Sinais de recessão global seguem 'gritantes' e podem vir contra os avanços que vêm sendo garantidos no Brasil
Podcast
ECONOMIA GLOBAL - Entrevista com Roberto Dumas Damas - Economista e Professor do Insper
DownloadIndicadores da economia norte-americana, mais especificamente do setor interbancário, têm demonstrado preocupantes sinais de que o mundo caminha para uma nova recessão em 2020 e é preciso estar preparado. Se espera uma volatilidade bastante intensa em todo o mercado financeiro e as commodities e moedas não devem escapar do turbilhão.
"Os números estão gritando e poucos estão prestando atenção nisso, falando sobre isso, considerando isso em suas análises", diz o economista e professor do Insper, Roberto Dumas Damas, em entrevista ao Notícias Agrícolas nesta segunda-feira (28).
ECONOMIA DOS EUA
Segundo o especialista, utilizando gráficos de diversos indicadores, o setor bancário norte-americano já sente um risco de exposição bastante severo e que vem crescendo, o que pode ser confirmado pelo comportamento dos títulos do tesouro dos EUA.
"O certo seria que qualquer bond dos EUA de três anos pagasse mais, mas o que se vê é que paga menos do que um bond de um mês. Ou seja, a curva dos rendimentos se inverteu. Isso porque os investidores norte-americanos e internacionais, na esperança de que vá haver um arrefecimento (da economia) ou mesmo uma recessão nos EUA preferem se prender a um rendimento menor de 3 anos, do que de um mês, porque têm uma quase certeza de que o Federal Reserve jogue a taxa de juros a 0,25%, quase zero", explica Dumas.
E no gráfico a seguir, é possível ver que "todas as vezes que o retorno dos bonds norte-americanos ficaram invertidos por mais de 200 dias, os EUA entrararam em recessão".
A exposição dos bancos maior, com um risco de default mais acentuado também chama a atenção. "Se o mercado interbancário pula de 1,5% para 10% e o Federal Reserve está entrando todo dia com US$ 120 bilhões no overnight para tentar acalmar o mercado interbancário é porque tem alguma coisa muito errada nesse mercado nos EUA", explica o professor.
Leia:
>> Otimismo sobre comércio e esperanças de cortes de juros impulsionam S&P para máxima recorde
PARA O BRASIL
Ainda segundo Dumas, o alerta para o Brasil é de que os avanços que têm sido conseguidos aqui para sua economia, como a aprovação da Reforma da Previdência, por exemplo, podem ser neutralizados pelo cenário externo mais preocupante.
"O Brasil está fazendo sua lição de casa, mas parece que está sendo construída uma coisa feia nos EUA, sem contar Argentina, México - que está em recessão, o Chile, a Alemanhã está em recessão, a briga China x EUA não vai acabar agora e, além de tudo, temos o Brexit", diz. "A recessão pode dar um sell-off na bolsa, que bate nas empresas, que chega aos bancos - e ou ele toma capital econômico ou ele para de emprestar, e se ele para de emprestar ele retroalimentar a recessão e isso vai bater no mundo todo, inclusive no Brasil", completa.
>> Brexit: União Europeia aceita adiamento até 31 de janeiro de 2020
>> Apoio a presidente chileno Piñera despenca após onda de protestos
>> Presidência do Uruguai será decidida em 2º turno
>> Trump diz estar adiantado para assinar parte de acordo comercial com a China
MOEDAS
Com a recessão confirmada e fazendo esse caminho esperado até um possível credit crunch (momento de menor crédito disponível), "o mundo costuma 'fugir' para o franco suíço, yen japonês e ouro e depois ele volta para o dólar, exatamente como aconteceu em 2008", como explica o professor. Assim, se isso acontecer, o real deverá se depreciar e promover um novo momento para a moeda brasileira.
NA CHINA
Sobre a China, o processo de 'soft landing' continua, segundo Dumas. Ou seja, a economia da nação asiática cresce um pouco menos do que nos últimos anos, porém, de forma saudável e controlada, seguindo um planejamento já esperado. Ainda assim, os resultados impactam no mercado financeiro e nas commodities de uma forma geral.
"Sempre que se espera que o mundo cresça menos, as commodities metálicas caem e quando você está assustado, o ouro sobe", exatamente como acontece neste momento. No país, porém, o aumento do consumo segue em foco e a China conta com uma série de instrumentos para efetivar isso.
Assim, "por isso que, em situação normal, junto com a Peste Suína Africana, a proteína animal, agribusiness, proteína animal, papel e celulose, tudo tende a se beneficiar, mesmo crescendo menos", completa.
Yuan x Dólar - Dumas explica ainda que a China até poderia optar por intensificar suas exportações via depreciação de sua moeda, porém, afirma ainda que teria que ser algo muito mais intenso do que vem acontecendo, levando o yuan a algo entre 7,50 e 7,60 dólares. "E isso me parece muito mais um jogo diplomático para deixar os EUA nervosos", diz.
ELEIÇÕES NA ARGENTINA
A vitória de Alberto Fernández para a presidência da Argentina sobre Maurício Macri traz de volta ao poder os peronistas e com eles, conceitos ultrapassados que agravam ainda mais o quadro geral. Há crise na dívida externa, falta de dinheiro, proposta de congelamento de preços, redução no limite de compra de dólares e promessas de renegociação salarial em meio a uma recessão.
"O que eu vejo é piora, o mercado deverá dar uma pancada", diz. E já adianta que o presidente eleito e sua vice, Cristina Kirchner, deverão querer analisar e propor mudanças no acordo entre Mercosul e União Europeia, podendo atrasar ainda mais as negociações.
Veja ainda:
>> Peso argentino abre mais forte após vitória de Fernández e controle cambial do BC
>> Fernández se reúne com Macri para discutir transição na Argentina
1 comentário
Wall Street fecha em alta após dados de atividade
Ibovespa sobe e chega nos 129 mil pontos com Petrobras; tem ganho na semana
Dólar fecha estável antes de anúncios do governo na área fiscal
Dólar sobe e euro recua para menor cotação em dois anos após dados do PMI
STOXX 600 salta mais de 1% e atinge pico em uma semana com impulso do setor imobiliário
S&P 500 e Dow Jones atingem máximas de uma semana após dados de PMI dos EUA
Eduardo Lima Porto Porto Alegre - RS
Uma das melhores entrevistas que já assisti no Noticias Agrícolas. Excelente o entrevistado e primorosa a entrevistadora. Já havíamos abordado por aqui o fenômeno da curva de juros invertida e os reflexos que essa conjuntura poderia trazer para a nossa situação econômica. Tenho defendido uma desvalorização cambial oportunista que possibilite incrementar o valor nominal das reservas com o objetivo de se liquidar uma parcela significativa da dívida pública doméstica, a qual se encontra denominada em Reais e remunerada com juros altos. Juntamente com uma flexibilização que viesse a permitir a liberação de contas correntes multimoedas se conseguiria promover a abertura comercial do País, amortecendo o efeito inflacionário que a medida viesse a causar no curto prazo. Se confirmadas as perspectivas de ingresso massivo de investimentos estrangeiros a partir das concessões e privatizações promovidas pelo Governo, rapidamente teríamos: 1) o retorno das reservas a uma posição adequada em relação ao PIB; 2) melhoria da competitividade privada através da redução dos juros efetivos; 3) aumento do volume de crédito em circulação; 4) diminuição da relação Dívida Bruta / PIB que hoje se encontra próxima a 80%, etc. Tal medida não precisa da anuência do Congresso e muito menos do STF, portanto o caminho está aberto para dar um choque positivo nas contas públicas. Claro está que não podemos permitir que o ímpeto reformista se arrefeça diante da melhoria da disponibilidade de caixa. O Governo precisa ser rigoroso nessa condução e atacar com virulência a criminalidade que parece estar respirando novamente e botando as mangas de fora.