abre três fatores claros que podem impulsionar a economia neste final de ano para um ritmo mais forte. O primeiro deles é a inflação baixa medida pelo Índice de Preços do Consumidor Amplo (IPCA), que é a menor dos últimos 21 anos, da ordem de 2,5%. “É uma inflação que em um primeiro momento corrói pouco e mais lentamente o poder de compra da população e abre espaço para quedas mais audaciosas na taxa de juros”.

O segundo fator envolve as condições de crédito. A CNC já detectou aumento na demanda por crédito, menos por conta da redução de juros de balcão e mais pela ampliação dos prazos. “Com prazos mais longos, as famílias conseguem encaixar mais facilmente uma prestação com financiamento no orçamento”.

O terceiro ponto é a liberação dos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para o consumo. Os resultados apurados na Black Friday, por exemplo, mostram que os dados de consumo estão favoráveis e devem empurrar o consumo das famílias para cima no último trimestre. Para 2020, a expectativa é de que a taxa de juros básica (Selic) caia a 4,5% ao longo do ano. “Isso abre espaço para que o cenário positivo do ponto de vista do consumo perdure pelo menos até metade do ano”.

PIB de 2020

Por isso, a CNC espera expansão do PIB para 2020 de 2,2%. O economista da CNC admitiu que não é um crescimento espetacular. “É um crescimento abaixo da média mundial ainda, mas é um resultado melhor do que nos últimos três anos, já considerando 2019”, porque a economia cresceu 1,3% nos anos de 2017 e 2018 e agora deve evoluir 1,2% este ano. As expectativas do mercado para o PIB do próximo ano são de crescimento entre 2% e 2,5%.

Como a perspectiva para 2020 não prevê novas liberações de recursos, Bentes disse que o que contrabalanceia um pouco isso é a expectativa de que os juros caiam mais. “Só que não basta a Selic cair. É preciso estimular concorrência no mercado bancário”. O economista da CNC analisou que a Caixa Econômica Federal está trilhando esse caminho e puxando alguns bancos privados. A limitação dos juros do cheque especial a 8,5% ao mês, embora seja uma taxa muito elevada, pelo menos coloca algum teto nisso. “Que se estabeleça um teto mesmo porque a grande maioria da população não sabe o que significa uma taxa de 8,5% ao mês”.

Mercado de trabalho

Outro desafio não só para 2020, mas para a próxima década, é destravar o mercado de trabalho, sinalizou Bentes. “Mesmo com o crescimento que a gente teve até agora, a taxa de desemprego ainda está muito alta”. Isso vai depender de uma agenda de resgate da produtividade do trabalhador. “Não pode cortar gastos com educação”, asseverou Fabio Bentes. Caso esses problemas não sejam atacados, o economista acentuou que “a gente cresce 2,5% no ano e no outro cria um excesso de demanda na economia, aumenta a inflação e aí corta o ciclo de novo”. Por isso, enfatizou ser importante atacar os problemas estruturais de um mercado de trabalho mais produtivo, aumentar a concorrência bancária. “Acho que esses dois fatores terão efeito mais perene no ritmo de crescimento do PIB, nos próximos anos.

Indústria

Analista diz que alta do PIB ainda não reflete recuperação total

A coordenadora de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rebeca Palis, disse hoje (3), que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todos os bens e serviços produzidos no país) no terceiro trimestre de 2019, de 0,6%, é uma recuperação em relação ao pior momento da economia do país, que foi no quarto trimestre de 2016, porém não é uma recuperação total.

“A gente está se recuperando, mas ainda em um nível, um patamar pré-crise. Ainda não tivemos a recuperação total para chegar no máximo de PIB que a gente teve, que foi no primeiro trimestre de 2014, mas também não estamos no pior patamar, no pior momento, que foi no quarto trimestre de 2016”, disse.

Para Rebeca Palis o grande destaque pela ótica da demanda é o consumo das famílias, que tem peso de 65% na economia. A recuperação, embora gradual do mercado de trabalho, também influenciou o aumento do consumo das famílias no terceiro trimestre de 2019. Na comparação com o mesmo período de 2018, a alta do consumo das famílias ficou em 1,9%.

O crescimento nominal de 15,5% do saldo de operações de crédito com recursos livres do sistema financeiro nacional para pessoas físicas; a elevação da massa salarial real; a variação do IPCA de 3,2% no terceiro trimestre de 2019 contra 4,4% no mesmo período do ano anterior, foram outros fatores de influência no crescimento da economia no trimestre.

O consumo das famílias foi impactado também pela redução da taxa Selic de 6,5% no terceiro trimestre de 2018 para 6,3% em igual período deste ano, e pelo início da concessão das parcelas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) em setembro.

Atividade econômica

Na ótica da atividade econômica, os três maiores desempenhos foram a construção civil, que cresceu pelo terceiro trimestre consecutivo, puxada pelo setor imobiliário; a extrativa mineral, que subiu no período influenciada pela extração de petróleo e gás, resultado do aumento de produção no pré-sal, incluindo a queda menor de extração de minério de ferro após o rompimento da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais.

A outra atividade em destaque foi serviços. “Olhando para os serviços, a atividade que mais cresceu foi informação e comunicação, que é uma atividade que já vem crescendo há bastante tempo, por causa da internet e da parte de desenvolvimento de sistemas. Essas atividades econômicas, junto com o comércio, que tem tudo a ver com o consumo das famílias, e tem um peso importante na economia. Então, comércio, extrativa mineral, informação e comunicação e construção civil foram os principais destaques, olhando pela ótica da produção, do crescimento desse terceiro trimestre”, explicou Rebeca Palis.

Consumo do governo

Segundo a coordenadora de Constas do IBGE, a economia brasileira está alavancada pelo consumo das famílias e o investimento, que têm registrado crescimento nos últimos trimestres. Observou, no entanto, que as despesas de consumo do governo têm puxado para baixo a economia diante dos problemas fiscais nas esferas federal, estaduais e municipais.

Além disso, ainda segundo Rebeca Palis, o setor externo também tem contribuição negativa. “A gente está tendo um crescimento da importação de bens e serviços e queda na exportação de bens e serviços. Essa queda na exportação tem a ver com a crise na Argentina, principalmente no caso da indústria automotiva, além de uma baixa da demanda mundial, por minério de ferro, com o problema de [rompimento da barragem] Brumadinho, e com a China crescendo menos”, apontou.

Agropecuária

Na agropecuária, que cresceu 2,1% no terceiro trimestre de 2019, comparado ao trimestre de 2018, o algodão com crescimento de 39,7%, o milho com 23,2% e a laranja com 6,3% foram as contribuições positivas. Já com desempenhos negativos ficaram o café, com redução de 16,5%, e a cana, menos 1,1%. Na comparação do terceiro trimestre de 2019 com o período anterior, a agropecuária subiu 1,3%.

PIB

Em valores correntes, o PIB atingiu R$ 1,842 trilhão no terceiro trimestre de 2019. Do total, R$ 1,582 trilhão se referem ao Valor Adicionado e R$ 259,7 bilhões aos Impostos sobre Produtos Líquidos de Subsídios.

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Fonte:
Agência Brasil

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