Brasil prevê exportar frango à Indonésia já em 2018 após decisão da OMC
Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O Brasil avalia que a decisão desta terça-feira da Organização Mundial do Comércio (OMC) em painel aberto contra a Indonésia permitirá a eliminação de entraves à exportação de carne de frango brasileira, possibilitando que os embarques ao importante mercado asiático comecem já no ano que vem.
Segundo o subsecretário de Assuntos Econômicos do Itamaraty, Carlos Cozendey, a OMC reconheceu nesta terça-feira que a Indonésia colocava limitações sem justificativa a importações de frango do Brasil, o maior exportador global do produto.
Cozendey ressaltou que o Brasil conseguiu derrubar na OMC todas as dificuldades que a Indonésia colocava para exportações: barreiras sanitárias, lista de limitação de importação e demora excessiva na emissão de licenças.
"Entendemos que a decisão vai permitir eliminação de entraves... O painel também reconheceu que a Indonésia colocava limitações sem justificativa às importações", disse a autoridade do Ministério de Relações Exteriores a jornalistas.
O potencial do mercado da Indonésia para a carne de frango do Brasil é estimado pelo governo brasileiro em entre 70 milhões e 100 milhões de dólares por ano, no médio prazo.
Cozendey disse que o país já trabalha na implementação da decisão da OMC, pois acredita que, mesmo que a Indonésia recorra, uma nova decisão do órgão de comércio não alteraria significativamente o que foi decidido.
A partir da publicação da decisão da OMC, o que deve ocorrer no dia 22 de outubro, o Brasil já começará a negociar com a Indonésia como será o cumprimento das decisões do órgão de comércio multilateral.
Dessa forma, o Brasil acredita que poderá começar a exportar para a Indonésia a partir de 2018.
"Esta é uma vitória fundamental, que deve impactar positivamente no desempenho das vendas de carne de frango em 2018", disse o presidente-executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, em nota.
"A estimativa é chegar a 70 a 100 milhões de dólares anuais em exportações em dois a três anos. Pode até surpreender e ser mais, pode ter um potencial maior. Esse é o cálculo inicial", acrescentou o vice-presidente de mercados da ABPA, Ricardo Santin, após uma coletiva de imprensa em Brasília.
"A questão com a Indonésia não é que ela não importa do Brasil. Ela não importa de ninguém. É uma questão de proteção do mercado interno. A decisão vai abrir para todo mundo", acrescentou Santin, destacando que o Brasil enfrentará competição dos Estados Unidos e Irlanda pelo mercado.
"Mas o Brasil é muito mais competitivo", afirmou.
Segundo Santin, o Brasil exporta partes de frango, como pescoço e coxa desossada, que os Estados Unidos, por exemplo, não teriam disponíveis para vendas.
Entre os grandes exportadores de carne de frango do Brasil estão a BRF, a JBS, cujas ações operavam em baixa de mais de 2 por cento na tarde desta terça-feira na B3.
MERCADO ISLÂMICO
Maior produtor e exportador de frango halal do mundo, o Brasil também tem essa vantagem competitiva de vender um produto demandado pelo mercado islâmico, que recebe um terço do que o Brasil exporta.
Em 2016, apenas o Oriente Médio --principal destino dos embarques brasileiros-- importou 1,57 milhão de toneladas, gerando receita superior a 2,3 bilhões de dólares, segundo a ABPA. Ao todo, o Brasil exportou 4,38 milhões de toneladas no ano passado, com receita de 6,8 bilhões de dólares, de acordo com dados da ABPA.
Com população de maioria muçulmana, a Indonésia é um dos mercados com maior potencial de crescimento no consumo de proteína animal mundial, ressaltou a associação.
Cada habitante do país asiático consome, em média, 6,3 quilos do produto por ano, enquanto no Brasil este indicador chega a 41 quilos per capita.
A ABPA já está em contato com associação de produtores e processadores de frango da Indonésia, para iniciar os negócios. Uma missão esteve aqui no Brasil no mês passado para começar os primeiros contatos, revelou Santin.
Toda a produção de frango da Indonésia, de 1,64 milhão de toneladas em 2016, é direcionada ao mercado doméstico, segundo a ABPA.
O Brasil ainda tem outro painel aberto na OMC para discutir limites contra exportações de carne bovina.
(Com reportagem adicional de Roberto Samora e Silvio Cascione)
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