Bolsonaro lamenta declaração de Eduardo sobre AI-5 e diz não pensar em autoritarismo

Publicado em 01/11/2019 08:44

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BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro lamentou nesta quinta-feira a declaração de seu filho Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), sobre AI-5, disse que o filho estava pronto para se desculpar e ressaltou que não tem nenhum interesse no autoritarismo.

Em entrevista ao jornalista José Luiz Datena, na TV Band, Bolsonaro disse que não pensa em uma arma como o AI-5, lembrou que tanto ele quanto o filho, que é deputado federal, foram eleitos de maneira democrática e defendeu que o país não se atenha a “assuntos menores”.

“Eu falei para ele ‘se desculpa junto àqueles que porventura não interpretaram você corretamente’. E ele falou ‘não tem problema nenhum’”, disse o presidente, ao explicar o contexto da fala de Eduardo sobre o ato institucional do regime militar.

“Ele fala que no contexto lá dos anos 1960, o Brasil viveu um momento difícil aqui também e que o AI-5 foi quase uma imposição. Mas ele fala também que o AI-5 não existe. Essa arma não existe, tá? E nem queremos e nem pretendemos falar em autoritarismo da nossa parte”, disse, na entrevista, aproveitando para se dizer chateado por “qualquer palavra” tornar-se um “tsunami”.

“Se lamenta essa notícia aqui em parte distorcida, mas meu filho está pronto para se desculpar , tendo em vista ter sido mal interpretado”, acrescentou o presidente.

Mais cedo, ao sair do Palácio da Alvorada, lamentou a declaração do filho, embora, na ocasião, afirmasse não conhecer o comentário.

“Quem quer que esteja falando de AI-5 está sonhando. Está sonhando! Está sonhando!”, disse Bolsonaro a jornalistas em frente ao Palácio da Alvorada.

Indagado se cobraria seu filho pela declaração, o presidente mostrou irritação.

“Cobre você dele. Ele (Eduardo) é independente, tem 35 anos. Se ele falou isso, eu não estou sabendo, eu lamento. Lamento muito”, disse.

Em entrevista à jornalista Leda Nagle, divulgada no Youtube, Eduardo disse que a edição de um novo AI-5, instrumento que marcou o endurecimento da ditadura militar no país, poderia ser a resposta do governo do pai a uma eventual radicalização da esquerda.

Mais tarde, Eduardo publicou um vídeo numa rede social no qual pediu desculpas.

"Não fico nem um pouco constrangido de pedir desculpas a qualquer tipo de pessoa que tenha se sentido ofendida ou imaginado o retorno do AI-5", disse o deputado no vídeo.

Não é a primeira vez que Eduardo gera polêmica com declarações de viés autoritário. Durante a campanha eleitoral do ano passado, o parlamentar, que foi o deputado federa mais votado da história do país, disse que seriam necessários apenas um soldado e um cabo em um jipe para fechar o Supremo Tribunal Federal (STF).

Na ocasião, Bolsonaro reagiu à fala do filho afirmando que “advertiu o garoto”, e Eduardo se desculpou pela fala.

O presidente pretendia indicar o filho para embaixador do Brasil nos Estados Unidos, mas diante da falta de apoio no Senado, que precisa referendar a indicação, e de uma briga interna no PSL que fez com que o deputado assumisse a liderança da legenda na Câmara dos Deputados, Eduardo anunciou que abria mão da indicação.

(Reportagem de Eduardo Simões, em São Paulo, e Maria Carolina Marcello, em Brasília)

(Edição de Alexandre Caverni)

Após forte polêmica, Eduardo Bolsonaro pede desculpas e diz que não há possibilidade de retorno do AI-5

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BRASÍLIA (Reuters) - O líder do PSL na Câmara, deputado Eduardo Bolsonaro (SP), pediu desculpas e disse que não há "qualquer possibilidade de retorno do AI-5", em um vídeo veiculado em sua rede social horas depois de ter ido ao ar uma entrevista dele na qual aventou a possibilidade de o governo do seu pai, Jair Bolsonaro, lançar mão desse instrumento da ditadura militar, caso a esquerda radicalize em sua atuação no país, fala essa que gerou forte reação pública ao longo desta quinta-feira.

"Primeiro de tudo, não existe qualquer possibilidade de retorno do AI-5 e a minha posição é bem confortável. Eu não fico nenhum pouco constrangido de pedir desculpa a qualquer tipo de pessoa que tenha se sentido ofendida ou imaginado o retorno do AI-5. Esse não é o ponto que nós vivemos hoje, no contexto atual do Brasil", disse ele, em vídeo no seu Facebook.

"A gente vive um regime democrático, nós seguimos a Constituição. Inclusive esse é o cenário que me fez ser o deputado mais votado da história. Então não tem por que de eu descambar para o autoritarismo, eu tenho a meu favor a democracia", acrescentou.

"Agora é óbvio que a oposição vai tentar pegar esteira na minha fala para tentar me pintar como ditador. Pode ter sido até uma resposta infeliz, se pudesse refazê-la faria sem citar o AI-5 para não dar essa polêmica toda", completou ele, ao ressalvar que parlamentares têm garantido pela Constituição direito a imunidade de opiniões, palavras e votos.

Em entrevista veiculada na manhã desta quinta-feira no canal de Youtube da jornalista Leda Nagle, Eduardo Bolsonaro disse que vai chegar um momento em que a situação do Brasil vai ser igual a do final dos anos 1960, quando ocorreram sequestros de aeronaves e execuções de grandes autoridades, como embaixadores, policiais e militares.

“Se a esquerda radicalizar a esse ponto, a gente vai precisar ter uma resposta. Uma resposta ela pode ser via um novo AI-5, pode ser via uma legislação aprovada através do plebiscito, como ocorreu na Itália, alguma resposta vai ter que ser dada porque é uma guerra assimétrica, não é uma guerra onde você está vendo o seu oponente do outro lado e você tem que aniquilá-lo, como acontece nas guerras militares. É um inimigo interno de difícil identificação aqui dentro do país, espero que não chegue a esse ponto, né, mas a gente tem que estar atento”, vaticinou.

O AI-5, o mais duro dos atos institucionais editados pela ditadura em 1968, resultou no fechamento do Congresso Nacional, cassou mandatos parlamentares e suspendeu garantias constitucionais, criando condições para que a repressão estatal aumentasse contra os cidadãos que discordavam do regime —inclusive com assassinatos ainda sem solução— naquele período.

A fala de Eduardo gerou muitas manifestações de repúdio de entidades da sociedade civil, dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, de lideranças partidárias de todo o espectro político, inclusive do seu próprio partido, o PSL, e também no Supremo Tribunal Federal.

Em declarações públicas, o próprio presidente Jair Bolsonaro lamentou a fala do filho e chegou a dizer em uma delas que "está sonhando" quem tenha falado sobre AI-5.

(Reportagem de Ricardo Brito)

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Fonte:
Reuters

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