Relação com os EUA ou com a China? Os dois, responde Marcos Yank

Publicado em 11/11/2018 20:32
Desafios da Política Comercial de Bolsonaro, por MARCOS SAWYA JANK (na FOLHA DE S. PAULO). "Precisamos de uma política comercial que amplie significativamente a nossa inserção no mundo".

Com Paulo Guedes, Tereza Cristina e um diplomata experiente do Itamaraty, o governo Bolsonaro tem todas as condições para construir uma política comercial consistente e ambiciosa para o Brasil.

Nas duas últimas décadas, os resultados da política comercial brasileira foram sofríveis: acordos irrelevantes, imobilismo ou regressão no Mercosul, resultados parcos da prioridade Sul-Sul e deterioração das condições de acesso a mercados afetando principalmente as exportações agropecuárias. Até mesmo o acordo UE-Mercosul, há duas décadas em negociação, corre o risco de não ver a luz do dia.

No momento, o mais importante é priorizar temas relevantes em países estratégicos (eu diria no máximo 15) com base em metas factíveis de aumento de comércio e investimentos. Resultados palpáveis poderiam ser obtidos no cotidiano das relações bilaterais com acordos específicos —por exemplo, nas áreas de sanidade, investimentos e tecnologia—, protocolos para abertura de determinados segmentos de mercado (caso dos miúdos de carnes) e trade-offs que levem à abertura recíproca de setores protegidos.

O que falta é uma melhor coordenação intragoverno e com o setor privado, que leve a uma presença internacional semelhante à de nossos concorrentes.

Na área de negociações comerciais mais amplas, creio que o foco deveria estar na Ásia - Japão, Coreia, ASEAN (nações do Sudeste Asiático) e na Parceria Transpacífico -, se possível com o Mercosul, se não, sozinhos.

Valeria também dar um ultimato à União Europeia, abrindo ao mesmo tempo conversas sérias para um acordo bilateral com os EUA. Apesar de o mundo caminhar hoje via acordos bilaterais, em tempos de guerras comerciais é do nosso interesse preservar a OMC e o seu mecanismo de solução de controvérsias, de modo a impedir que as relações de poder interfiram no comércio.

É preciso atentar para que a política externa não prejudique a política comercial. A transferência da Embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém pode efetivamente prejudicar os crescentes volumes de exportações para o mundo islâmico. Nossa venda de carnes para esses países atingiu US$ 4,25 bilhões em 2017, com incrível crescimento de 16% ao ano desde 2000.

Na guerra comercial EUA-China, que já está se transformando em uma segunda Guerra Fria, parece-me que ganharemos mais ficando equidistantes e oscilando de forma pragmática entre os dois rivais, que aliás, são os países mais importantes para solidificarmos parcerias estratégicas globais.

Os EUA são a maior economia de mercado do mundo, um país com imensa capacidade de se reinventar graças à concorrência e à inovação. Mas por razões ideológicas foi deixado de lado na área comercial a partir de 2003, quando o PT enterrou a Alca e apostou nos países bolivarianos. É hora de reverter o jogo e construir uma parceria mais efetiva com os americanos.

Mas isso não deveria ser feito em detrimento da relação com a China, que é o principal parceiro comercial desde 2009 e hoje o maior investidor no Brasil. Precisamos sim de visão estratégica e mão forte para negociar os chineses. Não tem cabimento que apenas soja, minério de ferro e petróleo respondam por 80% das exportações para aquele país. Restrições de toda ordem impedem ou dificultam as nossas vendas de óleos, farelo, milho, arroz, açúcar, etanol, carnes e frutas. 

Já vimos muita coisa ser anunciada com grande estardalhaço na área da política comercial e terminarmos de mãos abanando, isolados e queixosos.

O Brasil perdeu peso específico e confiança. Agora precisa dar passos firmes na direção de uma política comercial que amplie significativamente a nossa inserção no mundo.

(*) Marcos Sawaya Jank é especialista em questões globais do agronegócio.

Conciliação e ordem, por ROBERTO RODRIGUES, no ESTADÃO

Vamos ao entendimento, mas com ordem, palavra central do anseio nacional

Analistas políticos têm reiterado que, passado o período eleitoral, quando os debates entre candidatos nem sempre tiveram um bom nível em termos de apresentação e discussão de propostas de governo, é chegado o tempo de buscar o entendimento e o equilíbrio em torno do projeto que for melhor para todos os brasileiros. É chegado o tempo de exercer na plenitude a democracia de fato, e não aquela que serve apenas para os vencedores, aquela em que os vencidos não aceitam a derrota e a atribuem a fatores imaginários de toda ordem. A eleição acabou, o povo “falou” pelas urnas e eleitos e derrotados devem se entender para o bem do País.

Claro que a democracia pressupõe oposição, mas que esta seja construtiva e fiscalizadora, e não negativista e sistematicamente “do contra”, mesmo quando os interesses maiores da nação estejam em debate. O que ficou para trás deve ser deixado lá. Temas como o famoso “golpe do impeachment” foram atropelados pela vontade popular manifesta tanto nas eleições para cargos majoritários quanto para a Câmara dos Deputados, cuja renovação superou 52%, acima de qualquer expectativa dos entendidos em política. Ficou claro que a vontade popular é por mudanças tanto no Executivo quanto no Legislativo, numa coerência extraordinária em todos os rincões, dada a insatisfação generalizada com a situação vigente. E esta coerência se manifestou também onde a população está satisfeita com o que vem recebendo de seus governantes e os manteve. Isso é democracia.

Vamos então ao entendimento, mas com ordem, palavra central do anseio nacional, manifesto na bandeira verde-amarela. A segurança pública e a jurídica são demandas de todos os cidadãos de bem do País. Ordem, com respeito ao Estado de Direito.

No momento em que o futuro presidente escolhe sua equipe, há uma disputa por cargos que também faz parte do jogo democrático, desde que os interesses subalternos não triunfem: o poder jamais poderá ser disputado apenas “pelo poder em si”, mas como instrumento de servir à nação. 

Nesse cenário, a agropecuária e o agronegócio brasileiros vivem um momento de muita confiança e esperança. Houve grande disputa pelo cargo de ministro da Agricultura, mas em um nível elevado. Nada de ambições ou vaidades, prevaleceu a vontade de acertar. Também houve uma discussão tranquila em torno da intenção do futuro presidente de unificar os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente. Felizmente prevaleceu o bom senso e a ideia foi abandonada: o que importa é a coordenação entre os diferentes ministérios e também de organismos afins (Ibama, Embrapa, Anvisa, ANA, entre outros) na definição dos rumos do governo todo. 

Mas, na campanha eleitoral, o então candidato Jair Bolsonaro afirmou algumas vezes que escolheria um ministro da Agricultura afinado com o campo. Cumpriu sua promessa: será ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento a deputada federal Tereza Cristina, de Mato Grosso do Sul. Conhece do assunto: é engenheira agrônoma, de modo que tem uma formação acadêmica compatível com o cargo, ninguém precisará lhe ensinar nada. Foi secretária estadual da Agricultura em um Estado agrícola, e assim conhece de gestão pública em sua área de atividade. Também aí não demanda aulas. E, sendo deputada federal, foi eleita presidente da Frente Parlamentar Agropecuária, uma das maiores e mais ativas do Congresso, ambiente tradicionalmente masculino. Portanto, tem o respeito majoritário da bancada com a qual precisará contar no exercício de suas funções a partir de 1.º de janeiro.

Tereza Cristina, primeira mulher a compor o ministério do novo governo, é admirada e acatada pelas entidades do agro, sejam aquelas representativas de cadeias produtivas, sejam as generalistas como CNA, OCB, SRB e Abag. É, em suma, um ótimo momento para o agro, que também tem em Onix Lorenzoni, futuro ministro-chefe da Casa Civil, um egresso da FPA. E vale ressaltar que o vice-presidente eleito, general Mourão, tem feito pronunciamentos destacando a importância que o agro terá no novo governo. Nossa futura ministra vai se ombrear com outros brasileiros ilustres em um ministério de alto nível que vai sendo cuidadosamente montado.

POR ROBERTO RODRIGUES, EX-MINISTRO DA AGRICULTURA E COORDENADOR DO CENTRO DE AGRONEGÓCIOS DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

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Fonte:
Folha de S. Paulo/Estadão

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1 comentário

  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    Eu gostaria de ler algum dia uma única justificativa para que o governo se meta em comércio interno ou externo. Dizer que falta coordenaçao intragoverno e com o setor privado é dizer absolutamente nada, eu diria que o problema é o governo querer coordenar o comércio..., todos nós já sentimos na pele os resultados dessa "coordenaçao"... As inovações tecnologicas são melhor introduzidas no mercado por agentes privados e não por regulamentações... Não posso comprar um automóvel americano ou chines sem impostos porque o governo precisa regular o mercado, proteger o mercado, estimular o mercado... E por aí vai... A cada nova nomeação de um ministro qualquer, imediatamente aparecem criticas da oposição e os mais variados elogios da situação e de, quase sempre, neoconvertidos. Recentemente um dos melhores quadros, segundo ele mesmo e segundo o ministro Blairo Maggi, era o Neri Geller. Isso é mais ou menos como, estando eu com uma enxada na mão, um teórico me ensinar como capinar, determinando além disso o peso, o comprimento do cabo da enxada, a espessura e largura da enxada, o ângulo e o tipo de corte. É o tipo de coisa que é mais fácil aprender praticando do que estudando... Evidente que existe um tipo de comércio predatório, prática comum dos chineses e se bobear dos americanos também... Inovações tecnológicas podem sair de órgãos públicos, como o exército por exemplo, mas um burocrata em Brasilia jamais conseguirá alguma inovação tecnológica na engorda de bois... Lembrando que inovações tecnológicas só são possiveis se houver melhora na produtividade com redução de custos, ou não serve prá nada. Outra coisa que eu gostaria de saber é o motivo, o por que de usar dinheiro público, estrutura pública para ir vender qualquer tipo de mercadoria, com a desculpa de beneficiar um determinado setor. Alguém aqui poderia me explicar como toda a sociedade, que é quem paga a conta, pode ser beneficiada se um burocrata qualquer sair pelo mundo para vender miudos de frango? Evidente que a vantagem é só para quem comercializa, para o produtor que paga muitos impostos o que vai valer é o preço do mercado interno, a não ser que o mercado externo seja maior que o interno o que já vimos várias vezes, causa inflação. Então a solução encontrada pelos genios acaba por matar o povo pobre de fome, pois estes se quiserem comer terão que pagar impostos. Enquanto isso, os genios das universidades precisam de isenções de todo tipo para poder cantar as glórias do sucesso. No mais, muçulmanos são pessoas como nós, com uma mentalidade diferente, mas não são burros, e para isso existe um negócio chamado diplomacia. Diplomatas são pessoas capacitadas para resolver conflitos de interesse, e o Brasil tem muito a ganhar em matéria de tecnologia se aproximando de Israel... O Brasil precisa resolver o problema da pobreza extrema no nordeste do país, mas lamentavelmente os especialistas não querem nem tocar no assunto. Assim se enterram bons motivos para resolver os problemas internos antes de ter uma preocupação exagerada com assuntos externos. Que, portanto, o setor privado cumpra com as exigencias do comercio exterior e o governo cumpra com suas obrigações com o povo brasileiro.

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