Redução da área de soja na próxima safra dos EUA pode superar os 10%
Enquanto a guerra comercial entre China e Estados Unidos continua e um acordo soa ainda como pura especulação para os envolvidos nesse imbróglio, a nova safra de grãos dos Estados Unidos pode exigir maior atenção e acompanhamento para que os participantes do mercado possam compreender melhor o direcionamento dos preços.
Para o diretor do SIM Consult, Liones Severo, a redução na área destinada à soja pelos americanos pode ser superior a 10% na temporada 2019/20 em relação a anterior. O USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) acredita em uma área cerca de 8% menor nesta próxima safra.
A instituição acredita que os EUA deverão cultivar 34,4 milhões de hectares (85 milhões de acres) com a oleaginosa na nova temporada, contra 36,06 milhões do ano passado (89,1 milhões de acres).
Estes primeiros números foram apresentados pelo departamento na última semana, durante o Agricultural Outlook Forum, como um primeiro 'palpite' sobre o que poderia acontecer na safra nova. As primeiras projeções oficiais deverão ser divulgadas em 31 de março, também pelo USDA. E deverá ser a partir daí que o mercado irá conhecer qual o desenho mais próxima da realidade não só da soja, mas também do milho, do trigo e do algodão nos EUA a partir daí.
Do mesmo modo, o USDA acredita ainda que área de plantio de milho deve crescer este ano e chegar, de acordo com o USDA, a 37,23 milhões de hectares (92 milhões de acres). No ano passado, o número foi de 36,06 milhões (89,1 milhões de acres). Para o trigo, o número veio ligeiramente menor do que o do ano passado, passando de 19,34 para 19,02 milhões de hectares (de 47,8 para 47 milhões de acres).
No entanto, o agrônomo Michael Cordonnier, um dos mais respeitados dos EUA, acredita que o clima durante a primavera norte-americana deverá ser um dos fatores-cahve para a definição dessa disputa por área.
"O padrão climático pode mudar daqui para frente, mas, a partir de agora, não parece que teremos uma primavera 'cedo' nos EUA. Há fatores que sinalizam que podemos ter uma 'primavera tardia' e isso pode ter várias implicações para as decisões dos produtores", diz Cordonnier.
Entre essas condições que já começam a ser observadas pelo agrônomo estão a neve que continua a chegar em partes do Corn Belt e que aumentam sua quantidade sobre o solo em várias localidades; as previsões indicando temperaturas abaixo do normal na primeira metade de março; as possibilidades de cheias ao passo em que essa neve começar a derreter e o que toda essa água ainda poderia gerar.
Entre os cenários que poderiam ser observados estão a chance de importantes regiões produtoras contarem com solos saturados; a limitação do desenvolvimento dos trabalhos de campo - dos plantios iniciados mais cedo às aplicações de químicos.
Na confirmação de ao menos alguns destes casos, Cordonnier lembra: o milho é sempre a primeira cultura a ser plantada, caso haja uma primavera se concluindo fria e muito úmida, o resultado poderia ser de alguns acres a menos de milho e outros a mais de soja do que o inicialmente esperado.
"Além disso, se você combinar as três principais culturas - milho, soja e trigo - o USDA prevê vários milhões de acres a menos que no ano passado. A questão é se esses acres eventualmente serão plantados com alguma coisa ou permanecerão vazios?", questiona o especialista.
Na sequência, a questão comercial. Qualquer decisão que seja tomada pelo produtor rural americano será muito delicada nesta nova safra. Afinal, ainda como explica Severo, os agricultores dos EUA enfrentam uma das suas mais graves crises de renda desde os anos 1970.
O executivo explica que, neste momento, e ainda com a guerra comercial China x EUA em curso, nem mesmo US$ 11,00 por bushel remuneram o produtor de forma adequada, de modos que ele possa reequilibrar suas contas.
"Os agricultores americanos passam por um período de depressão muito grande, o pior dos últimos anos, eles estão muito fragilizados financeiramente e isso, naturalmente, vai prejudicar o plantio da nova safra", explica Liones Severo.
Durante o fórum da última semana, o economista chefe do USDA Rob Johansson disse que os EUA não têm como substituir a China em suas vendas de soja e preocupou os produtores.
A tela a seguir, usada nas explanações do evento dos últimos dias, o USDA mostrou que as exportações americanas de soja da safra 2018/19 se mostram 13,5 milhões de toneladas menores do que as do ano passado. E que o papel da China, como é sabido pelo mercado, é determinante na composição dos números e da nova dinâmica que foi instalada no comércio global dessa commodity.
Sem seu principal comprado, com estoques elevados e sem condições de armazenagem, o investimento, de fato, deverá ser menor em 2019 no caso da soja americana.
Salvo problemas que possam ser causados pelo clima, nesse momento, o milho e o trigo são mais competitivos do que soja. O que não significa, porém, que a escolha por um dos grãos também não vai depender do que o mercado mostrar nos próximos meses.
"Uma grande mudança poderia acontecer caso as negociações entre China e EUA mudem de curso nos próximos 60 dias. Se um acordo for fechado e a nação asiática voltar a comprar dos americanos, a situação pode ser outra. Há fortes rumores de que a China pode começar a comprar mais milho dos EUA, mas, até este momento, são somente especulações", explica Cordonnier.
E o agrônomo complementa dizendo que, em sua opinião e perspectiva, "a área plantada com milho nos EUA pode não aumentar tanto quanto o previsto e a da soja pode não cair tanto quanto se espera. Os agricultores americanos podem se manter mais próximos de suas rotações regulares de cultura e fazer alguns ajustes de última hora".
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Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC
https://midiaagricola.wordpress.com/2019/02/28/dados-do-usda-conab-e-abiove/