Pesquisa mede emissões de gás de efeito estufa por adubos nitrogenados no feijoeiro
Foto: Sebastião Araújo
A Universidade Federal de Goiás (UFG) e a Embrapa realizaram um estudo para avaliar os impactos de emissões de gases de efeito estufa de diferentes adubos minerais nitrogenados, levando em conta a cultura do feijão. Fontes amoniacais e nítricas de nitrogênio, assim como grânulos de ureia revestidos com polímero (um tipo de capa protetora), apresentaram os melhores resultados.
De acordo com a pesquisa, fertilizantes como sulfato de amônio, nitrato de amônio e grânulos de ureia revestidos com polímero (para liberação lenta de nitrogênio) ajudaram a reduzir em torno de 70% a emissão de óxido nitroso, comparativamente, à aplicação de ureia comum (figura abaixo). Houve ainda outro tratamento avaliado, feito com ureia estabilizada por NBPT (substância que inibe reações químicas que volatilizam o nitrogênio). Nesse caso, a diminuição da emissão de óxido nitroso foi de cerca de 26% em relação à ureia comum.
A pesquisa foi realizada por duas safras no cultivo de feijão irrigado, em plantio direto, sob palhada de milheto, no período de inverno, em áreas experimentais da Embrapa Arroz e Feijão, no município de Santo Antônio de Goiás (GO). A perda de nitrogênio foi monitorada semanalmente, por meio da instalação de câmaras de captação de gases na superfície do solo.
Amostras foram coletadas e levadas a laboratório e, por meio de método de análise em equipamento de cromatografia gasosa, houve a quantificação da emissão de óxido nitroso.
Outro dado obtido nessa pesquisa foi a medição da perda de nitrogênio por meio de um indicador denominado fator de emissão, que é a proporção entre o nitrogênio aplicado, via adubo, por hectare, e o que é emitido para a atmosfera na forma de gás óxido nitroso. Quanto menor o fator de emissão, menos nitrogênio escapa da lavoura. No estudo, os fatores de emissão para as cinco fontes de fertilizantes estudadas foram: 0,01% para sulfato de amônio; 0,09% para nitrato de amônio; 0,10% para ureia com polímero; 0,21% para ureia com NBPT; e 0,36% para ureia comum.
Isso significa que todos esses produtos são de baixa emissão de óxido nitroso no sistema de produção no qual foram utilizados, pois alcançaram percentuais inferiores a 1%, que é o fator médio de emissão para o uso de fertilizantes nitrogenados sintéticos, preconizado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
A ureia comum é a fonte de nitrogênio sintético mais utilizada no cultivo de feijão e a qual, segundo o estudo, para cada 100 quilos de nitrogênio aplicados por hectare, 360 gramas são emitidos como óxido nitroso para a atmosfera. Para o trabalho realizado, deve-se levar em conta que foram usados 20 quilos de nitrogênio por hectare na semeadura e 80 quilos em cobertura a lanço.
As emissões do nitrogênioOs fertilizantes nitrogenados, essenciais para o desenvolvimento das plantas, possuem perdas de mais de 40% em eficiência nas lavouras. Isso ocorre devido a vários fatores, entre eles, o processo bioquímico chamado desnitrificação, que acontece pela ação de microrganismos que vivem no solo, tornando-o emissor de óxido nitroso, gás associado às mudanças climáticas e à destruição da camada de ozônio. |
Principais emissões são em gás amônia
Uma das coordenadoras do trabalho sobre a emissão de óxido nitroso por fertilizantes nitrogenados, a pesquisadora da Embrapa Márcia Thaís de Melo Carvalho conta que existem poucas informações científicas relacionadas ao tema e que o assunto requer atenção.
“O estudo avaliou as perdas de nitrogênio após a aplicação de adubos convencionais, estabilizados e de liberação controlada em lavoura de feijão irrigado, no inverno, na região de Cerrado. No caso do óxido nitroso, essa estimativa é importante porque o setor agropecuário é uma das principais fontes desse gás de efeito estufa que, embora menos presente na atmosfera, tem um potencial de aquecimento 310 vezes maior do que o dióxido de carbono, outro gás de efeito estufa ligado à queima do carvão, ao uso do petróleo e ao desmatamento”, detalha Carvalho.
Ela explica ainda que a pesquisa constatou que a maior perda de nitrogênio como gás não foi na forma de óxido nitroso e, sim, como amônia, que representou cerca de 96% das emissões da lavoura para a atmosfera. Segundo Márcia Thaís, nesse quesito, as fontes com ureia tiveram o pior desempenho, pois foram as de maior escape de nitrogênio.
“Porém, a ureia com NBPT (inibidor da ação da enzima urease) apresentou diminuição de volatilização de amônia em relação ao uso da ureia comum. Portanto, considerando a quantidade de grão de feijão produzido pela quantidade total de nitrogênio perdido, a ureia com inibidor de urease, o sulfato de amônio e o nitrato de amônio são fontes que podem contribuir para mitigar tanto a emissão de óxido nitroso, quanto a volatilização de nitrogênio na forma de amônia em sistemas de produção de feijoeiro irrigado, em sistema de plantio direto na palha, quando a adubação é realizada em cobertura”, avalia a cientista da Embrapa.
Ainda de acordo com a pesquisadora, futuros estudos sobre o estoque de carbono no solo em sistema de plantio direto na palha poderão mostrar como essas perdas de nitrogênio para atmosfera poderiam ser compensadas pelo aumento da taxa de sequestro de carbono orgânico no solo.
Brasil depende de nitrogênio estrangeiroO nitrogênio é um dos átomos de maior importância para a vida terrestre. É parte essencial da atmosfera e dos ciclos naturais. Na agricultura, o nitrogênio é um dos nutrientes mais demandados, sendo o mais utilizado, absorvido e convertido em grãos pelas plantas. Parte da quantidade de nitrogênio requerida pelas culturas é suprida pelo solo. No entanto, em várias situações torna-se necessária a aplicação de fertilizantes. Devido à diferença de eficiência de produtos, de modos de aplicação e de uso do solo agrícola, o nitrogênio pode ser perdido de diversos modos, por exemplo, por erosão, por volatização, por lixiviação, por emissão de óxido nitroso. Para realizar a adubação com nitrogênio, comumente, emprega-se a ureia, cuja obtenção é cara e requer manejo adequado. No Brasil, o consumo anual de ureia é de cerca de 5,5 milhões de toneladas, das quais 4,5 milhões de toneladas são importadas e apenas um milhão de toneladas são produzidas no País, conforme dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). |
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