Atraso dos pagamentos pedido pela cooperativa Lar diante da greve deve ser encurtado
No fogo cruzado entre recebíveis em atraso e vendas paradas pela greve dos caminhoneiros, o pedido de postergação de compromissos feito pela Lar Cooperativa Agroindustrial pode ser encurtado. A cooperativa pediu 30 dias, a contar de 4 de junho (segunda), mas a expectativa é de que o equilíbrio de caixa chegue mais cedo.
Irineu da Costa Rodrigues, presidente da cooperativa de aves e suínos com sede em Medianeira (PR), destacando que o pleito – também estendido às novas compras – “não foi uma imposição, ou seja, propusemos como forma de negociação e ninguém era obrigado a aceitar”, está esperançoso diante da melhora dos preços praticados com o descasamento da oferta e demanda pós-greve.
E também com sinais de melhora das exportações.
Com 13 unidades no Paraná, a Lar também não vinha encontrando resistência por parte dos fornecedores com títulos a receber, nem deixando de conseguir efetuar novas aquisições para a rotina da cooperativa.
Solidariedade que Costa Rodrigues também viu durante a greve entre os cooperados, quando houve muita troca de ração, principal insumo em falta com a paralisação do mercado. “Mesmo no final dávamos apenas milho moído”, adiantou o presidente, garantindo que, com isso, não houve mortandade, especialmente no alojamento de frangos.
A Lar não informou o número de fornecedores e a soma de valores que estão sendo jogados para os próximos dias.
Mas o presidente da cooperativa não deixa de ver uma preocupação à frente, com o embargo anunciado nesta sexta (8) pela China ao frango brasileiro (veja entrevista de hoje com Ricardo Santin, presidente da ABPA), ela que já tem plantas embargadas pela União Europeia há dois meses, junto com outras empresas nacionais de aves.
Além de estar sem poder vender suíno à Rússia, como todo o setor exportador. O país deixou de comprar desde dezembro e desde março se anuncia que o governo iria levantar a proibição, mas até agora não aconteceu, quando se esperava que isso iria ser solucionado ao final do mês passado.
A sedução do controle de preços (editorial do ESTADÃO)
A despeito dos muitos exemplos da história recente do Brasil de que o controle de preços é invariavelmente danoso para a economia, esse expediente voltou a ser considerado válido pelo governo e por parte significativa da sociedade, agora para atender aos reclamos dos caminhoneiros que fizeram greve para obrigar a queda do preço do diesel. Houve até ministro que prometeu usar “todo o poder de polícia” para garantir que a redução do preço desse combustível acertada com os caminhoneiros chegasse aos postos – como se os preços na bomba não fossem livres.
Se controle de preços funcionasse, o Plano Cruzado teria sido um retumbante sucesso. Como se sabe, mas volta e meia se esquece, o Cruzado, lançado em fevereiro de 1986 pelo então presidente José Sarney, congelou preços na expectativa de finalmente conter uma inflação que àquela altura era típica de país conflagrado. “Iniciamos hoje uma guerra de vida ou morte contra a inflação”, anunciou Sarney na TV. O Brasil foi fragorosamente derrotado nesse combate porque, em resumo, não se pode revogar as leis básicas da economia.
Se a inflação desorganiza o mercado, porque se perde a noção de valor do dinheiro e dos produtos, o congelamento de preços igualmente afronta as relações econômicas. Preços têm a função de refletir a disponibilidade daquilo que é precificado. Uma vez tabelado, o preço deixa de cumprir essa função básica, desorientando os agentes econômicos e levando ao desabastecimento – afinal, não há porque produzir mercadorias se o preço destas, por estar congelado, não puder refletir os custos da produção, que sobem livremente.
Essa lição elementar foi ignorada em 2013 pela então presidente Dilma Rousseff, quando a petista anunciou a redução das tarifas de energia elétrica, à custa do caixa da Eletrobrás, e manteve, para os leilões do setor, sua obsessão pela modicidade tarifária, que naturalmente afugentou os investidores.
Dilma cometeu o mesmo erro na Petrobrás, ao obrigar a estatal a subsidiar o preço dos combustíveis, artificialmente reprimidos na vã tentativa de conter a inflação. Levará ainda muitos anos até que todo esse passivo deixado pelo voluntarismo dilmista seja eliminado.
É evidente que, por ser administrado, o preço dos combustíveis sempre sofrerá alguma forma de controle, ainda mais considerando-se que a Petrobrás detém praticamente o monopólio do refino no Brasil. Ainda assim, a estatal não pode ignorar as variações internacionais dos preços, pois, se o fizer, estará onerando a empresa, gerando um prejuízo que recairá sobre o conjunto da sociedade sem que esta possa opinar a respeito.
A ruína da Petrobrás nos anos lulopetistas só foi revertida porque a empresa, sob a direção de Pedro Parente, realinhou seus preços aos do mercado internacional. Mas as forças do atraso demonstraram seu vigor com a greve dos caminhoneiros e com a reação oportunista de líderes políticos diante da crise. Como resultado, Parente deixou a Petrobrás e a empresa agora será levada a refrear seus reajustes. Até a Agência Nacional do Petróleo (ANP), que se ausentou durante toda a crise dos caminhoneiros, reapareceu apenas para anunciar que haverá “regulamentação” da periodicidade dos aumentos de preços.
Esse tipo de interferência, todos deviam saber, não costuma acabar bem. Tome-se como exemplo a imposição do preço mínimo do frete, outra exigência dos caminhoneiros atendida pelo governo. Como esse preço agora não pode ser livremente negociado, os custos sofrerão aumento significativo – no setor de grãos, por exemplo, calcula-se uma alta de até 95%, que provavelmente não poderá ser compensada no preço final, uma vez que esse preço é definido pelo mercado internacional. Não à toa, vários setores da indústria e do agronegócio interromperam seus negócios e temem grandes prejuízos, além de perda de competitividade.
Nada disso foi levado em conta pelos entusiastas do controle de preços, pois eles não lidam com a realidade, e sim com o devaneio de que basta querer para que os preços se ajustem a seus desejos. Sem trocadilho, o preço a pagar por esse amadorismo será imenso.
"Fazendo água", por ADRIANA FERNANDES (ESTADÃO)
As resistências estão em ebulição e podem desmanchar pacote de compensação ao custo do diesel
O recuo do recuo na tabela de preço mínimo do frete é só uma amostra da batalha que vem por aí em torno dos termos do acordo que o presidente Michel Temer fechou com os caminhoneiros para garantir uma queda de R$ 0,46 do diesel nas bombas.
As medidas que a equipe econômica anunciou para bancar parte do custo para as contas públicas do subsídio ao diesel – a bolsa caminhoneiro – também estão sob forte ataque dos setores que perderam com o pacote anunciado às pressas no dia 31 de maio, enquanto os caminhoneiros ainda tomavam conta das rodovias e impediam o abastecimento do País.
Depois do frete, essa será a próxima zona de desgaste do governo. As resistências estão em ebulição e podem desmanchar o pacote de compensação que o governo adotou.
A grita maior vem da Zona Franca de Manaus e é contra a medida que barra a engenharia tributária com uso do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) feita pelas grandes multinacionais produtoras de bebidas – entre elas Coca-Cola e Ambev – para obter crédito tributário na venda de xarope usado na fabricação dos refrigerantes.
A bancada do Amazonas se articulou para derrubar o decreto do presidente no Congresso. Os deputados Pauderney Avelino (DEM-AM) e a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) apresentaram cada um deles uma proposta para derrubar o decreto do presidente que busca diminuir os prejuízos
Pelos cálculos do Fisco, para cada R$ 100 vendidos por uma empresa que produz na Zona Franca, R$ 4 acabam sendo “pagos”, na prática, pelo Tesouro.
Ou seja, por todos os contribuintes.
É que essas empresas não só conseguem não pagar o tributo com a isenção da Zona Franca como também ficam com o crédito tributário, que pode ser usado para pagar o IPI de outros produtos, inclusive de outras bebidas, como cervejas.
Como a empresa instalada em Manaus não paga o IPI, ela fica com crédito muito alto. E usa esse crédito para abater o débito do imposto de outros produtos. Em busca do mesmo “benefício”, empresas menores de refrigerantes também correram para fabricar o xarope no norte do País.
Não é de hoje que o governo tenta acabar com essa manobra tributária sem sucesso. O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega propôs à presidente Dilma Rousseff a medida, que menos de quatro dias depois de editada foi revista diante de tamanha pressão das empresas e dos parlamentares na época.
O governo considera que o decreto legislativo é ilegal e se prepara para a batalha jurídica, caso seja aprovado. Pela Constituição, decreto legislativo só pode ser aprovado quando o Poder Executivo exorbita na regulamentação de uma lei. O que na visão da área econômica não é o caso porque o governo pode por decreto regular o IPI.
A outra frente de pressão vem dos exportadores que não querem a redução quase a zero do Reintegra, programa que garante um crédito tributário nas vendas externas. Na mira da Organização Mundial do Comércio (OMC), o programa – caríssimo, diga-se – foi criado para eliminar os resíduos tributários na cadeia de produção de produtos exportados. Algo que o Brasil não conseguiu comprovar até agora no processo aberto pela organização. A economia só com essa medida em 2018 é de R$ 2,27 bilhões. E no ano que vem mais R$ 10 bilhões. A mais importante das medidas do ponto de vista de economia de arrecadação.
O presidente Michel Temer vetou parte dos setores que continuariam com a desoneração da folha de pagamento, benefício criado no governo da ex-presidente Dilma Rousseff. A medida que na prática aumenta a carga tributária das empresas para compensar parte das perdas com subsídio do diesel também pode sofrer baixas no Congresso. Parlamentares insatisfeitos prometem derrubar os vetos.
Com tantas resistências e recuos do Palácio do Planalto, não se sabe qual será a capacidade de resistência do presidente aos pedidos de mudanças nos pontos de compensação do pacote para agradar aos caminhoneiros. E, aí, novas medidas terão que ser editadas ampliando o desgaste do governo.
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