Cargill divulga carta aos produtores brasileiros e se diz contrária à moratória no Cerrado
A repercussão negativa da divulgação realizada pela diretora de Sustentabilidade da Cargill -- anunciando que a empresa multinaciona americana investirá R$ 30 milhões para “encontrar soluções que ajudem a proteger a terra do Brasil, e gerar oportunidades econômicas aos agricultores e às comunidades do bioma cerrado" -- motivou o posicionamento de Associações e Entidades ligadas ao Agronegócio do Cerrado brasileiro.
A Abapa , Associação Baiana dos produtores de Algodão divulgou nota na semana passada esclarecendo que as entidades do Oeste da Bahia investiram mais de 15 milhões de reais nos últimos anos em projetos que buscam a proteção do meio ambiente, notadamente, do bioma cerrado.
A Abapa diz ainda que diante dos muitos projetos e com resultados diretos na preservação ambiental, "entendemos que a Cargill deveria tomar conhecimento dos trabalhos já existente sobre o tema ambiental executados no Oeste da Bahia, e poderia disponibilizar os recursos prometidos para se somar aos esforços feito pelos produtores baianos na recuperação de nascentes e preservação dos rios das Áreas de Preservação Permanentes (APPs) e Reservas Legais".
Segundo dados da Embrapa, os agricultores do cerrado baiano são um exemplo a ser seguido já que preservaram 35% das suas propriedades rurais a um custo de R$ 11 bilhões do próprio bolso ao fazerem o que regulamenta o Código Florestal e ao incorporarem os critérios de sustentabilidade na cadeia produtiva.
A pressão das entidades obrigou um posicionamento mais claro da Cargill que, em nota divulgada nesta semana, disse que a empresa é contrária à chamada "moratória da soja no Cerrado". Leia a carta completa:
São Paulo, 24 de junho de 2019.
Carta aberta aos Produtores de Soja
Senhoras e Senhores, Como é de seu conhecimento, a Cargill acaba de divulgar a criação de um fundo, no valor de U$ 30 milhões, para buscar e fomentar ideias inovadoras que contribuirão para acabar com o desmatamento no bioma do Cerrado e, ao mesmo tempo, suportar a prosperidade dos produtores rurais e comunidades locais. De maneira muito objetiva, a criação deste fundo não muda o posicionamento da empresa de ser contrária à criação de uma “Moratória do Cerrado” e de continuar participando e contribuindo para a discussão e transformação setorial envolvendo diversos atores por meio do Grupo de Trabalho do Cerrado (GTC).
Somos contrários à “Moratória do Cerrado”, pois entendemos que este não é o instrumento adequado para solucionar a questão. A moratória não endereça os desafios sociais, econômicos e, em última análise, ambientais, e é muito provável que cause consequências – mesmo que não intencionais - para os agricultores e comunidades que dependem da agricultura para sua subsistência. Pedir que as empresas excluam produtores das suas cadeias não resolve o problema - simplesmente transfere para outras empresas ou atividades
Como já é sabido, o desmatamento na cadeia de soja no Brasil é um tema complexo que necessita de uma solução que proteja a vegetação nativa e, ao mesmo tempo, permita que produtores rurais e comunidades prosperem. Na nossa avaliação em nenhum lugar a questão da prosperidade é mais crítica do que na região do Cerrado brasileiro, por se tratar de uma região altamente povoada e com importantes carências em termos de infraestrutura e desenvolvimento humano. Esta região é fundamental para alimentação do planeta, pois possui grande potencial de crescimento de produção nas próximas décadas.
Existem esforços em todo o planeta para reduzir emissões de GHG (gases de efeito estufa), com discussão de medidas como o uso de energias limpas, mudanças de hábitos de consumo, entre outras. E a agricultura no Cerrado faz parte deste contexto global, embora não seja o único aspecto na mesa de discussões. É importante lembrar que há cerca de cinco anos a Cargill assinou a Declaração de Nova Iorque de Florestas. Ao fazê-lo, nos comprometemos a conter a perda de vegetação nativa global, melhorando a segurança alimentar para todos.
Este é um compromisso com o qual continuamos alinhados. Desde 2014, desenvolvemos novas políticas e planos de ação, aderimos à coalizões e firmamos alianças com parceiros de peso. Juntos estamos tomando medidas como a implementação de programas significativos para o fornecimento de cacau na Costa do Marfim, o óleo de palma na Indonésia e a soja no Brasil.
A Cargill, a indústria e organizações em todo o mundo precisam fazer mais. Precisamos nos mover mais rápido e agir juntos. Dessa forma, estamos nos comprometendo com um fundo de US$ 30 milhões para ajudar a encontrar uma alternativa inovadora e economicamente viável para o crescimento dos produtores, que não seja a conversão da vegetação nativa do Cerrado. Conforme divulgado nos últimos dias estamos chamando os líderes da indústria, produtores rurais, clientes, academia, ONGs, startups e outros para se juntarem a nós na busca de soluções de longo prazo.
Em paralelo, continuamos tomando medidas para transformar a cadeia de soja no Brasil, tornando-a ainda mais sustentável. Temos uma política robusta para a preservação de florestas e planos de ação para entregar nosso compromisso de proteger vegetações nativas, e contribuir para prosperidade de produtores rurais e comunidades.
Sabemos que esse é um tema muito importante para você e queremos continuar o diálogo. Nossa equipe permanecerá à sua disposição para eventuais esclarecimentos ou contribuições para que o fundo recém divulgado atenda ao propósito para o qual está sendo criado, que é o mesmo da Cargill, de nutrir o mundo de forma segura, responsável e sustentável.
Atenciosamente,
Helio Tamburri
Gerente de Originação
Cargill Agricultural Supply Chain América Latina
Leia mais: Resposta à Cargill: Cerrado quer continuar usando áreas a que tem direito
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Simples....basta remunerar produtor nas areas de cerrado no mesmos custo da soja... ninguém nem abre mais areas e ainda melhora cerrado ......simples