Soja: Guerra comercial já não tem efeito duradouro sobre Chicago e mercado se foca no clima dos EUA

Publicado em 03/08/2018 17:32

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A semana foi de intensa volatilidade para os preços da soja na Bolsa de Chicago em meio a várias notícias e rumores que apareceram influenciando o andamento das cotações, mesmo que pontualmente, durante os últimos dias. Os traders têm dividido suas atenções entre as notícias mais recentes da guerra comercial entre China e Estados Unidos e o quadro climático no Meio-Oeste americano, uma vez que se inicia agosto, que é o mês chave para a definição da safra norte-americana de soja. 

Somente no pregão desta sexta-feira (3), os futuros da commodity sentiram essa volatilidade e testaram os dois lados da tabela, com baixas que chegaram a passar dos 10 pontos nos principais contratos, para encerrarem o dia em campo positivo, com altas de pouco mais de 4 pontos entre os principais vencimentos. Assim, o novembro/18, referência para o mercado agora, fechou com US$ 9,02 por bushel. 

Essa reversão do movimento se deu com os fundos atentos aos fundamentos climáticos, que são os mais fortes neste momento, e mudando suas posições, colocando algumas compras no mercado diante das previsões mostrando que as duas primeiras semanas de agosto deverão ser de menos chuvas no Corn Belt, como explicou o diretor da AgResource Mercosul (ARC), Matheus Pereira. 

"O cenário climático atual dos Estados Unidos é bem favorável, especialmente por conta de níveis de umidade do solo adequados que os norte-americanos observam no atual momento. Porém, os mapas climáticos atualizados para as duas primeiras semanas de agosto não trazem a permanência deste cenário. Uma massa de ar quente de alta pressão chega ao centro dos EUA, impedindo a formação e chegada de chuvas expressivas, além de elevar as temperaturas médias para o mesmo período. É sempre válido lembrar que a safra de soja estadunidense entra em período de reprodução no final no mês de agosto, se tornando mais sensível às variações climáticas", diz Pereira. 

Os mapas abaixo, da ARC, mostram, respectivamente, a variação de chuvas nos EUA de 1º de maio a 30 de julho e as precipitações que são esperadas para os próximos cinco dias no país. 

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"As previsões climáticas atualizadas nesta sexta trazem a confirmação do padrão árido sendo estabelecido sobre o centro dos Estados Unidos. Nestes próximos 5 dias, as chuvas se retraem sobre o Cinturão, se concentrando ao Extremo Norte do país e na costa Leste", diz a AgResource. Apesar dos níveis de umidade
do solo adequados, a falta da constância de precipitações irá afetar o bom desenvolvimento das áreas sojicultoras", complementa a consultoria.

Além do tempo mais seco, o calor também preocupa, uma vez que essa massa de ar seco deverá elevar as temperaturas em um momento delicado dos campos de soja no país. 

"As temperaturas que estão atualmente dentro da média sazonal, dará espaço para a chegada de um cenário com o calor presente. Em todo o Cinturão Agrícola americano, as temperaturas deverão ser elevadas em 1 a 2 graus Celsius, já neste fim de semana. A ARC ressalta que o vigente período da safra (reprodução final) é extremamente sensível às intempéries climáticas", explicam os especialistas da AgResource Mercosul.

EUA x China

Enquanto essas novas informações são compiladas e absorvidas pelos traders e demais participantes do mercado, a guerra comercial entre China e Estados Unidos continua. Nesta semana, novos capítulos foram escritos por ambos os protagonistas desse momento da economia mundial, entretanto, os efeitos dessas notícias já parecem ter sido mitigados. 

Em retaliação aos últimos movimentos do presidente americano Donald Trump, a China, por meio de um comunicado do Ministério das Finanças, informou que poderá tarifar US$ 60 bilhões em produtos importados americanos. As taxas deverão variar de 5% a 25% sobre 5,207 mil tipos de importações americanas caso as tarifas de Trump se confirmem sobre US$ 200 bilhões em produtos da China. 

Esse novo movimento do governo de Xi Jinping é reflexo da intensificação das tensões entre os dois países e de uma resposta mais dura dos chineses à primeira rodada de tarifas que comeceu a valer no mês passado. Além disso, no início desta semana, Trump considerou elevas as taxações americanas de 10% para 25% e a notícia, mais uma vez, pesou severamente sobre o mercado financeiro global. 

No início da semana, notícias davam conta de que China e EUA, por meio de seus líderes, estariam novamente reunidos nos próximos dias para retomarem sus negociações. As informações, porém, não se confirmaram e o estímulo que a notícia deu ao mercado em um primeiro momento, logo se dissipou. 

Além disso, Trump anunciou que poderia, inclusivem aumentar suas tarifações de 10% para 25% sobre os produtos chineses e a informação também assustou o mercado. 

Leia sobre os últimos movimentos:

>> Nova ameaça: China vai tarifar os EUA em US$ 60 bilhões em produtos

"O movimento de hoje (do mercado iniciar o dia especulando na baixa e fechar em alta) foi o maior sinal de que a guerra comercial está sem efeito duradourom na CBOT para a soja", diz Pereira. 

Preços no Brasil

No mercado brasileiro, os preços se mantiveram sem grandes mudanças diante da volatilidade de Chicago e da despencada de mais de 1% do dólar frente ao real nesta sexta-feira. A moeda norte-americana perdeu mais de 1% para fechar com R$ 3,70 e acumular, na semana, uma baixa de 0,29%. 

A cena política local e dados da economia norte-americana, além de algumas expectativas sobre os juros nos EUA deram força a esse movimento, como explicaram analistas ouvidos pela agência de notícias Reuters. 

Leia mais:

>> Dólar cai e volta a R$ 3,70 com expectativa sobre juros nos EUA e cena política local

Assim, em quase todo o interior do Brasil as cotações terminaram o dia sem movimentação neste final de semana e os indicativos apresentaram variações mais expressivas nos portos. 

Em Paranaguá, com a pressão do câmbio, a soja disponível perdeu 2,20% para voltar aos R$ 89,00 por saca, enquanto o fevereiro/19 caiu 0,98% para R$ 81,20. Já em Rio Grande, o spot ficou em R$ 86,50, recuando 0,80%, e a referência setembro/18 foi a R$ 87,60, com perda de 0,45%. 

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Tags:
Por:
Carla Mendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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1 comentário

  • Jorge A. Graunke PONTA PORÃ - MS

    Ontem a safra era boa, hoje não... Complicado.

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    • Dalzir Vitoria Uberlândia - MG

      Jorge...os tais analistas, a maioria, chuta hoje e amanha ou depois mente para encobrir o chute anterior... por isto o produtor tem que ouvir e decidir de forma racional e não de acordo com o queria ouvir...

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