O presidente Trump presenteará o agro? Por Prof. Dr. Marcos Fava Neves
Reflexões do agro de abril
Foi um mês muito bom ao agro, fazia já algum tempo que não tínhamos um conjunto favorável de notícias, tanto em preços como em quantidades. Começando com a economia mundial dando bons sinais, pois o FMI projeta agora expansão de 3,9%, advindos de 2,9% nos EUA, 2,4% na região do Euro, e 4,9% para os emergentes, com destaque para 7,4% na Índia e 6,6% na China, não sem riscos, pelo elevado endividamento mundial e tormentas políticas. Para o Brasil são esperados 2,3%. Já o Relatório Focus (Banco Central) traz expectativas para o IPCA de 2018 em 3,48% e de 2019 em 4,07%. O PIB fecharia em 2,76% este ano e 3% em 2019. Para a taxa Selic se esperam 6,25% e 8,00%, respectivamente e finalmente, para o câmbio, R$ 3,30 no final de 2018 e R$ 3,39 no final de 2019. Estabilidade à frente no campo econômico, mas não podemos dizer na política brasileira, que segue confusa.
Mais uma estimativa da CONAB e a safra vem vindo bem. Produziremos em grãos 229,5 milhões de toneladas (3,4% menor que a safra anterior). Em um mês a estimativa cresceu 3,5 milhões de toneladas, com uma área plantada de 61,38 milhões de hectares, apenas 0,8% maior que a da safra passada. No milho segue estimativa de perda, indo de quase 98 para 88,61 milhões de toneladas com menores área e produtividade. Já na soja teríamos 114,96 milhões de toneladas, praticamente 9 milhões acima da primeira expectativa, graças a uma produtividade de 3,27 t/ha. Temos ainda chance de chegar no recorde de 237 milhões de toneladas se o clima ajudar, pois o plantio de milho da segunda safra é estimado em 11,54 milhões de hectares, quase perto dos 12,1 milhões de 2016/17. Vale também destacar o algodão, que deve produzir 1,86 milhão de toneladas de pluma, 22% a mais que 2016/17.
Como antecipado na nossa análise de dois meses atrás, bateremos recorde na soja, com preços comparativamente 10% maiores em Chicago e 15% maiores em regiões do Brasil. Isto posto, o MAPA já estima em quase R$ 125 bilhões a renda desta lavoura, 3,8% acima do ano passado. Para a ABIOVE, a produção de soja deve chegar ao recorde de 117,4 milhões de toneladas, e exportaremos 70,4 milhões (acima dos 68,15 milhões de 2017), trazendo um faturamento de US$ 36 bilhões (US$ 31,7 bilhões em 2017). Os preços médios devem ser de US$ 410/t (a previsão de março era de US$ 380 e a média de 2017 foi de US$ 377).
Quatro grandes fatos ajudaram: o câmbio (desvalorização do Real), a seca na Argentina (a produção deve ser de 15 a 20 milhões de toneladas abaixo do esperado), os efeitos da sobretaxa americana no aço e alumínio, lembrando que compra chinesa pode chegar a 100 milhões de toneladas de soja neste ano, e o Brasil deve ocupar espaços abrindo espaço aos EUA em outros compradores mundiais e, finalmente, a nova projeção do USDA, que trouxe uma área 1% menor dedicada à soja. Milho também deve cair 2%. E tem mais, o plantio está atrasado pelo frio que não cede!
Segundo o MAPA, o valor bruto da produção (VBP) agropecuária neste 2018 será de R$ 530,1 bilhões (R$ 14,2 bilhões maior que a projeção de março) e 3,7% abaixo do recorde de 2017, de R$ 550,4 bilhões. Na nova projeção, subiu R$ 9,3 bilhões o valor da agricultura (R$ 355,4 bilhões), principalmente devido à soja, e também em R$ 5 bilhões o valor da pecuária, agora estimado em R$ 174,8 bilhões. Também o índice mundial dos preços das commodities alimentares (índice da FAO) subiu outra vez 1,1% para 172,8 pontos. Cereais subiram 2,7% e os lácteos 3,3%. Os açúcares caíram 6,5%, óleos vegetais caíram 0,8% e carnes permaneceu estático.
As exportações no agro deste março surpreenderam e foram de US$ 9 bilhões (5,2% acima de fevereiro de 2017) e retirando-se as importações de US$ 1,3 bilhão, ficou um superávit 6,8% maior, de US$ 7,8 bilhões. Trouxemos US$ 4,02 bilhões no complexo soja, com aumentos expressivos no óleo e no farelo. Na sequência vieram as carnes, com US$ 1,34 bilhão, puxados por crescimento de 22,1% na bovina, e queda de 9,7% no frango e 23,4% na suína, seguido pelos produtos florestais com US$ 1,2 bilhão. Fechamos o primeiro trimestre 4,6% acima de 2017, vendendo US$ 21,4 bilhões e importamos 4% a menos (US$ 3,6 bilhões) o que dá um saldo 6,6% maior, de US$ 17,8 bilhões, um excelente desempenho.
Esta produção toda vem ajudando o consumidor, pois o Índice Alimentação e Bebidas do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE subiu apenas 0,07% em março, ou seja, o agro controlando a inflação.
Se os fatos de curto prazo foram favoráveis, o melhor fato de médio prazo foi ventilado nos EUA. É possível que o presidente Trump autorize a venda de gasolina com 15% de etanol durante todo o ano em seu país, o que foi uma surpresa, pois suas declarações não estavam nesta linha favorável ao etanol. No verão é vetada esta venda com 15% por razões de maior volatilidade com altas temperaturas. Este novo mercado potencial ajudaria a manter o etanol americano no mercado interno, pois tem gerado um excedente anual de 5 bilhões de litros e poderia inclusive demandar mais milho no futuro, abrindo espaços ao Brasil. Nesta safra foram usadas para etanol 141,6 milhões de toneladas e se o E15 for adotado, pelo menos 50 milhões a mais serão necessárias, quando na plenitude. Se der certo, será a melhor notícia do ano ao agro brasileiro.
Entre fatos empresariais destaco duas: já temos investimentos chineses via a China Communications Construction Company (CCCC) em 51% do Porto de São Luís e agora no Terminal Graneleiro da Babitonga (TGB), em São Francisco do Sul (SC), dois importantes corredores de exportação entre outros investimentos projetados para a área de infraestrutura, principalmente ferrovias e portos. Chineses entrando firme na nossa infra para o agro.
E do novo mundo digital e tecnológico, a IBM fez um levantamento que apenas para armazenar os dados gerados por 6 lavouras no Brasil exigirão por ano 28,3 exabytes (28 bilhões de gigabytes). Tecnologia e dados são o quarto fator de produção, além dos tradicionais terra, trabalho e capital. A Cargill acredita que o “machine learning” trará grandes ganhos de competitividade, como o exemplo de máquinas que pelo barulho do camarão durante sua alimentação, sabem o momento de despejar mais ração ou parar. Ou seja, tem um mundo de eficiência a caminho!
Finalizando o mês, são boas as notícias no crescimento econômico, na produção e preços do agro e na confiança crescente. O clima até o momento ajuda para que possamos quebrar o recorde de produção novamente, e com preços melhores. O grande fato negativo foi o embargo da União Europeia a um grande número de unidades exportadoras de frango. Temos que avaliar quanto tempo vai durar e o possível estrago que fará no mercado externo e interno, afetando também as outras carnes e grãos.
Do lado político, como antecipado na análise de março, o ex-presidente foi preso e deve seguir um destino semelhante ao do ex-governador do Rio de Janeiro, de acumulo de penas. Sua saída definitiva de cena permitirá deixar o quadro eleitoral mais claro e espero vencer na aposta que uma candidatura de centro e aglutinadora do país possa emergir e para construir consenso e promover ainda no primeiro semestre de 2019 todas as reformas estruturantes e liberalizantes necessárias para nos destravar e colocar o Brasil na competição mundial. Chega de obsolescência e retrocesso.
Contato: [email protected]
0 comentário
Exportações do agro com resultados impressionantes, por Prof. Dr. Marcos Fava Neves
Meio ambiente: Nós protegemos! Por José Zeferino Pedrozo
Que Momento Impressionante ao Agronegócio, por Prof. Dr. Marcos Fava Neves
Boas Condições para 2021 ser Ano de Tratoraço no Agro, por Prof. Dr. Marcos Fava Neves
A Encruzilhada: Contingenciamento das exportações ou Convulsão Social? Por Eduardo Lima Porto
Milho & Soja: O outro lado do potencial altista para o complexo agrícola, por Liones Severo