Preços de alimentos têm primeira alta após sete meses de deflação, mas ainda há itens em queda

Publicado em 10/01/2018 20:05
Feijão, cenoura e cebola são exemplos de produtos ainda com recuo

Os preços de alimentos subiram 0,54% em dezembro, a primeira alta depois de sete meses seguidos de deflação. Em novembro, a deflação havia sido de 0,38%. Apesar da aceleração, ainda há itens com preços em queda, como feijão, cenoura e cebola. O desempenho pressionou a inflação geral de dezembro, que fechou em 0,44%, a maior taxa mensal de 2017, a despeito do resultado de 2017, o menor em duas décadas.

A alta de 0,54% foi puxada pelo desempenho de frutas (1,33%), frango (2,04%) e pão francês (0,67%). Por outro lado, outros itens mantiveram a tendência de deflação. A maior queda de preços foi do feijão-carioca, com recuo de 6,73% em dezembro e de 46,06% no ano de 2017. Já o preço da cenoura caiu 5,56% em dezembro, embora avance 18,24% no ano, e o do feijão-mulatinho recuou 4,35% — no ano a queda foi de 44,62%.

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Presidente do BC nega que recessão tenha derrubado inflação (O Antagonista)

Em entrevista coletiva, Ilan Goldfajn, presidente do BC, negou que a inflação no país tenha caído por causa da recessão –em 2017, o IPCA ficou em 2,95%, abaixo do piso da meta.

Para Ilan, a recessão começou a ser revertida a partir da melhora nas expectativas inflacionárias.

“Não é que a recessão gerou inflação baixa, mas sim que a mudança na inflação nos ajudou a sair da recessão”, disse o chefe do Banco Central.

Sem choque de alimentos, inflação de 2017 ficaria no centro da meta, diz BC  (FOLHA DE S. PAULO)

Em carta ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, justificou que a inflação oficial do ano passado ficou abaixo do piso da meta principalmente por conta da forte queda no preço dos alimentos.

No texto, divulgado nesta quarta-feira (10), Goldfajn afirma que o choque dos alimentos representou 83,9% do desvio do IPCA verificado em 2017,que foi de 2,95%, em relação ao piso da meta para o ano, de 3%.

O objetivo para 2017 era de 4,5%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo.

O texto lembrou que a queda de preços do grupo "alimentação no domicílio" foi de 4,85% no ano passado, a maior deflação da série histórica do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), iniciada em 1989.

"A razão principal de o IPCA ter ficado abaixo da meta de 4,5% foi o item que está fora do controle do BC, que é a inflação de alimentos", disse Goldfajn em entrevista a jornalistas. "Os alimentos tiveram uma deflação de 4,85% no ano passado, o que é uma boa notícia para a população".

Se esse grupo for excluído dos dados, a inflação chegaria a 4,54%, "valor muito próximo à meta de inflação para 2017".

"O comportamento dos preços de alimentos refletiu, preponderantemente, as condições de oferta, que permitiram níveis recordes de produção agrícola", afirma Goldfajn na carta.

O presidente do BC explicou que a autoridade monetária não reagiu a essa redução com elevação de juros porque não cabe ao banco inflacionar os preços sobre os quais têm mais controle para controlar choque no preço de alimentos.

"Do ponto de vista dos princípios da política monetária, o BC tem que deixar os preços de alimentos caírem, e não combater esses preços subindo os outros. Essa queda tem que ser permitida, e não inflacionar o resto para compensar", disse Goldfajn a jornalistas.

"O Banco Central do Brasil (BC) seguiu os bons princípios no gerenciamento da política monetária e não reagiu ao impacto primário do choque. Não cabe inflacionar os preços da economia sobre os quais a política monetária tem mais controle para compensar choques nos preços de alimentos".

     
 

CALIBRAGEM

Goldfajn ainda afirmou que a inflação já se encontra na direção da meta para 2018, que também é de 4,5%, com intervalo de tolerância para cima e para baixo.

De acordo com o presidente do BC, as projeções do mercado já apontam que, no final do primeiro trimestre deste ano, a inflação atingiria 3,2%, "situando-se, portanto, acima do limite inferior do intervalo de tolerância da meta".

"Portanto, o BC tem tomado as providências para que a inflação atinja as metas para a inflação estabelecidas pelo CMN, de 4,5% para 2018, 4,25% para 2019 e 4% para 2020. O processo de flexibilização monetária continuará dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, de possíveis reavaliações da estimativa da extensão do ciclo e das projeções e expectativas de inflação."

"Já estamos em direção à meta de 2018", disse o presidente do BC a jornalistas. "Sabemos que a inflação em algum momento já chegou a um valor menor, e já está em fase de subida. Acreditamos que ao longo do ano de 2018 vamos subindo gradativamente, à medida que a conomia se recupera, e terminaremos o ano perto da meta de 4,5%."

Goldfajn afirmou durante a entrevista que, apesar da previsão de aumento da inflação neste ano, essa alta será benéfica, já que estará associada à retomada do crescimento e do emprego.

O presidente do BC rebateu as críticas de que a autoridade monetária poderia ter começado a reduzir os juros mais cedo, o que permitiria o cumprimento da meta.

"Há uma crítica: se a inflação ficou baixa, [o BC] poderia reduzir os juros mais cedo? Nossa visão é outra, que foi a nossa atuação no começo que propiciou a inflação mais baixa. A mudança nas expectativas do mercado foi importante, se esperava uma inflação de 5% a 6%, e isso começou a cair, devido à firmeza da política monetária".

Ele declarou ainda que o BC optou por não arredondar os 2,95% para 3%, o que evitaria a necessidade de escrever a carta.

"Se você arredondar, usar a metodologia científica, 2,95% dá 3%. Mas não queremos perder essa oportunidade de prestar contas", disse."Inflação baixa é boa, não tem nada de errado. Foi a menor inflação em muitos anos, a segunda menor da história. Foi bom para a população".

Goldfajn declarou ainda que o BC ainda decidirá se mudará seu cenário para a política monetária depois da inflação de dezembro, que veio maior que a esperada.
"Não estamos no momento de reavaliar. Vamos fazer isso no momento apropriado, vamos ver a inflação que está surgindo, tudo isso será ainda avaliado".

ENTENDA

Esta foi a primeira vez que a meta foi descumprida "para baixo" desde que foi criado o sistema de metas de inflação, em 1999.

A meta de inflação é de 4,5%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo.

Por isso, se a inflação fica abaixo de 3%, o BC tem que justificar o motivo do descumprimento do objetivo fixado pelo próprio governo, além de detalhar quais as providências tomadas para que a inflação volte ao patamar fixado pelo CMN (Conselho Monetário Nacional).

Isso tem que ser feito através de uma carta do presidente do Banco Central ao presidente do CMN, que é o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

Desde 1999, a inflação ficou fora dos limites fixados em 2001, 2002, 2003 e 2015, mas sempre em um cenário de variação de preços excessiva, nunca o contrário.

A última vez que essa banda não foi cumprida, em 2015, a inflação oficial ultrapassou os 10% no final do ano. O teto era de 6%. 

Chuva surpreende e conta de luz pode ter 1° tri de bandeira verde, sem taxa extra

SÃO PAULO (Reuters) - Chuvas surpreendentemente positivas no início de 2018 têm impulsionado uma virada de expectativas entre especialistas em energia, que agora apontam a possibilidade de uma recuperação mais rápida nos reservatórios das hidrelétricas, principal fonte de energia do Brasil, com impacto direto nos custos da eletricidade.

O cenário mais favorável deve permitir que as contas de luz dos brasileiros sigam ao menos durante todo o primeiro trimestre com a chamada bandeira tarifária verde, que significa condições favoráveis de geração e não gera custos adicionais para os consumidores.

Na reta final de 2017, a bandeira tarifária foi vermelha, impactando os consumidores com um custo extra de até 5 reais a cada 100 kilowatts-hora em eletricidade. Na época, havia previsões de que um período de chuvas abaixo da média histórica poderia levar à continuidade das cobranças adicionais em 2018.

"Acredito fortemente que janeiro, fevereiro e março terão bandeira verde, ainda mais se continuarem essas afluências... vai aliviar a conta, ao contrário do que estava acontecendo no último trimestre de 2017", disse à Reuters o diretor comercial da Energética Comercializadora, Laudenir Pegorini.

As bandeiras tarifárias geram cobranças adicionais quando no patamar amarelo ou vermelho, enquanto a bandeira verde, já anunciada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para janeiro, não traz custos extras.

"A perspectiva do mercado é que nos próximos meses teremos bandeira verde. Para sair disso teria que mudar completamente o cenário hidrológico", reforçou o presidente da FDR Energia, Erik Azevedo.

GRANDES CONSUMIDORES

As chuvas acima da média na região das hidrelétricas do Sudeste e uma melhoria em um quadro hídrico até então crítico no Nordeste também impactaram os preços no chamado mercado livre de eletricidade, em que grandes clientes, como indústrias, negociam contratos com geradores ou comercializadoras ao invés de serem atendidos por distribuidoras de energia.

Contratos de energia para o primeiro trimestre do ano têm sido negociados atualmente a cerca de 145 reais por megawatt-hora, contra 220 reais na reta final de 2017, disse o sócio da comercializadora Compass, Gustavo Arfux.

"A condição de janeiro por enquanto está favorável, a chuva está encaixando (caindo nos pontos certos) e a gente está vendo os preços caírem", disse.

A mudança no cenário de preços tem gerado liquidez no mercado de eletricidade, com empresas buscando fechar contratos para aproveitar a redução das cotações, afirmou o presidente da plataforma de eletrônica de negociação de energia BBCE, Victor Kodja.

Segundo ele, a BBCE já negociou cerca de 1.277 megawatts médios em contratos em janeiro, contra apenas 400 megawatts no mesmo mês do ano passado e uma média de 2 mil megawatts por mês ao longo de 2017.

"As chuvas vieram acima da expectativa do mercado e isso gerou uma certa volatilidade... os preços variaram bastante, caíram de forma significativa, e isso trouxe até uma movimentação para a plataforma que não é comum nessa época do ano", afirmou.

As precipitações na área das hidrelétricas do Sudeste até a terça-feira representaram 101 por cento da média histórica para o mês de janeiro e 156 por cento da média no Sul, enquanto no Nordeste houve uma recuperação para 50 por cento da média, contra níveis entre 20 e 30 por cento na maior parte de 2017, segundo dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).

Números da CCEE ainda mostram que as chuvas têm possibilitado uma recuperação mais rápida que a prevista nos reservatórios do sistema elétrico brasileiro, que podem fechar janeiro com 34 por cento da capacidade de armazenamento, contra menos de 24 por cento no começo do mês e 27 por cento nesta semana.

A capacidade de armazenamento fechou janeiro de 2017 em quase 38 por cento. No ano passado, o Brasil teve bandeira verde em janeiro e fevereiro. Em março, consumidores enfrentaram bandeira amarela.

 

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Fonte:
O Globo

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