A importância das plantas de cobertura, por Fernando Mendes Lamas
Como o nome já diz, as plantas de cobertura têm a finalidade de cobrir o solo, protegendo-o contra processos erosivos e a lixiviação de nutrientes, porém não se limitando a isso, já que muitas são usadas para pastoreio, produção de grãos e sementes, silagem, feno e como fornecedoras de palha para o sistema de plantio direto. Tão importante quanto a parte aérea das plantas de cobertura, são as raízes das mesmas. Os efeitos das raízes na produtividade agrícola, ainda são pouco reconhecidos, embora seja sabido sobre sua importância na construção do perfil do solo.
Algumas espécies de plantas de cobertura como o milheto e as braquiárias possuem a capacidade de reciclar nutrientes essenciais para o crescimento e desenvolvimento das plantas que serão cultivadas em sucessão e, no caso da maioria das leguminosas, como fixadoras do nitrogênio atmosférico. Estas características das plantas de cobertura podem contribuir para reduzir custos de produção, especialmente com fertilizantes químicos, que além de impactarem o custo de produção das culturas cultivadas para produção de grãos, fibras e energia, tratam-se de recursos naturais não renováveis.
As plantas de cobertura quando adequadamente utilizadas se constituem em estratégia para melhoria dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo. Além do mais, são essenciais para incrementos de matéria orgânica do solo, que é essencial na dinâmica desses atributos supracitados que compõem a fertilidade do solo. Isso ganha mais importância em solos tropicais e intensamente intemperizados.
A capacidade produtiva do solo é altamente dependente do teor de matéria orgânica. Em geral, em áreas com altos rendimentos são observados elevados teores de matéria orgânica. A matéria orgânica é importante para a maior retenção de água no solo, pela disponibilidade de nutrientes para as plantas e pela estruturação do solo.
Além de contribuírem para a melhoria dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo, as espécies vegetais utilizadas como cobertura do solo auxiliam no controle de plantas daninhas, de doenças, de nematoides e de pragas, beneficiando diretamente as culturas sucessoras.
As plantas de cobertura constituem importantes aliadas no manejo de plantas daninhas. O efeito das plantas de cobertura no manejo de plantas daninhas se dá de várias maneiras, podendo-se destacar: a-) efeito alopático - as plantas de cobertura interferem na germinação, emergência e no crescimento das plantas daninhas, quer por exsudados eliminados pelas suas raízes ou por substâncias liberadas quando da decomposição da parte aérea, impedindo ou dificultando a emergência e/ou germinação das plantas daninhas; b-) cobertura do solo - a cobertura proporcionada pelas plantas de cobertura se constitui numa barreira física, que impede a emergência das plantas daninhas e limita a presença de luz, o que impede a emergência de algumas plantas daninhas, inclusive aquelas de difícil controle como é o caso da Buva. A Brachiaria ruziziensis, é exemplo de uma espécie de planta de cobertura muito eficiente no controle de plantas daninhas.
As plantas de cobertura também auxiliam no manejo de nematoides, um grave entrave da agricultura moderna. Crotalaria spectabilis e Crotalaria ochroleuca, são exemplos de plantas de cobertura que auxiliam no manejo dos principais nematoides que causam dano econômico às espécies cultivadas para produção de grãos e fibras.
As plantas de cobertura também se constituem em importante estratégia para manejo de doenças e pragas. As braquiárias, são excelentes no manejo do mofo branco, doença que está se tornando cada vez mais grave em várias regiões, causando danos às culturas de feijão e algodão. Crotalaria spectabilis é exemplo de uma planta de cobertura que auxilia no manejo do percevejo castanho – Scaptocoris castanea.
A espécie de planta de cobertura a ser cultivada deve apresentar algumas características: ser de fácil estabelecimento; apresentar crescimento rápido; proporcionar boa cobertura do solo; não ser hospedeira preferencial de doenças, pragas e nematoides; permitir a colheita de grãos ou o pastejo animal no período de entressafra, apresentar sistema radicular vigoroso e profundo e produzir matéria seca em quantidade suficiente para a semeadura direta.
Não existe uma espécie de planta de cobertura que se adeque a toda e qualquer condição ecológica. Para cada ambiente e dependendo da cultura sucessora, deverá haver um conjunto de espécies mais adequadas. Um diagnóstico adequado das limitações atuais do seu sistema de produção também é estratégico para auxiliar na escolha das espécies com maior potencial em agregarem benefícios para o sistema.
Como toda espécie vegetal, as utilizadas como plantas de cobertura exigem condições ambientais adequadas para seu crescimento e desenvolvimento. Por exemplo, quando cultivada fora da época indicada, por ser sensível a duração do fotoperíodo, a Crotalaria spectabilis, tem o seu crescimento vegetativo reduzido, iniciando o período de frutificação quando as plantas ainda estão com altura reduzida, diminuindo a produção de matéria seca e aumentando as condições favoráveis à incidência de mofo-branco.
A tomada de decisão sobre o cultivo de uma espécie como planta de cobertura deve ser precedida de um profundo conhecimento acerca da espécie em questão para evitar qualquer tipo de frustração em termos de produção e benefícios e até mesmo a disseminação de pragas, doenças e nematoides.
O cultivo de espécies de plantas de cobertura pode ser feito utilizando-se uma única espécie, duas ou mais espécies semeadas ao mesmo tempo na mesma área. A semeadura simultânea de mais de uma espécie sobre o ponto de vista de melhoria da biodiversidade do sistema é inquestionável. No entanto, tudo irá depender do propósito que se tem com o cultivo da planta de cobertura e das espécies consorciadas.
É fato que o uso de plantas de cobertura tem uma certa “restrição” de boa parte do setor produtivo, já que não resulta em retorno financeiro direto e imediato. No entanto, os reflexos e entraves dos sistemas de produção atuais, baseados em sucessão de cultivos (ex.: soja/milho), indicam de forma clara o papel dessas espécies na diversificação e viabilidade dos sistemas de produção.
Respondendo diretamente ao questionamento proposto no título desse artigo, podemos dizer que plantas de cobertura são espécies cultivadas visando em última análise a melhoria do ambiente de produção. O cultivo dessas deve ser precedido de cuidados agronômicos e também deve ser considerada a espécie a ser cultivada na sequência.
0 comentário
França: Protecionismo disfarçado de sustentabilidade e a urgência de ação do Governo brasileiro, por Lucas Costa Beber
Crise no campo: estratégias para salvar o produtor rural da inadimplência e proteger seu patrimônio, por Dr. Leandro Marmo
O início da safra de grãos 2024/25 e as ferramentas que potencializam o poder de compra do agricultor
Produção de bioinsumos on-farm, por Décio Gazzoni
Reforma Tributária: algo precisa ser feito, antes que a mesa do consumidor sinta os reflexos dos impostos
Benefícios da fenação para o bolso do produtor