O Brasil tem autoridade para enfrentar críticas dos campeões de desmatamento mundial

Publicado em 23/12/2017 13:19
O Menino Jesus e o IBGE, a Nasa e a Embrapa, artigo de EVARISTO E. DE MIRANDA*, em O Estado de S.Paulo

Por que Jesus nasceu em Belém? Por que José, de forma quase irresponsável, deixou em pleno inverno a cidade de Nazaré, onde tinha casa, amigos e parentes? Por que partiu em viagem com Maria, nos últimos dias de sua gravidez, rumo a Jerusalém? Culpa do censo.

Naquele tempo, o imperador César Augusto realizou o censo do Império Romano “e todos iam se inscrever, cada um em sua cidade” (Lucas 2,3). O censo era levado a sério naquela época, por imperadores e por carpinteiros. Há 2 mil anos, em última análise, um censo levou o Filho de Deus a nascer numa manjedoura em Belém, na Judeia. E não em casa, na Galileia.

O Brasil também deve a um imperador seu primeiro censo, organizado por dom Pedro II, em 1872. Além do primeiro selo postal, da primeira ferrovia, do primeiro telefone, do primeiro telégrafo, da primeira hidrelétrica e da primeira termoelétrica, o Império também nos brindou com o primeiro censo. Um marco sobre a demografia, a economia e a situação social do Brasil do século 19.

Demorou e os carpinteiros da República entraram no ritmo. A cada dez anos o País deveria realizar um censo completo. Em 1910 e em 1930 ele não foi realizado. O de 1990, pulamos para 1991. As dificuldades são muitas. Por mérito de técnicos e dirigentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o censo dota a sociedade de indicadores preciosos e quantificados sobre seus problemas e seus recursos, sempre aperfeiçoando os métodos de aquisição e tratamento dos dados. Para o setor agropecuário os dados do IBGE são essenciais.

Neste tempo de Natal, como nos tempos de José e Maria, o IBGE realiza do Censo Agropecuário, Florestal e Aquícola 2017, uma investigação estatística e territorial sobre a produção agropecuária do País, prevista para terminar em fevereiro de 2018. O levantamento inclui dados sobre a propriedade rural, produção, área, pessoal ocupado, estoques, efetivos da pecuária, lavouras e silvicultura, entre outros. O setor mais dinâmico da economia precisa dessas informações para avançar ainda mais. Sem números não teremos rumos, seguiremos rumores ou, pior, humores.

Mas nem só de levantamentos de campo vive a inteligência territorial da agropecuária. Há algo no ar além dos aviões de carreira, como dizia o Barão de Itararé. São os satélites de observação da Terra. Eles se multiplicaram neste século. E servem de orientação, como a estrela que guiou os magos até Belém. Centenas de sistemas orbitais produzem imagens diárias da agricultura, com detalhes de até 50 centímetros. A Embrapa Territorial utiliza essas informações em seus estudos sobre o uso e ocupação das terras no Brasil. O Cadastro Ambiental Rural (CAR) foi baseado em imagens de satélite. E a agência espacial (Nasa) e o Serviço Geológico dos Estados Unidos acabam de publicar um cálculo das áreas cultivadas do planeta, com base em monitoramento por satélite.

A Terra foi vasculhada com um detalhe de 30 metros por duas décadas por pesquisadores do Global Food Security Analysis – Support Data at 30 meters (GFSAD30). Esse projeto busca trazer subsídios sobre a segurança alimentar no planeta. Ele mediu a extensão dos cultivos, as áreas irrigadas e de sequeiro, a intensificação no uso das terras com duas, três safras e até áreas de cultivo contínuo, etc. Segundo o estudo, o mundo tem 1,87 bilhão de hectares de lavouras. As maiores áreas cultivadas estão na Índia (179,8 milhões de hectares), nos Estados Unidos (167,8 milhões de hectares), na China (165,2 milhões de hectares) e na Rússia (155,8 milhões de hectares).

Esse trabalho interessa ao Brasil, por duas razões. Em primeiro lugar, em 2016 a Embrapa Territorial calculou a área cultivada do País: 65.913.738 hectares (7,8%). O ministro Blairo Maggi tem divulgado esses dados, aqui e no exterior. A Nasa calculou a área de lavouras do Brasil em 63.994.479 hectares (7,6%). Esse resultado confirma o da Embrapa. A diferença foi de apenas 0,2%, para menos, no caso da Nasa.

Em segundo lugar, alguns dados comparativos entre o uso agrícola dos países, de acordo com a Nasa, merecem destaque. O Brasil protege e preserva a vegetação nativa em mais de 66% de seu território. E cultiva 7,6% das terras. A Dinamarca cultiva 76,8%; a Irlanda, 74,7%; os Países Baixos, 66,2%; o Reino Unido 63,9%; a Alemanha 56,9% – e a Europa por aí vai. Os europeus desmataram e exploram intensamente o seu território. A Europa, sem a Rússia, detinha mais de 7% das florestas originais do planeta. Hoje tem apenas 0,1%. A soma da área cultivada da França (31.795.512 hectares) com a da Espanha (31.786.945 hectares) equivale à cultivada no Brasil (63.994.709 hectares)!

A maior parte dos países utiliza 20% a 30% do território com agricultura. Os da União Europeia usam entre 45% e 65%. Os Estados Unidos, 18,3%; a China, 17,7%; e a Índia, 60,5%. Os agricultores brasileiros cultivam apenas 7,6%, com muita tecnologia e profissionalismo. E isso já faz do País uma potência mundial do agronegócio. O que seríamos se cultivássemos três vezes mais, 21% do território nacional, como se verifica no restante do mundo?

Hoje, 21% do Brasil é o que os produtores dedicam à preservação da vegetação nativa e da biodiversidade dentro de seus imóveis. São mais de 177 milhões de hectares registrados no CAR. Sem nenhuma compensação financeira nem ajuda governamental. Esses dados e mapas, corroborados agora pela Nasa e certamente pelo Censo Agropecuário, devem ser divulgados para reduzir a visão distorcida de muitos sobre a agricultura brasileira.

Que agricultura no mundo dedica tal área e tal patrimônio à preservação do meio ambiente? O Brasil tem grande autoridade para tratar desse tema, diante das críticas dos campeões do desmatamento mundial e de suas vaquinhas de presépio.

* EVARISTO E. DE MIRANDA É CHEFE GERAL DA EMBRAPA TERRITORIAL.

O agronegócio e o meio ambiente, por EUMAR NOVACKI*

O mundo precisa valorizar o que estamos fazendo na área da preservação ambiental

O agronegócio é a locomotiva da economia brasileira, representa um quarto do produto interno bruto (PIB), responsável por um de cada três empregos criados e responde por quase metade das exportações brasileiras. Somos imprescindíveis para a segurança alimentar mundial. Cerca de 1,5 bilhão de pessoas são alimentadas diariamente pela produção brasileira.

E mais importante, o crescimento do setor do agronegócio vem sendo pautado pela sustentabilidade. Produzimos com qualidade, sanidade vegetal e animal e com respeito ao meio ambiente.

Quando o ministro Blairo Maggi foi convidado para assumir o Ministério da Agricultura, o presidente Michel Temer fez apenas uma exigência: “Faça tudo o que achar importante para o setor”. Decidimos, então, estabelecer um objetivo claro. Queremos, em cinco anos, sair dos 7% da participação brasileira no mercado internacional para 10%. Isso significa um incremento de US$ 30 bilhões por ano na economia brasileira, gerando emprego e renda, melhorando a qualidade de vida das pessoas.

Meta ousada, difícil, mas possível, desde que haja planejamento e uma estratégia seja seguida. Assim surgiu o Plano Agro, o plano de modernização e desburocratização do Ministério da Agricultura.

Chamamos as entidades que representam os diversos segmentos do setor agropecuário e perguntamos: onde o Estado atrapalha o desenvolvimento do setor? Depois de ouvir sugestões, mais de 830 demandas apresentadas foram solucionadas desde que chegamos ao ministério, tornando o setor mais competitivo.

Todavia isso só não basta. Para alcançarmos a meta de 10% em cinco anos pusemos a mochila nas costas e em pouco mais de um ano e meio mais de 50 países foram visitados, em missões lideradas pelo ministro Blairo Maggi ou por mim. Nessas viagens, além de defender a qualidade do produto brasileiro, também combatemos a errônea informação de que não preservamos o meio ambiente.

Temos 66,3% do território brasileiro coberto de vegetação nativa, o que equivale a área dos 28 países da União Europeia e ainda sobre espaço para quase quatro Noruegas. E temos uma das leis ambientais mais completas do mundo, mas que impõe um ônus ao produtor rural brasileiro, o que não existe em nenhum outro lugar do planeta.

Essa foi a política ambiental que escolhemos e vamos mantê-la a todo custo. Queremos apenas que o mundo reconheça esse esforço. Não podemos aceitar o injusto fardo de que não fazemos a nossa parte na preservação ambiental.

Para se ter uma ideia, dentro dos imóveis rurais são reservados 20,5% do território brasileiro, coberto com vegetação nativa, o que equivale, sendo bastante conservador, a cerca de R$ 2 trilhões imobilizados a serviço do meio ambiente. O Brasil gasta outros R$ 950 milhões anualmente na fiscalização ambiental. Os gastos totais, diretos ou indiretos, com preservação do meio ambiente – entre programas do ministério, Ibama, Secretarias de Meio Ambiente estaduais e polícia ambiental, ultrapassam – os R$ 10 bilhões anuais, sem contar o valor imensurável da Floresta Amazônia, das unidades de conservação e das reservas indígenas.

Temos problemas, sim, porém estamos fazendo um esforço muito grande para resolvê-los. A Carne Fraca – e isso tem de ficar bem claro – foi uma operação para coibir desvios de conduta de servidores, não para testar a qualidade dos produtos brasileiros. Para evitar que situações assim se repitam o Ministério da Agricultura está lançando o seu Programa de Compliance. No momento em que a sociedade brasileira clama por mais ética, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento dispõe-se a liderar um pacto pela integridade do setor produtivo.

Vamos estabelecer regras de como deve ser o relacionamento do ministério com as empresas e como o servidor deve proceder. E para estimular as empresas a terem seu programa de conformidade vamos lançar o selo Agro+ Integridade, que será concedido às empresas que, além de terem seu plano de conformidade com foco na Lei Anticorrupção, tenham também como demonstrar respeito ao meio ambiente e responsabilidade social.

Esse selo será um diferencial para os consumidores brasileiros e também dos outros países de que as nossas empresas produzem dentro dos mais altos padrões de qualidade internacional.

A perspectiva é que o setor agropecuário puxe uma nova mudança de atitude no combate à corrupção. Mas não é somente a corrupção que atrapalha o Brasil. A irmã gêmea da corrupção é a incompetência. Por isso hoje, no Ministério da Agricultura, estamos centrados nos resultados, e não mais nos procedimentos, não mais nos processos.

A incompetência causa o excesso burocrático. A atividade pública é muito organizada, eu só posso fazer o que está escrito, contudo o excesso burocrático leva à corrupção e o que leva ao excesso burocrático muitas das vezes é a incompetência.

O mundo está crescendo, precisa de alimentos. E nós sabemos o papel que desempenhamos na segurança alimentar do planeta. Daqui a quatro anos queremos alimentar 2 bilhões de indivíduos no mundo.

Precisamos produzir mais, utilizando cada vez menos recursos naturais. Por isso é imprescindível investir em pesquisa e tecnologia.

Assim, além de importantes para a segurança alimentar mundial, sabemos o papel que desempenhamos na preservação da biodiversidade do planeta e o papel que desempenhamos na mitigação das mudanças climáticas.

Agora queremos que o mundo reconheça esse esforço e nos ajude a preservar a vida.

* EUMAR NOVACKI É SECRETÁRIO EXECUTIVO DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO

Devagar, o crédito melhora (editorial do ESTADÃO)

Com o consumo puxando a recuperação dos negócios, os empréstimos a pessoas físicas continuam liderando o crédito acumulado em 12 meses

Com o consumo puxando a recuperação dos negócios, os empréstimos a pessoas físicas continuam liderando o crédito acumulado em 12 meses, como acabam de confirmar os últimos números publicados pelo Banco Central (BC). Em novembro os financiamentos a pessoas físicas, no valor de R$ 169,2 bilhões, foram 2,8% maiores que no mês anterior. Em 12 meses a expansão foi de 8,1%. A concessão de recursos às pessoas jurídicas, no total de R$ 123,6 bilhões, aumentou 3,3% em outubro, mas ainda diminuiu 5,7% no acumulado de dezembro do ano passado a novembro. Esse recuo reflete, entre outros fatores, a redução das operações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Os próprios empresários têm sido cautelosos na contratação de novas dívidas. Mas há sinais de substituição do financiamento bancário pela captação de dinheiro no mercado de capitais, segundo o chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha. Por enquanto, o movimento em busca dessa outra forma de financiamento é característico de grandes empresas.

A concessão total de crédito pelo sistema financeiro cresceu 1,7% em 12 meses, mas o estoque do crédito concedido – o valor acumulado nas carteiras das instituições – diminuiu nesse período. O saldo das operações, de R$ 3,06 trilhões em novembro, aumentou 0,4% em novembro, mas encolheu 1,3% em 12 meses. A economia brasileira voltou a crescer em 2017, com a produção puxada pelo consumo. A inflação em queda proporcionou alguma folga aos consumidores, preservando sua renda real, e além disso as condições de financiamento ficaram um pouco mais suportáveis. Mas, de modo geral, a recuperação ainda lenta ocorreu com escassa contribuição de novos empréstimos.

Em novembro, a relação entre o estoque de crédito e o Produto Interno Bruto (PIB) permaneceu em 47%, praticamente sem mudança em relação ao mês anterior (46,9%). Mas a proporção continuou em queda e ficou 2,9% abaixo do nível de um ano antes.

No começo deste século a relação crédito/PIB era próxima de 25%. Mais que dobrou em alguns anos. Em dezembro de 2015, com a economia já em recessão, ainda estava em 53,7%. Mas em novembro de 2016 bateu em 49,9% e continuou em queda a partir daí. O retorno ao patamar de 50%, baixo pelos padrões internacionais, ainda consumirá algum tempo. Dependerá do ritmo de reanimação da economia nacional e, naturalmente, da confiança dos consumidores e também dos empresários.

A busca de financiamentos será mais intensa, nos próximos meses, se aumentar o investimento produtivo. Têm crescido, embora em ritmo bem moderado, as compras de máquinas e equipamentos. Como ainda sobra muita capacidade na indústria, o investimento deve ser explicável basicamente pela necessidade de reposição e de modernização do parque produtivo. Se a atividade se intensificar, a expansão passará a motivar as compras de meios de produção. Mas uma expansão mais sensível do investimento dependerá, ainda, da retomada – apenas perceptível nos últimos meses – da construção civil.

Em 2018, o saldo do crédito deverá crescer 3%, segundo projeção do BC. O saldo do crédito a pessoas físicas deverá aumentar 7%. No caso dos empréstimos a empresas, o saldo ainda poderá encolher 2%, mesmo com alguma expansão dos novos financiamentos. De toda forma, a evolução do saldo referente às empresas será melhor do que foi neste ano.

O pior momento já passou, disse o chefe do Departamento de Estatísticas. Esse julgamento vale acima de tudo para as condições gerais da economia. O BC acaba de publicar novas estimativas de expansão do PIB em 2017 e 2018.

Para este ano a projeção passou de 0,7%, número de setembro, para 1%. Para o próximo ano, subiu de 2,2% para 2,6%. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estima expansão de 3% em 2018. Se a queda de juros continuar, a recuperação econômica será obviamente mais fácil. Novo corte da taxa básica, de 7% para 6,75%, está previsto para fevereiro. Será mais um empurrão.

Um bom legado para 2019

Quando o novo presidente receber a faixa, em 2019, a economia deverá estar bem mais saudável do que em 2016, quando terminou a irresponsável aventura petista

Quando o novo presidente da República receber a faixa, em 2019, a economia brasileira deverá estar bem mais vigorosa do que hoje e infinitamente mais saudável do que no primeiro semestre de 2016, quando terminou a irresponsável aventura petista. A produção terá crescido entre 2,5% e 3% em 2018, menos pessoas estarão desempregadas e a inflação continuará moderada, segundo todas as projeções divulgadas nas últimas semanas por equipes de competência reconhecida. Os economistas do Banco Central (BC) apresentaram sua contribuição ontem. Segundo suas contas, o Produto Interno Bruto (PIB) deverá crescer 2,6% nos próximos 12 meses, mais que o dobro da taxa estimada para este ano, de 1%. Os números divergem dos produzidos por outras instituições, públicas e privadas, mas há concordância quanto a pontos fundamentais: a recessão ficou para trás, a recuperação se instalou, o desempenho é muito melhor que o do trimestre final do ano passado e a tendência é de aceleração em 2018.

As novas estimativas do BC apareceram na edição de dezembro do Relatório de Inflação, um panorama amplo das condições econômicas internas e externas. É o mais importante relatório desse tipo divulgado periodicamente por uma instituição federal. Os cenários tomados como base para decisões sobre juros são apresentados com muito mais detalhes que em comunicados e atas de reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).

Os técnicos do BC, como os de outras instituições, têm revisto, normalmente com mais otimismo, as estimativas de expansão econômica. Em setembro, os estudos apontavam crescimento de 0,7% neste ano e de 2,2% para o próximo.

Os novos números praticamente coincidem com a mediana das projeções coletadas na semana anterior no mercado e ficam pouco abaixo daqueles apresentados, há poucos dias, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de 1,1% para 2017 e de 3% para 2018.

A pequena diferença – nem tão pequena no caso do crescimento em 2018 – entre as estimativas de dois entes federais, BC e Ipea, é um sugestivo sinal de seriedade. É algo raramente encontrado em regimes como aqueles apoiados pelo PT. Nesses, nem a divergência entre fontes privadas e fontes oficiais é aceita pelos donos do governo como parte da normalidade ou como compatível com sua noção de democracia.

Dois pontos particularmente relevantes no trabalho do BC são a análise do crescimento industrial em 2017 e a estimativa de retomada do investimento. A construção civil deve fechar este ano com retração de 5,2%, mas os demais segmentos – de transformação, de extração mineral e de produção e distribuição de eletricidade, gás e água – voltam a números positivos. O estudo mostra, além disso, uma recuperação disseminada entre os segmentos industriais e baseada principalmente no mercado interno, apesar do empuxo proporcionado pelas exportações.

É igualmente animadora a revisão do desempenho e das perspectivas do investimento produtivo, medido como formação bruta de capital fixo. A retração estimada para este ano foi reduzida de 4,2% para 2,5%. Para 2018 é esperado um avanço de 3%. Em 2017, a pequena reação do investimento esteve associada basicamente às compras de máquinas e equipamentos. No próximo ano, a construção, segundo a projeção do BC, deverá influir positivamente na expansão do capital fixo, condição incontornável para um crescimento prolongado e sem risco de pressões inflacionárias e desajustes nas contas externas.

A retomada do investimento está condicionada à continuidade da baixa dos juros e, portanto, à permanência de uma inflação moderada. Em conjunto, a expectativa de recuperação segura da economia depende do avanço das medidas de ajuste e reformas das finanças públicas. O lembrete, quase um mantra nos trabalhos mais sérios sobre perspectivas da economia brasileira, reaparece no último Relatório de Inflação deste ano. A consolidação do crescimento continua a depender da modernização das instituições e dos padrões da gestão pública – da qualidade, enfim, das decisões políticas.

É preciso superar a fase lulista

Se tivesse pudor, Lula já teria se retirado da vida pública

Se tivesse um mínimo de pudor, Lula da Silva já teria há muito tempo se retirado da vida pública. Sendo, indubitavelmente, o maior responsável pela violenta crise moral, política e econômica que atinge o País desde a chegada do PT ao poder, em 2003, o chefão petista deveria ter ele próprio abreviado o sofrimento ao qual vem submetendo os brasileiros todo esse tempo, renunciando à pretensão de se tornar novamente presidente da República. Seria um alívio para o País, pois restituiria racionalidade ao debate das grandes questões nacionais, hoje submetidas à incessante mistificação lulopetista.

Mas Lula jamais trairia sua natureza nem revelaria agora uma grandeza que nunca teve, razão pela qual ele está, como sempre, em plena campanha à Presidência. E o mais espantoso é que, mesmo tendo feito tudo o que fez, ele aparece como favorito nas pesquisas eleitorais. Ou seja, uma parte considerável do eleitorado parece não se importar com o fato de Lula e seu partido terem protagonizado o mensalão, o petrolão e a destruição da economia do País; ao contrário, aceita como verdadeiro o discurso mendaz do demiurgo petista segundo o qual o Brasil era uma maravilha no tempo em que o PT estava no poder.

Por conta disso, muitos apostam que o anunciado julgamento do petista pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, no dia 24 de janeiro, em Porto Alegre, será o grande evento capaz de livrar a sociedade brasileira do pesadelo lulopetista. E esse clima de confronto interessa muito aos petistas. O ex-ministro José Dirceu, condenado a mais de 30 anos de prisão por corrupção e que aguarda julgamento de recurso em liberdade vigiada, convocou a tigrada: “A hora é de ação, não de palavras. De transformar a fúria, a revolta, a indignação e mesmo o ódio em energia, para a luta e o combate. Todos a Porto Alegre no dia 24, o dia da revolta”.

É inacreditável que o País dependa da decisão de três juízes, sobre um caso de corrupção envolvendo um apartamento no Guarujá, para que Lula, enfim, seja alijado de uma eleição da qual ele não tem condições morais de participar. Essa situação expõe claramente o quanto ainda falta para que se possa dizer que o País amadureceu de fato. Em nações com democracias sólidas e educação cívica razoável, Lula e seus associados já estariam no ostracismo, não necessariamente como desdobramento de alguma ação judicial, e sim como consequência da repulsa do eleitorado.

Afinal, foi sob sua influência direta que se construiu uma ampla rede de corrupção no Congresso, à base de pagamentos mensais a deputados, para favorecer seu governo; foi durante sua Presidência que a principal empresa estatal do País, a Petrobrás, começou a ser destroçada pelo PT e outros partidos integrantes da quadrilha; foi em seu governo que o Brasil, ignorando os interesses nacionais, fechou-se a acordos comerciais com as maiores potências do planeta, preferindo fazer negócios com países periféricos e populistas, alinhados ideologicamente ao PT; e foi de Lula a ideia de colocar na cadeira presidencial a neófita brizolista Dilma Rousseff, cujo nome provoca calafrios em todos os milhões de brasileiros que sofreram as consequências de suas desastrosas decisões econômicas.

Por esse conjunto da obra, portanto, nenhum eleitor deveria sequer cogitar a hipótese de votar novamente em Lula. Mas ele não só tem muitos eleitores, como lidera as pesquisas e, o que é pior, conduz os debates para onde quer. No momento, por exemplo, Lula está em intensa campanha para desmoralizar as reformas defendidas pelo governo de Michel Temer, ajudando a mobilizar uma parte significativa da opinião pública contra essas urgentes medidas. Lula sabe que as reformas são fundamentais, mas responsabilidade, afinal, nunca foi seu forte.

Infelizmente, como se vê, o Brasil ainda não conseguiu superar Lula. E talvez não tenha conseguido porque o petista representa o País do assistencialismo populista, das regalias às corporações e do capitalismo sem risco. Ou seja, um País em que uma parte considerável de seu povo e de sua elite sonha em prosperar sem fazer força.

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ESTADÃO

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1 comentário

  • Marcos de Souza Dias Maringá - PR

    Sem CAR nem nada, a NASA avaliou o tamanho da agricultura brasileira com erro de 0,2%. A diferença qual é? A NASA não precisou de burocracia ou de protagonismo funcional. O sr. Miranda, que deve ter o título de Marquês, tal a admiração que tem pela monarquia, apresenta triunfalmente suas tabulações de um aglomerado de produtores que estão na verdade eternamente perturbados por minucias cadastrais e pendencias ameaçadoras, que custam caro e não produzem nada, a não ser empregos e sinecuras. Onde foi parar o SISLEG, que tanto trabalho deu? Extinto e descartado? Por que não o aproveitaram, em vez de obrigar o produtor a fazer tudo de novo e de novo? Como vai ser daqui há 30 anos, quando os dados do georreferenciamento tiverem de ser refeitos? Ainda vamos precisar da NASA para referendá-los? Essa burocracia abusiva nada mais é do que o controle exercido por um Estado de temperamento monarquista.

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