Mercosul se fortalece, mas ainda não tem acordo comercial com UE
BRASÍLIA (Reuters) - Os líderes do Mercosul se reúnem nesta quinta-feira, em Brasília, mais unidos politicamente após a expulsão da Venezuela, mas a meta mais importante de um acordo de livre comércio com a União Europeia ainda não se concretizou.
A mudança de governos de esquerda para centro-direita na Argentina e no Brasil deu ao bloco, que ainda inclui Paraguai e Uruguai, uma coerência ideológica maior que o levou a se concentrar mais no comércio e menos na política. "Revitalizamos o Mercosul recuperando sua vocação original como bloco comercial baseado em fundamentos democráticos e de direitos humanos sólidos", disse o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Aloysio Nunes, em uma coletiva de imprensa na quarta-feira. O Mercosul acionou sua cláusula democrática no início do ano e expulsou a Venezuela devido às ações autoritárias de seu presidente, Nicolás Maduro, que adiou eleições e prendeu líderes opositores.
As negociações com a UE se aceleraram e estavam quase concluídas neste mês, depois de quase duas décadas de discussões, mas tropeçaram em um atraso do bloco para apresentar ofertas melhores para as importações de carne bovina e etanol do Mercosul. "Sobrou muito pouco para se fazer. Estamos muito perto", disse Nunes, mas deixando claro que a bola está no campo europeu e que o Mercosul está esperando uma resposta da UE desde que apresentou sua proposta, cobrindo 90 por cento dos produtos comercializados. Nem tudo vai bem no bloco sul-americano. Na reunião ministerial de quarta-feira houve discórdia a respeito da adoção de uma política comum para a aquisição governamental de bens e serviços, à qual o Paraguai se opôs obstinadamente. Uma movimentação do Uruguai para descartar um imposto alfandegário sobre todas as importações, exceto petróleo e bens de capital, a partir de 1o de janeiro incomodou seus parceiros, entre outras razões porque o comércio com o México ficou isento. As taxas de importações de outros países do Mercosul aumentarão de 2 para 3 por cento, e bens de nações ausentes do bloco pagarão 5 por cento, ao invés dos 3 por cento atuais. O chanceler uruguaio, Rodolfo Novoa, explicou se tratar de uma medida emergencial temporária para ajudar a cobrir um déficit orçamentário de quase 4 por cento do produto interno bruto (PIB), e que seus três parceiros entenderam agora que não se trata de protecionismo.
(Por Anthony Boadle e Ricardo Brito)
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