A metamorfose do PT, escreve Xico Graziano

Publicado em 26/10/2018 12:13

Bolsonaro vence nas capitais do Nordeste, Haddad lidera no interior nordestino. O fato remete, com sinal trocado, à época da ditadura: a direita ganhava nos grotões, perdia nos grandes centros urbanos. Hoje inverteu a bússola da política.

Especialmente nas eleições majoritárias de 1974 e 1978, o regime militar viu a oposição crescer na opinião pública. Vivíamos, então, o bipartidarismo: pelo espectro ideológico da direita, defendendo o governo, operava a ARENA; na oposição de esquerda, pregando a volta da democracia, estava o MDB.

Eu comecei a fazer política, dentro do movimento estudantil, nesses tempos de chumbo, década de 1970. Aprendi que, quanto mais evoluída e bem informada a sociedade, mais ela tendia ao progressismo. Adotava o discurso da mudança.

Por outro lado, quanto mais atrasada, e isolada estava, a sociedade defendia a situação. Era, por conseguinte, no interior empobrecido do país que a ARENA validava seu discurso, em defesa do poder constituído. A direita, assim nós percebíamos, manipulava os pobres incautos.

Hoje, curiosamente, funciona ao contrário. O antigo território da direita, Nordeste principalmente, garante a força esquerdista de Lula/Haddad; já a modernidade brasileira, majoritária no Sul/Sudeste, coloca o direitista Bolsonaro na liderança.

A esquerda ficou retrógrada, ou a direita se avermelhou? Vem cá, o PT é de esquerda mesmo, ou virou uma força conservadora na sociedade?

Responder a esse enigma é essencial para entender a dinâmica dessas eleições de 2018. Eu afirmo, com convicção: a campanha de Haddad representa o retrovisor de nossa sociedade. O PT se coloca como esquerda, mas virou um partido obsoleto.

Apresento 4 argumentos em favor de minha opinião:

O PT defende a carcomida estrutura do Estado brasileiro, banca velhas e desnecessárias empresas estatais, se alia ao pior corporativismo, quer manter privilégios salariais. Apoia o intervencionismo público e condena o mercado capitalista. O PT não entende de economia globalizada;

O PT professa uma ideologia antiga, típica da sociedade de classes, polarizada entre patrões e operários, ricos e pobres. Suas ideias marxistas são ultrapassadas, não se coadunam com a economia pós-industrial, da era tecnológica e digital, da sociedade complexa e empreendedora. O PT não gosta da meritocracia, detesta ver gente subir na vida pelo esforço próprio;

O ideário do PT se coloca contra o avanço científico na engenharia genética, combate o moderno agronegócio e defende o campesinato rural. Valoriza a falsa ciência, das terapias alternativas e exotéricas, em detrimento da medicina de ponta. O PT namora com o obscurantismo;

O PT não promove a emancipação dos miseráveis, preferindo mantê-los aprisionados pelo favorecimento político. Antes se trocava votos por cestas básicas e água; agora se compra a consciência com bolsa-família. No campo, o MST faz da reforma agrária um antro de poder, às custas da dependência dos assentados.

O PT sofreu uma metamorfose em sua trajetória. Nasceu pobre, ficou rico. Vendeu uma ilusão, galgou o poder, nele se locupletou, tornou-se anacrônico. A prova está dada nos resultados eleitorais.
Vota em Haddad quem votava na ARENA. Vota no PT quem defende privilégios.

Falando em regalia, destaco certa contradição. Surgido no seio dos operários, o PT defende causas culturais próprias da fina flor pós-modernista. Quando seus militantes desfilam nus em frente às igrejas, ofendem as pessoas simples. Se isso é esquerda, o PT é elite.

As ideologias antigas, que amparavam as receitas socialistas ou capitalistas, andam, na verdade, se esfarelando, se mesclando, às vezes se invertendo. Ainda mais após a Lava Jato, moralidade tomou o lugar da ideologia. Esquerda virou sinônimo de corrupção.

Bolsonaro terá uma vitória consagradora neste próximo domingo (28.out.2018). Para entender seu sucesso, fica a dica: hoje em dia, mais importa ser “direito” que “direita”.

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Fonte:
Poder360

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1 comentário

  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    Sr. Xico Graziano, de certa forma me sinto obrigado a comentar seu texto. A ideologia comunista socialista não é isso que voce descreve, a ideologia comunista socialista pretendeu abalar as bases do edificio moral, social, economico, religioso da "burguesia". É preciso colocar tudo abaixo para reconstruir tudo de novo. A meu ver voce confundiu capitalismo com a "direita", e afirmo isso porque os chamados radicais de direita abominam o capitalismo "selvagem". Essa comparação é dificil de ser feita pois o capitalismo, ao contrário de uma ideologia, não é um sistema de idéias, um edificio construido pela mente humana. Segundo a doutrina Católica, o capitalismo foi instituido por lei divina, não dos homens. É evidente portanto que ele possui um sistema moral, sem o qual o capitalismo não pode funcionar. Por isso as ideologias de esquerda querem solapar as bases desse sistema moral, sem ele o capitalismo vem abaixo. E isso a esquerda faz deturpando, invertendo, aproveitando toda e qualquer chance de atacar essa coluna, que é base do chamado "sistema capitalista". Cabe aqui dizer que essa economia globalizada, chamada liberal também foi construida em oposição à doutrina da Igreja Católica. Sobre o PT, esqueceu de dizer que tudo que fizeram foi para manter o poder, não é portanto uma questão de convicção ideológica, o discurso é adaptado conforme corre o curso das coisas. Hoje defendem uma pauta, amanha o seu contrário. Não há ligação entre o discurso e a prática. O discurso e a ideologia progressista, a tal pós modernidade foi construido e é moldado de acordo com as conveniencias do momento, a base do petismo é o populismo vulgar e grosseiro. O próprio capitalismo utilizado pela esquerda, tende a finalidade pretendida, o poder totalitário, ditatorial. Mesmo na Rússia, depois do aparente desmonte do regime comunista, havia capitalismo, e a prova disso é a quantidade de magnatas russos que apareceram depois do fim de tal regime. Capitalismo para os socialistas, socialismo para o resto da população, sempre foi assim. E é assim no mundo todo, a grande maioria dos dirigentes socialista são capitalistas caprichosos, não fazem outra coisa a não ser correr atrás de dinheiro. Já os militares, também estatizantes, progressistas portanto, sairam pobres do governo, Figueiredo que o diga. Quem leu pelo menos trechos do livro de Adam Smith, durante a faculdade ainda, era um sacrilégio para meu colegas progressistas, entende o que significa a mão invisivel do mercado, também sei que ele defendia a ação do estado na economia, mas há uma diferença entre o estado agir e politicos e burocratas utilizarem dinheiro público para alavancar os seus negócios e de seus apaniguados. Além de que inventam todo tipo de regulamentação para impedir que qualquer tipo de concorrencia se estabeleça no mercado. Depois de um tempo os grandes empresários percebem que é mais fácil impedir a concorrencia, garantindo margens de lucro dessa maneira do que concorrer com alguém mais novo, mais dinamico, mais inteligente, por fatias do mercado. Enfim, estabelecer regras, regulamentos, leis, impostos, burocracia, carregar de tal forma os trabalhadores que se torne impossivel abrirem empresas, fazendas, comércios, e esse é na verdade o capitalismo socialista. Aos amigos do rei tudo, aos outros nada.

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    • Tiago Byczkowski Teixeira Soares - PR

      Parabéns, isso que penso também.

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    • carlo meloni sao paulo - SP

      Eu li o artigo e entendi de forma diferente... O Xico Graziano pretende explicar - atraves de idiologia politica - a inversao dos redutos eleitorais... No meu ponto de vista, os redutos interioranos pecam de conhecimento e personalidade, portanto por mim sao considerados **MARIA VAI COM AS OUTRAS**... -Como sao faceis de serem controladas, antigamente eram dominadas pela ARENA ( regime militar) hoje sao dominadas pelo PT... Entao acho que se trata de fisiologismo e nada a ver com ideologia politica.

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