Nada pior do que militantes comunistas disfarçados de católicos (por Rodrigo Constantino)

Publicado em 22/05/2018 06:24
na Gazeta do POvo

“O problema com o catolicismo brasileiro é que entende de menos o Mercado e reverencia demais o Estado. Gosta de distribuir riquezas mas não se esforça por facilitar a criação delas.” – Roberto Campos

Gustavo Nogy escreveu um bom texto na Gazeta sobre o papa Francisco e a acusação frequente de seu viés esquerdista por boa parte da direita. Ele mostra como a esquerda socialista costuma se apropriar de um sentimento cristão para crescer:

O socialismo conseguiu apropriar-se da linguagem, da gramática, das regras do jogo. O que a esquerda propõe, em sua narrativa espúria, é intuitivo: existe pobreza no mundo e algo deve ser feito a respeito. Muitos dos “idiotas úteis”, eleitores de governos de esquerda, não são idiotas. São pessoas de boa vontade que ignoram os mecanismos da economia. É até razoável que protestem: “Alguém tem de acabar com isso!”

Desse sentimento difuso, alimentado pela ignorância acerca do livre mercado, muitos caem no colo da esquerda oportunista, que usurpou do cristianismo a preocupação com os mais pobres, tentando monopolizar tal virtude, tal fim nobre. O que mais tem por aí é esquerdista que vive da pobreza, ou seja, alimenta-se feito um parasita da miséria alheia.

Quando esses usam a batina para se promover, numa simbiose nefasta entre ideologia e religião, esquecendo que o socialismo é justamente uma espécie de “religião laica”, temos um perigo ainda maior. Nada pior do que militantes comunistas disfarçados de católicos, enganando trouxas por aí. Tal reflexão veio à mente após ler essa notícia:

Em missa no Santuário de Aparecida neste domingo (20), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi homenageado, com o pedido por sua libertação, na hora das Intenções. A missa das 15h realizada na Basílica de Aparecida do Norte contava com a presença de romaria organizada pelo Partido dos Trabalhadores.

Como parte das tradições da missa católica, o padre João Batista de Almeida falou, durante a hora das Intenções: “Pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para que Nossa Senhora Aparecida o abençoe e dê muitas forças e se faça a verdadeira justiça para que o quanto antes ele possa estar entre nós, construindo com o nosso povo um projeto de país que semeie a justiça e a fraternidade, rezemos ao senhor”.

Procurada, a assessoria de imprensa do Santuário não se manifestou imediatamente sobre as razões para a homenagem feita pelo padre João Batista Almeida durante a missa, e se suas palavras foram redigidas por ele mesmo ou apresentadas pelos romeiros.

 

São os tais “padres de passeata”, como dizia Nelson Rodrigues, que sempre pegava no pé de Dom Hélder Câmara, quem só olhava para o céu, segundo o dramaturgo, para saber se ia chover ou não. Bernardo Kuster tem renovado esses ataques, com foco especial na CNBB, que podemos chamar carinhosamente de Conferência Nacional dos Bispos Bolivarianos, tamanho seu viés esquerdista.

Mas, em reportagem na Folha de SP, ficamos com a impressão de que um jovem excêntrico que posta fotos de freiras com armas acusa, do nada, a CNBB de ter viés esquerdista:

O que Bernardo admite que é: uma pedra no sapato da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Decorado com uma foto dele segurando um rifle, seu canal do YouTube tem 169 mil seguidores. Na página no Facebook, na qual a foto de capa traz freiras armadas, são 91 mil.

Os dois são abastecidos por vídeos como “Cala a Boca, Abortista!” e “Projeto de Ditadura LGBTTQI+@Y123”, que questiona o projeto de lei no Senado que cria o Estatuto da Diversidade Sexual e de Gênero. Bernardo incluiu “outras letras [em LGBTQ, de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Transgêneros e Queers] pra facilitar o trabalho do pessoal que não para de aumentar essa sigla”, diz.

A popularidade do ativista católico disparou após a publicação, dois meses atrás, de “CNBB no banco dos réus”. A produção acumula 544 mil visualizações, enquanto vídeos veiculados no canal CNBBNacional costumam alcançar algumas dezenas delas.

A peça de Bernardo dispara uma rajada de acusações contra o que ele julga ser uma entidade empesteada de comunismo. A primeira bofetada é contra o fundador da CNBB, dom Helder Câmara (1909-1999), a quem se refere como “o arcebispo vermelho”.

Era um desafeto do regime que se instaurou no mesmo mês em que virou arcebispo de Olinda e Recife, abril de 1964. Ao arcebispo, tido como inimigo pelos militares, se atribuiu a frase “quando dou comida aos pobres, me chamam de santo, quando pergunto por que eles são pobres, chamam-me de comunista”.

Em sua videografia, Bernardo destrincha indícios do que vê como “esquerdização” na Igreja Católica brasileira. Tem a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, elogiando a CNBB. Outra imagem aponta a presença da Cáritas, braço da Igreja que se diz voltado “aos excluídos e excluídas”, no Fórum Social Mundial deste ano, visto como uma “esquerdolândia”.

[…]

Dom Leonardo Steiner é apontado como o “homem mais poderoso da CNBB”, do qual é secretário-geral. O religioso, segundo Bernardo, traz a esquerda em seu DNA eclesiástico. Seu mentor seria dom Pedro Casalgálida, bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia e um dos maiores expoentes da progressista Teologia da Libertação.

Frei Betto chama dom Pedro de “santo e herói”, e João Pedro Stedile, ideólogo do MST, já o comparou a Che Guevara.

Ou seja, a coisa toda é retratada como se um jovem qualquer, famosinho no YouTube por ataques estranhos, suspeitasse que a CNBB tem inclinação comunista, e ainda fecha chamando Casalgálida de “um dos maiores expoentes da progressista Teologia da Libertação”. Progressista?!?!?! Assim, sem aspas mesmo?! Fake News! Teologia da Libertação é casamento forçado entre Marx e Cristo, sendo que o primeiro tomou conta de tudo, e o segundo é só um pretexto para atrair desavisados.

Eu tenho vários artigos no meu blog contra a CNBB, mostrando seu escancarado viés esquerdista. Textos como esse aqui, por exemplo, entre tantos. Não se trata, portanto, de uma mera questão de opinião, de um palpite de um youtuber, mas sim de um fato comprovável, amplamente documentado, evidente. Vejam, aliás, o que Lula mesmo disse sobre a importância de dominar a igreja para chegar ao poder:

Sejamos francos: só muita distorção mesmo para transformar a mensagem de Cristo numa ode ao socialismo. Só muita manipulação perversa para confundir um santo padre fiel ao cristianismo com um guerrilheiro assassino comunista. E é exatamente o que faz a Teologia da Libertação. É exatamente o que faz a CNBB, em boa parte. E é justamente o que fez o padre que rezou em homenagem ao bandido Lula, condenado e preso pela Justiça.

Essa gente engana cada vez menos, graças em boa parte às redes sociais; mas ainda é perigosa. Eles usam o poder da mensagem religiosa cristã para ludibriar bobos com sua perversa ideologia socialista. Mas cristianismo e socialismo são como água e óleo: não se misturam!

Rodrigo Constantino

VENEZUELA TEM “EXCESSO DE DEMOCRACIA”, LEMBRA?

As “eleições” na Venezuela foram, uma vez mais, uma completa fraude. Eis o que acontece quando a extrema esquerda chega ao poder pelas vias democráticas: ela destrói a própria democracia de dentro. O Brasil e outros 13 países não vão reconhecer o resultado das “urnas”:

O governo brasileiro e outros 13 países anunciaram nesta segunda-feira (21) que não reconhecem a eleição presidencial venezuelana e que irão convocar seus embaixadores em Caracas para consultas. 

Os representantes diplomáticos da Venezuela em cada um dos países também serão convocados para receberem um protesto oficial, diz a nota assinada pelas 14 nações que formam o grupo de Lima – Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Guiana, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru e Santa Lúcia, além do Brasil. 

Segundo o comunicado, os países “não reconhecem a legitimidade do processo eleitoral que teve lugar na República Bolivariana da Venezuela, concluído em 20 de maio passado, por não estar em conformidade com os padrões internacionais de um processo democrático, livre, justo e transparente”. 

Alexandre Borges ironizou: “Maduro fez fact-checking na própria eleição e garantiu que não houve fraude.”

Adolfo Sachsida desabafou: “O ditador da Venezuela, Nicolas Maduro, aplicou mais um golpe eleitoral na Venezuela. As eleições venezuelanas foram uma FRAUDE! O PT e o PSOL apoiam a ditadura na Venezuela! Vergonha! Vários brasileiros andaram apoiando a ditadura de Hugo Chavez e Nicolas Maduro, já se desculparam??? Cobre deles!!! Não existem meias palavras aqui!!! O que existe na Venezuela é uma ditadura que frauda eleições para tentar se legitimar. O Brasil precisa denunciar MAIS ESSA fraude eleitoral. Digo mais: está na hora de começarmos a pensar seriamente em maneiras de ajudar a libertar o povo venezuelano desse tirano.”

Aurélio Schommer comentou: “Maduro será presidente até morrer, eu disse isso quando ele assumiu pela primeira vez e sigo prevendo. Ditadores de esquerda são eternos no poder porque destroem a economia a ponto de cada pedaço de pão sair da mão do ditador. Quanto menos pão, maior a necessidade de ser fiel a ele. Quando Maduro morrer, daqui a algumas décadas, o país com as maiores reservas de petróleo de todo planeta será também o mais miserável. Cerca de 2/3 da população havida quando ele assumiu terá emigrado. O restante será dividida entre uma elite de traficantes de drogas e dirigentes estatais (na Venezuela, corresponde às mesmas pessoas em ambas atividades), e uma massa desnutrida e incapaz de qualquer reação. Aí então é possível que o sucessor, que virá da cleptocracia, resolva tentar atrair os emigrados de volta, mudando as diretrizes com cuidado. Que sirva de lição a todos os povos: se não quer um destino Venezuela para seu país, nunca vote na esquerda.”

João Luiz Mauad afirmou: “A única coisa sensata e moralmente aceitável que o governo brasileiro pode fazer, no caso da fraude eleitoral venezuelana, é não reconhecer o resultado.”

Como a memória do brasileiro é curta, gostaria de lembrar que, quando Chávez assumiu o poder falando em “socialismo do século XXI”, eu imediatamente alertei que o resultado seria o mesmo de Cuba. Ainda em tempos de Orkut, debatia com “cientistas políticos” que consideravam Chávez um potencial gênio. Quantos não se encantaram com suas promessas de “justiça social”?

O tempo passou, a crise veio e a democracia se foi. Ficou claro que o socialismo do século XXI era exatamente como aquele do século XX: deixava um rastro de miséria e escravidão por onde passava. Mas muitos “intelectuais” brasileiros continuaram elogiando o regime venezuelano. O economista Bresser-Pereira era um deles, entre tantos outros. Cacá Diegues e toda essa esquerda bocó só tinham palavras elogiosas para as “mudanças” na Venezuela.

Lula, como esquecer?, falou que havia “excesso de democracia” no país. Ele queria chegar, assumidamente, no mesmo destino, mas Chávez dirigia uma Ferrari e ele um fusquinha. Nossa imprensa foi cúmplice, não achou nada demais em tais declarações. Com raras exceções, até nossa classe política se calou, mas não todos:

Se o PT ainda estivesse no poder, o resultado “eleitoral” da Venezuela seria reconhecido e enaltecido. O PT continua oficialmente defendendo a ditadura venezuelana, assim como faz o PSOL de Marcelo Freixo, Chico Alencar e Jean Wyllys. Essa gente não tem qualquer apreço pela democracia, vista como uma “farsa” para chegar ao poder e por lá permanecer para sempre. Quem são os verdadeiros fascistas?

Mas como no Brasil nada se aprende e tudo se esquece, eis que nossa imprensa, com viés ideológico, está tratando um candidato como Guilherme Boulos, do PSOL, com respeito, como se fosse uma alternativa democrática a ser considerada, e não um inimigo declarado da própria democracia e das leis. O PT ainda é tratado como partido, não como quadrilha ideológica. Como levar a sério essa turma? E são esses que querem checar o que é verdade e o que é mentira nas redes sociais…

E claro, nunca podemos deixar esse vídeo morrer, pois é preciso mostrar que tipo de gente domina nossas universidades:

Rodrigo Constantino

PT silencia sobre Maduro (por José Fucs, no Estadão)

Só para registrar: são 20h50 desta segunda-feira, 21, e até agora, nem uma palavra dos sites oficiais do PT e de Lula sobre a contestada vitória do bolivariano Nicolás Maduro, queridinho dos petistas e de seus aliados, na Venezuela. / José Fucs

CAMPEONATO DE ATRASO ENTRE DIREITA E ESQUERDA?

Ando com pouca paciência para os “isentões”, confesso. Esse papinho de quem posa acima da disputa “ultrapassada” entre direita e esquerda é quase sempre de esquerdista fingindo ser imparcial, de centro e superior aos partidários. Hoje foi a vez de Ricardo Rangel adotar tal discurso em sua coluna no GLOBO, usando como base o caso da policial que reagiu e matou um marginal em São Paulo.

Ele tenta o tempo todo pairar acima de nós, reles mortais com visões de mundo ideológicas, buscando compreender o que cada lado tem de certo. Para ele, ambos estão certos e possuem visões complementares. Mas esse esforço budista, no fundo, serve para tecer algumas críticas superficiais aos esquerdistas mais radicais, que tratam bandidos como heróis, e preservar, na prática, a essência da visão esquerdista: criminoso é uma “vítima da sociedade”. Diz ele:

Quem vê a realidade de forma concreta enxerga uma guardiã da lei que cumpre seu dever de eliminar uma ameaça a inocentes indefesos (a morte do assaltante não é desejada, é contingencial). Quem vê o mundo assim se concentra nos inocentes e na agente de segurança que os protege, os vê como vítimas, se solidariza com eles.

Quem vê a realidade de forma simbólica enxerga um homem negro e pobre, excluído e embrutecido, que, pressionado pela recessão e pelo desemprego, recorre ao crime. Quem vê o mundo assim enxerga o criminoso como resultado de uma realidade perversa.

Uns e outros raramente se entendem: simbólicos consideram concretos cansativos, sem imaginação, sem poesia, sem solidariedade; concretos acham simbólicos frívolos, irracionais, extravagantes, um entrave. Se tivessem um pouco mais de boa vontade e de bom senso, veriam que nenhuma das duas visões está errada, que ambas são verdadeiras, e que não se contradizem, pelo contrário, se complementam.

Rangel chega perto da verdade quando diz que a direita foca no que é concreto, ou seja, nos humanos de carne e osso, enquanto a esquerda abraça o simbólico, ou seja, o mundo da estética, da narrativa, da poesia. Mas, em que pese a tentativa de ver razão em ambos os lados, o jornalista acaba endossando a visão esquerdista, ao assumir a premissa absurda (e estética) de que alguém aponta uma arma carregada para crianças por conta do desemprego. Eis onde o autor trai seu esquerdismo. Ele conclui:

No fundo, a esquerda guarda o ranço de enxergar o Estado liberal-democrata como mecanismo de dominação do povo, e o criminoso, que desafia a ordem “burguesa”, como herói da resistência. “Seja marginal, seja herói”, escreveu Hélio Oiticica.

A direita precisa abandonar a curiosa suposição de que aumentar a violência é um bom caminho para diminuir a violência. A esquerda precisa abandonar a absurda ideia de que criminosos são românticos.

Enquanto a direita repete Washington Luís, insistindo que “a questão social é um caso de polícia”, e a esquerda teima em tratar casos de polícia como questão social. Estão ambos parados nos anos 1920, e, no campeonato do atraso, todos somos derrotados.

Eis a tática do “isentão”: criticar uma extrema esquerda, que chama marginal de herói, para no fundo atacar a posição razoável, de bom senso, da imensa maioria, que é endurecer no combate ao crime. O caminho para reduzir a violência é reduzir a impunidade e, se preciso, reagir com mais rigor sim. Chamar isso de “mais violência”, ou condenar a ideia sensata de armar a população ordeira, eis o que quer no fundo o autor com essa coluna, e é uma mensagem totalmente de esquerda.

Quem acha que um marginal aponta uma arma para crianças por conta de desemprego, e não por maldade, por impunidade, por perversão e por valores morais degradados, pode falar o que quiser, tentar com todo esforço do mundo bancar o imparcial, mas já aderiu às premissas da esquerda. E quem acha que é “aumentar a violência” reagir a tais marginais também pode fingir o quanto quiser, mas é de esquerda.

Não há um campeonato de atraso entre esquerda e direita; há uma hegemonia da esquerda há décadas no Brasil, e o resultado está aí, esse caos social e econômico, um inferno que elimina mais de 60 mil vidas por ano. A solução não é a equidistância entre a esquerda e a direita, entre quem chama assassino de herói ou quem reconhece que uma policial corajosa é, de fato, uma heroína que salvou vidas. A solução é definitivamente uma guinada à direita!

PS: Debatemos em nosso podcast desta semana o caso da policial, e o ouvinte terá uma opinião bem mais contundente, firme e correta do que essa em cima do muro do “isentão” que aceita as premissas da esquerda:

Rodrigo Constantino

JORNALISMO BRASILEIRO: A FANTÁSTICA FÁBRICA DE POLÊMICAS

Por Lucas Berlanza, publicado pelo Instituto Liberal

Quem não conhece as duas adaptações para o cinema do livro infantil de 1964 A Fantástica Fábrica de Chocolate? As aventuras de Charlie Bucket na incrível fabrica de Willy Wonka, porém, passam longe de ser tão inventivas quanto o maior antro de criatividade extravagante, a mais fantástica fábrica que existe no Brasil: o nosso jornalismo. Só que o produto não é o delicioso derivado do cacau. Ela fabrica polêmicas.

A imprensa vive em um universo paralelo a criar polêmicas onde não existem, substituindo-se à sociedade e aos fatos no seu papel de gerar as pautas. Não é preciso mais cobrir ou discutir o que existe; é mais fácil inventar. Isso parte das pequenas coisas, como escândalos de celebridades ou bobagens ditas em programas de auditório dominicais.

“Fala de Fulano no Domingão do Faustão cria polêmica”, diz a manchete. Às vezes, a tal polêmica é uma meia dúzia de comentários no Instagram, mas aquilo gera uma grande pauta social a ser repercutida e devassada. Na “sociedade do espetáculo” – expressão de Guy Debord, um dos inspiradores do movimento esquerdista de maio de 68 na França, mas que nem por isso deve ser imediatamente descartada -, é o que importa.

Muito que bem, que remédio… Contudo, às vezes a coisa é mais grave. Nem se está falando aqui de mentiras deslavadas. Elas também acontecem, e vindo justamente de quem hoje se diz insurgente contra as “Fake News”. Foi o caso, esta semana, de manchetes dos jornais O Globo e Extra noticiando o assassinato de uma jovem de 17 anos no Rio porque ela “reagiu ao assalto”. Uma farsa midiática conveniente para dar suporte a uma agenda vitimista e desarmamentista, indo ao cúmulo de responsabilizar a vítima, quando o que sabemos é que a jovem demorou a desbloquear seu aparelho celular para entregá-lo ao criminoso.

Não é esse o ponto. Muitas vezes os fatos são reais, o mote é verdadeiro, mas cria-se sobre eles um espetáculo circense de dúvida e discussão onde o que existe no seio social é a ampla concordância em torno de um ponto de vista que desagrada aos “intelectuais” da redação do jornal e, por isso, julgando-se representantes de um colossal segmento da opinião pública, pintam um cenário de profunda divisão e cizânia da sociedade – quando o único duelo significativo existente é o travado entre o seu mundinho de cristal, mantido entre as quatro paredes do escritório, e a “certeza opressora” do povo do lado de fora.

O exemplo mais recente foi a história de Kátia da Silva Saustre, uma policial militar de folga que, nos arredores de uma escola em São Paulo, percebeu um assaltante armado, se posicionou devidamente e o baleou. O criminoso faleceu no hospital e foi identificado como chefe de uma quadrilha que roubou, matou e queimou um aposentado.

Que fez a Globo News? Em uma edição de um de seus telejornais, na segunda-feira (14), com apresentação da jornalista Leilane Neubarth Teixeira, foi veiculada a seguinte pergunta aos telespectadores: “Policiais de folga devem reagir a assaltos?”.

É o tipo de pergunta que, para qualquer cidadão normal, não é efetivamente uma questão. Uma profissional treinada para exercer seu ofício, que pode, exercido da maneira correta, proteger vidas e patrimônios, públicos ou privados, encontra-se numa situação em que, embora não esteja no seu “expediente”, tem condições de agir e impedir que o malfeito seja perpetrado apenas pelo destemor de obstáculos e punições. Quer dizer que ela, então, nessas circunstâncias, deveria simplesmente se abster?

Multiplicaram-se deboches nas redes sociais, e não é para menos. Vimos muitos internautas se perguntarem: deve um médico deixar alguém morrer, apenas por estar de folga? Deve um mecânico de folga deixar o carro quebrado do amigo parado no meio da rua? Vimos até exemplos pitorescos e cômicos, como a pergunta sobre se as prostitutas deveriam fazer o “rala-e-rola” em dias de folga.

É escárnio mesmo o que merece a emissora cuja redação jornalística é capaz de propor um questionamento bizarro como esse. Seria motivo para apenas rir, não fosse a emissora mais poderosa e influente do país. Nas aulas de Jornalismo nas nossas faculdades, os professores – majoritariamente esquerdistas – costumam enfatizar a necessidade de “desnaturalizar” o olhar sobre a realidade para encontrar problemas, questões e aspectos diferenciados, capazes de sustentar pautas.

Definitivamente, os alunos estão indo longe demais na hora de executar o conselho. “Desnaturalizam” tanto que retiram as pautas exclusivamente da própria imaginação perturbada.

QUEM SÃO OS BENEFICIÁRIOS DAS POLÍTICAS ECONÔMICAS LIBERAIS

Por João Luiz Mauad, publicado pelo Instituto Liberal

“Trate todas as questões econômicas desde o ponto de vista do consumidor, pois os interesses do consumidor são os interesses da humanidade.” – Frederic Bastiat

Qualquer um que já tenha se aventurado a defender políticas econômicas liberais já teve de ouvir críticas no sentido de que tais políticas, principalmente por pregar um ambiente desregulado e competitivo, só favoreceriam os grandes conglomerados, cujo poderio econômico agiria em seu benefício, em detrimento dos mais “fracos”.  Nada poderia ser mais equivocado.

O capitalismo defendido pelos liberais, de fato, contempla não só a liberdade empresarial, mas também regras e políticas que permitam a liberdade de entrada e que mantenham condições isonômicas entre os concorrentes. Sem privilégios ou favorecimentos de qualquer tipo.

O grande paradoxo desse modelo é que, enquanto quase todos se beneficiam dele, nada é fácil. Ao contrário, esse é um sistema altamente dinâmico e arriscado, onde ninguém está a salvo de prejuízos e bancarrotas, nem mesmo os maiores – quem duvida, dê uma olhada na dinâmica da lista das 500 maiores empresas norte-americanas, desde meados do século passado até hoje. O capitalismo defendido pelos liberais não é, portanto, agradável àqueles que sonham com uma vida fácil.

Não por acaso, os grandes conglomerados (e até mesmo os não tão grandes) consomem bilhões de seus orçamentos fazendo lobby junto a políticos e burocratas, na tentativa de conseguir vantagens para suas empresas, não a partir da concorrência de mercado, mas de leis e regulamentações governamentais que os beneficiem.

Como ensina Luigi Zingales, no excelente “Saving Capitalism from the capitalists”, quanto maior a concorrência, mais as empresas estabelecidas precisam comprovar sua competência repetidas vezes. Por isso, os jogadores fortes e bem-sucedidos do mercado costumam usar parte de seus recursos para tentar restringir essa concorrência e fortalecer suas posições. Como resultado, surgem sérias tensões entre uma agenda pró-mercado e uma pró-empresa.

Quando o governo é limitado e tem pouco poder e recursos para intervir no livre jogo do mercado, a única maneira de ganhar dinheiro é iniciar um negócio bem-sucedido e concorrer no mercado contra outras empresas. Mas quanto maior o tamanho e o escopo dos gastos do governo, mais fácil é ganhar dinheiro desviando recursos públicos. Administrar um negócio num mercado competitivo é difícil e envolve muito risco, enquanto obter favores ou contratos do governo é mais fácil (uma aposta muito mais segura).

Em países com governos grandes e poderosos, o estado não raro se encontra no coração do sistema econômico, mesmo que esse sistema seja relativamente capitalista. Tal fato tende a confundir política e economia, tanto na prática quanto na percepção do público.  Quanto maior a parcela de “capitalistas” que adquirem riqueza graças a suas conexões políticas, maior é a percepção geral de que o capitalismo é injusto e corrupto.

A verdade é que, desde priscas eras, o empresariado sempre exigiu, simultaneamente, amplas liberdades para si mesmo, seja em relação ao controle público ou à interferência em suas atividades aquisitivas, ao mesmo tempo em que defendia muitas restrições à liberdade dos outros para invadir seus mercados ou campos de oportunidades.

Assim, a disseminação entre os empresários do mundo ocidental, após o fim do mercantilismo, de inclinações para apoiar o capitalismo laissez-faire, em geral nunca os tornou defensores, por exemplo, do livre comércio internacional ou de desregulamentações amplas que beneficiassem a entrada de novos concorrentes no mercado.

A bem da verdade, políticas públicas destinadas a fomentar e manter a “livre concorrência”, interna e externamente, sempre estiveram incluídas nos programas políticos dos partidos liberais, mas geralmente não eram apoiadas por empresários e sindicalistas. Pelo contrário, estes geralmente queriam que os governos de seus países ativamente os ajudassem em seus esforços para alcançar e manter posições mais ou menos monopolistas para suas empresas – além de colocar obstáculos no caminho de seus possíveis concorrentes estrangeiros.

O capitalismo defendido pelos liberais, portanto, é tudo de que os “grandes capitalistas” não querem nem ouvir falar. Porque as políticas realmente liberais são aquelas que visam ao benefício não de empresários, mas dos consumidores. E, para esses últimos, quanto maior a competição, quanto mais produtos e serviços houver, quanto menores forem os preços praticados, melhor.

Então, se os liberais defendem reduções de impostos e desregulamentações sobre as empresas, por exemplo, não é não fazem isso visando a facilitar a vida das empresas ou empresários, mas sim porque entenderam a lição de Bastiat e sabem que essas políticas favorecem os consumidores.

 

 

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Fonte:
Blog Rodrigo Constantino/Reuters

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