Em Planaltina (DF) agricultores são pagos para "produzir" água na luta contra escassez
Diante de um canteiro de 50 mil pimentões verdes, Daniel de Almeida explica orgulhoso como ele "produz" toda a água necessária para irrigar plantações e criar gado em sua fazenda nos arredores de Brasília, onde o racionamento de água chegou ao fim nesta sexta-feira após uma severa seca.
Almeida é um dos 1.200 agricultores em todo o Brasil apoiados por um programa do governo que melhora a infraestrutura em fazendas para aumentar a retenção de água no solo e conservar as fontes de água.
Quando o racionamento de água foi introduzido no Distrito Federal há mais de um ano, Almeida continuou irrigando suas plantações e dando de beber aos seus animais usando uma mina de água em sua propriedade.
-- “Quem não preservou em volta das nascentes, não recuperou as áreas nativas, não replantou, não tem essa área de preservação permanente, sofreu na seca”, disse Almeida, acrescentando que os agricultores não podiam captar água dos rios.
“Graças a Deus a gente passou a seca tranquilo, com água sobrando”, afirmou o agricultor à Thomson Reuters Foundation em sua fazenda de 28 hectares em Planaltina, enquanto bois pastavam atrás dele.
No Brasil, mudanças estruturais nas fazendas para aumentar a água subterrânea são vitais, já que cerca de 60 por cento da água doce do país é usada para a produção agrícola e pecuária, de acordo com a agência nacional de águas (ANA).
Investir em obras para evitar a erosão em propriedades rurais e tratar efluentes e esgotos ajuda a preservar bacias hidrológicas, diz a ANA, que administra o projeto "produtor de água" em todo o país.
O projeto incentiva os agricultores a adotarem boas práticas que preservem o meio ambiente e aumentem o volume das fontes de água.
PAGOS PARA PROTEGER
Agricultores como Almeida que concordaram em realizar as intervenções propostas pela ANA recebem um pagamento anual.
O valor a ser pago varia de acordo com as modificações e métodos de preservação implantados para melhorar o suprimento de água nas propriedade rural.
O programa investe em obras nas fazendas, incluindo construção de terraços e curvas de nível, adaptação de estradas rurais, reabilitação de nascentes, plantio de árvores e conservação de florestas.
Na fazenda de Almeida, o programa implantou curvas de nível e terraços, bem como plantação de mudas na área em torno da mina de água, onde nenhuma atividade econômica é permitida.
O programa também incentiva os agricultores a adotarem práticas sustentáveis, como a agrofloresta, onde as árvores são plantadas ao lado das lavouras.
“Eu planto o milho consorciado com o capim. O milho eu uso pra fazer silagem, que é para manter o trato animais na seca, e agora na época das águas a gente tem A pastagem”, disse Almeida.
A fazenda de Almeida recebe apoio financeiro da empresa pública de abastecimento de água Caesb, que financia o programa da bacia hidrográfica do rio Pipiripau em Planaltina, uma das mais importantes áreas produtoras de hortaliças do Distrito Federal.
Em outra fazenda em Planaltina, a 55 quilômetros de Brasília, o programa plantou 8.000 árvores nativas do cerrado em uma área onde se praticava pecuária extensiva perto de uma nascente de rio.
"A gente percebeu um aumento na quantidade de água infiltrando no solo. A gente também viu a mina de água enchendo mais a cada ano", disse o agricultor Thiago Kaiser.
O resultado inspirou a família de Kaiser a plantar mais 4.000 árvores e cultivar outras 4.000 mudas a partir de sementes.
Segundo a Caesb, uma relação mais próxima com os agricultores facilitou negociar o uso dos recursos hídricos e minimizou a crise hídrica na região.
Como resultado do programa na bacia do Pipiripau, 360.000 mudas foram plantadas, 134 km de estradas foram recuperadas, cerca de 1.000 bacias de retenção de água foram construídas e outras 200 foram reabilitadas.
O governo do Distrito Federal investiu cerca de 10 milhões de reais no projeto desde 2012, dos quais a Caesb pagou cerca de 2 milhões de reais para cerca de 185 agricultores.
Na fazenda de Almeida, as melhorias feitas no projeto custaram cerca de 30 mil reais. "Vale a pena", disse o agricultor.
MEDIDAS CONTRA A ESCASSEZ
As fontes de água estão sob pressão em todo o mundo diante do aquecimento global e da demanda crescente da população, segundo a ONU.
Cerca de 16 por cento das 5.570 cidades brasileiras enfrentam problemas de abastecimento de água, segundo dados do Ministério da Integração Nacional.
No Distrito Federal, o abastecimento de água volta à normalidade nesta sexta-feira. A região enfrentou racionamento devido à escassez chuvas, agravada pelo crescimento urbano desordenado.
Mas a ampliação no sistema de captação no Ribeirão Bananal e no Lago Paranoá supriu a lacuna, disse o governador Rodrigo Rollemberg em maio, anunciando o fim do racionamento para 15 de junho.
Em dezembro, o sistema Corumbá também entrará em operação, gerando 2.800 litros adicionais de água por segundo para a população de 3 milhões de pessoas do Distrito Federal. O mesmo volume será destinado ao Estado de Goiás, de acordo com Rollemberg.
GESTÃO DE ÁGUA
A demanda global por água deverá aumentar em quase um terço até 2050, quando 5 bilhões de pessoas poderão ficar acesso restrito à água, de acordo com um relatório da ONU publicado em março.
Para evitar a escassez, a ONU recomenda a adoção de "soluções baseadas na natureza" que usam ou imitam os processos naturais para aumentar a disponibilidade de água.
Isso inclui a adaptação de práticas agrícolas de forma que o solo retenha mais umidade e nutrientes, coleta de água da chuva e conservação de áreas úmidas que captam o escoamento e descontaminam as águas.
No Brasil, mudanças estruturais nas fazendas para aumentar a água subterrânea são vitais, já que cerca de 60 por cento da água doce do país é usada para a produção agrícola e pecuária, de acordo com a agência nacional de águas (ANA).
A ANA coordena 57 projetos de produção de água em todo o Brasil, cobrindo 400.000 hectares e beneficiando cerca de 35 milhões de pessoas.
As ações variam desde a construção de terraços e pequenas barragens que canalizam e captam o excesso de água, até o reflorestamento de propriedades rurais.
A ANA investiu 42 milhões de reais nos projetos, enquanto cerca de 160 milhões de reais foram injetados por organizações que se beneficiam do aumento da disponibilidade de água, incluindo governos locais e empresas que administram serviços de água e saneamento.
(Link da matéria com vídeo em inglês: https://www.thisisplace.org/i/?id=bd64f4f9-d3e4-4d64-abfe-07bbca618207).
Oeste da Bahia preserva mais de 4 milhões de hectares de cerrado dentro das fazendas
(A produção agrícola ocupa 2 milhões de hectares)
No Oeste da Bahia, mais da metade da área dos imóveis rurais está ocupada e destinada à preservação da vegetação nativa local. Em 32 municípios avaliados, a mancha verde dos espaços reservados à preservação do Cerrado dentro das propriedades recobre mais de quatro milhões de hectares, o que equivalente a 52% do espaço total dos imóveis. O percentual é 2,5 vezes maior do que o exigido pelo Código Florestal – 20%.
A área preservada corresponde a 30% do território do Oeste Baiano e é quase 12 vezes maior do que as unidades de conservação e terras indígenas. A extensão de terras reservadas pelos produtores locais para a preservação foi estimada pela Embrapa Territorial a partir da análise dos dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR), a pedido do Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa).
“É a região da Bahia que mais dedica área à preservação da vegetação nativa”, garante o que chefe-geral da Embrapa Territorial, Evaristo de Miranda. Ele apresentou os dados durante o Fórum do Canal Rural realizado em 29 de maio, em Luís Eduardo Magalhães, BA.
Com produção concentrada no Oeste, a Bahia respondeu, na safra 2016/2017 por cerca de 23% da produção brasileira de algodão. O estudo da Embrapa também avaliou os dados do CAR das 132 propriedades com cotonicultura na região. Elas também preservam mais do que o exigido pela legislação. A área destinada à vegetação nativa é próxima de 40% - mais de 220 mil hectares.
O estudo da Embrapa Territorial ainda calculou o valor do patrimônio imobilizado pelos agricultores nas áreas de reserva legal. As estimativas apontam pelo menos R$ 11 bilhões em terras não cultivadas. Miranda aponta que, se fossem utilizadas na produção, seriam mais valorizadas. “Se essa terra hoje fosse manejada, o valor seria de 26 bilhões de reais”, analisa.
1 comentário
Comprometidos com a redução das emissões de carbono, Rock in Rio e The Town anunciam iniciativas sociais
Pesquisa aponta ganhos agrícolas bilionários com restauração de vegetação nativa em SP
AGCO Agriculture Foundation e The Nature Conservancy Brasil firmam parceria para ajudar agricultores na região do Cerrado a adotar práticas da agricultura regenerativa
G20 e COP 29: Mudanças climáticas redesenham a agricultura brasileira
COP29: organizações sociais apontam falhas em regras de financiamento
Tocantins oferecerá R$2,5 bilhões em créditos de carbono
getulio marcos pereira Bueno Brandão - MG
Embora os dados foram retirados do CAR, não significa que a área está preservada. Apenas que tem esse nome. Estive acompanhando imagens de satélite e não condizem com os dados. Tem pouca mata e as áreas de cerrado são utilizadas periodicamente por rebanhos. Basta conferir no maps.
GETÚLIO o destino de uma área para a preservação já e' um louvável começo----Mas sempre aparecem pentelhos da sua categoria que sempre tem algo a desfazer---Não tem nem a noção de que uma árvore leva mais de 10 anos--