Apoio da população a caminhoneiros causa perplexidade, diz Economist

Publicado em 02/06/2018 01:57
Revista inglesa afirma que indignação geral com impostos altos e classe política fomentou apoio

apoio da população à paralisação dos caminhoneiros causa perplexidade, diz reportagem na revista inglesa The Economist. 

O que explica o sentimento favorável às manifestações é o fato de que os brasileiros ainda pagam impostos altos e não recebem serviços de qualidade em troca e, devido aos escândalos de corrupção, têm um sentimento de indignação generalizada contra a classe política, segundo a publicação.

A reportagem, publicada na edição que vai às bancas neste sábado (2), aponta que o presidente Michel Temer cedeu à pressão da categoria ("caminhoneiros autônomos usando o WhatsApp") para evitar o colapso político e econômico do país.

A presença de apoiadores de uma eventual intervenção militar entre os caminhoneiros também foi tratada com surpresa pelo jornal britânico Guardian.

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De acordo com a publicação, o assunto é "profundamente polêmico no Brasil, que viveu sob uma ditadura militar por 21 anos, durante a qual centenas de inimigos do regime eram executados e torturados", diz a reportagem da última quarta-feira (30). 

O jornal também afirma que o clima de desconfiança causado pelos escândalos de corrupção recentes fortaleceu o movimento daqueles que defendem uma intervenção militar.

A maldição do pré-sal, por RODRIGO ZEIDAN, na FOLHA

A descoberta do pré-sal se revelou uma catástrofe. A megalomania do maior plano de investimentos da história da indústria de petróleo é parte da crise atual. Afinal, o único resultado concreto desse plano foi a quase falência da Petrobras e a substituição de parte da sua produção em declínio, a um custo astronômico.

Em 2005, o lucro operacional da empresa foi de R$ 38,5 bilhões, em dinheiro da época. No ano passado, foi de R$ 35 bilhões, bem menor que seu custo de capital

A Petrobras é hoje uma empresa de tecnologia de dívidas profundas. São três os motivos pelos quais estaríamos melhor sem o pré-sal: ecológicos, éticos e de eficiência.

Durante anos, os relatórios da empresa comparavam a Petrobras a Exxon, Shell e BP, ignorando as suas verdadeiras referências: Sonangol (Angola), Pemex (México) e PDVSA (Venezuela).

Dentro da empresa, era comum achar que Exxon e Shell não teriam futuro, pois só a Petrobras teria reservas. O plano era "ser uma das cinco maiores empresas integradas de energia do mundo". Os devaneios não estavam somente lá.

Durante o governo Dilma Rousseff, estive com diversas empresas no Amazonas, e algumas estavam aumentando as frotas de caminhões, mesmo sem ver nisso uma grande oportunidade. Afinal, em 2012 o governo decidiu reduzir os juros da linha PSI- Finame, do BNDES, para módicos 2,5% ao ano para a compra de veículos pesados.

Vale lembrar que a inflação fechou o ano em 5,84%. Impossível resistir quando o governo suga recursos de toda a sociedade para "premiar" as empresas do seu setor. A exploração do pré-sal é um desastre ambiental, direto e indireto. Os péssimos controles internos e externos permitiram que recursos vultuosos fossem parar nas mãos de corruptos, dentro e fora da empresa.

Além disso, é fundamentalmente ineficiente, sem nenhum lucro econômico, e ainda diminuiu a competitividade relativa da indústria sucroalcooleira e outras energias renováveis.

Os investimentos no pré-sal e o novo-desenvolvimentismo resultaram num retrocesso institucional. Simplesmente não temos maturidade para desenhar políticas industriais decentes. O ideal seria a empresa fazer somente os investimentos básicos para explorar os poços muito viáveis e se planejar para em 30 a 40 anos não mais existir.

A transição para um modelo de sociedade sustentável não vai se fazer tendo como base a busca pelo aumento da indústria petrolífera. Não somos a Noruega, não temos capacidade de gerir eficientemente uma empresa pública com indicadores sólidos de governança e o equilíbrio entre objetivos públicos e privados.

O petróleo não é nosso, nem das multinacionais. Achar que o pré-sal iria alavancar a posição geopolítica do país chega a ser piada: "Olhs lá, palhaços cucarachas corruptos querem pagar caro pra brincar no joguinho de Opep? Vamos rapar os otários".

Quando você é o pato na mesa, não adianta culpar os outros. A megalomania da e para a Petrobras limitou o crescimento de energias alternativas no país.

A princípio, haveria espaço para uma pujante empresa de petróleo enquanto o país faria sua transição para energias renováveis. Mas não temos governança escandinava.

Importar petróleo é bom --nos faz investir em mais eficiência. Ruim é ouvir o discurso arranhado de que o petróleo tem que ser nosso para preservar interesses nacionais.

Pior mesmo é subsidiar gasolina, um completo absurdo. Pelo visto, nossa incapacidade de aprender com erros passados continua intacta.

Rodrigo Zeidan, Economista, é professor da New York University Shangai, na China, e da Fundação Dom Cabral, no Brasil.

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É urgente a necessidade de se privatizar não só a Petrobras, mas outras estatais (por ROBERTO CASTELO BRANCO)

As crises políticas sempre demandam um culpado. No caso da greve dos caminhoneiros, os políticos e parte da opinião pública elegeram a política de preços da Petrobras, cujo responsável era seu presidente, Pedro Parente. Então, "fora, Pedro Parente" e todos voltamos a ser felizes.

Ninguém se deu ao trabalho de observar que o preço do óleo diesel no Brasil é inferior à média global, US$ 1,02 contra US$ 1,07 (dados de 28 de maio da Global Petrol Prices).

O diesel é commodity global e a principal fonte de diferenciação de preços entre países são impostos e subsídios.

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Na Venezuela o preço é quase zero, nos Estados Unidos, onde a tributação é baixa, US$ 0,85 e na Noruega, onde os impostos são muito elevados, US$ 2,03 por litro.

Há dois anos, os preços de alimentos sofreram forte alta, o que afetou principalmente as famílias mais pobres. Não houve greve, nem protestos, nem foi pedida a demissão de ninguém.

A razão fundamental é que não havia ninguém para culpar, o culpado foi o mercado, uma entidade impessoal.

No caso do diesel, embora seguindo o mercado global, é o comitê de uma única empresa, uma estatal dona de 99% do refino, quem anuncia os preços.

Essa é mais uma razão para privatizar a Petrobras. Precisamos de várias empresas privadas competindo nos mercados de combustíveis.

As pressões sobre o governo para resolver uma situação de excesso de oferta de fretes rodoviários, criada pelo desenvolvimentismo do BNDES, encontraram terreno fértil. Um governo populista, politicamente enfraquecido e num ano eleitoral, foi facilmente capturado.

A greve produziu choque de oferta que afetou toda a atividade econômica.

Vai se processar significativa transferência de renda da sociedade para um grupo de interesse, parte do jogo populista de soma zero. O que acontecerá se amanhã o preço do petróleo chegar a US$ 100 por barril e/ou o dólar a R$ 4?

O tabelamento dos preços dos fretes é uma distorção com significativas implicações negativas.

O fato gerador da greve, o excesso de oferta de caminhões de carga, permanece intacto. A intervenção do Estado só contribuiu para agravá-la, pois a demanda por fretes crescerá mais lentamente.

Existe um velho ditado popular que se aplica muito bem a esta situação: "é possível ignorar as leis da economia, mas elas nunca nos ignorarão".

A crise e a resposta dada pelo governo Michel Temer agravam sem dúvida as incertezas de um ano eleitoral, com repercussões bastante negativas sobre a recuperação da economia.

Uma das lições que se tira desta crise é a urgente necessidade de privatizar não só a Petrobras, mas outras estatais.

É inaceitável manter centenas de bilhões de dólares alocados a empresas estatais em atividades que podem ser desempenhadas pela iniciativa privada, enquanto o Estado não tem dinheiro para cumprir obrigações básicas, como saúde, educação e segurança pública, que até mesmo tiveram recursos cortados para financiar o subsídio ao diesel.

Roberto Castello Branco é Diretor do Centro de Estudos em Crescimento e Desenvolvimento da Fundação Getulio Vargas

Greve, locaute, rebelião fiscal ou o quê? (por Fernando Aurelio Zilveti)

O que de fato ocorreu no país: uma greve de caminhoneiros? Um locaute orquestrado por patrões gananciosos? A manifestação dos caminhoneiros espocou por questões fiscais, uma rebelião do contribuinte. A incompetência do governo atual para lidar com a questão revela a falta de representação popular, uma grave ruptura para o poder de tributar. 

A democracia reconquistada há três décadas foi refundada com base em uma ferramenta política elaborada por representantes populares, especialmente mandatados para tal tarefa. Nascia ali a Constituição Federal, classificada como “cidadã” pelo seu caráter social-democrata, garantindo direitos humanos em um primeiro bloco de regras, a organização do Estado no segundo e os direitos sociais no terceiro bloco.

Essa tríade estrutural tinha por objetivo dar ao cidadão um instrumento de suficiência política para viver em um Brasil democrático, mais justo sob a perspectiva social. Faltou na Constituição um ajuste para que o cidadão não se visse desamparado, sitiado em sua casa sem o direito de ir e vir —o mais sagrado dos direitos.

Esse ajuste constitucional se encontra na representação, pois o chamado “centrão”, o mesmo que hoje desgoverna o país, tomou o texto constitucional de assalto e o fez promulgar em outubro de 1988, sem alterar profundamente as regras eleitorais.

A omissão da reforma eleitoral deixou o cidadão com uma ferramenta moderna, porém nas mãos de uma classe política antiquada. A técnica constituinte orquestrada por políticos, muitos deles hoje investigados ou condenados por corrupção na operação Lava Jato, foi de aprovar um texto para garantir direitos fundamentais e promover benefícios sociais, sem alterar a estrutura de poder do Estado, que afinal garante o que há de mais antigo e nocivo para o cidadão contribuinte, o patrimonialismo.

Ao evitar a revisão do sistema eleitoral e engessar o texto constitucional com cláusulas pétreas ou petrificadas no tempo, o constituinte evitou a mudança efetiva de questões fiscais pelo voto, pois deixou de tocar no ponto mais sensível do problema, a vontade geral —o exercício do direito de voto.

É paradoxal e ao mesmo tempo significativo que, em pleno ano de eleições e de profunda crise econômica e social, o cidadão se sinta desamparado e sem representação política para resolver os problemas que o afligem. A falta de representantes que se identifiquem com o eleitor fez com que a crise fiscal atingisse seu patamar mais agudo, com um Estado incapaz de arcar com as despesas essenciais a que se obriga pelo texto constitucional.

Onde estão os representantes dos eleitores para responder pela crise fiscal que fez eclodir os movimentos grevistas? Procura-se o representante político que aumenta os gastos em obras faraônicas, que aumenta o gasto público com folha de salários, que aumenta os impostos, que aumenta a dívida pública, que outorga renúncia fiscal sem justificativa, que está no Congresso somente de terça a quinta-feira em horários determinados, que não vota as medidas urgentes de ajuste nas contas públicas.

Em vez de chamar o Exército para desbloquear estradas, o governo deveria chamar os congressistas para tal tarefa. Eles deveriam explicar o que fizeram (e principalmente o que não fizeram) para que os caminhoneiros —autônomos, empregados ou empresários— tenham que pagar para exercer sua profissão.

Essa mesma explicação esperam os demais cidadãos, aqueles que estão nas filas dos postos de combustível ou correndo aos supermercados para estocar produtos, como boiada estourada. Ora, se tenho um representante político eleito por meu voto, a quem confiei promover ações para fazer valer os direitos que a Constituição Federal me deu, é esse o representante que deve resolver o problema que ele mesmo criou.


A greve atual é uma rebelião de natureza fiscal, de natureza política e de natureza representativa. O rebelde que estaciona seu caminhão e bloqueia estradas está cometendo um delito, sem dúvida, mas esse ato pode ser visto como de resistência ao aumento de preços de combustível, que é de natureza fiscal. A causa disso está na incompetência dos representantes do povo em promover a administração do Estado brasileiro.

Se esse rebelde promove um ato extremo é porque não vê em seu representante eleito um agente capaz de votar leis e fiscalizar a administração pública, para que o tributo pago seja suficiente ao custeio das despesas do Estado. Seria prematuro dizer que estamos diante de um Boston Tea  Party, mas traços de inconfidência nos remetem às manifestações de 2013 contra o aumento das tarifas de ônibus.

Antes que a situação se agrave e os movimentos se generalizem país afora, o que seria trágico, é preciso pensar em uma saída. A reconstrução da democracia passa pela eleição de novos representantes, reforma do Estado e, principalmente, reforma eleitoral completa,  sem o que não haverá mudança, apenas mais um show de marketing eleitoreiro populista. Dos atuais impostos e políticos o povo está farto. (porFernando Aurelio Zilveti, Mestre, doutor e livre-docente pela Faculdade de Direito da USP e autor do livro "A Evolução Histórica da Teoria da Tributação", na Folha de S. Paulo)

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Fonte:
The Economist/Folha

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1 comentário

  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    Daqui a pouco vão falar que, além de mentiroso, eu sou um agente inglês, da direita jacobina que quer tocar fogo em tudo etc... Explico amigos, o que estou escrevendo aqui no Noticias Agricolas é mais ou menos o que a matéria da revista inglesa, The Economist, publicou. E volto a falar, não adianta tentar ir contra o sentimento do povo. A esquerda liberal está indignada por que o discurso dela não tem "capilaridade" como dizem os políticos. Não encontra eco na população brasileira. Vejam o que aconteceu nos EUA, Trump ganhou as eleições através do discurso. Quem tem a palavra mais alinhada com o sentimento do povo, vence as eleições. E o Rodrigo Constantino está falando um monte de bobagens, pois a "direita" jacobina está dividida quanto a paralisação, alguns pensam que é um erro apoiar, politicamente falando. São setores da direita que está nascendo ainda, essa direita que querem matar no ovo. Então as pessoas que estão fora do movimento conservador ficam falando bobagem. Já comentei aqui, a direita é um grupo de pés-rapados que estuda muito e quer ter voz na politica. O "establishment" não quer dar espaço?, nós combatemos com as armas que temos, que são infinitamente menores e mais fracas que as dos oponentes, e esses últimos vendo-se perdidos no combate de idéias partem para a difamação pura e simples. Rodrigo Constantino, esse banner que você postou é uma imitação dos banners utilizados pela esquerda no facebook. Os militantes de direita usam o facebook apenas como meio de difusão dos canais informativos, e somos fortemente censurados também no facebook, não é difícil entender isso.

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    • Gilberto Rodrigues Freitas Mineiros - GO

      Camboriense aí era leitor do Reinaldo Azevedo, qdo percebeu q o cérebro deve sobrepor-se ao fígado passou a hostiliza-lo...

      De repente postava links pra artigos do Rodrigo Constantino, mas ao perceber q o cérebro vale mais q o fígado também passa a criticá-lo...

      Aafffff

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    • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

      Gilberto, você não sabe de nada, e pior, acha que algumas pessoas estão acima de criticas. Rodrigo Constantino excluiu vários amigos meus das redes sociais por não poder explicar o acordo do partido Novo, ou melhor, o compromisso com as agendas da ONU. Qualquer uma pessoa que acompanhe minimamente o que acontece nos bastidores da politica, sabe que todos os nossos grupos são contra as agendas da ONU, que envolvem ideologia de gênero, ambientalismo, gaysismo, destruição das famílias, ou melhor dizendo, quer implantar agendas sociais comunistas no Brasil. E nós e a maioria do povo brasileiro, não queremos. Aí o Constantino resolve atacar gratuitamente o Filipe G Martins, cientista politico da nossa turma, e se ferrou. Ele perdeu.

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