"Preocupação ambiental com a ‘destruição’ dos Cerrados encerra falso problema" (Alysson Paulinelli/Antonio Licio)

Publicado em 31/12/2017 09:12
Os limites da agricultura no Brasil (artigo em O Estado de S. Paulo)

Em 8/11/2012, há cinco anos, em palestra, abordamos o tema Limites da Agricultura e prognosticávamos que as áreas novas para lavouras nos Cerrados brasileiros estavam prestes a se esgotar, e assim em todo o Brasil: “Embora nós, que trabalhamos com a agricultura, sentíssemos que estávamos perto de atingir os limites de expansão horizontal – áreas novas –, não esperávamos estar virtualmente esgotados, especialmente nos Cerrados da região central, fonte principal de crescimento nos últimos 30 anos e de esperanças futuras. Nossos estudos revelaram que não restam mais do que 7 milhões a 8 milhões de hectares de Cerrados – num total de 192 milhões, dos quais 88 milhões estão ocupados por pastagens e lavouras e mais de 100 milhões de hectares, com reservas e áreas urbanas. Se compararmos ao nível de expansão dos últimos cinco anos (1,5 milhão hectare/ano, parte originária de pastagens), em cerca de cinco anos as áreas dos Cerrados estarão esgotadas”.

E aconteceu. Passados estes cinco anos, os resultados para 2016 mostram que restaram somente cerca de 1 milhão de hectare em condições “aptas 1”: nos Cerrados do Maranhão (500 mil), no norte de Goiás (400 mil) e em Tocantins (menos de 100 mil). Cerca de 2 milhões de hectares no norte de Mato Grosso, também disponíveis, têm precipitações acima de 2 mil mm/ano, impróprias para a produção de grãos.

A técnica aplicada para essa medição baseou-se em tomar as microrregiões do IBGE inseridas no bioma Cerrados, tal como definido pela Embrapa e o próprio IBGE, e em cada uma delas levantar por georreferenciamento: 1) declividades dos terrenos maiores e menores que 12%; e 2) precipitações pluviométricas maiores que 1.200 mm/ano e idem para limites entre 800-1.200 mm/ano e abaixo de 800 mm/ano. As áreas com declividades menores que 12% e precipitações acima de 1.200 mm/ano foram consideradas “aptas 1” para lavouras de grãos; menores que 800 mm, “inaptas” para qualquer atividade sem irrigação; e com declividades maiores que 12% e/ou precipitações entre 800-1.200 mm/ano, “aptas 2”, de alto risco para lavouras, mas aceitáveis para pastagens. Desses resultados foram retiradas as áreas em uso, tais como as dos levantamentos anuais do IBGE, resultando nas disponibilidades potenciais.

Como ainda existem muitos hectares com pastagens de baixa produtividade em áreas “aptas 1”, a tendência será a conversão dessas áreas de pecuária para lavouras, como já vem acontecendo, empurrando as pastagens para as “aptas 2”, onde a tecnologia poderá ajudar a aumentar a eficiência.

Prevíamos, ainda, que expansões de lavouras a partir do esgotamento de áreas novas se dariam por meio de: 1) aumento de produtividade, principalmente via integração lavoura-pecuária; 2) substituição de pastagens de baixa eficiência; e 3) irrigação – esta incrivelmente relegada ou “proibida” por alguns agentes públicos supostamente defensores do meio ambiente. É o que acontecerá.

Alertamos, portanto, toda a sociedade brasileira de que a preocupação ambiental com a “destruição” dos Cerrados encerra, doravante, um falso problema. Fecharemos a contabilidade ambiental dos 192 milhões de hectares dos Cerrados com pouco mais de 90 milhões de hectares de pastagens e lavouras – cerca de apenas 50% da área total.

A sociedade precisa saber que estes mesmos Cerrados – conquistados pela tecnologia agrícola brasileira só a partir da década de 1970 – são hoje responsáveis pela metade da produção agropecuária brasileira (carnes, grãos, madeira plantada, café, cana) e foram indispensáveis para o brasileiro atingir o patamar de povo nutrido perante o mundo: 3.200 kcal/dia per capita e 85 kg de carnes/ano per capita, em média, níveis iguais aos europeus.

Foram, também, indispensáveis para a melhoria da nutrição de países superpopulosos como a China e por retirar de nossas preocupações macroeconômicas o recorrente fantasma das crises cambiais, que travaram nosso desenvolvimento em todos os ciclos de crescimento econômico, como 1973, 1981 e 1998, para citar os mais recentes. Todo este contexto tem propiciado ao Brasil crescimento econômico e bem-estar social nos últimos anos.

Soubemos pela imprensa, todavia, que o príncipe Charles, da Inglaterra, e seu séquito de organizações ambientalistas e mais 23 empresas multinacionais com fortes operações no Brasil, por nós muito conhecidas, reuniram-se em Londres em setembro para mobilizar uma campanha internacional contra produtos agrícolas brasileiros produzidos nos Cerrados, visando a impor “desmatamento zero” ao bioma. Acreditamos que as informações aqui citadas – provavelmente desconhecias por eles – serão suficientes para desmobilizar a empreitada anunciada.

Sugerimos, porém, aproveitar os esforços de mobilização desta gente e lembrar-lhes de que existe, somente na África Subsaariana, 600 milhões de pessoas famélicas, com renda menor do que US$ 2/dia, incapazes de produzir seu próprio alimento, embora com recursos naturais mais do que suficientes para tanto.

Iniciativas de incorporação de parte daquele continente (tão parecido com os Cerrados brasileiros) ao processo de produção de alimentos seriam fundamentais para a superação da fome local. Podemos ajudar e temos a tecnologia agrícola tropical, mas pessoas famintas são os maiores predadores do meio ambiente, como mostra a história recente de alguns países. E, infelizmente, não há ONG nem ética capazes de condená-las.

Temos estudos que revelam que com muito pouco (US$ 5 milhões para cada milhão de pessoas) é possível montar campos de produção de alimentos capazes de tirá-las da fome definitivamente, em vez de simples ajuda alimentar. Estas 23 empresas poderiam iniciar o processo, pelo menos para defender o ecossistema africano, já que alimentar seres humanos parece ser, para elas, “problema menor”.

*Respectivamente, engenheiro agrônomo, ex-ministro da Agricutura, ‘WORLD Food Prize-2006’, presidente da Abramilho; e economista, PH.D e consultor em Brasília.

Um voto decisivo, editorial do ESTADÃO

Estado ouviu diversos analistas políticos e econômicos para traçar os cenários de 2018, e a maioria dos comentários colhidos converge para a certeza de que a eleição presidencial terá um caráter decisivo, pois seu resultado pode colocar o Brasil de vez no trilho da recuperação econômica e das reformas ou pode condenar o País a um retrocesso populista do qual dificilmente se recuperará num futuro previsível. “É possível que nunca na história econômica do Brasil o curto prazo tenha tido tanta importância para definir o destino do País como agora”, opinou a economista Zeina Latif, dando o tom das preocupações que cercam o pleito presidencial. “Não há espaço para um governo medíocre em 2019.”

Ainda que seja tímida, é um sinal promissor a redução da resistência popular à reforma da Previdência, resultado da campanha do governo que corretamente chamou a atenção para o fato de que a manutenção do atual sistema só interessa à elite do funcionalismo público. Significa que, se tiver acesso a informações que os ajudem a compreender a necessidade de sacrifícios para o bem geral, os eleitores podem se tornar menos refratários às mudanças.

Assim, é preciso que haja candidatos dispostos não apenas a se apresentar como reformistas, mas que estejam genuinamente empenhados na defesa explícita das reformas, demonstrando didaticamente seu caráter urgente. É claro que subir no palanque com um discurso realista, que antecipe ao eleitor as dificuldades que estão por vir, requer muita determinação, pois do outro lado do embate estarão os demagogos e populistas de sempre, para os quais as soluções dos problemas nacionais são sempre fáceis – basta a vontade do presidente para que haja justiça social e desenvolvimento econômico.

Mas o momento do País exige clareza no discurso político, para que o eleitor saiba exatamente o que virá depois da votação. E o que virá, se o vencedor não for um irresponsável, certamente não será o paraíso que os políticos costumam prometer quando pedem votos.

Os candidatos que pretendem carregar a bandeira da responsabilidade fiscal e do crescimento econômico em bases sustentáveis, como premissas para o avanço consistente das condições sociais, devem se dedicar a convencer os eleitores de que não há conquista sem renúncia. É preciso conclamar o povo a participar desse esforço não como uma punição – traduzida no falso discurso da “perda de direitos” –, mas sim como passo necessário para a construção de uma sociedade madura. Ou, como escreveu o economista José Luis Oreiro, os problemas estruturais “precisam ser tratados com seriedade pelos candidatos à Presidência da República durante a campanha eleitoral de 2018”, pois “o Brasil não tem tempo para perder com disputas infantis entre ‘coxinhas’ e ‘mortadelas’”.

E tais problemas não são comezinhos. Há recorrente e crescente desequilíbrio entre receitas e despesas no Estado brasileiro, situação que muito em breve pode levar o setor público à insolvência – o que significa que a máquina estatal, hoje demandada muito acima de sua capacidade, pode simplesmente parar de funcionar em vários setores. Algumas providências para evitar esse desfecho dramático já foram tomadas pelo atual governo, como a aprovação do teto dos gastos, mas o eleitor precisa saber que há ainda muito trabalho a ser feito – e que ele deve negar seu voto a quem disser o contrário.

A partir de 2019, quando começa o novo mandato presidencial, o cenário político provavelmente será distinto do atual, assim como não se sabe qual será a conjuntura externa, hoje bastante favorável. Mas, seja lá o que reserva o mapa astral brasileiro, uma coisa é certa: como escreveu o economista Luiz Schymura, a crise fiscal “estará lá, firme e difícil de ser gerida”.

Por esses motivos é preciso haver um esforço redobrado para demonstrar aos eleitores que o melhor caminho para tirar o País da crise não é o mais curto, pois este já foi trilhado pelos populistas, e o resultado – recessão, inflação, deterioração da renda e contas públicas em frangalhos – está aí, à vista de todos.

Vencendo o desemprego (A diminuição do desemprego em 2017 está longe de ser desprezível...)

O desemprego, efeito mais devastador da recessão, atingiu o pico no trimestre de janeiro a março deste ano, com 13,7% de desocupados, ou 14,18 milhões de pessoas, e a partir daí diminuiu de forma continuada, independentemente de fatores sazonais. A reativação dos negócios, puxada pelo consumo e pela produção da agropecuária e da indústria, reduziu a desocupação a 12% da força de trabalho no trimestre móvel encerrado em novembro. Com as novas oportunidades, o contingente desempregado diminuiu para 12,57 milhões de pessoas. É preciso levar em conta essa evolução para avaliar com realismo as mudanças no mercado de emprego em 2017. A desocupação no trimestre de setembro a novembro foi ligeiramente superior à de um ano antes (1,9%), mas nem por isso o último balanço deixa de ser positivo. Para formular comparações significativas é preciso considerar as condições gerais da economia.

No fim de 2016 o desemprego continuava em alta, como legado da crise, e mais trabalhadores ainda iriam para a rua até o começo de 2017. A partir daí a trajetória se inverteu e assim se manteve, refletindo a recuperação progressivamente difusa da atividade econômica. Puxado pela agropecuária no primeiro trimestre, o crescimento espalhou-se pela indústria e envolveu um número crescente de segmentos de negócios.

O aumento do emprego, formal e informal, produz um efeito de realimentação na atividade econômica, por meio do aumento do consumo. No trimestre móvel encerrado em novembro, o rendimento real habitualmente recebido pelos trabalhadores, de R$ 2.142, foi apenas 1% maior que o registrado no período de junho a agosto. Mas a massa de rendimentos aumentou 2%, por causa do maior número de pessoas ocupadas, e chegou a R$ 191,92 bilhões. A comparação com o mesmo trimestre de 2016 aponta uma expansão de 4,5%.

Essa variação indica um aumento real – isto é, descontada a inflação – do potencial de compra dos trabalhadores. O recuo da inflação explica, em parte, o aumento do poder de gasto das famílias. Em outubro, as vendas do comércio varejista restrito foram 2,5% maiores que as de um ano antes, em volume. A comparação dos números de janeiro-outubro de 2017 com os de 2016 mostra um crescimento de 1,4%. No varejo ampliado – com inclusão de veículos, peças e material de construção – houve variações de 7,5% e 3,2% nos dois tipos de confronto.

A queda dos juros, permitida pelo recuo da inflação e pela expectativa de avanço dos ajustes e reformas, também contribuiu para a ampliação das vendas, especialmente dos produtos do varejo ampliado. Os empréstimos concedidos às famílias foram o componente mais dinâmico das operações de crédito em 2017, até novembro, segundo o Banco Central.

A autoridade monetária projeta para 2018 um maior volume de financiamentos a empresas, num cenário de maior crescimento econômico. Pelo menos mais um corte dos juros básicos, de 7% para 6,75%, é parte desse quadro. Mas a continuação de uma política de crédito mais favorável à expansão da economia dependerá da evolução das condições políticas. Se essas condições forem propícias à reconstrução das finanças públicas, o risco de um novo aperto monetário será muito atenuado ou eliminado.

O primeiro teste poderá ocorrer na segunda quinzena de fevereiro. O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, adiou para o dia 19 desse mês a votação da reforma da Previdência. Se essa pauta for cumprida com sucesso, os motivos para apostar na continuidade do ajuste e na retomada do crescimento serão bem mais fortes do que hoje.

Nesse caso, o Brasil terá condições muito mais seguras para avançar na recuperação e no fortalecimento da economia. Isso permitirá a redução do desemprego a um padrão tolerável, isto é, considerado como nível de equilíbrio. A diminuição do desemprego em 2017 está longe de ser desprezível, mas a taxa ainda é elevada. O percurso do longo caminho da normalização será tanto mais fácil quanto mais sensatas as decisões políticas.

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Fonte:
Estadão

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