Mercado de açúcar: Se os gênios falham, imaginem os simples mortais
O mercado futuro de açúcar em NY fechou bem a semana, com alta de 24 pontos (pouco mais de 5 dólares por tonelada) no contrato com vencimento março/2019, encerrando a sexta-feira a 13.36 centavos de dólar por libra-peso. O nível de 13.50 centavos de dólar por libra-peso parece ser uma resistência importante a ser quebrada, se os fundamentos ajudarem.
O real está mais fraco do que se supunha antes de Bolsonaro tomar posse. Acreditava-se que com a expectativa de reformas a serem introduzidas pelo novo presidente a cotação da moeda americana iria sofrer grande pressão. Por enquanto, não vimos isso acontecer. As usinas aproveitam eventuais picos pontuais do dólar e já fixam seus compromissos para o vencimento março/2020. São poucas, mas atuantes, que tem meta de fixar ao redor de R$ 1,250 a tonelada FOB.
Embora acreditamos que os fundamentos para o açúcar são construtivos, eles ainda precisam ser consolidados: melhora da demanda interna por alimentos industrializados e bebidas, aumento no consumo do ciclo Otto, perspectiva de arranque PIB nacional, aumento na venda de veículos leves, além de o petróleo se sustentar no mercado internacional. Os ingredientes são esses. Precisamos esperar o que vai sair dessa sopa.
Um livro que merece fazer parte da biblioteca de todo executivo do mercado de commodities é When Genius Failed (em português, “Quando os Gênios Falham”, de Roger Lowenstein) que conta a ascensão e queda da gestora de recursos Long-Term Capital Market (LTCM), de mais de US$ 100 bilhões, comandada por dois ganhadores do prêmio Nobel de Economia, o canadense Myron Scholes (Escola de Chicago) e o nova-iorquino Robert Merton (MIT), ambos co-criadores da famosa fórmula amplamente usada pelo mercado financeiro para calcular o valor justo do prêmio de uma opção: Black & Scholes. Os dois, juntamente com Fischer Black, ganharam o prêmio Nobel de Economia em 1997 por esse feito.
Entre 1994 e 1998, o LCTM deu um retorno médio para seus cotistas de espetaculares 40% ao ano. No entanto, devido à enorme alavancagem construída por complicadas operações envolvendo intricadas formas de arbitragem, cujo valor nocional ultrapassara US$ 1 trilhão, o fundo perdeu US$ 1.9 bilhões num determinado mês desencadeando o iminente colapso no mercado financeiro mundial, forçando o Banco Central Americano a intervir para evitar o pânico e um desastre financeiro ainda maior. Scholes acreditava nos modelos matemáticos que lhe davam uma falsa segurança acerca das pesadas posições que tomava e quebrou a cara. Quem opera sabe das assunções e restrições da fórmula do Black & Scholes e da limitação de previsibilidade e sensibilidade das gregas, que são as variadas derivadas da fórmula. Dizem que o próprio Scholes, depois que o fundo quebrou, apurou que o evento (aqui entendido como quantos desvios-padrão seriam necessários para a sua ocorrência) só poderia ocorrer a cada 12.000 anos. [Ele quebrou outro fundo em 2008, mas esse é uma outra história. ]
Desde que o mundo é mundo, em algum lugar alguém está tentando desenvolver uma fórmula ou modelo matemático que mostre “o caminho, a verdade e a vida” e preveja no último passo o valor que tal ativo vai negociar. No mercado de commodities, Forecasting Commodity Markets, de Julian Roche tentou trilhar pelos caminhos da análise técnica, da análise fundamentalista e econométrica, incluindo a acurácia das metodologias usadas para a previsão de preços e como tomar decisões nela baseada. Há de se ter muito cuidado em acreditar que um modelo ou fórmula matemática vai lhe mostrar a trajetória de preços do mercado. Mas o homem é um bicho curioso.
Lembro-me, em passado recente, de uma instituição financeira que “vendia” para algumas empresas do setor sucroalcooleiro a ideia de um seguro de proteção para o etanol. Tal produto era baseado numa espetacular fórmula que continha vários ativos que replicavam com bastante aderência o preço do etanol. Em outras palavras, esse grupo de ativos, devidamente ponderados pela ultrassecreta fórmula tinham a capacidade de estimar com grande aderência o preço do etanol. Não durou seis meses para que os ativos que faziam parte desta cesta se desacoplassem do etanol de maneira assustadora. Se os gênios falham, imaginem os simples mortais.
Faltam apenas cinco vagas para o XXXI Curso Intensivo de Futuros, Opções e Derivativos em Commodities Agrícolas que ocorrerá nos dias 19 (terça), 20 (quarta) e 21 (quinta) de março de 2019, no Hotel Paulista Wall Street, na Bela Vista, em São Paulo (SP). O curso já foi ministrado para mais de 1,200 profissionais no Brasil e no Exterior e 100% dos participantes avaliam o curso positivamente. Ainda não há data para o próximo. Para mais informações, mande e-mail para [email protected]. Recomendamos que o participante leia o livro Derivativos Agrícolas, que pode ser encontrado no iTunes, Amazon, Livraria Cultura ou no site www.estantevirtual.com.br antes de atender ao curso.
Este comentário ficará ausente por duas semanas, retornando no final de semana de 16 e 17 de março. Serão duas semaninhas, apenas. É vapt-vupt.
Bom final de semana a todos e até mais
Arnaldo Luiz Corrêa
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