Europa não garante comprar toda a soja dos EUA, como quer Trump

Publicado em 28/07/2018 20:31
Reuters

Alemanha diz que tensão comercial EUA-Europa está diminuindo, mas dúvidas permanecem sobre soja (Reuters)

BUENOS AIRES (Reuters) - As relações comerciais entre Estados Unidos e Europa estão melhorando, disse a ministra da Agricultura da Alemanha, Julia Kloeckner, neste sábado, mas não há garantias de que o bloco irá comprar a quantidade de soja que Washington espera.

O presidente dos EUA, Donald Trump, e Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, órgão executivo da União Europeia, fecharam um inesperado acordo na quarta-feira que pôs fim ao risco de guerra comercial imediata entre as potências.

Após as conversas, Trump destacou benefícios para agricultores norte-americanos. "A União Europeia irá começar, quase imediatamente, a comprar muita soja", disse a repórteres.

Kloeckner, falando à Reuters às margens de um encontro do G20 em Buenos Aires, disse que a quantidade de soja que a Europa irá importar ainda será determinada.

"Seremos capazes de fazer tudo que o presidente Trump deseja? Não sei. Vamos ver se este será o caso ou não, disse.

Espera-se que a UE importe 15,3 milhões de toneladas de soja na safra 2018/19, segundo dados de 12 de julho do Departamento de Agricultura dos EUA. Os EUA são o segundo maior exportador da oleaginosa no mundo, atrás do Brasil.

Após o encontro na Casa Branca, Trump concordou em se abster de impor tarifas sobre carros enquanto a União Europeia e os EUA começam conversas sobre cortes de outras barreiras comerciais.

Trump enfrentou críticas de alguns agricultores do centro-oeste dos EUA e parlamentares após anunciar na terça-feira um pacote de auxílio de 12 bilhões de dólares concebido como um impulso temporário para produtores atingidos pela crescente guerra comercial entre os EUA e a China.

A China impôs tarifas sobre produtos agrícolas, incluindo soja, após Washington colocar impostos sobre bens chineses.

"Muitos destes agricultores são apoiadores do presidente Trump, eles realmente sentiram a pressão. Acho que isto realmente ajudou Trump a entender que estas tarifas podem ser possivelmente prejudiciais, então ele voltou atrás e estamos seguindo em direção a uma situação mais positiva", disse.

Outras autoridades europeias também expressaram alívio após Trump e Juncker concordarem em resolver a disputa comercial.

"É uma coisa boa tanto para a UE, quanto para os Estados Unidos, terem se juntado e concordado em manter as conversas fluindo, ao invés de verem um aumento da disputa comercial", acrescentou Kloeckner.

Agricultores dos EUA podem receber US$ 12 bi de um programa de Trump em setembro

BUENOS AIRES (Reuters) - Agricultores dos Estados Unidos podem receber pagamentos em dinheiro de um pacote de ajuda de 12 bilhões de dólares planejado até o final de setembro, disse à Reuters no sábado o secretário de Agricultura dos Estados Unidos, Sonny Perdue.

     Perdue disse à margem da reunião do G20 de ministros da agricultura em Buenos Aires que o plano incluiria entre 7 bilhões e 8 bilhões em dinheiro.

     O plano de ajuda, uma resposta às medidas de retaliação comercial sobre as exportações agrícolas dos EUA, destina-se apenas ao ciclo da safra de 2018, disse ele.

Ministros de Agricultura do G20 expressam preocupações sobre medidas protecionistas

BUENOS AIRES (Reuters) - Ministros de Agricultura dos países do G20 disseram no sábado que estavam preocupados com o aumento do uso de medidas não-tarifárias protecionistas inconsistentes com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Ministros de países como os Estados Unidos e a China, que estão em Buenos Aires para o encontro do G20 entre ministros de Agricultura, afirmaram em comunicado conjunto o comprometimento em não adotar "obstáculos desnecessários" ao comércio, e afirmaram seus direitos e deveres diante dos acordos da OMC.

O encontro acontece em meio ao aumento de tensões comerciais que agitaram os mercados agrícolas. A China e outros parceiros comerciais dos Estados Unidos impuseram tarifas retaliatórias a produtores norte-americanos depois que o governo Trump impôs cobranças a bens chineses, assim como ao aço e alumínio vindo da União Européia, Canadá e México.

O governo Trump vai pagaria até 12 bilhões de dólares para ajudar produtores rurais norte americanos na guerra comercial. Trump e o chefe da Comissão Europeia chegaram a um acordo na última quarta-feira que encerrou o risco de guerra comercial entre as duas potências.

Os ministros não especificaram a quais medidas se referiam no comunicado.

"Reconhecendo a importância do papel da OMC, concordamos em continuar a reformar o processo de regras de comércio agrícola", disseram os ministros do G20, que juntos detêm 60 por cento das terras agrícolas do mundo e 80 por cento das commodities agrícolas e alimentícias, em um comunicado.

Depois de se encontrarem com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, Trump disse que a União Europeia compraria "muita" soja dos Estados Unidos.

A ministra da Agricultura da Alemanha, Julia Kloeckner, disse à Reuters que a relação comercial entre os EUA e a União Europeia está melhorando, mas que não havia garantias que os europeus importariam a quantidade de soja que Washington espera.

UE já vinha reduzindo compras de soja do Brasil nos últimos anos e aproximação com EUA não deve impactar, diz CNA

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Entrevista com Camila Sande - Assessora de Negociações Internacionais da CNA sobre o Mercado exportador de soja

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Camila Sande, assessora de negociações internacionais da CNA, conversou com o Notícias Agrícolas nesta sexta-feira (27) para destacar a aproximação dos Estados Unidos com a União Europeia, já que há possibilidade de o bloco aumentar a compra de soja norte-americana.

Para Sande, são "tempos de incerteza no mercado internacional". Ela lembra que Donald Trump coloca muitas coisas em seu discurso e nem sempre coloca em prática. O Brasil, atualmente, é o primeiro maior exportador de soja para a União Europeia, enquanto os Estados Unidos são o terceiro.

No entanto, 80% da soja brasileira já é enviada para a China. Os europeus sempre foram compradores, mas essa compra já vem diminuindo nos últimos anos, de forma que a queda foi redirecionada para os asiáticos.

Na visão da assessora, é muito difícil que o Brasil, entretanto, deixe de oferecer soja para a União Europeia. O país é um player consolidado e deve se adequar às novas configurações comerciais.

Ela salienta, ainda, que se o Brasil conseguir negociar a redução de tarifas de produtos de valor agregado com a China, tornando o produto brasileiro mais competitivo lá dentro, há, ainda, um novo espaço.

China está disposta a negociar sobretaxas a produtos do Brasil (Agência Brasil)

As autoridades chinesas “têm toda a vontade” de buscar com as autoridades brasileiras uma solução para diminuir ou eliminar as sobretaxas a produtos brasileiros, como a carne de frango e o açúcar, informou o embaixador da China no Brasil, Li Jinzhang, em entrevista à Agência Brasil.  

"Essa é uma questão técnica. Precisa de negociação conjunta entre os órgãos relacionados e especialistas para encontrar uma solução adequada”, acrescentou.

A liberação das sobretaxas chinesas foi um dos assuntos tratados entre o presidente brasileiro Michel Temer e o presidente chinês Xi Jinping durante a 10ª Cúpula do Brics (bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), concluída nessa sexta-feira (27) em Joanesburgo (África do Sul). 

Brasília - O embaixador da China no Brasil, Li Jinzhang, durante o Encontro Empresarial Brasil-China (José Cruz/ Agência Brasil)
O embaixador da China no Brasil, Li Jinzhang, disse que o país pode negociar a liberação de sobretaxas aos produtos brasileiros - José Cruz/ Agência Brasil


Li Jinzhang disse que o Brasil fez uma parceria estratégica com a China há muitos anos e que essa união “trouxe benefícios reais para os dois países, para os dois povos e para o desenvolvimento econômico e social dos dois lados”.

Veja a entrevista concedida à Agência Brasil pelo embaixador da China no Brasil, Li Jinzhang:

Agência Brasil: Embaixador, com a posição norte-americana de sobretaxar a China, a soja brasileira se valorizou na Bolsa de Chicago. O Brasil exporta sobretudo soja em grão e o presidente Temer demonstrou ao presidente Xi Jinping, durante o encontro entre eles, o desejo brasileiro de vender soja processada, como óleo e farelo de soja. Ele disse que o presidente chinês recebeu bem a proposta. O senhor acha que isso poderá ocorrer logo?

Li Jinzhang: Nos últimos nove anos consecutivos, a China se tornou o maior parceiro comercial do Brasil e o Brasil é o maior parceiro comercial da China na América Latina. Nos últimos três anos, o comércio dos produtos agrícolas está aumentando bastante. A China já se tornou o maior destino das exportações dos produtos agropecuários brasileiros, como por exemplo, a soja. No ano passado, 50% de toda a importação de soja da China no mundo veio do Brasil. O presidente Temer fez uma proposta de exportar mais óleo de soja. Ambas as partes podem aprofundar essa discussão daqui para a frente. Vamos discutir com base nos agronegócios. Acho que esse assunto tem um grande futuro.

Agência Brasil: Analistas econômicos de todo o mundo têm dito que as relações comerciais entre China e Brasil vão se intensificar, a começar pela soja. Em quais áreas isso se daria, além da agricultura?

Li Jinzhang: Produtos pecuários, como proteínas. No ano passado, a China importou mais de 570 mil toneladas de carne bovina. Em pouco tempo, a China se tornou um dos maiores destinos da carne bovina, através desses exemplos vocês percebem que há grande potencial de comércio de produtos agrícolas e pecuários.

Agência Brasil: O presidente Michel Temer também pediu ao presidente Xi Jinping que libere as sobretaxas em relação ao frango e ao açúcar brasileiro. O senhor avalia que essas sobretaxas podem diminuir ou mesmo cair?


Li Jinzhang: A exportação do Brasil de certos produtos chegam à China com preços muito menores do que os do mercado chinês, chegando em determinados momentos a causar impacto na indústria correlacionada da China. Por causa disso, os produtores dessas indústrias solicitaram que o governo chinês, baseado em regulamentos da Organização Mundial do Comércio (OMC), fizesse um levantamento desses produtos, de acordo com regras antidumping existentes. Com a ampliação muito rápida do nosso comércio, é normal surgirem esses problemas. É preciso que haja um processo de coordenação. É a mesma coisa de as empresas brasileiras pedirem para o governo brasileiro fazer antidumping contra alguns produtos chineses. Como países amigos e bons parceiros, e defensores do livre comércio, demonstraremos toda a vontade de sentar para negociar e procurar solução para esses problemas. Existe essa vontade amistosa, mas é uma questão técnica. Precisa de negociação conjunta entre os órgãos relacionados e especialistas para encontrar uma solução adequada.

Agência Brasil: Além das trocas agrícolas, Temer relatou que também foram tratadas na reunião dos Brics questões relacionadas às concessões e privatizações no Brasil e os investimentos chineses em obras de infraestrutura nas áreas de ferrovias, portos, aeroportos, linhas de transmissão e distribuidoras de energia. Xi Jinping disse que pretende continuar a investir no Brasil. Quais serão os próximos investimentos da China no Brasil?

Li Jinzhang: Sobre investimentos, ambas as partes já definiram as áreas prioritárias: energia, telecomunicações, infraestrutura, agricultura e ciência e tecnologia. A área de infraestrutura é a área mais importante de nossa cooperação. O governo brasileiro espera que as empresas chinesas aumentem investimentos nessa área. E o governo chinês também motivará as empresas chinesas a aprofundarem a cooperação nessas áreas. Na área de portos, temos obtido muitos resultados. Haverá muitos avanços na área de ferrovias, incluindo os transportes urbanos como o VLT (veículo leve sobre trilhos) e o metrô. Em Brasília, uma empresa chinesa já levou ao governo local seu interesse no VLT.

Agência Brasil: Temer tratou ainda com Xi Jinping do estabelecimento da sede do Escritório Regional da Américas, do Novo Banco de Desenvolvimento do Brics, em São Paulo, com escritório em Brasília. Qual a importância disso para o comércio entre as duas nações?

Li Jinzhang: Essa é uma boa notícia. O novo Banco de Desenvolvimento dos Brics nasceu em Fortaleza. Após muitos anos de preparação e funcionamento, ele tem obtido muito sucesso. A instalação da sede em São Paulo e escritório em Brasília vai estimular maior cooperação entre os países do Brics e com os países da América do Sul. O mais importante é a cooperação na área de investimentos. Com certeza, vai estimular também a cooperação comercial.

Agência Brasil: Houve grande convergência na reunião do Brics sobre a importância de o bloco prestigiar um sistema multilateral de comércio baseado em regras, com a OMC à frente. A posição da China foi referendada pelos países que compõem o Brics. O presidente Xi Jinping pediu na abertura da cúpula que os Brics "rejeitem o unilateralismo" presente hoje no mundo. É este o caminho? Como enfrentar os acordos bilaterais anunciados entre EUA e União Europeia?

Li Jinzhang: Nessa cúpula, os países do Brics usaram voz conjunta para salvaguardar o comércio multilateral e continuar a apoiar a liberação do comércio e do investimento. Isso é muito importante em face do cenário internacional atual. Sobre o acordo entre os Estados Unidos e a União Europeia, esperamos que todas as medidas tomadas se baseiem no mecanismo multilateral. Sobre esse acordo, acho que estamos só no início. Precisamos ainda observar.

Agência Brasil: Qual a sua mensagem em termos da parceria da China e do Brasil no mundo?

Li Jinzhang: A China e o Brasil são os maiores países nos hemisférios Ocidental e Oriental, que há muitos anos estabeleceram parcerias estratégicas. E agora estão realizando parceria global. A cooperação amigável trouxe benefícios reais para os dois países, para os dois povos e para o desenvolvimento econômico e social dos dois lados. Ao mesmo tempo, são dois países de mercados emergentes e membros do Brics. Nos assuntos internacionais, sempre temos posições iguais ou semelhantes. Temos aspirações comuns. E somos parceiros nos assuntos internacionais. Espero que os dois países possam como sempre elevar a cooperação amistosa para um novo patamar.  

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Fonte:
Reuters/NA/Agência Brasil

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