A revolução dos juros, por Roberto Padovani ( Banco Votorantim)
O novo ciclo de afrouxamento monetário tem promovido mudanças importantes na economia brasileira. O patamar mais baixo de juros em 20 anos, associado à leitura de que as taxas irão permanecer em novos níveis por muito tempo, está alterando a dinâmica dos mercados de câmbio, títulos e crédito, o que tende a favorecer cíclica e estruturalmente o crescimento.
No caso do câmbio, os impactos são claros. Historicamente, as saídas de recursos no mercado à vista sempre estiveram associadas a agudas crises de confiança. Neste momento, diferentemente, a demanda por moeda estrangeira também tem sido explicada pela expressiva queda dos juros locais, que incentivam o pagamento antecipado da dívida externa privada.
Esta novidade se soma à menor atratividade do País dada por fatores tradicionais, como a aversão a risco global, preços de commodities, cotação do dólar em relação às principais moedas, baixo crescimento doméstico e arbitragem gerada pelo diferencial de juros. Não por outro motivo, a moeda brasileira não tem acompanhado a forte valorização observada em ações e títulos.
Os efeitos sobre o mercado de títulos também são relevantes. Os juros baixos reduzem o risco de solvência pública e privada ao acelerar o processo de estabilização financeira. O menor risco nas aplicações em renda fixa, no entanto, tem sido acompanhado por reduções igualmente importantes na rentabilidade.
Como resultado, está em curso um movimento incomum no País. A poupança financeira privada tem sido mobilizada para financiar a produção. As melhores rentabilidades passaram a ser oferecidas por participações societárias em empresas e projetos, o que pode levar a uma mudança cultural importante. A partir de agora, maior ênfase será dada na avaliação de setores, empresas e oportunidades internacionais, o que exige novos produtos financeiros, maior profissionalização e mais educação financeira.
Finalmente, a queda dos juros favorece o crédito. Com elevada liquidez e baixo crescimento econômico limitando a oferta de ativos, os spreads mostram achatamento. Se, por um lado, isso reduz a atratividade das emissões de instrumentos de dívida no mercado de capitais, como tem sido observado nas últimas semanas, por outro há maior competição na indústria bancária, que busca ativos de maior retorno.
De fato, a mudança de patamar dos juros e a percepção de menor risco político e econômico permitem ao Brasil superar a longa discussão sobre o nível de taxas ao tomador final, estimulando tanto oferta quanto a demanda por crédito. Com a concessão para as empresas se tornando mais simples, rápida e massificada, as empresas de menor faturamento voltam a ter acesso às linhas bancárias e reduzem o empoçamento de liquidez, melhorando o perfil de endividamento corporativo. No caso das famílias, que já estavam menos endividadas antes da crise, a queda dos juros reforça o crescimento de uma carteira de boa qualidade, com baixa inadimplência. Ou seja, o canal de crédito está sendo ampliado e aprofundado.
Somados, estes efeitos favorecem o crescimento. Além da redução do custo de capital e alívio nas condições financeiras, há mais recursos para financiar as empresas privadas em um contexto de menor risco e de mudanças profundas e inéditas na estrutura do estado brasileiro. O governo não apenas está deixando de competir por recursos, mas está oferecendo mais oportunidades de negócios.
O problema é que este processo é de difícil estimação. Os efeitos das reformas que vem sendo implementadas são difusos e espalhados no tempo. Da mesma forma, medir os impactos gerados pelo aprofundamento do crédito não é algo óbvio. O histórico de incertezas, juros elevados e segmentação de mercado reduziu a importância da política monetária sobre o crescimento. Mas o passado talvez não seja uma boa referência neste caso.
A mudança da estrutura do estado e um mercado de crédito livre mais amplo, que aumenta a potência de política, são vetores que ampliam a capacidade de crescimento de curto e longo prazo. Não por outro motivo, há maior otimismo e um consenso que o PIB irá se acelerar no próximo ano, mesmo diante de um quadro internacional adverso e de desafios estruturais importantes.
Os últimos anos, portanto, estão criando um ambiente que favorece a produção e o emprego. Lentamente, a economia segue avançando em meio aos ruídos.
Roberto Padovani é Economista-Chefe do Banco Votorantim
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