"E se o confronto violento for exatamente o que Lula deseja?", por RODRIGO CONSTANTINO
Antes de mais nada, gostaria de deixar claro que entendo o sentimento de total revolta da população brasileira. Digo mais: eu nãoentendo quem não está revoltado, indignado, querendo Justiça a qualquer custo. O escárnio com o qual nossas “autoridades” tratam a população ordeira é total, e quando até o STF vira uma espécie de puxadinho do PT, é óbvio que o sangue sobe à cabeça e o desespero bate com a completa descrença em nossas instituições.
Dito isso, precisamos ser inteligentes, reagir com a cabeça também, e não só com o fígado. Por mais que uma militância movida pela revolta tenha seu papel, o jogo é de xadrez, não de MMA. Por isso escrevi um texto, logo depois da vergonhosa decisão dos ministros do STF, explicando que compreendo a transformação de pessoas normalmente moderadas em “revolucionários”, mas concluí que era preciso cuidado.
Fiz isso mesmo sabendo que o apelo não seria muito popular entre meu público. Não queria simplesmente jogar gasolina no incêndio ou atiçar a turba ensandecida. Não é meu papel, minha personalidade, mas não foi “só” por isso: entendo que tal reação pode sair pela culatra, pode ajudar nossos inimigos, os inimigos do Brasil. Eu temia o uso, pelo lado de lá, de qualquer episódio mais violento para eles fazerem o que sempre fizeram: bancar a vítima.
E não deu outra! Perguntemos uma coisa: por que Lula escolheu o sul, logo o sul, para sua “caravana”? Por que não o nordeste, onde tem algum apoio remanescente? Ele pode ser canalha, bandido, mas não é burro. Ele sabe que haveria hostilidade no sul, região mais esclarecida na média. Ainda assim resolveu testar sua popularidade em Santa Catarina? Não parece absurdo aventar a possibilidade de que ele desejava uma reação violenta, não é mesmo? Era esse tipo de manchete e reportagem que ele queria, com toda probabilidade:
POSANDO DE VÍTIMA
O fim de semana da caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Sul do país foi marcado por confrontos e atos violentos contra a comitiva do petista. Depois de pedras terem sido lançadas sábado à noite contra o palco em que Lula fazia discurso em Chapecó, Santa Catarina, na tarde de domingo um grupo aguardou a chegada do comboio em Nova Erechim (SC) lançando ovos contra os carros. Para deixar Chapecó (SC), no fim da noite de sábado, a comitiva teve de mudar de rota. Grupos ligados ao PT reagiram às manifestações e partiram para confrontos nas duas cidades.
No sábado, antes mesmo de Lula chegar a Chapecó (SC), houve confrontos na praça da cidade entre militantes petistas e grupos anti-Lula com ovos, pedras e rojões. No ato, Lula reagiu dizendo que não quer briga, mas também não vai fugir dela. A caravana está marcada para terminar na próxima quarta-feira, em Curitiba, onde está marcado um ato de petistas.
Em sua conta no Twitter, após a passagem por Chapecó, o ex-presidente chegou a pedir uma trégua: “Um abraço, Chapecó! Um beijo e até mais se Deus quiser. Um conselho: não vamos ficar raivosos. E fascistas: aprendam a viver em democracia. O ódio não leva a nada”.
Percebem como o bandido chefe de quadrilha conseguiu, uma vez mais, inverter tudo e posar de vítima contra os “fascistas movidos por ódio”? E isso ajuda na luta por um Brasil melhor? Sei que tem alguns “revolucionários de botequim” à direita também, achando que são a nova encarnação de Robespierre e repetindo que acabou a fase de conversa, que não temos mais instituições democráticas funcionando, que é hora de partir para o “tudo ou nada”. Eles querem liderar uma revolta armada, uma desobediência civil violenta, do conforto de suas casas, sustentadas por seus pais, escrevendo no Facebook?
Não caiam nessa! É tudo que o PT quer! É exatamente o que Lula deseja. Repito: entendo perfeitamente o clima de anomia, a sensação de que não há nada mais a fazer pelas vias normais, e não acho louco quem começa a clamar por “intervenção militar”. Acho mais maluco – ou desonesto – quem repete que nossas instituições estão funcionando “perfeitamente”.
Mas ainda é possível mudar a situação sem tocar o terror, sem aderir aos métodos dos próprios inimigos. Se esse for o caminho, o que nos diferencia deles? Os nobres fins? Não é justamente isso que sempre levou ao caos quando a esquerda assume o poder?
Claro, alguém poderá dizer que é fácil eu falar isso morando fora do Brasil, e é verdade. Mas o fato de estar mais afastado também me ajuda a enxergar o “big picture” com um pouco mais de tranquilidade, evitando conclusões precipitadas e produzidas pelo estômago, não pelo cérebro. Se o Brasil estiver na iminência de virar uma nova Venezuela, serei o primeiro a jogar a toalha e pregar o “vale tudo”. Mas não estamos lá. Enxotamos o PT do governo por um impeachment histórico, possível justamente graças aos milhões que tomaram pacificamente as ruas, pressionando os governantes.
E é isso que temos que fazer novamente: tomar as ruas, ocupar o espaço público com milhões de patriotas, cobrando mudanças, mostrando que não vamos aceitar calados e passivos o abuso de poder arbitrário dessa gente podre de toga. Eles precisam saber que, se insistirem nessa palhaçada, poderá haver, sim, até mesmo uma guerra civil no Brasil. Parece que estão quase pedindo isso! Que sintam a pressão como sentiram na época do impeachment.
Mas jogar pedras e ovos na comitiva do bandido não vai ajudar nesse sentido. Ao contrário: vai reforçar a narrativa cafajeste dos comunistas, de que Lula é um perseguido, alvo do ódio dos “fascistas” que não toleram a democracia. Por que entregar de bandeja esse discurso a ele?
Muito mais inteligente, creio, é aderir à maratona organizada pelo MBL e demais movimentos, espalhar o convite, lotar as ruas e mostrar que estamos atentos, que estamos unidos, e que não vamos aceitar que o Brasil vire uma republiqueta das bananas:
Os recentes ataques “inexplicáveis” ao MBL na mídia, aliás, mostram bem de que lado a grande imprensa está. A mesma que adora dar destaque quando o PT é atacado, mas não costuma dar tanta importância quando o PT ataca. Conhecendo o modus operandi da turma, é preciso ser mais inteligente para não cair em suas armadilhas. Pensem nisso!
Rodrigo Constantino
Corretivo no elemento? (POR ELIANE CANTANHÊDE, NO ESTADÃO)
O ex-presidente Lula saiu da sua zona de conforto e foi se meter na Região Sul, onde a recepção à sua caravana tem sido bastante diferente da que encontrou no Nordeste. Pedras, ovos, gritos e estradas bloqueadas estão mostrando não só a irritação contra Lula e o PT, mas também o grau de radicalização da campanha, que tende a piorar.
Soou estranho, até uma provocação, Lula sair em caravana no Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina justamente quando o TRF-4, de Porto Alegre, estaria confirmando a sua condenação a 12 anos e 1 mês. Primeiro, porque ele se pôs perigosamente próximo ao palco da decisão. Segundo, porque o Sul é refratário a Lula – e não é de hoje. Terceiro, porque a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que está na primeira fila das ações no STF, é do Paraná.
Rejeite-se qualquer tipo de violência e agressividade contra candidatos, que pode ir num crescendo e acabar virando uma nova modalidade de guerra de torcidas que, nos estádios, já coleciona feridos e mortos. Se Lula sobe no palanque antes da hora (e a Justiça Eleitoral não vê nada de mais), deixa o homem falar. Ouve quem quer.
Feita a ressalva, preocupa também a reação de Lula, que não poupa ameaças de revide e, em São Miguel do Oeste (SC), recorreu a uma expressão nada democrática ao atiçar a polícia para entrar na casa de um manifestante e “dar um corretivo” nele. Como assim? Invadir a casa do cidadão? Dar um corretivo? Lula quer que a PM encha o “elemento” de pancada?
Pela força, simbologia e significado, vale a pena transcrever a fala do ex-presidente, que, um dia, décadas atrás, já foi alvo da polícia por defender a democracia e os direitos dos trabalhadores: “Tem um canalha esperando que a gente vá lá e dê uma surra nele. A gente não vai fazer isso. Eu espero que a PM tenha a responsabilidade de entrar naquela casa, pegar esse canalha e dar um corretivo nele”.
Os petistas e seus satélites nunca jogaram ovo em ninguém? Nunca atiraram pedra em protestos contra adversários? E Lula nunca ameaçou convocar o “exército do Stédile”, referindo-se a João Pedro Stédile, do MST? Então, é aquela velha história: pimenta nos olhos dos outros...
Se a campanha oficial nem começou e já chegamos à fase de ovadas e pedradas, o risco é a eleição sair do controle, estimulada pelo excesso de candidatos versus a falta de ideias e programas, pelos processos, condenações e salvos-condutos envolvendo um ex-presidente que é o líder das pesquisas.
Uma coisa não está clara, mesmo quando se lê o noticiário: quem são os que protestam contra Lula na Região Sul? Eles são vinculados a algum setor, igreja, movimento? E estavam ou não a serviço de uma outra candidatura e partido? Espontaneamente ou a soldo? Na versão de petistas, eles são da “extrema direita”. Apoiadores de Jair Bolsonaro, por exemplo?
Uma coisa é protesto contra mensalão, petrolão, triplex, sítio... Outra é o surgimento de milícias movidas a ideologia que querem confronto e pavor. Ainda mais depois de Gleisi dizer que, “para prender o Lula, vai ter que matar gente”.
Ela falou isso quando a condenação de Lula já conduzia à conclusão lógica – e jurídica – de que ele acabaria sendo efetivamente preso. Só não foi, frise-se, por um salvo-conduto do STF que contraria o próprio entendimento do STF autorizando a prisão após segunda instância.
Se um lado ameaça com cadáveres e esmurra repórteres, enquanto outro reage com ovos e pedras, será eleição ou guerra campal?
(In)coerência. Os indignados com O Mecanismo, de José Padilha, são os mesmos que aplaudiram a cadeira “O Golpe de 2016”, na UnB, uma universidade pública. É a história da pimenta, de novo...
1 comentário
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Sr. Rodrigo Constantino concordo com você, não podemos jogar pedras na caravana do Lula, mas ovo podemos sim..., se não fosse o STF essa criatura já teria sido presa ...,se dia 04/04 os ministros do STF não cancelar o HC, aí vai causar muita violência !