O lado B do Datafolha: 8 pontos que ninguém deu atenção e que podem mudar eleição

Publicado em 17/04/2018 01:47
Primeira pesquisa após a prisão do ex-presidente Lula traz informações cruciais para definir os rumos da campanha e, eventualmente, a disputa pelo Planalto, por FERNANDO MARTINS, na GAZETA DO POVO

Primeira sondagem eleitoral realizada após a prisão do ex-presidente Lula (PT), a pesquisa Datafolha divulgada no domingo (15) ficou marcada por quatro aspectos: a queda nas intenções de voto do petista após o encarceramento; o crescimento de Joaquim Barbosa (PSB) e de Marina Silva (Rede); a estagnação de Jair Bolsonaro (PSL); e o fraco desempenho de Geraldo Alckmin (PSDB).

Mas o Datafolha tem uma série de outros dados que pouca gente viu e que ajudam a entender como a sucessão eleitoral possivelmente se desenrolará. Por exemplo: o apoio de Lula pode levar outro candidato ao segundo turno, mas também ameaça tirar a chance de vitória desse concorrente. E mais: quais regiões Lula vence e em qual delas perde? Qual o segmento do eleitorado mais lulista? E o mais bolsonarista? E também: que candidatos têm maior potencial de crescer?

A Gazeta do Povo elaborou uma lista com oito pontos do Datafolha que quase ninguém prestou atenção, mas que podem mudar o rumo da campanha e definir a eleição.

1) Ter o apoio de Lula é como ganhar na loteria? Só no 1.º turno. No 2.º, a história é diferente...

Um dos resultados mais comentados da pesquisa Datafolha é que dois a cada três eleitores de Lula (PT) dizem que votariam no candidato indicado pelo ex-presidente se ele não puder concorrer na eleição. Como o petista tem entre 30% e 31% das intenções de voto, isso significaria cerca de 20% dos votos. Numa eleição com tantos candidatos, pode ser um porcentual suficiente para levar alguém ao segundo turno.

Dentre os eleitores em geral, o porcentual é ainda maior: 30% dizem que votariam com certeza no candidato apoiado pelo petista. Esse patamar de votos colocaria o candidato de Lula no segundo turno.

Mas o toque de Midas de Lula só teria valor no primeiro turno. No segundo, é provável que uma “maldição” se abatesse sobre esse candidato. Isso porque o mesmo Datafolha indica que 52% dos eleitores dizem que não votariam de jeito nenhum num candidato apoiado pelo ex-presidente. Esse patamar de rejeição inviabilizaria a vitória desse concorrente. Qualquer porcentual acima de 50% (metade do eleitorado) impede que alguém se eleja presidente.

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2) Só um candidato não tem chance nenhuma de vitória

Falando em candidaturas inviáveis, um único nome colocado na pesquisa Datafolha não tem nenhuma chance de vitória: o presidente Michel Temer (MDB). A rejeição a Temer é de 64% dos eleitores. Todos os demais candidatos têm rejeição abaixo da metade do eleitorado – e, teoricamente, chances de vitória.

Temer, aliás, também é um péssimo cabo eleitoral: 86% dizem que não votariam em nenhuma hipótese no candidato que ele venha a apoiar.

Com esses dados em mãos, é provável que Temer desista de sua candidatura. E qualquer candidato que seja viável eleitoralmente não queira seu apoio em hipótese alguma.

3) Joaquim Barbosa e Alvaro Dias são os que mais têm chance de conquistar novos eleitores

O índice de rejeição mostra o potencial de crescimento na campanha. Quanto mais rejeitado, menos chance tem de conquistar novos eleitores e vice-versa.

Nesse sentido, quem menos pode crescer, depois de Michel Temer, é Fernando Collor (PTC). Ele tem rejeição de 41%. Na sequência, vem Lula – com 36% de eleitores que dizem que não votariam nele de jeito nenhum. Depois, estão Jair Bolsonaro (PSL, 31% de rejeição), Geraldo Alckmin (PSDB, 29%), Ciro Gomes (PDT, 23%) e Marina Silva (Rede, 22%).

Dentre os principais nomes da pesquisa, Joaquim Barbosa (PSB) é o menos rejeitado, por 12% dos eleitores. Alvaro Dias (Podemos) também tem rejeição baixa: 16%.

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4) País seguirá polarizado entre esquerda e direita , mesmo com Lula fora da disputa

Mesmo sem o ex-presidente Lula na disputa eleitoral, o país seguirá fortemente polarizado entre esquerda e direita. A soma das intenções de voto nos concorrentes de partidos de esquerda e centro-esquerda fica ligeiramente acima da soma dos candidatos da direita e centro-direita. Mas há um empate técnico, dentro da margem de erro da pesquisa, de dois pontos porcentuais para mais ou para menos.

Num dos cenários mais prováveis sem Lula na disputa, os candidatos da esquerda ou centro-esquerda – Marina Silva (Rede), Joaquim Barbosa (PSB), Ciro Gomes (PDT), Fernando Haddad (PT) e Manuela D’Ávila (PCdoB) – têm juntos 37% das intenções de voto.

Os concorrentes da direita ou centro-direita – Jair Bolsonaro (PSL), Geraldo Alckmin (PSDB), Alvaro Dias (Podemos), Fernando Collor (PTC), Henrique Meirelles (PMDB), Marco Maia (DEM), João Amoêdo (Novo) e Flávio Rocha (PRB) – somam 35%.

Os dados indicam que há uma grande chance de o segundo turno da eleição ser disputado entre representantes dos dois polos políticos.

5) Lula perde em uma região brasileira. E vence em outras quatro

O principal polo anti-Lula do país, neste momento, é o Centro-Oeste. Das cinco regiões brasileiras, é a única onde o ex-presidente não lidera. Lá, Jair Bolsonaro (PSL) está à frente, com 25% das intenções de voto. Lula tem 23% – o que significa que há um empate técnico, já que a margem de erro da pesquisa é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos.

Lula também não tem vida fácil no Sudeste e no Sul. Está na liderança nas duas regiões, mas numa situação de empate técnico com Bolsonaro: 22% a 18% no Sudeste; e 21% a 18% no Sul.

O petista só tem folga no Norte e no Nordeste. No Norte tem 36% contra 18% de Bolsonaro. No Nordeste, Lula faz impressionantes 51%. Marina Silva (Rede), a segunda colocada nessa região, tem apenas 8% das intenções de voto.

A divisão regional de votos possivelmente levará os candidatos a escolher o vice de uma região em que não estão bem colocados nas pesquisas. Também ajudará a traçar a estratégia de campanha: consolidar o eleitorado onde já está bem ou investir onde vai mal?

6) Candidatos têm bom desempenho na região em que moram. Mas Alckmin...

Quase todos os principais candidatos vão bem na região em que moram ou representam. No Norte, a acreana Marina Silva (Rede) é a terceira em intenções de voto (com 15%), atrás de Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PSL).

O melhor desempenho do paranaense Alvaro Dias (Podemos) e da gaúcha Manuela D’Ávila (PCdoB) é justamente no Sul: ele chega a 16% (terceiro colocado) e ela triplica suas intenções de voto que tem em todo o país (chegando a 6%).

O cearense Ciro Gomes (PDT) é um caso à parte. É o quarto no Nordeste num cenário com Lula (chega a apenas 6%). Mas, se o petista sai da disputa, ele sobe para a segunda posição, com 15%, num empate técnico com Marina – que fica com 16%.

O paulista Geraldo Alckmin (PSDB) talvez seja a principal exceção à regra. É o quinto no Sudeste (com apenas 10%) num cenário com Lula. Sem o petista, não cresce quase nada e fica com 11%, num empate com Joaquim Barbosa (PSB) e atrás de Bolsonaro (19%) e Marina (14%).

O mau desempenho de Alckmin em sua própria região é um sinal de alerta desde já para sua campanha.

7) Alckmin não é bem quisto nem pelo eleitorado “tucano”

A situação de Geraldo Alckmin (PSDB) é tão ruim no Datafolha que até, mesmo entre os “tucanos”, ele não vai bem. Dentre os brasileiros que dizem que o PSDB é seu partido de preferência, apenas 25% escolheriam votar no ex-governador de São Paulo se a eleição fosse hoje. Bolsonaro (PSL) chega a 23% no segmento do eleitorado simpático ao PSDB.

Um dado comparativo mostra como o apoio a Alckmin entre o eleitorado do PSDB é baixo. Lula foi escolhido por 70% dos eleitores que dizem preferir o PT como partido.

LEIA TAMBÉM: Datafolha mostra potencial de Joaquim Barbosa e indefinição para tucanos

8) Lula e Bolsonaro são o exato oposto nos segmentos de renda e escolaridade

Lula (PT) segue soberano no eleitorado de baixa renda e de menor escolaridade. Dentre os eleitores com renda familiar de até dois salários mínimos mensais, ele tem 39% contra 11% de Marina Silva (Rede) e 9% de Jair Bolsonaro (PSL). Já entre os brasileiros que têm apenas o ensino fundamental, o ex-presidente tem 38% contra 9% de Marina e 7% de Bolsonaro.

Bolsonaro é o exato oposto. Ele lidera entre os eleitores com ensino superior (21% contra 20% de Lula e 15% de Joaquim Barbosa). E faz 29% no segmento de brasileiros com renda familiar acima de dez salários mínimos. Lula tem 18% de intenções de voto dentre os mais ricos. E Joaquim Barbosa (PSB) vem logo atrás, com 12%.

A divisão de votos por segmento de renda e escolaridade fará os candidatos “calibrarem” seus discurso, sobretudo para conquistar a maior faixa do eleitorado, que hoje está com Lula.

Leia a íntegra da pesquisa DatafolhaLeia a íntegra da pesquisa Datafolha

JOAQUIM BARBOSA NÃO É “EXPRESSÃO DE CENTRO”, MAS “CAVALO DE TROIA” DA ESQUERDA (por rodrigo constantino)

O presidente do PSB, Carlos Siqueira, avalia que o resultado da pesquisa Datafolha, divulgada neste domingo (15), mostra o potencial da candidatura do ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa à Presidência da República.

De acordo com a pesquisa, o ex-presidente do STF aparece em terceiro ou quarto colocado na disputa pelo Palácio do Planalto. A depender de quem são seus concorrentes, ele detém entre 8% e 10% das intenções de voto.

“Avaliamos que a candidatura dele tem potencial muito grande. Inclusive, muito maior se considerarmos que a população ainda não está bem informada sobre candidatura”, afirmou Siqueira à reportagem.

Para ele, o resultado do Datafolha é “animador”. “Alguns postulantes estão há meses (na disputa) ou há mais de um ano, e estão igual ou abaixo (do ministro).”

No Painel da Folha, ao se comentar o mesmo caso, destaca-se Barbosa como “expressão de centro”:

O desempenho de Joaquim Barbosa (PSB) no Datafolha chamou a atenção de expoentes da esquerda e da direita. Por ter alcançado até 10% das intenções de votos sem nem sequer ter se declarado candidato ao Planalto, despertou nos rivais o temor de que, em campanha, consiga se transformar na “expressão do centro”.

O PSB encomendou pesquisa na qual apresentará ao eleitor, além do nome, a foto de Barbosa. Acredita que, assim, o ex-presidente do STF obterá pontuação ainda maior.

Que Joaquim Barbosa tem condições de crescer ninguém duvida. Ele tem baixa rejeição, é associado ao combate à corrupção por conta do mensalão, mesmo tendo abandonado o cargo antes do tempo, possui apelo às minorias e adota discurso “progressista” alinhado com o que deseja a grande imprensa. Mas chama-lo de “expressão de centro”? Aí já é demais!

Barbosa só é “centro” num país que aboliu a direita do espectro político. Só é “centro” para quem acha que tucanos do PSDB são de direita. O sujeito teria votado em Lula e Dilma, adota discurso claramente esquerdista, foi contra o impeachment, que chamou de “tabajara”, e nunca demonstrou muito apreço ou respeito pela liturgia do cargo que ocupou, deixando transparecer certo desprezo pelos valores republicanos. Eis a opinião de Barbosa sobre o impeachment de Dilma:

Se Joaquim Barbosa é de centro, quem é de esquerda? Guilherme Boulos e Manuela D’Ávila? Só num país que aboliu a extrema-esquerda! Para nossos “formadores de opinião”, qualquer um à esquerda, por mais radical que seja, será apenas “esquerda”, qualquer um de centro-esquerda será “direita”, e qualquer um à direita da social-democracia será “extrema direita”. É assim que funciona a tática de jogar o “centro” cada vez mais para a esquerda.

Alexandre Borges ironizou em seu Twitter: “Joaquim Barbosa é centro aonde? É como dizer que o Neto da Band é isento num Corinthians x Palmeiras”. Esses jornalistas que tentam enganar seu público e simular uma “imparcialidade” que não possuem estão sendo desmascarados um a um, graças às redes sociais e a eventuais gravações vazadas. O que mais me chocou no caso Chico “Lula” Pinheiro, por exemplo, sequer foi seu petismo apaixonado, mas a quantidade de gente que ficou surpresa!

Joaquim Barbosa é perigoso sim, tem competitividade. Mas não é de centro nem aqui, nem na China. É um cavalo de Troia colocado na disputa pela esquerda, que tenta emplacar alguém mais de fora, um “outsider”, para capturar essa onda de indignação com o establishment “progressista”. Na mídia Barbosa será tratado como centrista moderado. Felizmente temos as redes sociais, para mostrar que se trata de um esquerdista com postura um tanto radical…

Rodrigo Constantino

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Fonte:
Gazeta do Povo

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1 comentário

  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    Sr. João Batista, meus olhos cansados veem uma avalanche de artigos comentando a pesquisa do Datafolha sobre a intenção de votos aos pré-candidatos à Presidência da República.

    Mas alguma coisa está me incomodando. Nós não vivemos sob um regime de Democracia Representativa?

    O foco está no Poder Executivo, mas nada se fala sobre o Poder Legislativo, no caso os pré-senadores, deputados federais, estaduais.

    Como devemos votar para "limpar" essa pústula do sistema? Qualquer medida importante do executivo federal tem que ter o "consenso" do Congresso e, segundo dizem é ali que a "porca torce o rabo", ou a mídia nos tem enganado quando diz que o "centrão" está negociando cargos para apoiar o governo.

    Uma frase que martela meus velhos miolos foi dita por um dos asseclas daquele que se encontra preso na Superintendência da Policia Federal em Curitiba: "EU QUERO AQUELA DIRETORIA QUE FURA POÇO"... referindo-se a Diretoria da Petrobrás, onde foi "instalado" um dos dutos do propinoduto. O final da história é de conhecimento até das pedras portuguesas do calçadão de Copacabana.

    Por favor, o senhor tem o poder de comunicar-se com um número grande de pessoas e, possui uma didática da comunicação. Use-a a serviço do Brasil...

    .... "E VAMOS EM FRENTE" ! ! ! ....

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    • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

      Sr. Rensi, isso é só o começo do que vem por aí. A verdadeira campanha de destruição do capitão Bolsonaro mal começou. Ela começa pelas beiradas. Não podemos esquecer que o poder é o povo e não esses políticos que pensam ser donos do Brasil.

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    • Virgilio Andrade Moreira Guaira - PR

      Creio que tudo será definido no segundo turno, por exclusão ou escolhendo o """"menos pior """" !

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    • DOMÊNICO ANTONIO PERTILE Horizontina - RS

      Srs., como está havendo um grande numero de candidatos ao planalto acredito que isto vai trazer grande oportunidade de Bolsonaro ganhar no primeiro turno, pois quem quer mudança não vai votar nos nomes que já foram usados, que DEUS nos abençoe, BOLSONARO neles...

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